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Condicionantes históricas do desenvolvimento tecnológico

Condições urbanas e regionais dadas pelas novas formas de produção

1. O meio técnico-científico-informacional e a configuração do espaço

1.2 Condicionantes históricas do desenvolvimento tecnológico

O que faz surgir novas qualidades espaciais, como os espaços inteligentes, são características específicas de alto grau de desenvolvimento técnico, científico e das informações, ligado ao processo produtivo como um todo, próprio do período histórico atual, o período tecnológico. E stes avanços técnico-científico-informacionais são alavancados por algumas necessidades próprias de certas épocas na evolução da humanidade. São marcados geralmente por movimentos cíclicos de crise e recuperação da economia, que em certos momentos demandam a existência de lugares e de ações em prol do avanço tecnológico, gerando meios, ambientes e espaços onde é fecunda a produção e o uso freqüente da tecnologia.

1 Trataremos desta variável do desenvolvimento tecnológico mais adiante quando qualificarmos os

tipos de espaços inteligentes, e, também, quando tratarmos das características específicas da cidade de São Carlos e as ações locais.

Segundo LIMA (1994), as últimas e mais profundas explosões do desenvolvimento tecnológico se deram de acordo com algumas exigências da sociedade em determinadas fases da nossa história recente, marcadamente após a Segunda Guerra Mundial. Assim, ele destaca quatro principais fases de necessidade pelo desenvolvimento das tecnologias, em que presenciamos o nascimento e o desenvolvimento concomitante e explosivo das regiões dinâmicas em inovação em todo o mundo: fase dos conflitos mundial e regional; fase da G uerra Fria; em busca da saída da crise e o que ele chama de “eco de uma demanda”.

É evidente que, a partir de todo e qualquer conflito seja regional ou mundial, a luta pelo desenvolvimento de tecnologias de apoio à guerra ganha tamanho e velocidades assustadoras. Mas a partir da Segunda Guerra Mundial, observamos um avanço ainda mais surpreendente que qualquer outro na história das guerras e civilizações. Não é acaso o desenvolvimento da bomba atômica e a geração da microtecnologia (impulsionada pelos transistores) serem datados desta época.

Com os EU A na liderança, o incentivo às pesquisas com objetivos militares nunca havia sido tão marcante e responsável pelo desenvolvimento da humanidade como um todo (apesar, é claro, dos prejuízos incalculáveis, principalmente de fator humano trazidos em todas as épocas de conflito). Na Segunda G uerra Mundial, talvez os cientistas tenham sido mais responsáveis pelos resultados obtidos que as próprias forças armadas (INNIS, 1949 apud LIMA, 1994).

Todo esse movimento de incentivo à ciência pela conquista de objetivos militares, resultou, já com o fim da guerra, na década de 50, a criação e o funcionamento do primeiro parque tecnológico dos EU A, o parque de Stanford junto à U niversidade de mesmo nome, em Palo Alto,

impulsionando o que R OGER S (1986) chamou de Silicon Valley fever, que

serviria de inspiração para o resto do mundo. Surge, assim, um dos maiores exemplos de um meio inovador e de efervescência de regiões e cidades carregadas, principalmente, da qualidade de produtores de tecnologia, o que, certamente, gerou também uma demanda muito grande pelo uso da tecnologia.

No período chamado de Guerra Fria (um conflito global sem confronto direto), é marcante o interesse norte-americano em manter e até ampliar as suas influências capitalistas no mundo todo. Frente a isso se opunha outro grande poderio militar emergente após a Segunda G uerra Mundial, a U R SS. Assim, com a ameaça constante de um conflito e a necessidade de mostrar ao mundo o poder das superpotências, aumenta o interesse pela corrida armamentista e espacial, o que faz impulsionar ainda mais o desenvolvimento tecnológico, só que desta vez fora do confronto direto. Caracteriza-se, então, um longo e tenso período chamado de Guerra Fria que durou de 1947 até praticamente o final dos anos 80.

Com a contínua ‘batalha’ extracampo entre os dois maiores impérios do mundo moderno, abre-se espaço para um avassalador desenvolvimento das tecnologias e das ciências, culminando com a corrida espacial e a chegada do homem à Lua. Na microeletrônica, os avanços foram tantos que hoje vivemos seu impacto, muito distantes tecnologicamente apesar de separados apenas por algumas décadas. A humanidade evoluíra cientificamente talvez mais nestes 40 ou 50 anos que em toda a sua história.

