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As Teorias de Aprendizagem: Inatista, Behaviorista, Histórico-cultural

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4.3 CONCEITOS BÁSICOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

4.3.3 As Teorias de Aprendizagem: Inatista, Behaviorista, Histórico-cultural

O desafio maior dessa unidade de ensino refere-se à elaboração das operações e tarefas para as ações que contemplassem os três conceitos referentes às teorias de aprendi- zagem. Além disso, havia a necessidade de selecionar e elaborar um material mínimo para a compreensão dos conceitos em cada teoria. A expectativa era de desenvolver a unidade em um tempo menor, uma vez que as alunas haviam estudado as teorias de desenvolvimento e de aprendizagem, durante o Curso de Pedagogia, no ano de 2007. A unidade teve início no dia 20 de setembro de 2008, das 14h 15 min. às 18h e contou com a presença de 18 (dezoito) alunas.

A ação 01 referia-se à transformação dos dados da tarefa de aprendizagem, a fim de revelar a relação principal das teorias psicológicas da aprendizagem e tinha como objetivo avaliar as percepções iniciais a respeito delas. A motivação inicial consistia em representar, em forma de desenho, como era o ensino e a aprendizagem nos primeiros anos de escolaridade para cada aluna. Era possível perceber que elas estavam mais receptivas em relação à modelação - desenhos - e a maioria realizava a tarefa com certa tranquilidade.

A dificuldade se iniciou quando foram desafiadas a identificar a teoria de aprendi- zagem que mais se evidenciava no desenho. Nessa tarefa, as carências conceituais se mostra-

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ram, tanto que a maioria precisou se afastar da representação gráfica - modelação - e recorrer às leituras dos textos referentes às concepções de aprendizagem, intensificar as discussões e participar de um intenso trabalho de mediação didática, por parte da pesquisadora, na maioria dos grupos. Essa compreensão era necessária para retornarem à tarefa inicial e iden- tificar a principal concepção de aprendizagem presente no desenho. Mesmo com a mediação, algumas alunas continuavam com pouca compreensão em relação às diferentes concepções de aprendizagem, em cada teoria psicológica. O diálogo abaixo expressa isso.

Pesquisadora: Então essa é uma escola tradicional ou nova? Háli: Tradicional.

Pesquisadora: Por quê?

Vivy: Eu continuo dizendo que é nova.

Pesquisadora: Qual é a escola que trabalha com o dom, esforço individual [· · ·]? Baixinha: A nova.

Háli: É que eu levo muito pro lado prático.

Pesquisadora: Háli, vamos pensar a partir da teoria e não do que você acha e pensa.

Háli: Pois é, eu acabo sempre levando em conta como eu acho que deveria ser. Pesquisadora: Vamos buscar no texto, ler novamente. Olha, discute as questões sociais [· · ·]

Baixinha: Não, por isso é neutra. Ah! até que enfim entendi porque a escola é neutra.

[· · ·]

Vivy: Mas o ensino era pra todos. Aí vai da vontade própria de cada um e da persistência. Naquele tempo eles não discutiam se era pobre ou rico, eles estavam lá.

Baixinha: O esforço era individual. [· · ·]

Háli: Escola democrática era direitos iguais para todos. Não tem professor in- centivando o aluno: vai, vai que você consegue.

O processo de mediação ocorrido nos grupos era necessário para que as alunas compreendessem as teorias psicológicas de aprendizagem.

A ação 02 consistia na modelação da relação encontrada em forma objetivada e tinha como objetivo criar um modelo que expressasse a relação principal de cada teoria de aprendizagem. A modelação das concepções inatista e ambientalista/behaviorista foi melhor compreendida pelas alunas do que a concepção pragmática e histórico-cultural - interacionista.

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Figura 5: Concepções Psicológicas

O desenho da aluna Lili, referente à concepção pragmática, permite dizer que o professor, pelo tamanho, tem uma importância que não corresponde ao papel de facilitador desempenhado nessa teoria. Na representação gráfica, referente à concepção interacionista,

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apesar do círculo que poderia ser entendido como isolamento da escola em relação à sociedade, está presente a ideia de discutir as questões que envolvem o mundo externo, quando aparecem as contradições, democracia e sociedade.

