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3. Capítulo 1: Atravessando as ruínas da fé

3.2 As publicações em revistas científicas

Como foi dito na seção anterior, os artigos científicos deveriam mobilizar outras estratégias discursivas, principalmente no que concerne aos registros das línguas e dos mitos indígenas. Nesses textos, não veremos mais as ordenações temporais e espaciais das viagens; eles passam a ser divididos em seções que contemplam tanto as características físicas do entorno dos rios visitados, quanto a constituição da população, com censos e história migracional. Além disso, parece haver uma prioridade maior em relação aos indígenas, em detrimento das descrições das desobrigas realizadas entre os seringueiros.

Os registros que Tastevin faz dos mitos indígenas, dos Kaxinawá, Katukina, Yawanawa, são um dos primeiros registros dessas histórias. Beatriz Protti Christino, em sua tese de doutorado sobre a rede de interlocutores de Capistrano de Abreu, comenta sobre o assunto:

quanto mais inacessível a região visitada, maior relevo ganhavam os resultados científicos obtidos e, conseqüentemente, maior era o prestígio de que se investia o pesquisador-viajante. Por conta disso, a alusão a territórios dantes pouco ou nada explorados desempenhava papel importante nos textos de divulgação científica (CHRISTINO, Beatriz Protti, “A rede de Capistrano de Abreu (1853-1927): uma análise historiográfica do rã-txa hu-ni-ku-~i em face da sul-americanística dos anos 1890-1929”, 2006, p. 56).

As viagens realizadas por Tastevin lhe possibilitavam acesso a diversas etnias em diversas localidades. Se, por um lado, esse conhecimento amplo da região em que realizava as desobrigas lhe permitia um mapeamento mais geral, por outro lado, as suas passagens pelas comunidades eram rápidas. Manuela Carneiro da Cunha comenta sobre isso em relação às viagens do padre: “Tastevin missionava sobretudo entre os brasileiros vindos do nordeste e só ocasionalmente conseguia estar entre os índios. Não se propunha aprender as línguas indígenas da região e sim simplesmente registrar vocabulários que

permitissem classificá-las em famílias linguísticas”133. Conforme podemos ler na citação de Christino sobre as recomendações de von den Steinen para Koch-Grünberg, haveria entre os americanistas uma preferência por longas estadias em um mesmo povo:

Para aquele grupo de especialidade, careciam de crédito os pesquisadores-viajantes que se limitavam a realizar passagens rápidas pelos povoados indígenas e optavam por mencionar generalidades acerca de numerosas etnias. O ideal corresponderia a conhecer em profundidade poucas tribos ou mesmo uma única. Tal concepção ficou explícita na “Reise-Instruktion für Herrn Dr. Theodor Koch” [instrução de viagem para o Sr. Dr. Theodor Koch], documento redigido em 20 de fevereiro de 1903 por von den Steinen para formalizar os procedimentos que seu subordinado deveria seguir, de modo a honrar o financiamento do Museu Etnológico de Berlim. Dentre outras informações detalhando os objetivos da expedição, pode-se ler no ofício: “Wollen Sie unter allen Umständen dem längeren Aufenthalt bei einem einzigen Stamm den Vorzug geben vor flüchtigem Besuch einer Anzahl von Stämmen“ [Queira o Sr., sob qualquer circunstância, dar preferência a uma mais longa permanência em uma única tribo a visitas apressadas a uma quantidade de tribos.] (Autos do MEB referentes à viagem do Dr. Koch, Vol. IB 44, apud CHRISTINO, Beatriz Protti, “A rede de Capistrano de Abreu (1853-1927): uma análise historiográfica do rã-txa hu-ni-ku-~i em face da sul-americanística dos anos 1890-1929”, 2006, p. 138-9).

