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As promessas de desenvolvimento para o Semiárido com a açudagem e os projetos de irrigação

No documento Flavio Jose Rocha da Silva (páginas 88-103)

Taxa de mortalidade infantil

3 DESENVOLVIMENTO PARA O NORDESTE: DO QUÊ, PARA QUÊ E PARA QUEM?

3.1 As promessas de desenvolvimento para o Semiárido com a açudagem e os projetos de irrigação

Foram os integrantes da segunda Comissão Científica de Exploração, enviada do Rio de Janeiro ao Ceará pelo Imperador Dom Pedro II na segunda metade do século XIX, os primeiros representantes governamentais a lançar propostas que julgavam as mais convenientes para lidar com as estiagens prolongadas. As soluções buscadas pelos governantes brasileiros para a questão das estiagens no Semiárido foram sempre da ordem das obras de engenharia hídrica, algumas vezes por uma crença inabalável nesta solução como a única viável e outras por facilitar uma resposta imediata para as crises políticas e convulsões sociais na região. Segundo Garcia (1984), os primeiros projetos de combate à seca planejados pelo governo central foram pensados por essa comissão de engenheiros em 1877. Ela propôs soluções como as construções de grandes açudes,84 barragens e canais, defendidas até os dias atuais como promessas não só mitigadoras, como até mesmo salvadoras da problemática. É preciso ter em conta os conhecimentos científicos da época do envio desta Comissão para contextualizar estas propostas. Ao catalogar as sugestões feitas por especialistas para “resolver os problemas” do Semiárido na primeira metade do século passado, Silva (2008B) relacionou 38 estudiosos, dos quais a maioria era originária do campo das engenharias.

As construções dos reservatórios de água já aconteciam no Semiárido antes da recomendação da referida Comissão e possivelmente serviram de inspiração para seus membros.85 Um dos que promoveu a construção de açudes em várias localidades da zona semiárida foi o Padre Ibiapina,86 conhecido como o missionário do sertão. Ele percorreu aquela região organizando os sertanejos em atividades comunitárias para a construção de açudes, hospitais e igrejas e também realizou experimentos com agroecologia.

84 “Açude, do árabe as-sudd, que significa represar água, atesta a influência mourisca da colonização portuguesa do Semi-Árido do Nordeste do Brasil.” (REBOUÇAS, 2002, p. 20).

85“O Senador José Martiniano de Alencar, Governador da Província do Ceará, estabeleceu, em 1832, uma lei especial concedendo prêmio ao proprietário que construísse um açude em sua fazenda.” (DUQUE, 1982, p. 53). O Açude Velho, localizado no centro da cidade de Campina Grande, por exemplo, foi construído ainda na década de 1830 (RIBEIRO, 2007).

86 Antônio Modesto de Maria Ibiapina (1806-1883), conhecido no sertão como Padre Ibiapina, percorreu grande parte do Semiárido e tinha como missão construir as Casas de Caridades onde acolhia órfãos e vítimas das secas. Nas proximidades das Casas de Caridade, ele organizava os moradores em trabalho comunitário onde eram construídos pequenos hospitais, escolas e açudes. Também ensinou técnicas agrícolas aos moradores das localidades onde instalou estas Casas. (COMBLIN, 2011).

Foi a seca de 1877 que gerou o primeiro grande açude do Semiárido. Construído no Ceará, o Açude de Cedro localizado em Quixadá, demorou mais de vinte anos para ser concluído. Ele deu início à Era da Açudagem, com recursos públicos para atender às reclamações dos grandes proprietários da região. O outro motivo para as grandes construções destes reservatórios era a intenção de manter as “hordas de famintos” fixadas no sertão para que não invadissem as cidades do litoral e praticassem saques ou engrossassem os movimentos messiânicos que ameaçavam a ordem sociopolítica, como aconteceu com Canudos, pois estes movimentos eram alimentados pelas grandes estiagens e colocavam o frágil regime político da época em perigo. A prática de utilizar as vítimas das secas para a construção de açudes foi intensificada pelo então Ministro da Viação e Obras Públicas do primeiro governo do Presidente Vargas, o paraibano e famoso escritor José Américo de Almeida, nos anos 1930 e passou a ser comum nas décadas seguintes, atingindo o seu auge no início dos anos 1980.87 A reivindicação para a construção de açudes passou a ser uma rotina por parte dos proprietários de terras da região, dado a maior valorização que estas adquirem após possuírem reservatórios de água.

