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AS TRANSIÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO

No documento PDF completo (páginas 63-67)

DE SEGURANÇA DO TRABALHO FRENTE À ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PÓS-FORDISTA

DO TRABALHO PÓS-FORDISTA

1. AS TRANSIÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO

A evolução histórica da sociedade se deu e se dá pelo confronto entre diferentes classes sociais decorrentes da “exploração do homem pelo homem”. Dada à complexidade da relação entre os homens que compõem uma sociedade, optou-se por destacar algu- mas das características das relações de trabalho que envolvem o em- pregador – representante do capital – e o trabalhador – representante da força de trabalho, necessária para o trabalho em si. Isto permitiria aos leitores uma oportunidade de compreender a realidade do pon- to-de-vista em que o trabalho é submetido aos mandos do capital. Em outras palavras, o capital apropria-se do saber e do fazer e como fazer do trabalhador que deve unicamente pensar e agir para a produ- tividade.

O início do processo de surgimento do homem fica consta- tado no momento em que é obrigado, para existir, produzir sua pró- pria vida. Assim, diferentemente dos animais que se adaptam à natu- reza, os homens têm de adaptar a natureza a si, agindo sobre ela e transformando-a e, assim, ajustando a natureza às suas necessidades. (SAVIANI, 2007, p. 154). Numa primeira análise, na época do homem primitivo ainda não havia o trabalho no sentido o qual se entende

hoje, onde alguém trabalha para produzir, mesmo sendo autônomo, ou seja, quando trabalho significa produção. De fato, nos primór- dios, somente a ação de caçar, pescar e “pegar” na natureza era uma ação exclusiva para a sua sobrevivência; pode-se entender então que, nesta situação, o seu trabalho era única e instintivamente sobreviver. E para poder viver, era necessário produzir diariamente os meios para satisfazer as suas necessidades a fim de se manterem vivos e, isso, já o fazem há milênios. Tribos, clãs e comunidades foram se constituindo; algumas nômades, em contínua busca de alimentação e da instintiva reprodução dos seus pares. Foi nesse turbilhão de movimentos de des- bravamento e de ocupação de territórios que se moldou o que hoje se conhece como um “povo”.

Durante essa evolução do homo sapiens, da luta pela sobrevivência, ocorreram descobertas de grande importância para a época como, por exemplo, o manuseio de materiais da natureza para a confecção de ferramentas para uso doméstico, mas também outras utilizadas nos combates. Mais descobertas se sucederam, por vezes justificadas pela ação de divindades; outras, pela constatação das interferências do próprio ser humano sobre essa natureza. As relações de convivência, incluindo as tarefas de rotina e as formas de trabalho conseguem mostrar a evolução da história da humanidade.

Os modos de produção têm seu início nas organizações tribais onde os integrantes da tribo executavam as tarefas determinadas por seu líder. Nesta época, as guerras entre tribos já se faziam presentes e muitas vezes o vencedor escravizava a tribo derrotada. O modo de produção escravista tem sua origem, portanto, no início da civiliza- ção e, se consolida na Europa ocidental, primeiramente na sociedade grega considerado como o momento de transição para uma futura comunidade dita civilizada.

No século XVII, o senhor feudal exercia sua dominância sobre um grupo de camponeses típicos que dedicavam parte do seu tempo ao trabalho forçado na terra do senhor, além do que deviam fidelidade e gratidão em troca de proteção e por um lugar de trabalho. A transição do regime escravista para o regime feudal, em verdade, é outra forma de utilizar a mão-de-obra de indivíduos desprovidos de posses por senhores donos de terras; como diz Gallo (2009, p. 140): “o sistema feudal nada mais é do que uma variante do escravismo”. Os escravos viraram servos, ganharam direito à vida, mas ainda não tinham direi- tos sobre a própria força de trabalho.

A Inglaterra, ainda no mesmo século, vivia um período de transformações sociais e políticas; como consequência, entre

