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A sociedade atual está presenciando uma convergência de interesses que pode ser uma força poderosa nos próximos anos – um consenso crescente entre conservacionistas e as instituições de desenvolvimento, de que a manutenção da diversidade biológica e um desenvolvimento econômico sadio são não apenas compatíveis, mas interdependentes. Em longo prazo, o crescimento econômico depende muito da conservação desses recursos. Por sua vez, a conservação desses recursos provavelmente não acontecerá especialmente nos

trópicos, sem que haja saltos no desenvolvimento econômico. O desenvolvimento econômico sustentável requer a conservação dos recursos biológicos; ao passo que a conservação desses recursos no mundo em desenvolvimento depende de sua habilidade para alcançar um crescimento econômico sustentável (BRADY, 1997).

No entanto, não raramente, a preservação do patrimônio natural ainda é vista como um entrave ao desenvolvimento. O desenvolvimento é entendido como um processo intencional de condução e transformação das estruturas socioeconômicas, de modo a assegurar que todas as pessoas tenham a oportunidade de viver de maneira completa e satisfatória, recompensadas por condições dignas de sustento e por uma contínua melhoria de vida. O mundo ocidental concebeu a idéia de “desenvolvimento” com a visão implícita de crescimento econômico (SACHS, 2000).

O desenvolvimento pautado no crescimento econômico, não foi suficiente para promover as condições de progresso preconizado para o mundo (SACHS, 2000). O mundo viu a necessidade de unir, ao que se considerava desenvolvimento até então, procedimentos menos agressivos à natureza, numa visão mais global, levando em conta o ser humano como parte do processo. Era preciso, ainda, considerar uma escala de tempo maior. As gerações futuras também tinham direito ao desenvolvimento. Um desenvolvimento simultâneo, eqüitativo e, sobretudo, duradouro; capaz de promover, otimizar e assegurar condições sociais, culturais, econômicas e ambientais essenciais à presença humana na Terra.

Surgiu o desenvolvimento sustentável, baseado na idéia de se suprir as necessidades humanas - emprego com bom salário; descanso e recreação; educação; um padrão de vida aceitável com saúde em longo prazo; meio ambiente limpo, saudável e pacífico e liberdade política com a garantia dos direitos humanos - sem, entretanto, levar à ruptura do planeta (HOROWITZ, 2003).

A União Internacional de Conservação da Natureza e Recursos Naturais, num documento intitulado a Estratégia para a Conservação Mundial (IUCN, 1980), fez a primeira referência ao desenvolvimento sustentável como forma de garantir a o progresso econômico evitando a destruição dos recursos naturais. Na conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, foi elaborada a Agenda 21 (CNUMAD, 1997). O documento é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por

organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. Constitui-se na mais abrangente tentativa já realizada de orientar para um novo padrão de desenvolvimento para o século XXI, cujo alicerce é a sinergia da sustentabilidade ambiental, social e econômica, perpassando em todas as suas ações propostas (MMA, 2006).

O desenvolvimento sustentável se alicerça na tríplice sustentabilidade dos padrões sociais, econômicos e ambientais (CHIRAS, 1998 apud HOROWITZ, 2003). A biodiversidade é requisito indispensável para garantir a dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável. Além de prover serviços fundamentais para a vida humana na Terra, é responsável pela base da produção, pois é fonte de matéria prima para sustentação econômica. A humanidade não pode abrir mão dos recursos naturais para suprir suas necessidades básicas de alimentação, vestimentas, moradia (materiais de construção) etc. As sociedades avançavam sob o território e interagiam entre si conforme a disponibilidade espaço-temporal desses recursos (HOROWITZ, 2003).

As atividades agrícolas, por exemplo, são indispensáveis. Mas, ao mesmo tempo, sua expansão e intensificação têm causado danos irreparáveis à biodiversidade (LÉVÊQUE, 1999; WRI, 2000). Os sistemas tradicionais, adaptados às características locais, vem sendo trocados por sistemas mecanizados de modo a aumentar a produção. Como conseqüência, a mão-de- obra, antes usada no campo, vê-se obrigada a procurar centros urbanos para buscar melhor qualidade de vida.

As monoculturas de plantas exóticas vêm substituindo aos poucos as paisagens naturais, trocando uma variedade infinita de espécies por uma única, de valor comercial mais imediato. Sua similaridade genética aumenta a vulnerabilidade às adversidades como variações climáticas, doenças e pragas. O uso intensivo de insumos agrícolas, adubos e pesticidas comprometem a água, o solo e os sistemas vivos associados. A substituição da biota original por espécies exóticas introduzidas reverte os ecossistemas naturais, transformados em ecossistemas artificiais.

Mais recentemente, os organismos geneticamente modificados, de conseqüências imprevisíveis para a comunidade biótica dos ecossistemas e para a própria saúde humana, são a mais nova ameaça ao patrimônio natural (WRI, 2000).

A perda da biodiversidade e todos os outros problemas globais que estão danificando a biosfera e a vida humana não podem ser entendidos isoladamente. Problemas como a extinção em massa, a escassez dos recursos, a degradação do meio ambiente, a rápida expansão da população humana e a iniqüidade econômica do mundo com a conseqüente ampliação da pobreza e exclusão social estão interligados e são interdependentes. Em última análise, combina-se para formar uma única crise (CAPRA, 1999 apud HOROWITZ, 2003).

Se a humanidade quiser evitar a destruição da biodiversidade pela própria ação do homem, muito ainda deve ser feito. O investimento em tecnologia é fundamental, mas seria um grande erro de cálculo imaginar que ela (a tecnologia) é a solução (EHRLICH, 1997). A evolução tecnológica não conseguirá acompanhar a velocidade da devastação da natureza. Não há perspectiva de que isso aconteça (WILSON, 1997).

Os trabalhos pioneiros demonstram que a participação da comunidade local, o conhecimento tradicional e indígena das práticas e usos da biodiversidade além do incentivo governamental a práticas conservacionistas são imprescindíveis para a conservação da natureza (IUCN, 2000).

O poder público deve tomar medidas mais específicas para envolver as comunidades locais nas políticas nacionais de uso da terra e na implementação de programas de desenvolvimento. Considerar a contribuição da população local pode fazer a diferença na política governamental, uma vez que agrega conhecimentos regionais fundamentais à política de âmbito maior (SPEARS, 1997).

Desde que implementadas por um processo de planejamento integrado em nível local, regional, nacional e internacional os instrumentos e estratégias sociais, econômicas, legais e políticas constituirão a base para promover o uso sustentável e compartilhado dos recursos biológicos e para proteger a saúde biótica da Terra (IUCN, 2000). Relacionar o desenvolvimento sustentável à biodiversidade requer, necessariamente, o entendimento da razão do desenvolvimento sustentável para a transformação das sociedades.

Devido à importância da biodiversidade para o ser humano, e com base, sobretudo, nas teorias apresentadas neste primeiro capítulo, foram criados instrumentos e estratégias para sua conservação no Brasil e no mundo. Elas são discutidas no capítulo seguinte.

2 – INSTRUMENTOS E ESTRATÉGIAS PARA CONSERVAÇÃO DA