A ação 03 consistia na transformação do modelo, com vistas a estudar as proprie- dades intrínsecas a estas relações e tinha como objetivo identificar as propriedades funda- mentais do conceito das diferentes concepções psicológicas. Para isso, a proposta foi a leitura de um texto sobre as três concepções psicológicas e os grupos tinham como tarefa destacar os princípios fundamentais de cada teoria e apresentar para os demais grupos. Nessa ação, ainda era preciso a mediação didática para que algumas alunas se apropriassem do essen- cial de cada concepção. A internalização se dá na medida em que as alunas desenvolvem o pensamento, como se pode observar nos fragmentos abaixo, quando discutem a concepção interacionista.

Mary: O meu conhecimento está melhorando. Eu quero saber como é a aprendi- zagem para Vygotsky. É igual para Marx?

Preta: Ele se fundamenta no pensamento marxista para pensar a psicologia. Yasmin: Aí que ele fala das zonas de desenvolvimento para que o conhecimento seja construído na interação com os outros.

Mary: Então tem que saber o que pensava Vygotsky e em quem se fundamentava? Yasmin: É, senão a gente confunde.

Mary: Eu estou começando a pegar, antes fazia uma confusão. Isto é muito bom. Tanto Preta quanto Yasmin procuram fazer a mediação para que Mary consiga estabelecer relações com o método de produção do conhecimento e a concepção psicológica de aprendizagem. A fala de Yasmin expressa um pensamento que se poderia dizer construtivista, fato que talvez esteja introjetando no seu modo de pensar, embora em sua fala refira-se às ZDPs.

A sequência de tarefas em cada ação fez com que os grupos conseguissem diferen- ciar as concepções de aprendizagem e estabelecer relações com os métodos de produção do conhecimento, o que indica que estão reconstruindo conceitos iniciais e desenvolvendo novas ações mentais.

Na ambientalista o conhecimento é considerado uma verdade absoluta, uni- versal e imutável. O ensino é transmitido ao sujeito, pois está fora dele e a aprendizagem é absorver de forma mecânica o conhecimento transmi- tido pelo professor e reproduzido sempre que necessário; inatista o conhe- cimento está no aluno, o professor é apenas um facilitador, que interfere o mínimo possível, pois o aluno é responsável pela própria aprendizagem; histórico-cultural o conhecimento é produzido ao longo do processo, consi- dera a totalidade, as contradições, a concretude, as variáveis para produzir verdades provisórias. O ensino é entendido como uma mediação realizada pelo professor para desenvolver o pensamento crítico e reflexivo dos alunos e

a aprendizagem é a apropriação do conhecimento historicamente produzido. (ROSA, LILI, HELEN, HADASSA, aula do dia 20 de setembro de 2008)

A ação 04 visava à construção de um sistema de problemas específicos que podiam ser resolvidos mediante a aplicação do conceito. Tinha como objetivo aplicar o modo geral das teorias psicológicas para resolver problemas específicos. A operação 01 dessa ação se iniciou no dia 22 de setembro de 2008 (segunda-feira), das 21h às 22h 30 min. e contou com a participação de 21 alunas.

A tarefa consistia em realizar a leitura de vários depoimentos de professores13,

e cada um apresentava uma concepção a respeito do conhecimento, do ensino e da apren- dizagem. Após leitura e discussão nos grupos, as alunas tinham como tarefa identificar a concepção presente em cada trecho, justificando-a. Na sequência, os grupos foram orientados a selecionar um fragmento de cada concepção para socializar com os demais grupos. A ver- balização das produções indicou avanços significativos, uma vez que as alunas apresentaram mais facilidade com a compreensão das teorias.

Exemplo de um trecho retirado do livro “A Epistemologia do Professor”:

A gente procura transmitir conhecimento da melhor forma possível. Não sei se ensinar bem é suficiente; têm alunos que conseguem captar logo aquilo que a gente ensinou: têm alunos que demoram, tem que dar reforço para aqueles que não conseguem captar para chegarem ao menos a um nível mais parecido ao daqueles que conseguiram captar. (Depoimento de uma professora de Educação Física cf. BECKER, 1998, p. 105-6)

Pesquisadora: Que concepção está presente nesta forma de pensar? Ana Júlia: Ambientalista/empirista

Baixinha: O conhecimento está fora do sujeito que é considerado, pelo professor, como uma tábula rasa.

Yasmin: O reforço entendido como a necessidade de repetir o conhecimento até que o aluno decore.