Tastevin se encontra numa situação privilegiada de contato em campo com grupos indígenas, mas, como dissemos anteriormente, conheceu e esteve por pouco tempo entre vários grupos, sem se dedicar por muito tempo a um grupo específico. Além disso, faltaria-lhe conhecimento, ou estudo de gabinete para embasamento de seus dados em torno de um modelo teórico. Essa deficiência poderia ser diminuída

133 CARNEIRO DA CUNHA, “Tastevin, Parrissier: algumas fontes espiritanas para a história do Alto Juruá”, 2009, p. XVIII.

pelo contato com os antropólogos de gabinete, principalmente através de Paul Rivet. Ainda sim, os problemas do missionário nesse aspecto não estavam totalmente resolvidos, uma vez que a própria coleta de dados exigia conhecimentos técnicos para ser bem executada e utilizada pelos pesquisadores da rede de americanistas:

Ainda que as expedições ‘sérias’ a lugares desconhecidos trouxessem inegável prestígio aos autênticos pesquisadores-viajantes, as viagens não chegavam sequer a constituir uma condição necessária para que um intelectual figurasse no primeiro time da Sul-Americanística dos anos 1890-1929. Isso porque, a forma de tratamento dos dados assumia então, no julgamento da relevância científica de um trabalho, maior peso do que a recolha in loco dos mesmos. Dito de outra maneira, dados de segunda mão tratados com rigor mereciam mais respeito do que dados coletados no campo pelo próprio pesquisador, mas não submetidos a um procedimento julgado confiável de análise (CHRISTINO, Beatriz Protti, “A rede de Capistrano de Abreu (1853-1927): uma análise historiográfica do rã-txa hu-ni-ku-~i em face da sul-americanística dos anos 1890- 1929”, 2006, p. 67).

Se nas revistas apostólicas a insuficiência de leituras de Tastevin no campo da linguística e da etnografia era irrelevante, nas revistas científicas esse é um obstáculo para o seu reconhecimento como pesquisador. Para que ele deixasse de ser somente um pesquisador de campo, era fundamental que se aprofundasse nas leituras e nos requisitos técnicos para coleta, tanto de palavras e expressões, como de histórias tradicionais indígenas. A pesquisa de campo e o acesso a grupos indígenas relativamente desconhecidos não lhe trariam o reconhecimento que pretendia:

Biografias como a de Hestermann tornam patente que, para fazer jus ao reconhecimento dos que publicavam artigos, por exemplo, no Journal de la Société des Americanistes de Paris, não era preciso obrigatoriamente passar longas temporadas em meio aos índios. Por outro lado, só mereciam sanções positivas da comunidade dos

sul-americanistas aqueles que dominavam a literatura específica e adotavam os conceitos e procedimentos de análise consagrados. Dessa maneira, carecia de verdadeiro valor o trabalho de campo que não fosse complementado por um trabalho de gabinete respeitável (CHRISTINO, Beatriz Protti, “A rede de Capistrano de Abreu (1853-1927): uma análise historiográfica do rã-txa hu-ni-ku-~i em face da sul-americanística dos anos 1890-1929”, 2006, p. 68).

Talvez por conta disso, Tastevin tenha buscado instrução sobre a coleta de mitos indígenas, como podemos ver no trecho da carta que Koch-Grünberg lhe enviou:

Sehr wichtig sind Aufzeichnungen von Indianer- Mythen und –Erzählungen im Urtext mit genauer (Interlinear-) Übersetzung. Nur in diesen Erzählungen, die sich wörtlich vom Vater auf den Sohn vererben, kann man die wirkliche, grammatikalische Sprache des betreffenden Stammes kennen lernen.

[Muito importantes são os registros de mitos e narrativas indígenas na versão original com exata tradução (interlinear). Somente nessas narrativas, herdadas, literalmente, de pai para filho, pode-se conhecer a verdadeira gramática da língua da tribo em foco] (carta de Theodor Koch-Grünberg a Constantino Tastevin, de 13 de julho de 1921, Série “Correspondência”, Pasta 31, ATKG, apud CHRISTINO, Beatriz Protti, “A rede de Capistrano de Abreu (1853-1927): uma análise historiográfica do rã-txa hu-ni-ku-~i em face da sul-americanística dos anos 1890-1929”, 2006, p. 125).

