• Nenhum resultado encontrado

Diante do objeto deste estudo constituído da não-inserção do assistente social no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN e diante da percepção de que a profissão é uma especialização do trabalho coletivo estando inserida na divisão sócio-técnica do trabalho, percebemos que para a compreensão do problema delimitado existe a necessidade de se fazer uma análise dos aspectos gerais que constituem o mundo do trabalho e as transformações pelas quais passa. Para isso iniciamos buscando a compreensão sobre o trabalho e seus significados adquiridos nos diferentes momentos históricos da sociedade.

1.1- A CATEGORIA TRABALHO

Segundo o dicionário Houaiss, a palavra trabalho é um antepositivo do latim tripalium: instrumento de tortura, o qual deriva do adjetivo tripãlis: sustentado por três estacas ou mourões ( HOURAISS e VILLAR: 2001).

Com isso atribui-se a origem do trabalho a uma situação de tortura e sofrimento do homem, aspecto esse confirmado na Bíblia a qual menciona o trabalho enquanto conseqüência do pecado do homem “ com o suor do teu rosto comerás.”

Nosella(1989) faz uma análise sobre os significados que o trabalho vai adquirindo nas diferentes formas de organização da sociedade. Ele atribui esse significado do trabalho como tripalium, ao momento da sociedade baseada no trabalho do escravo e do servo. Quando a

sociedade passa a ser baseada no trabalho livre assalariado, nas manufaturas e posteriormente na indústria, esse passa a ter o significado de labor. A partir do momento em que os trabalhadores passam a reconhecer a exploração que o trabalho assalariado estava lhe impondo e que a liberdade prometida não era realmente uma liberdade e sim uma outra maneira de exploração através das máquinas, o trabalho enquanto labor passa a ser questionado e constrói-se uma outra perspectiva de significado para o trabalho que seria relacionado à ação social, complexa e criativa. O trabalho agora adquire o significado de poiésis.

Portanto, percebe-se que a concepção de trabalho foi evoluindo ao longo da história, passando desde mera condição de sobrevivência até à condição de realização.

Na concepção marxista de trabalho, este é pensado no seu aspecto geral e particular, ou histórico. No aspecto geral, trabalho é a unidade constitutiva de todos os momentos da vida humana, é a necessidade natural de o homem transformar a natureza para satisfazer suas necessidades. No aspecto particular, ou histórico, é a troca universal do homem com a natureza sendo mediatizada por relações criadas historicamente. Com isso, Marx revela a existência da relação entre o trabalho como atividade universal; e o trabalho como atividade particular.

Ao analisar esse duplo caráter do trabalho, Marx (1985, p.5) enfatiza que:

... como criador de valores de uso, como trabalho útil, o trabalho é, por isso, uma condição da existência do homem independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre o homem e a natureza, e portanto, da vida humana. Como criador de valor de troca, trata-se de uma determinação histórica, de um modo específico de organização do trabalho.

Na sociedade capitalista o trabalho é simultaneamente trabalho concreto (útil, que satisfaz a uma necessidade social, criador de valor de uso) e trabalho abstrato( criador de

valor de troca), ou seja, é trabalho geral na sua condição de atividade produtiva universal e trabalho particular, historicamente determinado.

Para Lessa, o trabalho na sociedade capitalista está relacionado à condição de exploração de uma classe sobre outra, pois enquanto nas sociedades primitivas o trabalho voltava-se para a conversão da natureza em bens necessários à reprodução social, conversão essa realizada por todos e de forma direta; nas sociedades capitalistas "o trabalho apenas pode se realizar através de um poder que obrigue os indivíduos a produzirem e entregarem o fruto do seu trabalho à outra classe" (LESSA 2000, p.25)

Segundo esse autor, o que vai facilitar o aparecimento do trabalho nos moldes capitalistas, cuja razão de ser é não mais a necessidade do trabalhador, mas sim o desenvolvimento da riqueza do dominador, é o aumento do conhecimento, das técnicas através das quais o homem passou a produzir mais que o necessário para a sua sobrevivência juntamente com a reprodução de relações sociais de exploração.