Tiana: O professor transmite para aluno que absorve ou não o conhecimento. A ação 05 visava o controle da realização das ações anteriores e tinha como objetivo aplicar o modelo para a resolução de situações-problema. Nesta ação foi apresentado um filme de uma criança na escola e as alunas precisavam identificar a teoria psicológica que fundamentava a prática pedagógica da professora em relação à criança, justificando-a.

Um grupo representa a percepção dos demais, ao escrever: “a teoria psicológica percebida no filme é a ambientalista, inspirada na filosofia positivista, porque a professora não teve diálogo com o aluno e, desta forma, ela pré-julgou a atividade da criança”. (LAINE, SANDY, BELA, TIANA, VIANE, aula do dia 22 de setembro de 2008)

13Os depoimentos foram retirados do livro “A Epistemologia do Professor”, do autor Fernando Becker, publicado pela Editora Vozes. 6. ed., em 1998. Em sua pesquisa, Becker entrevistou vários professores para saber a respeito de suas concepções em relação ao ensino e à aprendizagem.

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A ação 06 também se refere à avaliação da aquisição do modelo geral e tinha com objetivo a resolução de um problema de aprendizagem. Esta ação foi desenvolvida no dia 04 de outubro de 2008, das 14h 15 min às 16 h. As alunas tiveram um tempo para discutir no grupo e, na sequência, realizar uma produção individual que consistia na elaboração de um texto sobre a compreensão de cada teoria estudada. A leitura das produções indicou que a maioria das alunas conseguiu obter sucesso na tarefa proposta. Exemplo disso é a produção que segue:

A concepção inatista foi inspirada na filosofia idealista/racionalista, na qual o indivíduo nasce praticamente pronto e sofre pouca influência do meio. Então, o professor não tem quase nada a fazer, pois ele já nasceu assim. A concepção ambientalista considera que o indivíduo é uma tábula rasa e o conhecimento está no objeto. Assim, o professor tem o papel de transmitir o conhecimento, memorizando, pois o professor tem que enfiar o conhecimento na cabeça do aluno. Nessa concepção a escola é neutra - não considera a rea- lidade social. A concepção pragmática da ênfase a prática, onde o professor orienta/guia o que o aluno quer fazer, não quer saber por que o educando quer aprender tal coisa, não considera a realidade social do indivíduo e os conteúdos perdem o valor. Na concepção interacionista o conhecimento se dá pela relação dialética entre os seres humanos. O professor medeia a apro- priação do conhecimento pelo aluno. Essa concepção considera a cultura do educando e não é neutra, pois trabalha com a realidade social, ou seja, o ensino é mediado e a aprendizagem e apropriação do conhecimento his- toricamente produzido pelo homem. (BELA, aula do dia 04 de outubro de 2008)

Para o desenvolvimento dessa unidade de ensino havia a expectativa, por parte da pesquisadora, de que as alunas apresentassem mais facilidade com a compreensão dos conceitos, uma vez que os haviam estudado, em 2007, nas disciplinas introdução à psicologia e psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. A surpresa foi ter percebido que a maioria apresentava um precário conhecimento conceitual em relação aos conceitos básicos dessas teorias, quando necessitavam deles para compreender o conceito de didática. Tais precariedades ficaram mais evidenciadas na medida em que as alunas precisavam desses conceitos para resolver as diferentes operações propostas em cada ação.

A impressão que se tinha, por um lado, era de que quase tudo era desconhecido para as alunas e, de outro, que os professores dessas disciplinas haviam deixado de ensinar os conceitos básicos de cada teoria. Dificilmente as alunas lembravam o que havia sido ensinado e, quando isso ocorria, era um conhecimento empírico, ou seja, raramente conseguiam fazer relações e generalizações teóricas para compreender as diversas situações propostas. Essas percepções iniciais somente foram sendo superadas, ao final da unidade, pelo fato de as alunas conseguirem avançar, de forma significativa, na compreensão dos conceitos fundamentais das teorias em estudo.