Essa carta, juntamente com a carta já citada de Tastevin para Rivet, corroboram com a hipótese de que o missionário se sentia em débito com as leituras e os procedimentos técnicos das áreas científicas com as quais pretendia dialogar. Registrar mitos e listar vocabulários para publicar em revistas especializadas requeriam um certo domínio teórico que estava, pelo menos inicialmente, aquém de suas competências. No caso da linguística, era necessário coletar palavras de

“valor primário”, ou um grupo específico de vocabulário que poderia ser comparado com outras línguas:

Na categoria de “palavras de valor primário”, as “Wörter primären Werthes”, incluíam-se as denominações para as partes do corpo, elementos da natureza (como água, madeira, fogo), corpos celestes (caso de lua, sol), relações de parentesco e tipos humanos (a exemplo de homem, mulher, menino, anciã, cacique) (CHRISTINO, Beatriz Protti, “A rede de Capistrano de Abreu (1853- 1927): uma análise historiográfica do rã-txa hu-ni- ku-~i em face da sul-americanística dos anos 1890-1929”, 2006, p. 83).

As listas de palavras eram fundamentais para os americanistas, pois através delas se poderiam identificar línguas de uma mesma família e mesmo a influência de um grupo linguístico em relação a outro:

a comparação de listas de palavras em busca de parentesco lingüístico representava uma das principais atividades em lingüística sul-americana (cf., por exemplo, Adam 1893, Rivet e Beuchat 1909, Rivet 1910, Tavera-Acosta 1921: 228, Moreira e Silva 1932). Também se construíam vocabulários comparativos para línguas de uma mesma família, como em Koch-Grünberg (1910a). Por meio desse procedimento, os pesquisadores buscavam identificar que línguas tinham sido mais ou menos influenciadas por tribos vizinhas, pertencentes a outros grupos lingüísticos. Mais ainda, empenhavam-se na descoberta da língua mais ‘pura’ e ‘conservadora’ da família. (CHRISTINO, Beatriz Protti, “A rede de Capistrano de Abreu (1853-1927): uma análise historiográfica do rã-txa hu-ni-ku-~i em face da sul-americanística dos anos 1890-1929”, 2006, p. 104).

No caso do registro de mitos, o trabalho dos pesquisadores também se dividia em duas frentes: a de coleta e tradução, preferencialmente interlinear, como vimos na recomendação de Koch-

Grünberg a Tastevin, e o estudo das relações entre os mitos de um mesmo grupo e mitos de grupos diferentes:

No campo dos estudos culturais, os sul- americanistas reconheciam uma diferenciação entre a etnografia e a etnologia. Enquanto a primeira tinha como tarefa a descrição de uma sociedade, em particular, ou do modo de vida em uma área restrita do globo, a segunda assumia um caráter geral, oferecendo explicações que sistematizavam as observações etnográficas (CHRISTINO, Beatriz Protti, “A rede de Capistrano de Abreu (1853-1927): uma análise historiográfica do rã-txa hu-ni-ku-~i em face da sul-americanística dos anos 1890-1929”, 2006, p. 102).

Outra consideração a se fazer é sobre a relação pesquisador- informante. Já dissemos que Tastevin esteve muitos anos em campo e tinha oportunidade de se relacionar com os indígenas nas aldeias e nos seringais em que viviam. Mesmo que esses indígenas fossem dépaysées, uma vez que não viviam mais em seus pagos de origem e, segundo Tastevin nos conta, mudavam frequentemente de lugar e de denominação, mas ainda estavam em sua paisagem de origem. Conforme vimos pelas citações de Beatriz Protti, o contato com os indígenas não era garantia de valorização do trabalho do pesquisador; a análise de dados de segunda mão poderia render mais prestígio do que as labutas em campo. Essa perspectiva influi diretamente na figura do informante escolhido para auxílio do pesquisador. Nesse sentido, importava menos onde tinha acontecido a pesquisa do que quem teria auxiliado o pesquisador.