Percebe-se isso no momento em que o sistema capitalista para poder se implantar foi necessário realizar um violento processo de expropriação dos trabalhadores dos seus meios de produção conforme descreve Marx na “ A chamada acumulação primitiva”.

Portanto, diante da análise marxista, o trabalho é compreendido de forma abrangente, como necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza (trabalho geral), observando que esse processo assume aspectos específicos de acordo com as relações sociais que o mediatizem (trabalho particular).

O que acontece com o trabalho na sociedade capitalista é que ele assume uma forma histórica, onde passa a ser apenas um meio para o processo de valorização do capital, deixando de ser objeto de realização humana e se transformando numa atividade de exploração e sofrimento, ou seja, ele é apenas labor, ou até mesmo tripaliumm, e não poiésis. Cattani afirma que o trabalho explica grande parte da sociedade capitalista e diz que:

... o trabalho, como ato concreto, individual ou coletivo, é, por definição, uma experiência social. Opressão e emancipação, tortura e prazer, alienação e criação são suas dimensões ambivalentes, que não se limitam à jornada laboral, mas que repercutem sobre a totalidade da vida em sociedade. Facetas essenciais do processo de socialização, da construção identitária, das formas de dominação e de resistência, enfim, da dinâmica contraditória da economia de mercado, têm origem nas situações laborais e nas relações sociais estruturadas na atividade produtiva. (CATTANI 2000, p. 71)

As transformações pelas quais passa o mundo do trabalho, principalmente no que se refere ao avanço tecnológico acompanhado da diminuição da necessidade de absorção de mão-de-obra no processo produtivo, têm levado alguns estudiosos do tema a propugnarem o fim da sociedade do trabalho, passando a não percebê-lo mais como categoria central das relações sociais na sociedade atual. Habermas (1991), Rifkin (1995), Gorz (1987), Offe (1985), entre outros, defendem a existência de uma transição da sociedade baseada no trabalho e nas relações de mercado para uma sociedade pós-mercado, onde o progresso científico e técnico libera o homem do trabalho. Daí alguns desses autores passam a se preocupar com questões como tempo livre e lazer. Esses autores apontam para a questão da diminuição da integração via trabalho acontecendo assim as chamadas novas formas de sociabilidade.

A discussão sobre a centralidade ou não-centralidade do trabalho na sociedade atual tem suas bases em Lucàks ( Ontologia do Ser Social) e em Habermas ( Mundo da Vida e Ação Comunicativa).

Em sua análise sobre a sociedade contemporânea, Habermas (1991) propugna que a centralidade do trabalho foi substituída pela centralidade da esfera comunicacional ou da intersubjetividade. Para ele, a análise encaminha-se no sentido de conhecer o "mundo da vida" do qual os elementos constitutivos básicos são a linguagem e a cultura.

Como afirma Pinto (1995), Habermas busca construir um conceito de racionalidade que encontra seus fundamentos nos processos de comunicação intersubjetiva com vistas a

alcançar o entendimento. Ele propõe um conceito de sociedade entendida simultaneamente como mundo da vida e sistema (...) ele visualiza um processo de evolução social no qual a racionalização do mundo da vida se dá através da sucessiva libertação do potencial de racionalidade contido na ação comunicativa (PINTO, op cit, p.81).

Segundo Rifkin (1995, p.260), “a economia deixa de ser baseada em material, energia e mão-de-obra para outra baseada na informação e na comunicação...”

Para o intelectual francês André Gorz, um futuro promissor está reservado à humanidade. Segundo ele, a revolução tecnológica e a conseqüente diminuição do trabalho criaram, de um lado, uma elite de trabalhadores protegidos e estáveis; e de outro, uma massa de desempregados e de trabalhadores sem qualificação. Daí propõe que esses dois pólos se unam para aumentar a eficiência produtiva, sem cair, porém, no produtivismo, a fim de que cada um tenha bastante tempo para fazer o que quiser, ou seja, defende a redução drástica da jornada de trabalho(GORZ apud CARMO, 1992).

Para Claus Offe, a categoria trabalho não deve ser vista de forma tão abrangente a ponto de dar conta de todos os aspectos da sociedade. Afirma que é o “... poder determinante abrangente do fato social trabalho(assalariado) e de suas contradições que, hoje em dia, se tornou sociologicamente questionável” (OFFE,1985, p.171).

