• Nenhum resultado encontrado

as termas como produto de turismo de saúde e bem-estar

PARTE I: TURISMO(S) DE SAÚDE E BEM-ESTAR

2. Turismo de saúde e Bem-esTar, um produTo ainda JoVem

2.7. as termas como produto de turismo de saúde e bem-estar

nos nossos dias é de destacar a crescente relevância do turismo de saúde e bem-estar, contemplando várias ofertas, entre elas a termal: nas termas há apli- cação das águas minero-naturais com fins terapêuticos. no termalismo sobressaem a vertente curativa e a preventiva, se bem que com acentuação crescente da última, em locais exclusivos, de nascentes de águas minerais naturais, com as suas espe- cificidades e potencialidades como agentes terapêuticos, por comparação analítica com outras águas similares; a sua acção terapêutica faz-se através da ingestão, sendo bebida com periodicidades e quantidades medicamente prescritas, terapia também designada por hidropinia, e faz-se pela sua aplicação externa mas dentro da própria estância, ou seja através de tratamento balnear, também designado por hidrologia terapêutica ou crenoterapia, expressão derivada de fonte ou creno.

a terapia termal pode assim consistir na cura hidrotermal e na cura de bebida. exclui a balneoterapia ou hidroterapia que implica a utilização de água nos trata- mentos, o emprego externo de qualquer água, não necessariamente água mineral natural, em que apenas conta a temperatura, massa e força balística. Todavia, estes termos técnicos não têm sempre o mesmo significado nos diferentes países. em portugal, a hidroterapia exprime tradicionalmente o emprego terapêutico das águas minerais naturais, mas o seu significado alarga-se a outras águas com a proliferação de health clubs, em que são aplicadas águas meramente potáveis. a hidrologia é um conceito da língua francesa que abrange águas mais ou menos mineralizadas com aplicações terapêuticas, correspondentes a águas minerais naturais.

o termalismo implica sempre tratamentos com águas minero-naturais, que condicionam parte da actividade do aquista e imprimem as ocupações e a organi- zação dos espaços dos balneários e das estâncias: exploração de águas minerais naturais e definição clara deste recurso hidromineral. Compreende o emprego interno de uma água mineral com vista a um tratamento com base nas suas proprie- dades físico-químicas e fisiológicas específicas ou hidropinia; o emprego externo das mesmas águas ou hidrologia terapêutica; e em termos mais gerais, a utilização dos recursos termais na busca de saúde e beleza, com fins terapêuticos e até mesmo com fins cosméticos. implica também o recurso a sedimentos naturais, com fins curativos de certas doenças de pele, e o recurso a cremes dermocosméticos preparados a partir de substâncias naturais de origem termal. quanto às técnicas mobilizadas pelo termalismo, a par das crenológicas, com recurso directo à acção das águas minero-medicinais, destacam-se outras técnicas complementares, como fisioterapia e electroterapia, não envolvendo necessariamente águas minerais natu- rais, nem seus derivados.

oficialmente opõe-se a crenoterapia à hidroterapia:

• a hidroterapia refere-se à utilização terapêutica da água, por aplicação externa, com ou sem recurso a diversas técnicas e abrangendo os próprios efeitos psicológicos das mesmas;

• a crenoterapia refere-se à utilização terapêutica específica da água mineral natural, por aplicação interna ou externa, como se de um medicamento se tratasse, logo em função da sua composição físico-química e eventuais factores biológicos, na base dos quais se definem as vocações terapêuticas e o seu reconhecimento pelos médicos e pelo público.

nas termas conjugam-se hidroterapia e crenoterapia, e são combinadas com repouso e turismo/férias em ambientes não do quotidiano e bastante naturais, verdes, calmos, agradáveis…

subsiste a questão:

• Termalismo como medicamento natural, muito defendido pelos aquistas tradicionais, clientelas fiéis a muitas estâncias, mesmo no quadro dos pro- gressos da medicina e farmacologia, e por alguns médicos da especialidade? • Termalismo como remédio apenas marginal, como terapia complementar,

sempre com o problema da credibilidade da crenoterapia?

• Termalismo como mito social e a crenoterapia como uma moda, num quadro favorecido pelas medicinas e práticas de saúde alternativas e pelas doenças da moda, como o stress?

