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Método Dialético

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4.3 CONCEITOS BÁSICOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

4.3.2 Método Dialético

Como o fator tempo era sempre um limitador importante na realização das ativi- dades propostas, foi preciso retirar algumas operações e tarefas inicialmente previstas para a unidade de ensino. Tal decisão foi tomada, mesmo tendo a consciência dos riscos que isso representava para a aprendizagem das alunas, principalmente em se tratando de um conceito que causava estranhamento, em função do pouco conhecimento e/ou da falta de significado que representava para a maioria delas. O conceito começou a ser desenvolvido no mesmo dia em que se finalizou a discussão sobre o método positivista, ou seja, no dia 23 de agosto de 2008.

A ação 01 se iniciou às 17h e consistiu na transformação dos dados da tarefa de aprendizagem, a fim de revelar a relação principal do materialismo distórico-dialético e tinha como objetivo avaliar a compreensão inicial das alunas, a respeito do método para produ- ção do conhecimento. O filme “Ilha das Flores” desencadeou discussões sobre propriedade privada, processo de produção, desigualdade social, relações de trabalho, entre outros concei- tos importantes para introduzir a temática. O filme provocou sentimentos de indignação e emoção, por parte da maioria das alunas, em função do tratamento dispensado aos seres humanos. Somente algumas conseguiram perceber categorias importantes do método, como totalidade, processo e contradição.

Ketlelen: O objetivo era mostrar a realidade brasileira, no qual se tem um grande descaso pelo ser humano [emocionada a aluna tenta controlar o choro]. Os porcos dão mais lucro/dinheiro do que as pessoas que estão lá, só dão prejuízo. Ênfase na propriedade privada e na exclusão social com o processo de privatização ocorre a exclusão aumentando a pobreza e miséria.

Lili: Mostrar que certas atitudes desencadeiam coisas com muitas consequências para todos. Porcos têm dono porque têm valor e o ser humano não tem dono e nem valor. Lembram da música de Geraldo Vandré?.

Sarzinha: Mostra a desigualdade social porque todos nós somos seres humanos - da raça humana, mas cada um tem seus valores, mas mesmo assim a pessoa [pensa] existe as

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contradições. Os porcos não têm a liberdade dos seres humanos, mas fazem parte do lucro. Quem tem dinheiro é favorecido, os outros pagam um alto preço pela liberdade porque não têm valor. Antes tivessem um dono para ser tratado com o mínimo de dignidade - os porcos têm mais do que os homens.

Luísa: Mostra uma realidade e como se dão as relações entre seres humanos X lucro. Mostrou todo o processo de produção do capital, a capacidade do ser humano de pensar [· · ·]. Os porcos eram mais importantes porque geram lucro, sem ter muito investimento.

Vivy: Mostra a realidade vivida por muitas pessoas em diferentes contextos. É a desigualdade entre as pessoas [· · ·].

A intenção com a apresentação do filme era revelar como o objeto de estudo se apresenta na realidade para desencadear o movimento do pensamento. As sínteses realizadas pelas alunas mostram sua compreensão inicial a respeito do método em discussão.

No dia 06 de setembro de 2008, estiveram presentes somente 14 alunas11 e a

tarefa consistia em ler o texto a respeito do método dialético de produção do conhecimento e destacar suas principais características. A complexidade do texto e a pouca habilidade das alunas em aprender com os componentes dos grupos fizeram com que a pesquisadora tivesse que auxiliar todos os grupos. [· · ·] Alguns demonstravam persistência, liam, tentavam discutir, mas dificilmente conseguiam identificar os princípios básicos do método. Depois de atender individualmente a todos os grupos, ainda foi preciso fazer discussões ampliadas dos principais tópicos do texto para que os grupos sistematizassem as produções.

Pesquisadora: O que vocês estão discutindo?