4.3.4 Pedagogia e Didática na Escola Tradicional e na Escola Nova

A quarta unidade de ensino iniciou-se no dia 04 de outubro, às 16h e 15 min., e contou com a presença de 20 alunas. Foi uma das unidades mais extensas e complexas, uma vez que a pesquisadora teve dificuldade com a seleção dos textos, principalmente conside- rando as condições que se apresentaram na unidade anterior, ou seja, da complexidade dos textos, das leituras extensas, das dificuldades de estudar em grupo, da ausência de mediação no grupo, da pouca habilidade em realizar sínteses. Para não incorrer no mesmo problema - surpreender-se com o rápido esquecimento das alunas em relação às disciplinas estudadas - foi preciso rever a elaboração do material, mesmo sabendo que as alunas haviam cursado a disciplina “Princípios da Ciência da Educação”, no segundo semestre de 2007. Em relação ao ’esquecimento’ das alunas, isso passou a ser melhor compreendido durante as entrevis- tas, quando a maioria afirmava que decorava os conteúdos para realizar as avaliações e, em seguida, os esquecia, uma vez que não faziam muito sentido.

A ação 01 consistia na transformação dos dados da tarefa de aprendizagem a fim de revelar a relação principal da pedagogia, como ciência da educação e, da didática nas diferentes pedagogias. Essa ação tinha como objetivo perceber os conhecimentos iniciais a respeito do conceito de pedagogia e de didática na pedagogia tradicional e nova. Como a unidade era extensa, a pesquisadora selecionou alguns textos sobre o percurso histórico da pedagogia e orientou para que as alunas fizessem a leitura, extrassala de aula, antes de iniciar a unidade. Infelizmente, os textos deixaram de ser lidos, o que acarretou dificuldades à compreensão da operação que consistia na discussão do texto sobre “a constituição e objeto de estudo da pedagogia”, durante a qual as alunas precisavam destacar o conceito e objeto de estudo da pedagogia; o objetivo da pedagogia tradicional e nova e a didática em cada uma delas.

A maioria das alunas apresentou dificuldade na realização da tarefa, o que levou a certa desmotivação. Isso fez com que a produção naquele dia fosse mínima em, praticamente, todos os grupos, o que exigiu da pesquisadora uma habilidade maior em lidar com a situação e ajudar na discussão dos textos para que as alunas se motivassem a prosseguir.

Sandy: Gente, vamos só responder mesmo. Rosa: Já está acabando, vamos terminar.

Lili: Vamos resumir: o que é pedagogia? A pedagogia antes não era tida como ciência, era como os escravos iam conduzir as atividades das crianças. Aí, depois foi vista como ciência que procurava uma forma de compreender o desenvolvimento humano. Preci- sava de outras áreas, como filosofia, história para se constituir.

Sandy: Anda logo.

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várias modalidades da prática social.

Na medida em que a mediação didática era realizada e as alunas compreendiam o texto, foi possível desencadear discussões interessantes como a que segue.

Hadassa: O objetivo da pedagogia tradicional [· · ·]

Luísa: Tem a ver com instruir o sujeito para que ocupe seu lugar na sociedade. Hadassa: É, só que eram poucos que tinham acesso à escola. Só os que tinham poder aquisitivo melhor.

Luísa: Geralmente vinham de famílias que tiveram formação na escola. Em outro grupo as discussões também ocorriam de forma significativa: Bela: Então, qual era o objetivo da pedagogia nova?

Sarzinha: Era fazer com que o aluno realizasse experiência, sem questionar. A base da pedagogia nova era experienciar.

Vivy: Na outra fala eu não tinha entendido. Entendi agora.

A operação referente à ação 01 se encerrou com a apresentação de textos signifi- cativos:

A pedagogia tradicional tinha como objetivo a formação do ser humano, ou seja, instruir para que ocupasse seu lugar na sociedade burguesa [· · ·] a escola era para poucos, os quais iriam continuar perpetuando a dominação. A didática era o conjunto de regras e normas prescritivas centrada no mé- todo para bem conduzir a aula e o estudo, supostamente neutro [· · ·]. Na pedagogia nova o aluno era o centro do processo; o professor um facilitador [· · ·]. à experiência, ou seja, o aprender a fazer era o mais importante [· · ·]. A teoria só era buscada se tivesse necessidade. (HÁLI, BAIXINHA, ROSA, TIANA, aula do dia o4 de outubro de 2008)

A didática na pedagogia nova é baseada em métodos e técnicas; dá menos atenção ao conteúdo sistematizado. A didática é neutra e voltada para a experiência; a teoria e a prática são justapostas e o professor facilita a aprendizagem. (BELA, SARZINHA, YASMIN, VIVY, aula do dia 04 de outubro de 2008)

Apesar das dificuldades iniciais, as alunas conseguiram avançar. Isso se deu na medida em que se dedicavam ao estudo dos textos, realizavam as discussões no grupo e contavam com a mediação didática da pesquisadora.