• Termalismo como pretexto para férias subsidiadas, conforme o nível maior ou menor dos apoios do termalismo social, que interessam sobretudo aos aquistas com reduzido poder económico?

a aeTC, associação europeia de Termalismo e Climatismo, aponta valores de curas termais muito elevados para a alemanha, com mais de 10 por cento da população, e também significativos em itália, França, espanha, Finlândia e suíça, bem menos em portugal: clientelas largamente fiéis e dos próprios países, menos em itália e na alemanha, com atracção externa de vizinhança. portugal, como a França, mantém um termalismo muito assente no terapêutico, medicinal e social, sendo ainda incipiente ou faltando mesmo a reconversão dos seus modelos para novas procuras de turismo de saúde e bem-estar.

nas termas há vida social, longe dos quotidianos, desde a antiguidade e com grande prestígio durante o século XiX. nas termas, no geral houve declínio como destinos de cura e turísticos durante a primeira metade do século XX, por descré- ditos quanto a curas, face à medicina convencional, insuficiências e obsolescências dos equipamentos e serviços e da oferta hoteleira e de lazeres e concorrência dos destinos de praia; seguiu-se a reabilitação, na segunda metade do passado século, da terapêutica termal com o estatuto das técnicas medicinais suportadas nalguns países pelo estado-providência, com as componentes de tratamento e reabilitação e a afirmação de clientelas populares e seniores; mas reabilitação cada vez mais também com as componentes de prevenção e promoção da saúde, em contextos

ambientais que favorecem práticas de turismo de natureza e ecoturismo, no seu sentido mais lato; e a promoção do termalismo social, com a sua vertente de turismo social. o que significa clientelas e práticas turísticas diferentes e de coabitação nem sempre harmoniosa: os locais de férias são imaginados como locais ideais, longe dos problemas da pobreza, da velhice e da doença! (C. Cavaco, 2004).

no geral, as imagens veiculadas pelas brochuras promocionais vão para além das representações dos aquistas: são imagens com cargas simbólicas e significados que ultrapassam a imagem de cura, remetem para a eterna juventude e dirigem-se a um outro público com outras necessidades, usos e consumos, tentando posicio- nar-se num termalismo de elite ou num turismo de saúde em geral, de encontro a novas necessidades e motivações da procura: «saúde e bem-estar em ambiente natural para todos, mesmo os mais jovens», sempre segundo nuno Gustavo (2005). a correspondência das ofertas com as novas imagens promocionais enfrenta todavia dificuldades várias. desde logo, diferentes segmentos com diferentes necessidades no domínio da procura termal exigem ofertas ao encontro das suas necessidades e expectativas.

quadro i – Critérios diferenciadores entre Curas Subsidiadas e Turismo de Saúde Critérios de diferenciação Cura subsidiada Turismo de Saúde

Tipos de clientes pessoas doentes pessoas saudáveis

Motivos de deslocação prevenção secundária e terciáriaCura, alívio. exigências de saúde.prevenção primária

Decisão internamento médico iniciativa própria

Objectivos

Terapia específica definida pelo médico para o paciente.

reabilitação Bem-estar geral. profilaxia. reabilitação Tipos de tratamentos adequado a uma patologia específica. orientação de

acordo com o quadro clínico

aposta em tratamentos de relaxamento da mente. preocupação em satisfazer os

desejos e necessidades individuais Programa plano de cura elaboradopor médicos de acordo com os interesses de cada um Ofertas exigidas acompanhamento médicofidedigno movimento, alimentação, relaxamento e actividade espiritual Aplicação dos meios

de cura naturais

utilização de meios naturais para cura

os meios de cura naturais servem a manu- tenção da saúde e não são estritamente

necessários

Duração da estadia na grande maioria é de três semanas Varia entre um fim-de-semana, a uma ou duas semanas Nível etária dos clientes principalmente seniores principalmente jovens ou jovens seniores

Tipos de financiamento sistema de segurança social

na maioria dos casos aplica-se a pessoas com boa capacidade financeira. pode ser, no entanto, também aplicável a beneficiá-

rios dos sistemas sociais Imagem

associações negativas remotas: idade, doença, «monotonia»

e melancolia

associações positivas anteriores; saúde, bem-estar, fitness, beleza e divertimento FonTe: adília ramos (2005): adaptação a partir de nahrstedt (1999 b).