A construção de açudes começou de forma institucionalizada com a criação da Comissão de Açudes na década de oitenta do século XIV, no Estado do Ceará, destinada à construção do Açude do Cedro, e seria extinta ainda nesta mesma década. A Comissão de Açudes e Irrigação foi criada no mesmo estado, em 1903, assim como a Comissão de Estudos e Obras Contra os Efeitos das Secas e da Comissão de Perfuração de Poços, estas últimas duas localizadas no Estado do Rio Grande do Norte. Depois, em 1906, os dois órgãos foram fundidos em um novo que centralizou a construção dos açudes, perfuração de poços, abertura de estradas e dos campos de irrigação. Segundo relata Guerra (1981), em 1906 as comissões dos dois Estados nordestinos foram fundidas com o nome de Superintendência de Estudos e Obras Contra as Secas. No ano seguinte, voltaria a mudar sua nomenclatura para Comissão de Açudes e Irrigação. Iniciava-se a criação dos órgãos públicos para lidar com as estiagens prolongadas que promoveriam o que ficaria conhecido como a Indústria da Seca,88 que

87“A seca de 1979-1983 apresentou um quadro bastante distinto, uma vez que, no final de 1983 para o início de 1984, o número de pessoas alistadas girava em torno de 2,7 milhões de trabalhadores entre homens, mulheres e crianças, essas com idade entre 12 e 17 anos: menores, enfim.” (CARVALHO, 2004).

88 O termo Indústria da Seca foi utilizado pela primeira vez pelo então jornalista Antônio Callado, do jornal carioca Correio da Manhã (SILVA, 2008B). Enviado para o Nordeste, ele produziu uma série de reportagens para aquele periódico que apoiava a criação da SUDENE. Em seu discurso de posse na SUDENE, Furtado encerrou agradecendo, entre outros, à imprensa, dizendo, “Finalmente, aprendi com a imprensa que as verdadeiras causas nobres nunca ficarão sem padrinho neste país.” (FURTADO, 2009, p. 169). Mais tarde, a SUDENE colaboraria com esta indústria.

estampou as manchetes da mídia nacional com escândalos de corrupção e alimentou uma visão deturpada sobre o Semiárido.

Em 1909 foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas89 – IOCS – que teria sua nomenclatura modificada para Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS – em 1919. Ganharia um novo nome na década de 1930, durante o Governo do Presidente Getúlio Vargas, passando a ser chamado de Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS90– nome que perdura até os dias atuais. A criação deste órgão sofreu a influência de pesquisadores da Universidade de Stanford, que haviam desenvolvido estudos no Semiárido (GUERRA, 1981). O DNOCS foi o responsável por várias obras que geraram infraestrutura no NE como estradas e ferrovias necessárias para tirar o sertanejo do “isolamento” de séculos. As elites nordestinas logo perceberam as vantagens que advinham de uma autarquia com orçamentos milionários para a construção de grandes obras na região e, desde então, o mantém sobre o seu poder (OLIVEIRA, 1977). Sob o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o DNOCS seria extinto para ressurgir anos mais tarde, durante o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, não goza do mesmo prestígio orçamentário dos seus áureos anos.

É com o Presidente Epitácio Pessoa no início dos anos vinte do século passado que o Semiárido vê chegar as primeiras empresas estrangeiras91 para a construção de grandes açudes, barragens e estradas vicinais.92 Pessoa tinha fortes ligações com a oligarquia algodoeira nordestina e os donos dos campos de algodão do sertão foram suficientemente poderosos para reivindicar a açudagem para a sua área.93 Seus sucessores suspenderam as obras, que seriam retomadas na década seguinte. Era o início da institucionalização de uma prática que vinha ocorrendo há décadas: facilitar, com o dinheiro público, a vida dos senhores das terras e das águas do Semiárido com empréstimos subsidiados ou a fundos perdidos para a

89 Criado com base no Bureau of Reclamation Historic Dams and Water, instituição estadunidense para administrar as terras áridas e semiáridas e as águas daquela região dos Estados Unidos em 1902. Confira em http://www.usbr.gov/. A ideia de transpor modelos estadunidenses para o Brasil, mesmo com realidades diferentes, ainda é repetida com o PTARSF.

