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o Termalismo e o Turismo de saúde na polÍTiCa demoCráTiCa de

PARTE I: TURISMO(S) DE SAÚDE E BEM-ESTAR

6. o Termalismo e o Turismo de saúde na polÍTiCa demoCráTiCa de

ao longo de décadas sucessivas foi visível o apelo à intervenção do estado no termalismo, tanto pelo financiamento de obras de beneficiação dos balneários ou da hotelaria das estâncias como pela melhoria das acessibilidades, infra-estruturas gerais e subsidiação dos tratamentos: apoios directos de financiamento ao conces- sionário e ao empresário da hotelaria termal e apoios indirectos como melhoria dos contextos espaciais, arranjo urbanístico, promoção das estâncias termais; apoio directo ao aquista, sustentando a procura e desse modo o concessionário e toda a economia local que tenha por base a actividade termal (Fernanda neves, 2002, p. 74). nos últimos anos os pedidos de intervenção estendem-se às autarquias: infra-estruturas, saneamento, iluminação, rede viária. note-se que algumas autar- quias são concessionárias de nascentes de águas minerais naturais, com intervenção directa na sua exploração, no funcionamento dos balneários e nas estâncias termais no seu todo, como nas Caldas de Chaves ou em são pedro do sul.

percorramos rapidamente os documentos oficiais mais significativos:

• no plano 77- 80 é contemplado o turismo de descanso e de recuperação, que inclui o turismo termal, e prevê-se a modernização e reconversão de estâncias numa óptica predominantemente turística, mas mantendo os aspectos relacionados com as aplicações médico-sanitárias;

• o plano nacional de Turismo 1985-1988 reconhece as estâncias termais como recurso básico do turismo nacional, com efeitos no domínio da saúde e bem-estar dos portugueses e no domínio do turismo, pelo aumento e diversificação da oferta turística, até pela capacidade hoteleira das estân- cias e a sua dispersão espacial, com destaque para as regiões do interior ou pelo menos não litorais nem urbanas, justificando-se prioridades nas intervenções a seu favor.

Caldelas, Chaves, Cúria, Gerês, luso, monfortinho, monte real, s. pedro do sul, Vidago, Vimeiro e Vizela, foram então reconhecidas como dispondo de condições para a médio e longo prazo, responderem cabalmente às necessidades do turismo moderno; como segunda prioridade, defenderam-se intervenções nas estâncias de Castelo de Vide, Caldas da Felgueira, pedras salgadas e manteigas, localizadas em pólos e eixos de desenvolvimento Turístico.

pareciam então indiscutíveis a riqueza do país em recursos hidrominerais e os contributos potenciais do termalismo para o desenvolvimento turístico das regiões do interior, assim como as bases para o seu relançamento, que passavam nomea- damente pela:

• reformulação da sua concepção quanto a subordinação aos aspectos médicos;

• renovação do equipamento balnear e turístico; • melhor conhecimento da medicina hidrológica; • protecção das nascentes e do ambiente; • alargamento do período de funcionamento;

• Criação de uma nova imagem do termalismo, seguida de promoção eficiente no país e no estrangeiro;

• Formação do pessoal ao serviço, em particular dos responsáveis pelas técnicas de balneoterapia, através do CináGua, Centro de Formação profissional para a indústria de engarrafamento de águas e Termalismo; • penalização fiscal das concessões não exploradas sem justificação aceitável. seguiu-se a clarificação do conceito de estância termal (1988), no contexto das novas facilidades de financiamento associadas aos fundos comunitários após a adesão à Cee, sobretudo no quadro do siFiT e depois do piTer, o que possibilitou a sua delimitação espacial e com ela a área de intervenção dos projectos:

• área geográfica onde se situe uma emergência de água minero-medicinal, reconhecida cientificamente do ponto de vista químico e terapêutico, possuindo uma área de protecção e que, para a prestação das suas indica- ções terapêuticas, dispõe de instalações e equipamentos adequados e de direcção clínica por médico especialista em hidrologia;

• localidade/área geográfica cujas actividades económicas se desenvolvem directamente relacionadas com o Balneário Termal: Balneário, unidades Hoteleiras, actividades de animação, restauração, Comércio local, segundo a aTp, associação das Termas de portugal.