Esse mesmo autor utiliza como argumento para a defesa da perda da centralidade do trabalho o declínio do modelo de pesquisa social “centrado no trabalho”. Diz que: “A partir deste ponto de observação, é possível encontrar amplas evidências para a conclusão de que o trabalho e a posição dos trabalhadores no processo de produção não são tratados como o princípio básico da organização das estruturas sociais.” (op cit, p. 172)

Numa outra perspectiva temos a posição de estudiosos do tema trabalho na sociedade atual os quais defendem a permanência da centralidade do trabalho vendo o mesmo como

categoria central das relações sociais mesmo com todas as transformações ocorridas no mundo do trabalho: Lessa (1999), Antunes (1999 e 2002) e Mota (1998).

Analisando a centralidade do trabalho, Lessa respaldado em Marx, afirma que:

... considerar o trabalho como categoria fundante significa apenas e tão somente isto: o trabalho funda o mundo dos homens. Entretanto, não significa que se deva desconsiderar elementos das relações sociais que vão para além do trabalho enquanto tal, uma vez que, a reprodução deste mundo e a sua história só é possível pela gênese e desenvolvimento desses outros elementos. (LESSA, 1999, p.32)

Portanto, esse autor chama a atenção para o fato de que o trabalho não se resume à relação do homem com a natureza, mas também é a relação dos homens entre si no contexto da reprodução social e ressalta que:

Afirmar a centralidade do trabalho, para Marx, não significa desconsiderar a ação na história dos outros complexos sociais. Pelo contrário, apenas sendo, em última análise, fundados pelo trabalho, é que os complexos sociais distintos do trabalho podem interagir com ele, consubstanciando o complexo processo de desenvolvimento dos homens que é a reprodução social (op cit, p. 33).

Autores respaldados em Lucáks não concordam com a perda da centralidade do trabalho no universo de uma sociedade produtora de mercadorias. Antunes (1999) analisa que há uma redução quantitativa no mundo produtivo, no entanto, o trabalho abstrato cumpre papel decisivo na criação de valores de troca. Afirma ainda que o avanço tecnológico não elimina o trabalho; mas sim há uma intelectualização de uma parcela da classe trabalhadora.

Segundo esse autor, quando se fala em crise da sociedade do trabalho é necessário qualificar de que dimensão se estar tratando: da sociedade do trabalho abstrato ou da crise do trabalho também em sua dimensão concreta, enquanto elemento estruturante do

intercâmbio social entre os homens e a natureza. Chama a atenção para o fato de que a desconsideração da dupla dimensão presente no trabalho (concreto e abstrato) possibilita que a crise da sociedade do trabalho abstrato seja entendida como a crise da sociedade do trabalho concreto.

Antunes(2002) defende que o saber intelectual que foi relativamente desprezado pelo taylorismo-fordismo tornou-se, para o capital em nossos dias, uma mercadoria muito valiosa. Afirma que a incompreensão desse fato levou Habermas a visualizar um processo de cientifização da tecnologia, quando em verdade ocorre um movimento de tecnificação da ciência a qual não levou à eliminação do trabalho vivo, mas a novas formas de interação no trabalho, visando a sua diminuição.

Um ponto essencial nessa discussão sobre a centralidade ou não-centralidade da categoria trabalho na sociedade atual é que, segundo Antunes (1995, p. 86) aqueles que defendem a centralidade do trabalho acreditam no:

papel central da classe-que-vive-do-trabalho3 como sujeito potencialmente

capaz, objetiva e subjetivamente de caminhar para além do capital, já os que não defendem a centralidade do trabalho não, acreditam na superação do capital através da classe trabalhadora.

Portanto, ele considera que a questão essencial na discussão sobre o trabalho hoje não é a afirmação do fim do trabalho ou da classe trabalhadora, mas sim, a busca da identificação de quem possui maior potencialidade e/ou centralidade nas lutas sociais atuais; se os estratos mais qualificados da classe trabalhadora ou os segmentos mais subproletarizados.