Lili: Tentando entender o texto para identificar o método. A subjetividade en- volve valores, sentimentos e são culturais. Eu tenho um conhecimento abstrato sobre cadeira, ou seja, eu não sei da concretude dela. Então, uma atividade segue um pensamento para realizar aquela atividade, você vai elaborar um conhecimento sobre aquilo que vai orientar, dirigir a minha atividade.

Pesquisadora: Quando realizo essa atividade penso da mesma forma?

Lili: Não, diferente. Uma coisa interessante é que preciso da matéria para ter consciência dela. Ex. celular, só tenho consciência dele a partir da existência enquanto matéria.

Ana: Professora! quer dizer que para o materialismo eu realizo uma atividade e por meio do pensamento eu produzo conhecimento?

Pesquisadora: Depois?

Ana: Depois eu retorno para o início pensando de outra forma aquela mesma

11Nesse dia houve atraso de 01 hora para o início das tarefas em função da forte chuva que acabou por inviabilizar o acesso das alunas à faculdade.

atividade. Eu acho que estou começando entender essa relação entre atividade - pensamento e conhecimento.

A ação 02 se referia à modelação da relação encontrada em forma objetivada. Tinha como objetivo a construção de um modelo que representasse a relação principal do materialismo dialético. Nesta ação algumas alunas estavam mais envolvidas e conseguiram verbalizar sua compreensão a respeito do método, mas apresentavam fragilidades em mate- rializar, de forma gráfica, o que estavam pensando. Outras ainda apresentavam carências em compreender o conceito e, consequentemente, em realizar a modelação. De maneira geral, existia certa dificuldade em expressar de forma diferente - desenhos ou gráficos - a com- preensão do que estava sendo estudado. Essa ação era de fundamental importância para compreender como as alunas estavam interiorizando e se apropriando do conceito, na me- dida em que exteriorizavam seu movimento de pensamento. Com isso, era possível fazer as intervenções que fossem necessárias.

Durante a verbalização das modelações, algumas alunas começaram a interferir na produção das colegas e isso foi significativo; por um lado, porque perceberam que poderiam contribuir com a aprendizagem das outras e; por outro, porque estariam se beneficiando com seu próprio pensamento e com as sugestões e questionamentos que surgiam durante as apresentações.

Lili: Ideia inicial busquei produzir um remédio, testei e não deu certo, busco novo caminho. Ex. minha avó dizia que chá de folha de bananeira é bom para dor de barriga. Isso é senso comum. Eu pego e vou estudar, testar, comprovar [· · ·] isso é um novo conhecimento.

Háli: Mas, onde entra o método dialético?

Lili: [pensa e ao não encontrar argumentos para o questionamento diz]:Acho que é o método positivista.

Mary: Eu tinha um conhecimento empírico e vou me aprimorando. A contradição ajuda eu superar o conhecimento empírico.

Lili: Eu acho que acabei confundindo. Minha avó usa chá de folha de bana- neira que faz bem para dor de barriga. Isto é senso comum. Aí eu pego e vou estudar, experimentar, fragmentar, comprovar [pausa]

Pesquisadora: Para quem vai servir o remédio? Háli: Quem tem dinheiro para comprar.

Sarzinha: Nem todos têm.

Háli: Faltam as contradições. Onde entra o método dialético, só ali no final? Lili. Desde a hora que eu comecei a pesquisa. [· · ·]

Pesquisadora: Lili. A sua dúvida está no método de produção do conhecimento? Lili: Eu estou começando a entender, minha cabeça estava no positivismo.

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Os estudos de Chaiklin mostram que: “a organização das interações em sala de aula no ensino desenvolvimental dá a possibilidade para diferentes grupos de alunos encontrarem sua própria relação com as tarefas”. (CHAIKLIN, 1999, p. 17). Todas as discussões motivaram outras alunas a expressar seu pensamento sobre suas formulações mentais. A aluna Ana explica para os demais grupos sua modelação:

Figura 1: Método Dialético

Vamos supor que é uma pessoa que trabalha na roça e está cansada daquela vida sofrida. Decide ir para cidade estudar e vai aprender muita coisa dife- rente como: convívio com diferentes culturas e isso vai ajudar a desenvolver seu pensamento. Quando se forma faz outros cursos [mestrado, doutorado] que vão ajudar ainda mais a ter outros conhecimentos que, ao retornar para o lugar de origem, a faz pensar e agir de forma diferente para transformar aquela realidade. (ANA, aula do dia 06 de setembro de 2008)

Luísa: Quando ela colocou que estava na roça ela tinha um conhecimento empí- rico.

