• Nenhum resultado encontrado

PARQUE TECNOLÓGICOIncubadoras fase

2.2 Em direção a novas tipologias

2.2.1 Um mundo formado por redes regionais

2.2.1.2 A estrutura do controle global

Segundo BENKO (1993), tipos de relações de dominação (como os conceitos de horizontalidade e verticalidade) entre cidades e/ou regiões fazem parte de um rearranjo da estrutura centro/periferia em nível global. Ou seja, as diferentes fases do processo de produção são espacialmente distribuídas de formas diferentes em função de suas características econômicas, políticas, sociais, ou tecnológicas e do nível de qualificação que requerem. Ao centro, lega-se maior tecnicidade e poder de decisão e à periferia, maior repetitividade.

Isso significa também que, em nível global, “disposições institucionais coersitivas” (BENKO, 1993) – multinacionais, alianças estratégicas interfirmas, acordos internacionais, etc. – têm um papel mediador e modelador econômico e espacial maior que o E stado-Nação. E stas disposições detêm o controle das relações e acontecimentos do mundo capitalista. E são elas que delegam poderes a determinadas regiões ou cidades, pois aí se localizam-se seus centros de decisão.

Mesmo podendo apresentar algumas falhas, como, por exemplo, a ausência de qualquer cidade alemã, uma idéia interessante da ‘rede hierárquica de cidades’ de que estamos tratando, pode ser observada na figura 16, apresentada por GR AH AM (1996) para explicar as novas relações presentes intra e entre as cidades mundiais.

FIGU R A 16 – H ierarquia das cidades globais

Fonte: FR IE DMANN, 1991 apud GR AH AM, 1996.

É importante destacar que esta hierarquia corresponde ao controle econômico e político-estratégico do planeta, fortemente determinado pela volatilização, circulação e dependência econômica do capital financeiro mundial. Isto quer dizer que a utilização do conceito de ‘rede de cidades

globais’ corresponde a uma rede de relações virtuais possibilitadas pelo avanço das tecnologias da informação e telecomunicações (figuras 17 e 18). Não quer dizer, por exemplo, que determinadas cidades estejam ligadas fisicamente como no caso das regiões metropolitanas. A rede de cidades de que estamos falando estabelece-se por vínculos virtuais como o capital financeiro, comunicações, informações, etc.

FIGU R AS 17 e 18 – Intensidade do uso da telemática: rede de relações

Fonte: http://www.cybergeography.com/atlas/geographic.html

Muitos autores colocam em evidência idéias que pregam o fim das cidades como concentrações populacionais, industriais, de serviços, etc., a partir dos grandes avanços no setor das telecomunicações e da informática.

Na verdade, o que ocorre é que, ao lado de uma real dispersão de algumas atividades econômicas, aparece uma maior centralização territorial segundo o gerenciamento no nível dos altos escalões de controle das operações (trabalho da globalização/centros de controle regional e mundial), caracterizando estes pontos privilegiados do globo, e ainda vários outros não evidentes, dependendo da escala com que estivermos trabalhando.

Estas chamadas cidades globais, ou ainda cidades da economia global, como prefere SASSEN (1998), possuem as seguintes características:

2. lugares e mercados fundamentais para as indústrias de destaque do atual período, isto é, as finanças e os serviços especializados destinados às empresas;

3. lugares de produção fundamentais para essas indústrias, incluindo a produção de inovações. Várias cidades também preenchem funções equivalentes em escalas geográficas menores, no que se refere a regiões transnacionais e subnacionais.” (SASSEN, 1998)

BENKO (1993), por sua vez, coloca um conceito de cidade global que representa bem uma falta de controle do Estado-Nação. E ste conceito baseia-se na idéia de que existem laços entre a rede mundial das empresas capitalistas e a rede das grandes cidades. R elaciona essa rede de cidades à distribuição das sedes sociais das 500 ou 1.000 maiores multinacionais. Se confrontarmos este conceito ao mapa da figura 16, surgem alguns pontos de conflito, como por exemplo, a já mencionada ausência de cidades alemãs. As cidades vistas como líderes regionais são aquelas que apresentam, portanto, uma significativa concentração de poderio financeiro e de sedes de grandes empresas (desde que decisões tomadas ali influenciem setores industriais e comerciais de outras cidades). Todas essas relações globais, potencializadas hoje por inúmeros avanços tecnológicos, trazem uma hipótese de desregionalização urbana e regional (BE NKO, 1993), já que, como já havíamos mencionado, as chamadas cidades globais relacionam-se mais entre si do que regionalmente.

Para SASSEN (1998), em certas regiões mais desenvolvidas do planeta, configuram-se lugares altamente estratégicos da economia mundial, segundo uma classificação tripolar:

• zonas de processamento de exportações (as chamadas zonas francas) – importantes para a internacionalização da produção;

• centros bancários offshore (os paraísos fiscais) – onde ocorrem menos

regulamentações que os bancos onshore;

• cidades globais – ‘lugares-chave’ para as atividades ligadas a serviços avançados, e que tendem a concentrar matrizes de grandes corporações multinacionais.

A conseqüência direta destas configurações estratégicas espaciais é um novo tipo de sistema urbano, operando em níveis local, regional, global e transnacional. Segundo estes novos sistemas urbanos, agrava-se ainda mais as relações centro/periferia entre estes lugares e outros menos prestigiados. Por um lado, há uma articulação internacional cada vez maior entre as cidades, consolidando a hierarquia global; e, por outro, as cidades fora desta rede hierarquizada tendem a se tornar cada vez mais periféricas. Aparecem novos padrões espaciais, onde há uma concentração central, uma recentralização de regiões periféricas e uma marginalização dos sub- sistemas fora do mercado.

As cidades são os locais das operações concretas da economia. A cidade concentra a diversidade. O discurso de que se pode, graças a telemática, desvalorizar o papel centralizador das cidades na economia global mostra-se equivocado: as cidades apresentam-se como altos postos de comando, “mercados globais e locais de produção para a economia da informação” (SASSEN, 1998).

Assim, estes são os lugares privilegiados da economia mundial e é desta forma que se dão, na escala global, as condições urbanas e regionais para a existência de estruturas espaciais tecnológicas. Como já mencionado, mesmo que não abriguem a essência destas estruturas, as regiões privilegiadas preservam ainda assim sua importância como centros de comando para que

se criem em outros lugares, estrategicamente e hierarquicamente localizados, as condições para tal.