Granemann (1999, p.162) refuta a perda da centralidade do trabalho que alguns

3 ANTUNES reformula esse termo classe-que-vive-do-trabalho para classe-que-vive-do-seu-trabalho, por

apontam como conseqüência da diminuição dos postos de trabalho afirmando que:

... saber que os postos de trabalho diminuem não resulta em corroborar com os argumentos de que o trabalho perdeu sua centralidade... o trabalho continua a ser o centro da estruturação capitalista, especialmente, porque o capitalismo ainda não conseguiu gerar riqueza senão pela apropriação do trabalho não-pago.

Carmo (1992) faz uma análise sobre a exaltação e o desprezo que se faz ao trabalho em determinados momentos históricos do capitalismo. Diz que com freqüência aparece alguém prevendo o fim da sociedade do trabalho, apontando como causa o avanço da revolução microeletrônica, que inauguraria uma nova era. Considera que esse sonho utópico, tão antigo quanto a própria humanidade, que é livrar o homem do trabalho, é realizado por alguns que vivem à custa do trabalho de outros.

Portanto, conforme os elementos aqui colocados sobre a categoria trabalho pode-se afirmar que este possui duas dimensões, as quais não devem ser deixadas de lado antes de fazer alguma análise sobre os mesmos. Quando falamos do trabalho no sentido geral, ou seja, no sentido do intercâmbio do homem com a natureza, de transformação de algo para a satisfação de suas necessidades ou no sentido da realização enquanto ser que ao transformar ou produzir algo está também se transformando e produzindo a si mesmo, aí somos levados a percebê-lo de uma forma positiva e necessária ao ser humano.

Entretanto, quando falamos do trabalho enquanto atividade realizada de forma explorada, alienante, que não traz a realização pessoal de quem a pratica, estamos então falando do trabalho nos moldes do sistema capitalista e esse sempre esteve e estará voltado para os interesses do capitalista, a acumulação e essa produzida pelo trabalho de muitos e apropriada por poucos.

É nesse sentido que o trabalho vai assumindo, a cada momento histórico do capitalismo, novas formas de apropriação e de gestão da mão-de-obra para que tenha condições de continuidade dessa mesma lógica, como veremos no próximo tópico que apresenta alguns elementos do desenvolvimento dos processos de trabalho em alguns momentos históricos do capitalismo.

1.2 - Reestruturação Produtiva, Neoliberalismo, Globalização e as novas configurações do Mundo do Trabalho

O trabalho na sociedade humana foi se intensificando na proporção da criação das ferramentas, primeiramente de pedra até às máquinas complexas. Com o advento das máquinas, desde os meados do século XIX, o trabalho acelera suas transformações dando- se início às grandes indústrias, e com isso às grandes cidades.

Os processos de trabalho foram evoluindo. No início, o trabalhador produzia individualmente todo o produto e era dono dos meios de produção - artesão. Em seguida, esses trabalhadores foram reunidos em um local - manufatura - onde produziam para um proprietário dos meios de produção em troca de um salário. Ainda aqui o trabalhador detinha todo o processo de produção.

Logo após, ocorre a divisão técnica do trabalho, onde as tarefas são divididas visando o aumento da produção. Começa aí a primeira fase do processo de alienação do trabalhador, pois este não vê mais o produto final do seu trabalho; fica restrito a uma pequena parte do processo produtivo.

Num terceiro momento, com o avanço da administração científica do trabalho - Taylorismo - e os reflexos na produção, o trabalhador passa a executar o que foi pensado por outro. É neste momento que, segundo alguns autores, fere-se a principal característica do trabalho humano, ou seja, a capacidade de pensar, imaginar antes de concretizar a idéia; quebra-se a unidade concepção - execução.

No início do século XIX, Henry Ford, baseando-se nas idéias de Fayol e Taylor, introduz em suas fábricas novos métodos de trabalho, suplantando a produção de tipo artesanal da indústria automobilística pela produção em massa.

Os elementos constitutivos básicos do Taylorismo/Fordismo foram: o controle dos tempos e movimentos pelo cronômetro fordista e produção em série taylorista; a existência do trabalho parcelar e fragmentação das funções; a separação da elaboração e execução no processo de trabalho; a existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas; a produção em massa, através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos; e a constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimensões.