Pesquisadora: Empírico ou senso comum?

Luísa: Para ela se apropriar do conhecimento não foi fácil, precisou ultrapassar obstáculos econômicos, culturais [· · ·]

Lili: A ideia surge a partir de um conhecimento do senso comum para produzir conhecimento científico. Para isso considera o processo, a totalidade, as contradições e as variáveis econômicas, sociais e assim por diante.

Leontiev (2004) refere-se à consciência individual como aquela que se desenvolve a partir da consciência social, que tem na linguagem seu substrato real, ao possibilitar o compartilhamento de representações, de ideias e de significações que conferem um sentido

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pessoal, vinculado diretamente à vida concreta, às necessidades, aos motivos e aos sentimen- tos individuais.

A modelação realizada pela aluna Ana Júlia expressa sua compreensão a respeito da relação principal do materialismo dialético.

Figura 2: Método Dialético

A ação 03 refere-se à transformação do modelo com vistas a estudar as proprie- dades intrínsecas a essas relações. O objetivo era identificar as propriedades fundamentais para a formação do conceito de método para o materialismo dialético. As discussões reali- zadas nas ações anteriores possibilitaram uma maior compreensão e realização das tarefas propostas, que consistiam em identificar, no filme, situações que evidenciavam a utilização do método dialético e socialização para com os demais colegas. Essa ação ocorreu no dia 06 de setembro de 2008.

Um grupo trouxe para discussão uma das principais categorias do método dialé- tico, a contradição presente no filme: “uma contradição é o nome do local ‘Ilha das Flores’ que na realidade é um lugar de miséria e a outra contradição é a de que os porcos têm o direito de se alimentar primeiro do que os seres humanos do lugar”. (YASMIN, LAINE, ROSA, CESI). Outro grupo reforça dizendo: “um tomate não serve para alimentar os porcos, mas serve para os seres humanos”. (ANA, LUÍSA, CATHIELLE)

Luísa: “Método é este caminho percorrido na sua totalidade, fazendo a gente refletir, trabalhar em cima das contradições, não é simplesmente fazer alguma coisa. É uma prática que vai me fazer refletir e agir de maneira diferente”. Essas verbalizações fizeram com que as alunas deixassem de ser objetos da atividade de ensino do professor para serem sujeitos de seu processo de apropriação dos conceitos necessários à formação da consciência. A ação 04 referia-se à construção de um sistema de problemas específicos que pudesse ser resolvido mediante aplicação do modelo geral do conceito. Esta ação tinha como objetivo aplicar o método dialético para resolver problemas específicos e foi realizada no dia 08 de setembro de 2008 (segunda-feira), das 21h 30 min às 22h 30 min, com a presença de 14 alunas. Para que as alunas atingissem o objetivo foi proposta a leitura de um artigo de pesquisa “Ensino-aprendizagem na sala de aula: uma perspectiva não-linear12”, na qual as

alunas precisavam identificar o método e justificar o porquê da identificação. A ação ficou prejudicada, em função do atraso no encerramento da primeira aula, que acabou ocupando uma parte do horário previsto para a realização da tarefa. Assim mesmo exploraram-se algumas ideias importantes do texto.

Rosa: O texto fala da importância do mediador e que o professor não pode passar para aluno aquilo que é muito fácil. Diz que é difícil, mas a gente tem que se esforçar e ir atrás para conseguir apreender. Enfatiza que quando a mediação entre professor x aluno se homogeniza acaba se tornando positivista e a proposta do texto é buscar outra forma de mediação, o qual não acontece a homogeneidade entre mediador e aluno.