90 Por décadas, a sede do DNOCS estava no Rio de Janeiro, então capital da república. Atualmente, sua sede está em Fortaleza, assim como a sede do Banco do Nordeste do Brasil. A localização de ambos naquela capital é uma vitória das oligarquias cearenses, conforme Oliveira (1977).

91 Segundo Guerra (1981, p. 62), as empresas eram as inglesas Northon Griffths & Co. Ltda e C. H. Walker & Co. Ltda e a norte-americana Dwight P. Robson Inc.

92 As obras foram investigadas por uma comissão enviada ao Nordeste que contava entre os seus membros com o General Candido Rondon. Em seu livro Pela Verdade, escrito em reposta às críticas que o seu governo sofreu especialmente em São Paulo, Pessoa afirma que as críticas que apontavam sua preferência pelo NE são infundadas, e que ele também investiu no Sul, chegando a declarar que “Só a estrada de ferro Central do Brasil consumiu mais do que todas as obras do Nordeste.” (PESSOA, 2004).

instalação de indústrias e a construção de grandes obras. Práticas que teriam o seu ápice durante a Ditadura Civil-Militar brasileira, mas nunca desapareceram totalmente em nenhum governo.

Durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1984), a construção de açudes foi intensificada, principalmente durante as grandes estiagens. Estas construções traziam a vantagem para o governo de manter os mais pobres ocupados, com as chamadas Frentes de Emergência, em troca de cestas básicas, e garantia as bases políticas para o seu partido político. Ao mesmo tempo, estas Frentes geravam mão de obra gratuita para os grandes proprietários da região com a construção de grandes e pequenos reservatórios. É por causa deste trabalho de milhares de homens, mulheres e crianças que o Semiárido conta com a maior rede de açudes em terras com estas características ambientais em todo o planeta. Ao todo são mais de setenta mil reservatórios dos mais variados portes acumulando mais 37 bilhões de m³ de água94, sendo 60% anuais, ou seja, não suportam dois anos sem receber chuvas, 20% são plurianuais, suportando estiagens não muito longas e 20% suportam grandes estiagens, pois são interanuais (RIBEIRO, 2008). Muitos deles estão em terras privadas e com as suas águas vetadas ao acesso público, sendo prioritárias para a dessedentação dos animais dos grandes proprietários de terra do Semiárido. As barragens construídas no Rio São Francisco têm como prioridade a produção de energia elétrica.95 Em resumo, as vítimas da concentração das terras e das águas foram forçadas a trabalhar para uma suposta democratização do acesso aos recursos hídricos, quando na verdade estavam promovendo a concentração destes na região.

A ideia da construção destes grandes açudes também tinha a intenção de torná-los criatórios de peixes. O quesito piscicultura nos açudes e nas barragens nordestinas é outro grande produto governamental vendido para o desenvolvimento da região. De forma institucionalizada, começou ainda quando José Américo de Almeida era ministro de Vargas nos anos 1930, quando criou a Comissão Técnica de Piscicultura, sediada em Fortaleza (ALMEIDA, 2009). Essa ideia foi retomada no Governo Lula, especialmente com a criação do Ministério da Pesca e Aquicultura, e sofre críticas de especialistas por introduzir espécies exóticas como a tilápia.

94 Este montante não tem computado em seu total os volumes das grandes barragens do Rio São Francisco. 95 Estão sob a administração da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF, uma empresa de economia mista. Essas usinas produzem mais de 90% da energia elétrica consumida no Nordeste. Confira em http://www.chesf.gov.br/portal/page/portal/chesf_portal/paginas/inicio.

Figura 8 – Alguns dos principais açudes construídos pelo DNOCS

Fonte: DNOCS, 2013. Disponível em: <http://www.dnocs.gov.br/mapa/acudes.php>. Acesso em: 10 jun. 2015.

O último grande reservatório construído no Semiárido foi a Barragem do Castanhão, no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Durante o seu governo, foi iniciada a criação das Comissões ou dos Conselhos de Açudes. Uma das intenções era administrar as outorgas para começar a cobrança pela água. O Ceará foi o primeiro estado nordestino a aderir a este modelo.

