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As Tecnologias da Informação e Comunicação

CAPÍTULO 3 A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

3.5 As Tecnologias da Informação e Comunicação

As TIC’s têm provocado profundas transformações na sociedade como um todo. Esses recursos contribuem para mudar o ambiente, os padrões de trabalho, lazer e consumo, impondo sua presença nas mais diversas atividades. Ressalta-se, todavia, que essas tecnologias não têm vida independente. Como elucidado por Targino (2002), nenhum recurso tecnológico é um fim em si mesmo. Segundo a autora:

A tecnologia está sempre atrelada à realidade social, o que justifica sua concepção mais moderna não apenas como o agrupamento de técnicas audiovisuais, de telecomunicações, de automação, mas também como elemento que incorpora as decorrências econômicas e sociais dessas técnicas dentro de uma visão espaço-temporal.

No contexto científico, pode-se dizer que as redes de computadores têm desempenhado papel decisivo na comunicação entre os pesquisadores. O ambiente eletrônico tem oferecido um novo campo de oportunidades, em que se verifica a possibilidade de produzir, recuperar e armazenar publicações científicas em linha. Percebe- se uma mudança de enfoque para a construção e divulgação da Ciência, destacando-se que o comportamento da comunidade científica é afetado diretamente.

Barreto (1998) afirma que a comunicação eletrônica modifica estruturalmente o fluxo da informação e do conhecimento, por meio dos seguintes pontos:

 interação do receptor com a informação: o receptor passa a participar do fluxo da comunicação, sendo sua interação com a informação direta, conversacional e sem intermediários;

 tempo de interação: o receptor conectado em linha interage com o fluxo da informação em tempo real, passando a ser o julgador da relevância da informação;

 estrutura da mensagem: o receptor pode utilizar diversas linguagens (texto, imagem, som) para elaborar a informação; não está mais atrelado a estrutura linear da informação, podendo criar seu próprio documento de acordo com a sua decisão; e

 facilidade de ir e vir: a conexão em rede amplia a percepção da dimensão do espaço da comunicação, e o receptor pode acessar diferentes estoques de informação no momento em que desejar.

Segundo Albuquerque (2001), os canais por onde trafegam as informações representam exatamente o ponto em que a tecnologia passou a interferir maciçamente na comunicação científica. Sobre isso, é importante salientar que a classificação dos canais de comunicação em formais e informais já está, de certa forma, ultrapassada. Verifica-se que os canais eletrônicos têm ganhado presença marcante no processo de comunicação e que, portanto, torna-se difícil dividir de forma clara entre o que é formal e o que é informal. Por exemplo, blogs e listas de discussão são, a princípio, considerados canais informais. Apesar disso, as informações presentes nesses meios são registradas e armazenadas, e podem ser acessadas por um amplo público. O mesmo ocorre com as conferências transmitidas via rede (as chamadas, videoconferências).

Sabe-se que antes do aparecimento da internet, a comunicação formal era baseada no papel, com todas as limitações físicas que condicionavam o tempo e o espaço de comunicação. Dentre essas limitações citam-se o custo de produção, distribuição e uso das publicações, assim como o tempo de produção e distribuição, entre outras questões (SARMENTO; MIRANDA; BAPTISTA; RAMOS, 2005). Tendo em vista as características intrínsecas das tecnologias da informação e comunicação, pode-se dizer que esses recursos vieram a oferecer recursos capazes de atenuar as limitações impostas à publicação impressa, facilitando, dessa forma, o processo de construção do conhecimento. Sobre esse assunto, Meirelles (2005) diz que: “a implantação de sistemas eletrônicos e on- line de publicação científica facilita e estimula as possibilidades da pesquisa, reduzindo as restrições de espaço e os custos de distribuição dos periódicos”.

Além disso, o atual ambiente das redes eletrônicas e seus variados aplicativos e serviços (correio eletrônico, listas de discussão, chat, weblog, newsletters dentre outros) facilitam e fortalecem a comunicação informal entre os pesquisadores das diversas áreas do conhecimento. Nesse sentido, Boff (1992) destaca que tais ferramentas oferecem oportunidades tanto aos jovens cientistas quanto àqueles localizados em instituições menos destacadas e àquelas pessoas que pesquisam por conta própria a participarem de pesquisas importantes. Sobre isso, Souza (2003) salienta que o uso das tecnologias na área científica possibilita o desenvolvimento simultâneo da troca de idéias e a discussão dos resultados de pesquisa em vários locais, conduzindo a conclusões em colaboração com outros cientistas.

Em razão de todo esse contexto, o modelo proposto por Garvey e Griffith vem sendo modificado a fim de ilustrar tais mudanças. Hurd (1996), por exemplo, desenvolveu um

modelo totalmente baseado no meio eletrônico (Figura 4). A autora entende que esse modelo é uma versão modernizada do modelo proposto por Garvey e Griffith.

Costa (2008), por sua vez, considera que no atual processo de comunicação, o meio impresso e o meio eletrônico coexistem. Para melhor ilustrar o processo, a autora readaptou o modelo de Hurd, desenvolvendo um modelo híbrido de comunicação científica, como ilustrado na figura 5. Note-se que nesse modelo, há um novo componente – os repositórios eletrônicos – consequência do novo paradigma de acesso aberto à informação científica. Destaca-se que nesse movimento, defende-se o acesso irrestrito aos resultados das pesquisas científicas, estejam eles em periódicos científicos ou em repositórios eletrônicos (institucionais ou temáticos). A discussão desse paradigma será retomada nos capítulos subsequentes deste trabalho.

Figura 4 – Modelo para o processo de comunicação científica totalmente baseado em ambiente eletrônico (HURD, 1996).

Percebe-se, então, que mudanças surgem no que se refere às formas de se veicular e acessar a informação. Porém, o reconhecimento da importância do processo da

Listas de

discussão Distribuição de preprints (em formato eletrônico)

Início da

pesquisa concluídaPesquisa submetidos E-prints para revisão Publicação em periódicos eletrônicos Artigos em base de dados de conteúdos Relatórios apresentados em conferências, disponíveis em versão eletrônica Aviso eletrônico de aceitação Outros processos eletrônicos Artigo indexado em base de dados de índices e resumos Boletins de Alerta (em formato eletrônico)

comunicação científica, em si, não deixou de existir. Ao contrário, continua-se a enfatizar veemente o seu papel chave para o avanço da Ciência.

De forma conclusiva, há que se dizer que as tecnologias da informação e comunicação têm propiciado a ampliação dos horizontes da comunicação científica. Cabe, então, à comunidade científica, em seu sentido mais amplo, utilizar essas tecnologias de forma a criar condições que sejam capazes de vencer as possíveis restrições na esfera científica, dando oportunidades de acesso aos resultados científicos a todos a quem deles se interessar.

Figura 5 - Modelo híbrido de comunicação científica, segundo Costa (2008).

Valendo-se dessa mentalidade é que surgiram, no início da década de 90, os periódicos científicos eletrônicos. Via-se, nesse novo formato, a chance de divulgar os resultados provenientes de investigações científicas de forma rápida e ampla e a custos mais acessíveis. Segundo Mueller (2000, p.81):

Nessa busca por alternativas inovadoras e mais satisfatórias, o meio eletrônico foi vislumbrado como a esperança da solução há muito buscada, já que oferece mais rapidez na comunicação e flexibilidade de acesso, tem largo alcance e baixo custo relativo, disponibilidade imediata, é capaz de diminuir a necessidade de manutenção de coleções, barateando os custos. Diante disso, a temática relacionada aos periódicos científicos eletrônicos constitui tópico relevante para estudo, como se nota a seguir.