Pesquisadora: Para a mediação não ser homogênea precisa do quê? Laine: Das contradições. É processo e não produto.

Pesquisadora: O que é ensinar? Ketlelen: É explicar para alguém.

Rosa: Relação do professor com o conhecimento. Pesquisadora: Aprender?

Baixinha: Se apropriar de conceitos.

Pesquisadora: Muitas vezes o professor fica no empírico. O aluno aprende com

12Texto de José Luís de Almeida e Teresa Maria Grubisich. Encontra-se no livro “Sala de aula: ensino e aprendizagem” organizado por Maria Antônia Granville e publicado pela editora Papirus, em 2008.

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isto?

Cesi: Não, precisa de mais.

Rosa: Aprendizagem imediata não ajuda pensar - é superficial. [· · ·] É um co- nhecimento rápido e quando você precisa não consegue utilizá-lo.

Pesquisadora: Ensinar é o que?

Hadassa: Relação do professor com o conhecimento e aprender é a relação do aluno com o conhecimento.

Pesquisadora: Qual é o método que o autor utilizou no texto? Luísa: Dialético

Pesquisadora: Por quê?

Luísa: O conhecimento é processo e é troca não homogênea.

Pesquisadora: Mediação pode ser positivista para os autores do texto? Sandy: Não

Pesquisadora: Por quê? Sandy: Há troca

Pesquisadora: Só troca é suficiente para não ser positivista? Sandy? Não

Rosa: Porque o professor precisa saber mais do que o aluno para mediar. [· · ·] A ação 05 tratava do controle da realização das ações anteriores e tinha como objetivo resolver problemas dados, aplicando o modo geral do método dialético. A ação, embora programada, ficou impossibilitada de ser executada, em função do tempo e, tam- bém, por se entender que poderia ser contemplada na ação seis. O problema se referia ao analfabetismo de crianças que moravam no Bairro Ilha das Flores. As alunas precisavam jus- tificar o porquê daquela situação, utilizando-se dos conhecimentos estudados nesta unidade de ensino.

A ação 06 visava à avaliação da aquisição do modelo geral, como resultado da resolução de um problema de aprendizagem. A operação 01 consistiu em elaborar um texto que representasse a compreensão/entendimento sobre o método dialético.

Fragmentos da discussão no grupo para auxiliar na posterior elaboração da tarefa: Pesquisadora: Nós vamos discutir a tarefa no grupo e, depois, cada um elabora a sua produção, a partir do roteiro.

Lili: Só em falar que é processo/movimento já não é positivismo. Lu: Como que é?

Pesquisadora: Qual é o caminho que o positivismo segue? Háli: Vai prever para não deixar acontecer.

Laine: O que é o conhecimento para positivismo?

Luísa: Fragmentado, produto, verdade absoluta, desconsidera a totalidade. Para encerrar as unidades sobre método, cada aluna precisava produzir um texto - extraclasse - que contemplasse: o método de produção do conhecimento para o positivismo e para o materialismo dialético; como eles concebem o conhecimento; o papel da escola, da aprendizagem e do ensino em cada método. Apesar da insistência da pesquisadora, muitas alunas deixaram de entregar a tarefa solicitada. Das que entregaram verificaram-se avanços e carências em relação aos conceitos que estavam sendo propostos. As próprias alunas reconheceram a complexidade deles e se dispuseram a refazer o texto, se necessário. A pesquisadora fez a leitura e sugeriu alterações para melhorar as produções. Em seguida, foram devolvidas e todas as refizeram, a partir das sugestões pontuadas e, na sequência, entregues novamente à pesquisadora.

Em síntese, pode-se dizer que era compreensível o fato de as alunas apresentarem carências conceituais, quando da realização das duas primeiras unidades de ensino, em função de, praticamente, desconhecerem os métodos de produção do conhecimento.

4.3.3 As Teorias de Aprendizagem: Inatista, Behaviorista, Histórico-

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