Como podemos perceber até agora, as publicações do padre nas revistas científicas traziam, pelo menos, dois tipos de problemas: o primeiro era relativo à sua atuação em campo. Viver na Amazônia era um aspecto relevante de seu trabalho. Por outro lado, sua atividade missionária fazia com que ele viajasse muito, o que era vantajoso, mas fazia com que ele se detivesse pouco tempo nas localidades, o que poderia ser um indício de que as informações que fornecia fossem superficiais. O segundo problema é relativo ao seu conhecimento técnico e científico. Todos esses problemas somados poderiam fazer com que o missionário desistisse de tais publicações. No entanto, não é o que acontece. Suas publicações em revistas científicas são mais

numerosas. Podemos inferir daí que, mesmo com os problemas engendrados por sua condição missionária, seus relatos tinham algum grau de apreciação na rede de americanistas. Uma outra inferência é que Tastevin valorizava sua própria experiência: o contato direto e variado com os indígenas e a longa permanência em campo lhe permitiam um mapeamento amplo, ao mesmo tempo em que lhe permitiam um conhecimento do dépaysement que influía sobre as informações que coletava.

Vejamos como esses aspectos aparecem em alguns artigos do missionário publicados em revistas científicas. Comecemos com o “Quelques considérations sur les indiens du Juruá”, cuja tradução em português ainda não existe, publicado em 1919 no Bulletins et Mémoires

de la Société d’Anthropologie de Paris.

“Quelques considérations sur les indiens du Juruá”

O artigo começa com uma explanação geral sobre a origem das informações catalogadas:

As notas que aqui se seguem não possuem qualquer pretensão de esgotar o assunto, que será, para um homem da profissão, melhor compreendido e relativamente fácil de se estudar. É certamente lamentável que a ciência etnológica e linguística, que inspirou ações admiráveis de heroísmo e de esforços sem precedentes para se colocar em contato com os índios do Japurá, do Xingu e do Tapajós, não esteja ainda preocupada com aqueles que andam na bacia do Juruá e que são de fácil acesso.

As informações que vou colocar aqui foram recolhidas nas viagens que fiz no rio de 1908 a 1914, desde as nascentes do Tejo, no décimo grau de latitude sul e aquelas do Moa, até a foz do Juruá no rio Amazonas. Meus meios não me permitiram permanecer entre os índios, mas eu batizei pessoas domesticadas de todas as tribos, sobre as quais vou falar. Os “seringueiros” estavam frequentemente em contato com eles, dando informações, as quais registrei, sobre as suas localizações e seus hábitos. Infelizmente lhes escapam muitas coisas, cujo discernimento poderia ser feito somente por um profissional,

uma vez que os seus estudos exigem muito conhecimento e serenidade de julgamento. Seria desejável que as sociedades de americanistas não demorassem mais a conseguir meios de conhecer os índios da bacia desse rio, que é salubre, fértil, abundante em recursos, fácil de percorrer em vapor, em canoa, em jangada, a cavalo, e que é explorado por pessoas muito hospitaleiras que vivem nessa terra. (TASTEVIN, “Algumas considerações sobre os índios do Juruá”, 1919, p. 144 − tradução nossa134).

Tastevin reitera o desconhecimento dos americanistas sobre a região do Juruá, o que é uma forma de valorizar o seu trabalho e de alertar para o ineditismo de seu artigo. Ao mesmo tempo em que enaltece as informações coletadas, elas parecem ter sido feitas principalmente entre os seringueiros. Provavelmente, também nas viagens de desobriga para o rio Moa e o rio Tejo, sobre as quais já comentamos anteriormente, o missionário procurava informações sobre os povos indígenas da região; seus informantes, no entanto, eram pessoas sem conhecimento científico e sem capacidade de julgar o que é

134

No original: “Les notes qui suivent n'ont aucunement la prétention d'épuiser le sujet qui serait, pour un homme du métier, très étendu et relativement très facile à étudier. Et il est vraiment dommage que la science ethnologique et linguistique qui a inspiré des actes admirables d'héroïsme et des efforts inouïs pour se mettre en contact avec les Indiens du Japurâ, du Xingû et du Tapajoz, ne se soit pas préoccupé davantage de ceux qui par courent le bassin du Jurua et qu'il serait si facile d'atteindre. Les quelques renseignements que je vais donner ici ont été recueillis au cours des voyages que j'ai faits sur ce fleuve de 1908 à 1914, depuis les sources du Tejo, au 10e degré de latitude Sud et celles du Môa, jusqu'à l'embouchure du Juruâ dans l'Amazone. Mes moyens ne m'ont pas permis de faire un séjour au milieu des Indiens, mais j'ai baptisé des sujets domestiqués de toutes les tribus, dont je vais parler, et les « seringueiros » étant assez souvent en relation avec eux donnent sur leur localisation et leurs habitudes des renseignements- qu'on peut enregistrer. Malheureusement beaucoup de choses leur échappent que seul un professionnel saurait discerner; car ces études exigent beaucoup de connaissances et de sérénité dans le jugement. Il est donc à désirer que les Sociétés américanistes ne tardent pas davantage à prendre les moyens de connaître les Indiens du bassin de ce fleuve, qui est salubre, fertile, abondant en ressources, facile à parcourir en vapeur, en canot, en radeau, à cheval, et qui est exploité par le peuple le plus hospitalier qui soit sur terre” (TASTEVIN, “Quelques considérations sur les indiens du Juruá”, 1919, p. 144).

