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Condições urbanas e regionais dadas pelas novas formas de produção

1. O meio técnico-científico-informacional e a configuração do espaço

1.4 Os espaços inteligentes

Podemos começar a tratar dos espaços inteligentes considerando-os uma espécie de célula básica das relações entre as regiões dinâmicas em inovação. O s espaços inteligentes são locais carregados, mesmo que indiretamente, de uma intensificação das técnicas, da ciência e da informação.

Este conceito não se limita, portanto, a espaços onde se vê a tecnologia inerente à sua reprodução, isto é, não se trata apenas de universidades, indústrias de base tecnológica, etc. O s espaços inteligentes estão distribuídos por todo o território e presentes mesmo naquelas regiões ditas não dinâmicas em inovação, ou em zonas opacas (SANTOS, 1994).

A diferença, neste caso, seria a quantidade e a dependência da região para com os espaços inteligentes. Isto que dizer que a importância e a difusão destes espaços nas relações que a região tem com outros territórios, determinam a sua dinâmica no meio técnico-científico-informacional.

Dessa forma, uma agência bancária, assim como um centro de convenções, ou um centro cultural, ou ainda um cinema, todos podem ser caracterizados como espaços inteligentes, de acordo com o grau de tecnologia aplicados à sua formação. Atualmente, em determinadas regiões dinâmicas em inovação, mesmo em áreas agrícolas, podemos facilmente notar a presença de espaços inteligentes, como é o caso da região de R ibeirão Preto com um complexo agro-industrial altamente desenvolvido.

Devemos entender que este elemento básico de formação das regiões dinâmicas em inovação e, conseqüentemente, do meio técnico-científico- informacional deriva de uma qualidade nova de espaço, ou de espaços tradicionais carregados de qualidades tecnológicas específicas, isto é, ao mesmo tempo em que podemos notar a presença de espaços inteligentes completamente novos, existem espaços introduzidos em outros momentos históricos, agora modificados pela flecha do tempo e convocados a transformar-se em espaços inteligentes.

De uma maneira geral, podemos dizer que os espaços inteligentes estão fundamentados em quatro configurações básicas segundo suas funções e tipologias arquitetônicas:

• tipos tradicionais de espaços adaptados a novas tecnologias, como saguões dos bancos ou terminais de atendimento on-line em cidades mais desenvolvidas; cinemas adaptados, etc.;

• a união de vários espaços tradicionais para a configuração de novos espaços, como as plantas de grandes fábricas, composta pela união de vários fornecedores menores onde os serviços foram terceirizados; shopping-centers, modernos conglomerados de lazer, cultura e comércio, etc.;

• novos espaços efetivamente, como incubadoras de empresas nascentes ou fundações para a promoção de empresas ou entidades e

atividades ligadas à geração e uso de tecnologias; totens informativos com serviços públicos municipais e telefônicos, etc.;

• ou ainda, numa análise mais profunda na caracterização dos espaços para a compreensão de sua variável virtual, podemos estar falando de redes como Intranets na configuração do que chamamos de espaços

virtuais, como redes internas de indústrias ou universidades, ou a própria Internet. Esta última categoria encontra íntima correspondência

no conceito de urbanização virtual3.

Na realidade, o interesse pelo termo espaço inteligente surge automaticamente com a intenção de aprofundar o entendimento da lógica da organização do espaço na era das novas tecnologias, no período da história em que as tecnologias ou o desenvolvimento tecnológico ganha um papel estratégico jamais visto, papel conjunto ao das informações numa época chamada por LOJKINE (1995) de R evolução Informacional (que, como vimos, corresponde ao período tecnológico). A preocupação deste trabalho é definir e delimitar estes espaços inteligentes, sem criar uma dependência com a teoria dos pólos e parques tecnológicos, que está intimamente ligada ao conceito de cidade da inteligência. Como vimos, nestes lugares, há um predomínio das atividades de produção tecnológica, tendo seus espaços inteligentes uma relação próxima com a própria produção da tecnologia.

É latente a importância desta especificidade espacial nos dias de hoje para o entendimento do processo produtivo no capitalismo contemporâneo. Na verdade, grande parte da bibliografia que se dedica a estudar a produção e

3 Entende-se por urbanização virtual “uma série de novas situações e fatos sociais e culturais que

estão emergindo nas cidades, ampliando, complementando e complexificando os processos urbanos tradicionais em decorrência dos impactos sobre as práticas e espaços urbanos e regionais, das resultantes do processo de convergência das tecnologias da informática, das telecomunicações e dos mídias, deslanchado a partir das novas necessidades do modo de produção capitalista que neste fim

reprodução da sociedade contemporânea e os novos espaços da atualidade, limita-se a descrever os casos de desenvolvimento tecnológico apoiados no surgimento e configuração dos parques tecnológicos e, no caso específico brasileiro, dos pólos de desenvolvimento tecnológico, limitando-se também ao estudo apenas dos espaços inteligentes produtores de tecnologia.

Esta é a forma clássica de estudo dos novos lugares da produção. É desta forma de análise que este trabalho pretende se distanciar, a fim de fornecer novas possibilidades de observação da configuração espacial atual onde estes espaços produtivos específicos representam não mais a base de nossa análise, mas apenas um caso específico, um exemplo de uma qualidade específica de espaço inteligente, ou seja, neste sentido este trabalho de pesquisa promove um avanço no entendimento destes espaços ao considerar também o uso da tecnologia (seja o uso final ou uso do setor produtivo tradicional).