A água armazenada nos açudes e nas grandes barragens do NE evaporam-se rapidamente, dado que aquela é uma região com um grande índice de evapotranspiração. Um outro grave problema com a construção de alguns destes açudes foi a falta de estudos apropriados antes de suas construções. Muitos deles, por causa da salinização do solo, deixaram os níveis da água armazenada impossível para o consumo humano ou animal, tornando-os inúteis para as populações locais (BRANCO, 2003). É um claro exemplo de desperdício do dinheiro público. Segundo Suassuna (2000, p. 16), “Estudos têm demonstrado que 40% das águas de um pequeno açude ou barreiro se perdem para a atmosfera pelo fenômeno da evaporação que, na região, chega a atingir patamares da ordem de 2000 mm.” Some-se a este fato, a presença do subsolo cristalino que não acumula a água da chuva em cerca de 70% do Semiárido, mais os ventos quentes alísios formados no Oceano Atlântico e que adentram o Nordeste Setentrional, fator preponderante para a alta evapotranspiração da

região. Muitos dos açudes construídos perdem muita água por causa deste fenômeno climático e quanto maior a lâmina de água do reservatório, maior a perda. Além deste fator natural, há também o assoreamento dos reservatórios que acontecem com o passar dos anos. Segundo Ribeiro (2007, p. 175), “Nos açudes do Semi-Árido esta perda na capacidade de acumulação é da ordem de 1% ao ano, havendo casos de chegar a 2%. Traduz-se que um açude construído há 50 anos perdeu a metade do volume da sua bacia hidráulica.” É necessário, no entanto, registrar que não podemos negar ou diminuir o fato de que foram alguns destes reservatórios que salvaram as vidas de muitas pessoas e animais na região durante as estiagens, e que possibilitam que muitos sertanejos permaneçam em suas terras, mesmo ressaltando-se que contribuíram para a permanência do poder de certos grupos políticos que se apropriaram destes mananciais.

O DNOCS, além da construção de grandes açudes e estradas foi também responsável pela implantação dos primeiros projetos de irrigação daquela região. O sonho dos campos irrigados, circundando os açudes do Semiárido nordestino datam do início do século passado. A ideia prosperou com a importação do modelo estadunidense, que durante a grande crise econômica dos anos 1930, conhecida como Great Depression, criou o projeto Tenesse Valey Authority – TVA.96

O açude de Cedro, no Ceará, assim como vários outros grandes reservatórios construídos pelo DNOCS no início do século XX, foram os primeiros a receber as plantações irrigadas em seu entorno. A ausência de investimentos, o não treinamento dos agricultores que neles trabalhavam e a falta de manutenção dos equipamentos de aspersão da água são alguns dos motivos para o fracasso da grande maioria destes projetos. Embora a irrigação seja necessária em alguns casos, é preciso um profundo estudo antes que se implante um projeto desta natureza. Ribeiro (2007, p. 50) alerta que “É essencial, entretanto, para o desempenho desta atividade, que exista compatibilidade entre o solo e a água. Solo bom e água boa. Esta compatibilidade no Semi-Árido brasileiro é bastante limitada com relação ao tamanho de sua superfície geográfica.” A irrigação97 pode causar grandes desastres ambientais caso não seja

96 Para saber mais sobre o Tenesse Valley Authority – TVA – confira o site http://www.tva.gov/. De acordo com Escobar (1995), o modelo do TVA foi seguido em várias partes do mundo nos projetos de desenvolvimento regionais. Os grandes projetos de irrigação da Califórnia, criados através do Central Valley Program, também servem de inspiração para os projetos brasileiros. A Califórnia possui grandes conflitos hídricos atualmente. 97 A irrigação existe há milhares de anos. Segundo Cardoso (2004, p. 20), “[...] é forte a tentação de atribuir a unificação do Egito num só reino, ocorrida por volta do ano 3000, à necessidade de uma administração centralizada das obras de irrigação para o bom funcionamento da economia agrícola num país de clima desértico.” No Vale do São Francisco a agricultura irrigada é praticada há décadas. Barros, Alves e Albuquerque (1989, p. 136-137) afirmam que “Nas Várzeas do São Francisco, por exemplo, eram empregadas as chamadas

acompanhada de estudos criteriosos de seus possíveis impactos. É sabido que ela pode ser causa para a salinização do solo, podendo deixá-lo infértil por décadas.