ou não relevante para pesquisa científica. Além disso, diz ter batizado “pessoas domesticadas” de todas as tribos, ou seja, através delas também poderia ter colhido informações.

Se, como vimos, entre os americanistas, a permanência em campo era valorizada, nesse artigo, Tastevin dá indícios de não ter feito sua pesquisa em uma situação ideal. Tem um conhecimento amplo e variado da região, mas esse conhecimento é superficial, seja porque não esteve entre os índios em seus pagos, seja porque viajou muito e sem longa permanência nos lugares visitados. Além disso, o missionário reconhece que os pesquisadores de gabinete aproveitariam melhor as informações por ele coletadas. A sua atuação em campo, os seus informantes e o seu conhecimento teórico se revelam, assim, problemáticos desde o início do artigo, como Tastevin parece perceber ao escrever sua introdução.

Depois desses parágrafos introdutórios, o artigo vem dividido em seções: “Situação”; “Condições sociais”; “Costumes”; “Armas”; “Casa”; “Nome das tribos” e “Tatuagem e deformações”. O artigo traz, de forma geral, informações muito variadas. Nessas seções, o missionário não se dedica a nenhum povo especificamente, mas faz uma espécie de pot-

pourri desses aspectos em diversos povos. Ele compara uma lista de

povos que eram fornecidos para trabalho escravo, que aparece no relato de 1775, de Francisco Sampaio, intendente geral da Capitania do Rio Negro, com os nomes de povos que recolheu, afirmando:

Só podemos, então, conhecer esses nomes de povos pelo ouvir dizer: como é muito difícil ter informação sobre o estado exato de um índio, mesmo civilizado, nós não sabemos muito o que pensar dessa enumeração. Em todo caso, é bom conhecê-la para poder fazer uma comparação com o estado atual: nós veremos através disso como os índios desapareceram rapidamente e como é urgente que a ciência do passado os estude sem mais atrasos (TASTEVIN, “Algumas considerações sobre os índios do Juruá”, 1919, p. 145 − tradução nossa135).

135 No original: “On ne pouvait donc connaître ces noms de peuples que par ouï- dire: et comme il est très difficile d'avoir un renseignement sûr et exact d'un Indien, même civilisé, nous ne savons trop que penser de cette énumération. En tous cas, il était bon de la connaître pour faire la comparaison avec l’état actuel: on verra par là combien les Indiens disparaissent rapidement et combien il est

A comparação dos povos sobre os quais ele tem notícia com o relato de Francisco Sampaio poderia ser até questionada: o rio Negro e o rio Juruá são distantes e não há qualquer nota explicativa sobre a fonte consultada, então não se sabe muito bem a que trecho do relato Tastevin estaria se referindo. Note-se que ele mesmo não sabe o que pensar dessas enumerações que faz, mas segue reiterando a urgência de pesquisas na região o que, mais uma vez, é uma forma de valorizar o seu próprio artigo, mesmo que esse esteja repleto de informações superficiais e provenientes do “ouvir dizer”.

A referência ao que se ouviu dizer é frequente na prosa do missionário. Antes de descreditar essas informações ou tomá-las como um boato, talvez seja mais proveitoso tomá-las pelo seu excesso e compreendê-las através da própria contingência em que foram recolhidas. O antropólogo Oscar Calavia Saéz, em um artigo sobre os etnônimos do sudoeste amazônico, reitera que a “multiplicação dos

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