A ação 02 se referia à modelação e tinha como objetivo criar um modelo que expressasse a compreensão das alunas sobre a didática na pedagogia tradicional e nova. Essa ação teve início no dia 06 de outubro de 2008 (segunda-feira), das 21h às 22h 30 min, e contou com a participação de 13 (treze) alunas. A tendência das participantes era de apresentar um desenho em que a ênfase estava na relação professor - aluno. O conhecimento/conteúdo aparecia de forma implícita, ocupando posição menos significativa nos desenhos apresentados.

Figura 6: Didática na Pedagogia Tradicional e Nova

A verbalização das representações gráficas suscitou dúvidas como a que segue: Háli: Mas! aqui quando fala que o principal não é o conteúdo e nem o professor, mas o aluno ativo e investigador. Mas se [· · ·] [pausa]

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livro procurar e se não precisasse naquela prática, a teoria ficava. É isso professora? Pesquisadora: O que vocês acham?

Bela: Não é muito fácil de entender porque quando fala em investigador dá a impressão de ser um sujeito crítico, pensante, que quer saber o porquê das coisas, mas parece que na escola nova o aluno investigava o que estava experimentando, para saber como funcionava e como fazer [· · ·] sem ampliar e analisar a totalidade.

Háli: Então, quando fala que o aluno é investigador. Isso é ser crítico?

Rosa: Ele é investigador dentro daquilo que ele está experimentando/investigando. Sarzinha: Professor vai facilitar, dando meios para ele. Está na pesquisa, na experiência realizada pelo aluno, dentro de um contexto escolar limitado.

Háli: Aluno fazia experiência? Bela: Fazia

Háli: Então, não era neutra?

Sarzinha: Experienciar não significa ser crítico.

As alunas Rosa, Sarzinha e Bela conseguiam se apropriar dos conceitos fundamen- tais da pedagogia nova e tentaram mediar para que Háli também conseguisse compreender as relações entre conhecimento, professor e aluno.

É importante registrar que há um discurso corrente nas salas de aula dos cursos de licenciatura e, também, em outros contextos de ensino e de aprendizagem, que o professor aprende com o aluno, dando a entender que estaria desobrigado de se apropriar dos conceitos, antes de ingressar em uma sala de aula para mediar a aquisição de diferentes conceitos por parte dos alunos. A aluna Háli está ´inserida’ nesse contexto e apresenta certa dificuldade em aceitar o que acreditava ser o melhor para o aluno. Isso mostra o quanto o senso comum está presente na prática pedagógica de muitos professores que acreditam estar fazendo o melhor para seus alunos. No entanto, acabam por negligenciar o papel de professor, como mediador entre o conhecimento científico e o aluno. Nesse sentido, não se trata de ensinar qualquer saber, uma vez que a escola tem o compromisso com o conhecimento científico.

No dia 11 de outubro de 2008, das 14h 15 min, às 18h, com a presença de 20 alunas, iniciou-se a ação 03, que consistia na transformação do modelo, com vistas a estudar as propriedades intrínsecas a estas relações e tinha como objetivo estudar as ’características’ essenciais da pedagogia tradicional e da pedagogia nova. Como operação, foi proposta a leitura de textos sobre a educação para Herbart e Dewey, durante a qual as alunas estariam destacando a visão de cada um em relação ao conhecimento, ao ensino e à aprendizagem. Nessa operação, a maioria das alunas conseguia elaborar uma ideia mais clara a respeito dos principais conceitos, principalmente com a valorização das discussões que os grupos aprenderam a realizar. Exemplo disso verifica-se no diálogo que se estabeleceu em um dos

grupos:

Luísa: Então quando fala de ensino é função do professor organizar para aluno aprender.

Cathielle: E em cada pedagogia é diferente. É isso? Pesquisadora: O que vocês acham?

Mary: Acho que sim.

Pesquisadora: No ensino o conteúdo está envolvido?

Luísa: Está. E a aprendizagem também. Só que é diferente em cada pedagogia. Mary: Então o professor vai orientar/facilitar para o aluno?

Pesquisadora: Em que pedagogia? Mary: Tradicional.

Luísa: Não, nesta, ele transmite.

Mary: E o aluno vai repetir. Nas duas o ensino é neutro.

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