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SETOR RESIDENCIAL

Figura 6.14: Consumo de GLP no aquecimento de

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.3 As projeções de consumo de energia

7.3.1 O método e o modelo

Na criação dos cenários, um diferencial deste trabalho foi a elaboração de dados socioeconômicos na escala intra-urbana, e a projeção de seu crescimento. Tal

desenvolvimento foi necessário porque esse tipo de informação não se encontra disponível na escala abordada pelo trabalho.

Como não foram encontradas metodologias consolidadas para projeção dos dados socioeconômicos, foi desenvolvido um método integrado ao consumo de energia: num primeiro momento o consumo de energia foi auxiliar na calibração das taxas de crescimento populacionais, e posteriormente, esse dado ajustado foi usado para se projetar o consumo de energia regionalizado. Visto que há um grande número de fatores que interferem no comportamento espacial, além das tendências históricas observadas, o modelo de ocupação espacial constitui uma limitação à validade dos resultados encontrados sobre o consumo de energia em 2030. A atualização dos dados e das tendências é parte crucial de qualquer tipo de planejamento, e esse trabalho é também depende de revisões posteriores para se garantir a correlação com a realidade.

O software adotado, o LEAP, demonstrou ser uma ferramenta versátil na projeção para os cenários energéticos, capaz de lidar com grande número de regiões e, consequentemente, variáveis. As limitações encontradas no programa referem-se, principalmente, ao tratamento da informação espacial, após os resultados estarem prontos. Alguns itens básicos necessários à elaboração de mapas, como inserção e edição de legendas ou escalas não são possíveis de serem feitos com esse programa.

7.3.2 Os resultados obtidos

Em relação aos resultados encontrados, é importante ressalvar que em ambos os cenários as taxas de crescimento de posse de equipamentos são conservadoras, considera-se um aumento de eficiência dos equipamentos e, por fim, que a população municipal deverá sofrer redução entre 2020 e 2030, de acordo com as projeções demográficas. Por isso, o consumo final de algumas unidades espaciais poderá ser menor do que o consumo no ano base, em 2000. Contudo, em geral, o que se observa é o crescimento do consumo de energia elétrica nas unidades e no município como um todo, mesmo com a redução populacional prevista. Isso decorre, em parte, do aumento do número de domicílios. Assim, mesmo que a população total do município diminua, como o tamanho das famílias está reduzindo, o número total de domicílios será continuamente crescente em todo horizonte de tempo considerado.

As projeções desenvolvidas mostram que, além do cálculo de energia consumida por uma cidade, em um ano, é possível estudar a sua evolução de modo regionalizado. Em geral, os

resultados mostraram que a consideração da ocupação espacial pode ter grande impacto no consumo de energia. No Cenário MG-2030, a hipótese de elevada penetração do sistema solar no setor residencial causou uma inversão na tendência de consumo diretamente relacionada à renda: as famílias de renda entre média e alta passaram a consumir menos do que as de renda inferior, visto que estas últimas utilizariam apenas o chuveiro elétrico. No cenário Belo Horizonte, isso já não ocorre, há nele ainda a relação consumo e renda média familiar.

Concernente ao uso dos sistemas solares, ele provavelmente terá uma razoável inserção nas unidades de renda familiar mais elevada, a se manter o tipo de lançamentos imobiliários que se observa atualmente no mercado belorizontino. Mas há um grande potencial de uso desses sistemas nas regiões periféricas, visto que o crescimento populacional ocorrerá nesses locais e que a LUOS-BH prevê uma ocupação muito favorável à incorporação dessa tecnologia nas novas edificações: pequenos prédios, com menos de dez unidades habitacionais. Dessa forma, essas áreas dependem de medidas específicas do poder público para que o uso do aquecimento solar se torne efetivo (por exemplo, evitando o sombreamento indesejável de um edifício sobre o vizinho).

Os dois últimos projetos de lei32 da Câmara Municipal de Belo Horizonte que tratavam da questão do uso do aquecedor solar não abrangiam as regiões periféricas do município. Isso porque esses projetos tornam obrigatório o uso desses sistemas em edificações com mais de 150 metros quadrados de área ou com mais de três banheiros, que não é o perfil de edificações construídas para a faixa de renda baixa e média do município. Por essa razão, esses projetos de lei apenas enfocam áreas que voluntariamente já utilizam o sistema solar. Pode-se concluir que é necessário que as políticas públicas sejam mais específicas para as necessidades locais. Ainda com relação ao uso do sistema solar, esse trabalho não considerou o impacto das medidas de incentivo ao seu uso previstas no Plano Nacional de Habitação, porque esse plano é destinado a financiar novas moradias para famílias com faixa de rendimento médio inferior a 3 salários mínimos e, esse perfil familiar não reside no município de Belo Horizonte, de acordo com os dados dos censos.

No tocante ao uso do sistemas de condicionamento de ar, foi possível concluir que esse é o equipamento com maior potencial de crescimento do consumo de energia no setor residencial local. O aquecimento das cidades, causado seja por fenômenos locais ou globais, o aumento da poluição do ar e sonora nas áreas urbanas, deverão elevar a venda desses equipamentos,

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tendência que já vem sendo observada em outras cidades do país. Certamente, o desenvolvimento de pesquisas e estudos que permitam aprofundar as questões faz-se necessário, para identificar os impactos das mudanças climáticas e outros questões ambientais no aumento da demanda de energia para o conforto ambiental.

7.3.3 Novas abordagens integradas

Toda a metodologia desenvolvida neste capítulo tem aplicações possíveis tanto na área do planejamento energético quanto na área do planejamento urbano. Alguns exemplos de estudos nesse sentido podem ser traçados.

A abordagem desenvolvida para Belo Horizonte pode ser reproduzida tanto em outros municípios, como também em outras escalas, desde que haja a disponibilidade de dados desagregados por região. Por exemplo, toda a RMBH já está incorporada na divisão espacial das UEHs, desse modo, é possível expandir o cálculo de consumo de energia regionalizado para aproximadamente 5,5 milhões de habitantes, quase a um quarto da população do Estado de Minas Gerais.

Os mapas obtidos de consumo de energia ainda não estão associados diretamente a indicadores de ocupação do solo, como por exemplo, área construída ou volume edificado. Contudo, essa associação é possível de ser feita por meio do mapeamento dessas variáveis. Assim, o planejamento urbano poderia ter indicadores específicos que permitiriam estimar qual o impacto, em termos energéticos, da proposição de novas legislações sobre o uso do solo ou de novos empreendimentos que mudem o perfil de ocupação local.

Tendo em vista o planejamento energético, partindo do mapeamento do consumo, é possível quantificar os benefícios futuros das medidas locais de alternativas energéticas e/ou de eficiência energética. Por outro lado, por meio da integração de mapas, torna-se possível avaliar o impacto de dinâmicas espaciais urbanas no consumo de energia, a exemplo da citada relação entre adensamento e aumento do uso de equipamentos, como, por exemplo, ar condicionado e lâmpadas.

Espera-se, assim, que este trabalho possa contribuir para a inserção da dimensão espacial nos estudos realizados pelo planejamento energético, possibilitando que os processos de tomada de decisões identifiquem, espacial e temporalmente, as questões do sistema energético. Espera-se também colaborar para a elaboração de análises da questão energética na escala urbana, que conduzam ao desenvolvimento de padrões de ocupação do solo e/ou tipologias de edifícios com

menor impacto ambiental e maior eficiência energética. Por fim, espera-se auxiliar na elaboração de políticas energéticas que possam reduzir as grandes desigualdades regionais relacionadas ao consumo de energia, e consequentemente, à qualidade de vida.