Como elementos estruturantes de cada estância, o alvará de concessão, o balneário devidamente aprovado, indicações terapêuticas reconhecidas, direcção clínica com médico especialista, presença diária de pessoal médico, de enfermagem e paramédico durante a estação termal, equipamentos terapêuticos complemen- tares, alojamento turístico e equipamentos culturais e lúdicos.

associam-se, deste modo, as estâncias termais a estâncias de turismo: trata-se todavia de estâncias turísticas de tipo particular, pois satisfazem prestações pecu- liares e as motivações dos seus frequentadores não são simplesmente as de passar férias. por sua vez, o termalismo é associado a tratamentos com fins curativos e ou preventivos, mas com acentuação da vertente preventiva, em locais exclusivos de nascentes de água com determinadas indicações terapêuticas: ingestão ou aplicação externa das águas minerais naturais dentro da estância termal, mediante recurso a técnicas que também podem ser usadas com outras águas e noutros locais. Trata-se de um conceito bem mais restrito do que o de turismo termal, o qual envolve a estância no seu todo: equipamentos balneários, «buvettes», alojamento e actividades de lazer. ou seja, o turismo termal engloba todas as actividades turísticas desenvol- vidas nos espaços termais, de lazer e de terapia termal (Barros, 1999, p. 51).

em 1990 foi promulgada nova legislação concernente aos recursos de base: dis- tinguem-se os recursos hidrominerais, ou seja, as águas minerais naturais, bacterio- logicamente próprias, de circulação profunda, com particularidades físico-químicas estáveis na origem, de que resultam propriedades terapêuticas ou simplesmente efeitos favoráveis à saúde; e as águas minero-industriais, que são as águas natu- rais subterrâneas permitindo a extracção económica de substâncias nelas contidas. Trata-se nos dois casos do domínio público do estado; são contrapostas às águas das nascentes, que podem ser propriedade privada.

o caminho seguido foi ao encontro da legislação da europa comunitária, que define a água mineral natural como a água considerada bacteriologicamente própria, de circulação profunda, com particularidades físico-químicas estáveis na origem, dentro da gama de flutuações naturais, de que resultam propriedades tera- pêuticas ou simplesmente efeitos favoráveis à saúde; distingue-a da água de beber comum pela sua pureza original, pela sua natureza, caracterizada pelo teor de substâncias minerais, oligoelementos ou outros constituintes e pelas propriedades terapêuticas ou simplesmente efeitos benéficos para a saúde.

Como questão recorrente na legislação, a diferenciação clara das águas mine- rais naturais relativamente às águas de mesa e às águas minerais artificiais, de modo a garantir as suas especificidades e com base nelas as suas vocações terapêuticas; e o seu reconhecimento como águas do domínio público do estado. assim, as águas minerais naturais necessitam de autorização governamental para a sua captação (área mínima de reserva fixada de há muito em 50 ha, revista na legislação de 1990 e zonada, quanto a restrições e proibições), exploração dos estabelecimentos anexos e cedência de concessão a outrem, concessões que deixam de ser vitalícias como vinha sucedendo desde 1928; inversamente, são consideradas como águas do domínio privado as águas de nascente.

no seguimento do plano nacional do Turismo, o termalismo ganhara uma nova visibilidade, nomeadamente com a criação da Comissão nacional do Terma- lismo que em 1989 viu aprovadas as indicações terapêuticas das estâncias termais, a que se seguiu em 1994, o reconhecimento de utilidade turística às instalações termais.

em 1997, no programa de acções de intervenção estruturante no Turismo, reconhece-se que a actividade de turismo termal necessita de projectos sectoriais

de reabilitação do parque termal, são identificados os obstáculos e as soluções, é redefinido turisticamente o conceito de termas, nas vertentes saúde/lazer, e valori- zado este património (Fernanda, neves, 2002). em 2006, o penT, plano estratégico nacional de Turismo, considera o turismo de saúde e bem-estar como um dos dez produtos estratégicos para 2006-2015.