Assim, pudemos concentrar os esforços de estudo teórico e empírico em lugares até hoje ignorados quando se pensava em desenvolvimento das tecnologias. A intenção é caracterizar todos os espaço segundo seu grau de envolvimento com a tecnologia, seu nível de dependência dos avanços tecnológicos, seja ela relativa à produção ou ao uso da tecnologia.

Além de destrinchar os espaços segundo suas funções e tipologias, pudemos fazê-lo também conforme a sua forma de apresentação: física ou virtual. Outro desafio se apresentou, isto é, entender o espaço segundo uma dimensão pouco apresentada e estudada, num campo de conhecimento até o momento muito especulado e pouco delimitado. Para se ter uma compreensão totalizadora destes novos espaços inteligentes (produtivos, de uso, físicos e virtuais) devemos, acima de tudo, considerar um determinado de século atinge o estágio que se convencionou chamar de globalização ou mundialização das relações sociais e espaciais de produção” (CAMAR GO, 1996).

ponto de vista que se apresenta dividido entre a análise dos espaços inteligentes simplesmente quanto às suas qualidades e elementos intervenientes físicos, e quanto à sua prática de uso social, mediada pelas novas tecnologias. É nesta segunda ‘opção’ que se balizam todas as especulações e análises científicas presentes neste trabalho.

R ecordamos, para tanto, os nossos estudos sobre o conceito de espaço. SANTOS (1992, p.1) afirma que “a essência do espaço é social” e que este pode ser definido como a ‘soma’ de uma determinada configuração geográfica (paisagem) e da sociedade presente. Isto é, para qualquer análise que façamos a respeito do espaço, há de se considerar, e com a devida importância, o fator chamado de prática social.

Assim, nossa intenção não é focalizar apenas os espaços inteligentes relacionados aos meios de produção, mas sim apresentar uma classificação que dê conta dos espaços carregados de tecnologia, mas que fazem parte do dia-a-dia, do cotidiano da sociedade contemporânea.

Partindo deste ponto de vista, o espaço inteligente ainda é uma qualidade nova de configuração espacial presente onde o modo de produção capitalista detém maior poder de permeabilidade, nas regiões dinâmicas em inovação, sendo que grande parte da população ainda se encontra excluída da percepção e até da participação deste tipo de espaço.

Porém, há uma tendência muito clara com relação aos espaços inteligentes, se o desenvolvimento tecnológico continuar caminhando com a mesma intensidade, que é a sua própria banalização, ou seja, há uma forte tendência do espaço inteligente tornar-se banal, estar presente em todos os lugares. Só não sabemos quando e como, assim como ainda não sabemos como evoluirá o acesso a este tipo de espaço para as populações que muitas vezes ainda não têm nem o que comer.

Diante desta tendência à banalização da tecnologia intrínseca aos espaços, paralela a um crescente índice de exclusão do atual modo de produção capitalista, forma-se o perfeito entendimento desta, ainda nova, qualidade de configuração espacial. Vemos que, para futuras intervenções, tornam-se imprescindíveis a compreensão da realidade atual tal qual se apresenta e o horizonte de possibilidades de atuação utilizando-se das ferramentas à disposição.

Assim justificamos o empenho em valorizar todos os espaços, sejam de produção, de uso, de entretenimento, culturais, comerciais, etc., para a classificação de um espaço inteligente onde o desenvolvimento tecnológico permanece inerente à sua formação. Para efeito de classificação, dividimos os espaços inteligentes segundo sua forma de apresentação, função ou tipologia:

1. espaços de produção inteligente (EPIs); 2. espaços de uso inteligente (EU Is).

Ainda incluímos em cada um destes dois tipos, uma subdivisão entre o físico e o virtual, ou seja, EPI-físico, EPI-virtual; EU I-físico, EU I-virtual. Devemos ressaltar também que essa divisão não se apresnta totalmente rígida, isto é, podemos encontrar características de uso inteligente em espaços classificados como de produção inteligente e vice-versa.

Portanto, a existência de parques tecnológicos, universidades, centros de pesquisa, etc., caracterizam exemplos de espaços de produção inteligente físicos. Assim como redes universitárias de comunicação, intranets, empresas

virtuais, etc., são classificados como espaços de produção inteligente virtuais.

Nesse sentido, espaços bancários de auto-atendimento, quiosques de informação ao cidadão, alguns setores hospitalares, centros culturais, etc., estão alocados na categoria de espaços de uso inteligente físicos. E ainda

interfaces de auto-atendimento bancário, personal-banking, redes de informação municipais, etc., classificam-se como espaços de uso inteligente virtuais. A tabela 04 expõe melhor a proposta de classificação dos espaços

inteligentes e alguns de seus exemplos.

Deve-se compreender que os tão exaltados casos de pólos e parques tecnológicos, com posição de destaque junto às bibliografias que estudam as configurações do espaço no período histórico atual, não são senão uma parte das configurações espaciais que devem ser realmente consideradas como um todo. São exemplos nobres, sem dúvida, pois ocupam um posição de destaque, a de produtores de tecnologia e que, por isso mesmo, também demandam estes avanços.

TABE LA 04 – Classificação dos espaços inteligentes segundo suas funções