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As regiões dinâmicas em inovação: vitrines do período tecnológico

Condições urbanas e regionais dadas pelas novas formas de produção

1. O meio técnico-científico-informacional e a configuração do espaço

1.1 As regiões dinâmicas em inovação: vitrines do período tecnológico

Apesar de influenciar de maneira decisiva todos os lugares do planeta, os elementos estruturadores de influência tecnológica dados pelo atual período histórico (o período tecnológico) e a espacialização das características do meio técnico-científico-informacional aparecem com mais força ou primeiramente em determinados lugares privilegiados. São lugares onde a percepção das características deste meio carregado de técnica, ciência e informação é facilitada, ou seja, existem determinados recortes do espaço onde a dinâmica das modificações globais da sociedade se dá mais rapidamente e demonstra-se mais evidente.

Estes lugares são regiões geográficas complexas, formadas por cidades e locais de influência onde a tecnologia flui com mais facilidade, tanto quanto à sua produção, quanto ao seu uso. Assim, intimamente relacionadas ao conceito das zonas luminosas (SANTOS, 1994), estão o que chamamos de regiões dinâmicas em inovação. São regiões onde as inovações aparecem ligadas especialmente aos meios de produção, proporcionando profundas modificações nas suas relações cotidianas.

Existem, portanto, situações onde o meio técnico-cientíco-informacional se torna mais evidente, apesar de estar presente em praticamente todos os lugares. A partir, então, de um determinado recorte de uma realidade espacial tecnológica, percebemos um destaque onde este meio se faz mais evidente.

Seguindo esta idéia, conseguimos vislumbrar estas regiões onde a variável tecnológica aparece também com mais intensidade, onde a tecnologia é mais presente nas relações cotidianas do espaço, tanto do ponto de vista de sua produção quanto de seu uso. Seriam, regiões de ‘atratividade’ tecnológica, guardando concentrações de demanda e, principalmente, produção de tecnologia.

Estas regiões, por se caracterizarem como verdadeiras ‘vitrines’ do meio técnico-científico-informacional, apresentam certas qualidades de espaço intimamente ligadas ao uso e/ou à produção de tecnologia. E stes são o que chamamos de espaços inteligentes, que descreveremos com maior propriedade mais adiante.

Assim, seguindo a caracterização das regiões dinâmicas em inovação, temos ainda os espaços inteligentes, presentes em um ambiente favorável, carregados de condicionantes do desenvolvimento tecnológico, onde temos, por um lado, a presença de um forte relacionamento dos setores produtivos com locais de pesquisa e desenvolvimento (universidades, centros de pesquisa, significando mão-de-obra qualificada e uma economia comprometida com o desenvolvimento científico) e, por outro lado, a necessidade na evolução do próprio uso da tecnologia, gerando uma demanda por novos avanços, em que o alto fluxo de informações é elemento essencial.

segundo suas relações tecnológicas, ou seja, espaços inteligentes relacionados ao uso (ou demanda) de tecnologia (ligados à atividades comuns de produção e consumo, em que a tecnologia é tratada basicamente como insumo), e espaços inteligentes relacionados com a própria produção de tecnologia ou de suas condicionantes (ciência, conhecimento, pesquisa, etc., atividades onde o produto é a tecnologia). Estas características diferenciadas dos espaços inteligentes diferenciam também a composição das regiões dinâmicas em inovação.

Estas regiões, apesar de apresentarem fortes tendências à própria produção da tecnologia para cobrir suas demandas, muitas vezes limitam-se em utilizá- la, isto é, em apropriar-se da tecnologia como um insumo de sua produção, buscando-a em outros lugares além de seus limites geográficos.

Isto quer dizer que os lugares onde predominam os espaços inteligentes ligados à produção tecnológica, são mais raros e, muitas vezes, atendem às demandas de diversas regiões. São portanto, lugares especializados, qualificados ao desenvolvimento tecnológico com grandes concentrações de produção científica. Dessa forma, surge um outro conceito, diretamente ligado ao espaço inteligente da produção de tecnologia, que chamamos de cidades da inteligência.

Estas se comportam como cidades altamente especializadas, que podem atender a diversas regiões ao mesmo tempo, demonstrando por vezes um certo grau de independência regional. Mas, da mesma forma, não quer dizer que haja uma delimitação rígida das influências e das áreas de atendimento das cidades da inteligência, ou seja, suas relações com outras cidades e/ou regiões não se dão segundo uma estrutura rígida de conformação geográfica. U ma região dinâmica em inovação pode buscar suprir suas demandas através de produtos tecnológicos advindos de inúmeros lugares, ou de várias

cidades da inteligência ao mesmo tempo, havendo apenas, na maioria dos casos, uma tendência à especialização da cidade da inteligência mais próxima, em desenvolver as tecnologias necessárias à sua região.

Ou seja, uma região dinâmica em inovação necessita de avanços tecnológicos específicos inerentes às especializações da sua produção, tendo que buscá-los nas chamadas cidades da inteligência, marcadas pela presença de espaços inteligentes ligados à produção de tecnologia, cidades onde se acumulam atividades relacionadas diretamente ao desenvolvimento tecnológico, apresentando altos graus de produção de conhecimento e de produção de bens com altos valores tecnológicos agregados. Normalmente, na bibliografia sobre os casos brasileiros, estas cidades da inteligência são referenciadas segundo o conceito de pólo de desenvolvimento tecnológico. Dessa forma, poderíamos apresentar a configuração de um determinado recorte do espaço, onde as características do meio técnico-cientíco- informacional são mais evidentes, as regiões dinâmicas em inovação, que, por sua vez, caracterizam-se pelo uso freqüente de tecnologia (tanto na produção quanto no cotidiano de suas relações urbanas), podendo, ainda, abrigar uma localidade específica responsável por atender a estas demandas tecnológicas, as cidades da inteligência.

Mas, é importante salientar também que esta classificação proposta de regiões dinâmicas em inovação, cidades da inteligência e espaços inteligentes, não representa necessariamente uma estrutura hierárquica. Só estamos denominando fenômenos que acontecem simultaneamente em diferentes escalas. A única ‘rigidez’ presente nesta classificação diz respeito ao fato de que, desde que estejamos falando de regiões dinâmicas em inovação, é certa a presença de espaços inteligentes, sejam relacionados ao uso ou à produção de tecnologia, sendo que, nesta mesma região, pode não

estar contida nenhuma cidade da inteligência (neste caso, as demandas regionais são cumpridas por cidades de outras regiões).

É de fundamental importância atentar também para o fato de que estas chamadas regiões dinâmicas em inovação e mesmo as cidades da inteligência são fenômenos novos, em pleno desenvolvimento, que se sobrepõem a realidades distintas e datadas de outros tempos. Isto quer dizer que estes lugares onde o período tecnológico se evidencia, apresentam também fortes contrastes com a realidade urbana da cidade moderna, e talvez sejam os lugares que, além de apresentar maior sintonia com o movimento do mundo e maior evidência das relações tecnológicas, apresentam também, mais facilmente, as discrepâncias e antagonismos do ponto de vista social e cultural do modo de produção da sociedade contemporânea1.