As idéias e objetivos desse modelo pretendiam a disciplina do trabalho, uma vez que os trabalhadores concentrando-se nas tarefas manuais e com rígida norma dos movimentos não teriam tempo para pensar e sim produzir o máximo possível no mínimo de tempo. Vê-se com isso que “além da disciplina do trabalho propunha-se uma ética, um padrão de conduta aos trabalhadores.” (GORENDER, 1997, p. 312).

Alguns fatores foram essenciais para a expansão do modelo de produção em massa de automóveis o qual até o segundo pós-guerra ficou restrito aos Estados Unidos: o Plano Marshall que foi um instrumento de norte-americanização da Europa Ocidental e de criação, no seu território, do mercado apto a suportar a produção em massa de automóveis e de outros bens de consumo duráveis. (GORENDER, op cit) e a doutrina de Keynes que constitui o

chamado Keynesianismo o qual sustentava a intervenção do Estado nas economias via gastos públicos (custeio e investimento) de sorte a assegurar a demanda efetiva e, assim, o nível de emprego. Novos papéis e poderes institucionais foram assumidos pelo Estado, expressos no keynesianismo, o qual, aliando-se firmemente ao fordismo, possibilitou a etapa de expansão do capitalismo monopolista, caracterizada pela expansão dos mercados em nível mundial. Portanto, juntamente com o fordismo, o keynesianismo é visto por muitos como de grande mérito pela prosperidade capitalista do pós-guerra. Segundo HARVEY (1989:119) o fordismo-keynesianismo teve como base "(...)um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico(...)"baseado na "rigidez total": nos investimentos, nos mercados, na alocação, nos contratos de trabalho e nos compromissos do Estado.

No início da década de 70, o regime fordista-keynesiano começa a declinar devido a vários fatores, tais como: problemas que começam a se agravar por parte da mão-de-obra (desmotivação dos trabalhadores: abandono do trabalho, alcoolismo, fraco desempenho nas tarefas); a inflexibilidade da produção estava se tornando algo muito caro e não acompanhava as necessidades do mercado; e as dificuldades fiscais do intervencionismo estatal keynesiano e do Estado de Bem-estar Social.4

Surge então a necessidade de outros mecanismos, inéditos, de ganhos de produtividade. Todo o saber-fazer acumulado em torno das economias de escala e da grande série não seria mais imediata e diretamente utilizável. Com isso, o regime de regulação fordista-keynesiano foi substituído pelo chamado "modelo japonês" o qual teve origem na fábrica automobilística Toyota nos anos 1950.

Ohno (apud Coriat 1994) coloca dois pontos principais, ou seja, dois pilares do método Toyota: a produção just in time (produzir as unidades necessárias, nas quantidades

4 O Estado do Bem-Estar Social conferia as condições institucionais para a garantia de sobrevivência dos

necessárias, no tempo necessário) a partir da qual têm-se a criação do denominado kanban (conjunto de princípios ou de recomendações antitayloristas, de desespecialização não somente do trabalho operário, mas do trabalho geral da empresa, reassociando no interior da oficina tarefas antes sistematicamente separadas pelo taylorismo) e a auto-ativação da produção, cujo princípio significa desespecialização e polivalência operária. Desespecialização dos profissionais para transformá-los em plurioperadores (profissionais polivalentes); intensificação do trabalho; modificação do sistema de emprego (flexibilização, terceirização, subcontratação) e do sindicalismo (agora o sindicalismo de empresa).

Segundo Ohno, o método Toyota não é uma técnica de produção "de estoque zero"; o "estoque zero" é apenas um dos resultados aos quais ele conduz, perseguindo um objetivo mais geral. Para ele, o sistema Toyota teve sua origem na necessidade particular em que se encontrava o Japão de produzir pequenas quantidades de numerosos modelos de produtos e em seguida, evolui para tornar-se um verdadeiro sistema de produção.

Os defensores da tese da "especialização flexível" a tomam como uma nova forma produtiva a qual expressaria um modelo produtivo que recusando a produção em massa e recuperando uma concepção de trabalho - mais flexível - estaria isenta da alienação do