Ainda inspirado no TVA, o governo brasileiro criou, em 1948, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco – CODEVASF.98 Ela foi criada para

“desenvolver” o grande Vale do Rio São Francisco incentivando a presença de campos de irrigação públicos e privados. Alguns anos mais tarde foi criado o Banco do Nordeste do Brasil – BNB –, e posteriormente o Escritório Técnico de Estudos Econômicos – ETENE –, este com o intuito de ampliar os estudos sobre a viabilidade econômica da região e subordinado ao BNB. Os primeiros financiamentos deste banco foram destinados à indústria têxtil, favorecendo os produtores de algodão (SILVA, 2008B). Interessante ressaltar que a sua atuação, até os dias atuais, abrange parte dos estados do Sudeste de Minas Gerais e Espírito Santo.

Assumindo que a irrigação seja o melhor para o processo de “desenvolvimento” do Nordeste, quanto seria possível irrigar de seu território? Alguns estudos dizem que 3 milhões de hectares, outros afirmam que seriam 2 milhões de hectares. O único consenso parece ser que 95% do território semiárido não é viável para a irrigação. Alguns chegam a afirmar que apenas 2% do território semiárido do NE seria passível de receber agricultura irrigada. Mesmo assim, a Constituição de 1988 assegurou nos Atos das Disposições Transitórias em seu Art. 42 que, durante quinze anos, a União aplicará, dos recursos destinados à irrigação:99

I - vinte por cento na Região Centro-Oeste;

II - cinquenta por cento na Região Nordeste, preferencialmente no Semi-Árido.

‘portas d´águas’, passagens de alvenaria que serviam para controlar o nível da água dentro das várzeas, impedindo inundações ou falta de água, de acordo com a necessidade da cultura do arroz.”

98 Criada como Comissão do Vale do São Francisco, em 1948, passou a chamar-se Superintendência do Vale do São Francisco – SUVALE – em 1967. Em seguida seria denominada de PROVALE (1972) e, finalmente, em 1974, recebeu o nome de Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco – CODEVASF. Segundo Cohn (1978, p. 59), a CODEVASF e a CHESF são resultados de um “[...] deslocamento do centro de preocupações da parte setentrional do Nordeste para a meridional. Tal fato não é tanto pela tomada de consciência da necessidade de desenvolvimento da região, quanto da necessidade de facilitar a comunicação nacional interna por via fluvial, devido às dificuldades colocadas pela Segunda Guerra Mundial.”

99 Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/ADC1988_05.10.1988/ADC1988.shtm>. Acesso em: 08 jun. 2015.

Assim como aconteceu com a açudagem, a ideia de ter a terra irrigada no Nordeste fincou raízes como a solução para todos os problemas daquela área,100 algo que já mereceu até mesmo um Ministério Extraordinário para Assuntos de Irrigação, em 1986. A história da irrigação no NE segue o mesmo roteiro da construção dos açudes na região: governos criam seus programas que não têm sucesso ou continuidade. Existe uma crença de que sem a irrigação de grandes áreas na região ela não se “desenvolve”, e, portanto, com a finalidade de promovê-la, foram criados projetos e órgãos governamentais. Em 1968 foi lançado o Programa Plurianual de Irrigação – PPI. Ainda naquele ano, foi criado o GEIDA – Grupo Executivo de Irrigação para o Desenvolvimento Agrícola. (ALMEIDA, 2009, p. 80). Em 1970 foi a vez do Plano Nacional de Irrigação. Em 1974 foi o Programa de Desenvolvimento do Nordeste – POLONORDESTE. Em 1986 seria lançado o Programa de Irrigação do Nordeste – PROINE. Em seguida foi o Programa de Apoio a Fruticultura Irrigada no NE (VALDES at al, 2004). Em alguns destes projetos, famílias foram atingidas e removidas de suas moradias (COELHO, 1985), mesmo quando se afirmava que a intenção era melhorar a vida dos sertanejos.

Nos anos 1980, o governo da Ditadura Civil-Militar agonizava politicamente e buscava formas de conseguir apoio popular. Assim, criou grandes projetos de irrigação no Semiárido em diferentes estados nordestinos, principalmente para a produção de frutas para a

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