H avia portanto uma forte demanda por lugares propícios ao desenvolvimento tecnológico, e a partir desse momento a universidade começa a ter efetiva participação no processo produtivo e na reprodução da sociedade.Multiplicam-se as regiões dinâmicas em inovação nos EU A e

muitas outras surgem em outras partes do mundo. H á também a criação de uma divisão internacional do trabalho científico, com o desenvolvimento das comunicações entre as universidades e centros de pesquisa de todo o planeta.

Logo, apesar de também ainda estar atrelada ao desenvolvimento militar, esta fase denominada da G uerra Fria representa um avanço fantástico para os dias de hoje em termos de uma revolução científica e tecnológica, e com isso, conseqüentemente, nas formas de produção do espaço.

Apesar da Guerra Fria terminar efetivamente somente no final dos anos 80, a partir de meados da década de 70 os países do bloco comunista já vinham em derrocada, anunciando a crise e uma forte recessão para o próximo decênio.

Tem início então a uma nova guerra, a guerra entre as grandes empresas em busca de competitividade. São momentos marcados pela luta constante para superar as crises regionais e globais.

“Diante da recessão e suas conseqüências, empresários e governo se empenharam na busca de saída da crise. Do lado das empresas, intensificam-se as medidas para aumentar a competitividade; por parte do Estado, a capacitação dos recursos humanos e a captação de inovações.” (LIMA, 1994)

Impulsionado desta vez por uma busca de soluções para a crise econômica dos anos 80, o desenvolvimento tecnológico apoia-se de vez nas chamadas cidades da inteligência, fazendo com que os exemplos norte-americanos sejam espelhados para inspirar outros países, principalmente da Europa (especialmente França e Inglaterra) e Ásia (fundamentalmente o Japão). Surgem então três frentes de competitividade mundial, basicamente três grandes blocos econômicos competindo pela liderança no desenvolvimento

das tecnologias de ponta: os EU A com seus casos pioneiros de surgimento das cidades da inteligência aliados a um tradicional parque industrial; e, buscando integrar a experiência americana de desenvolvimento tecnológico às idéias e conceitos de planejamento e desenvolvimento regional, estavam, de um lado, um grande bloco formado pelos países da Europa e, de outro, uma grande força asiática representada pelo Japão.

Finalmente, com a queda da estandardização de produtos e da produção em massa, isto é, com a crise do sistema fordista de produção e uma difusão internacional das novas tecnologias (LIMA, 1994), houve uma tendência, que se demonstra até os dias de hoje, das grandes empresas buscarem lugares diferentes dos seus locais de origem, para a instalação de centros de pesquisa e desenvolvimento em alguns casos, ou, centros de produção em outros, causando uma repartição dos departamentos com uma reestruturação organizacional da produção, proporcionando uma marcante divisão internacional do trabalho, e delegando, na escala global, funções específicas a certas regiões estratégicas do globo. O fenômeno da globalização ganha forças para se consolidar com estes tipos de estruturação do espaço empresarial em grandes escalas, fragmentando cada vez mais os lugares regionais, onde as grandes empresas transnacionais buscam se subdividir em Pequenas e Médias Empresas (PMEs), a fim de criar novas políticas e uma cultura de desenvolvimento científico e tecnológico ligadas à produção.

É com esta forte tendência que ganham importância determinados pontos estratégicos nos mapas de cada nação. É maior a busca por lugares com grandes potenciais de desenvolvimento tecnológico e de comunicação, sendo preferidos aqueles que se encontram próximos a grandes aeroportos, portos, rodovias, com qualidades ambientais, boas condições de manutenção da

qualidade de vida urbana e com apresentação de boas redes de infra- estrutura.

Enfim, é nesse ‘clima’ internacional que hoje se estabelecem o meio técnico- científico-informacional, as regiões dinâmicas em inovação e, mais especificamente, as cidades da inteligência e os espaços inteligentes dotados de potenciais tecnológicos, sejam ligados à produção ou ao uso da tecnologia. Suas características estratégicas estruturam as bases para o desenvolvimento das cidades e regiões nos próximos anos, onde o lugar agregado aos avanços tecnológicos apresenta uma grande vantagem e boas condições para seu próprio desenvolvimento econômico e social.