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outras, os proprietários de feudos expulsavam as famílias camponesas de suas terras e, essas para sobreviver, passaram a buscar emprego nas cidades, nas manufaturas e nas pequenas indústrias. O período de turbulências entre 1640 e 1688/1689, que ficou conhecido como “A Revolução Gloriosa”, culminou com um golpe de Estado. Essa revo- lução reuniu condições favoráveis aos ingleses para iniciar a Revolu- ção Industrial. Entretanto, a sua fase inicial foi dolorosa e sombria para a humanidade. O grande salto tecnológico deu-se com a utilização do vapor e com a invenção da máquina de fiar. Além disso, caracte- rizou-se pela passagem da manufatura à indústria mecânica com a introdução de máquinas fabris. Enquanto na manufatura o traba- lhador produzia uma unidade completa e conhecia todo o processo, no século XIX a produção estava organizada de forma que o traba- lhador fazia apenas parte dela limitando seu domínio técnico sobre o próprio trabalho. O novo sistema industrial transforma as relações sociais e cria duas novas classes: os proprietários dos capitais, das máquinas e da matéria-prima (capitalistas), e os operários (proletá- rios) agora assalariados que possuem apenas sua força de trabalho e a vendem aos empresários para produzir mercadorias. Instaura-se definitivamente o capitalismo. Para se enquadrar na rígida disciplina imposta, o proletariado foi submetido à condições ultrajantes. Apesar dos protestos, os proprietários da riqueza acumulada estendem seus empreendimentos em outros territórios. O capitalismo se espalha pela Europa, Estados Unidos e Japão, e finaliza no século XX a sua fase de expansão.

Apesar de bons resultados, um novo padrão pôs fim a essa forma de organização do trabalho e substituído por um processo proposto por Taylor. Esse novo modelo visava aumentar os lucros através de ajustes aos métodos de produção, agora mais acelerado e a introdução de novos instrumentos de trabalho. Outra mudança, com mais revolta, foi a introdução de cronometristas no processo de produção para a padronização de tarefas. Era o início de uma for- ma sutil de modelização do inconsciente, de influir na subjetividade do trabalhador buscando mudanças na sua percepção segundo os interesses do capital (HELOANI, 2000, p. 18). A ideia de Taylor é induzir o trabalhador a pensar que se trabalhar mais ou melhor, se cooperar com a organização, haveria a cooperação recíproca da administração. Instala-se assim, a administração científica que envolve a adoção de novas atitudes mentais e novos hábitos relacionados ao trabalho.

Com o fim da primeira grande guerra, o modelo de Taylor se consolida tanto nos Estados Unidos como na Europa. Nessa mesma

época, Ford propõe a linha de montagem como nova forma de gestão da produção; este novo processo ficou conhecido como fordismo e, com ele, juntamente com o taylorismo, permitiu um aumento percentual do volume de produção e com uma diminuição percentual de trabalhado- res assalariados; estava criado o que ficou denominado de “desempre- go tecnológico”.

Em 1929, com a quebra de Bolsa de Nova York seguida da grande crise da economia americana, a opção adotada como solu- ção foi a intervenção do Estado com investimentos na indústria e em programas sociais. Com o esgotamento destes e a redução do poder norte-americano no sistema financeiro internacional e a contestação dos países industrializados, ressurgem os princípios do liberalismo de Adam Smith agora sob o título de neoliberalismo. No final dos anos de 1960, com o declínio da produção e a saturação de mercados de consumo, o modelo fordista entra em crise.

É largamente difundido que o capitalismo sempre viveu perí- odo de estabilidade seguido de período de crise, um fato considerado como inerente a esse sistema que gera crises que, por sua vez, desen- cadeia a busca por novos mecanismos de estabilidade.

A rigidez das relações trabalho-capital-Estado associada à crescente ociosidade das máquinas nas fábricas forçou as organiza- ções do trabalho a uma racionalização e reestruturação do controle do trabalho, a busca de novas estratégias e mudanças tecnológicas, a criação de novos produtos, a construção de fábricas em outras regiões e continentes, com mão-de-obra mais barata e controle de trabalho mais fácil. Dessas ações, resultaram na reestruturação da economia e no reajustamento social e político e as novas experiên- cias representaram a passagem para um novo modelo de acumula- ção capitalista, denominado por Harvey (2008, p. 140) de “regime de acumulação flexível”, identificada por um sistema contrário à rigi- dez do fordismo e apoiado na flexibilidade dos processos de trabalho. Recebeu vários rótulos; toyotismo, por exemplo; hoje o termo pós-for- dismo (HELOANI 2007a, p. 101) pareceu ser o mais apropriado e aceito.

Além da ordem anti-rigidez, uma nova estrutura na organiza- ção do trabalho provocou o fim do pleno emprego e fez surgir a figura do trabalhador temporário, a subcontratação, a terceirização, a dimi- nuição dos salários e o enfraquecimento dos sindicatos trabalhistas. Esse processo desencadeou uma profunda precarização das condições de trabalho incluindo o trabalho que oficialmente não existe – sem contrato, desprovido de direitos e sem vínculo empregatício.

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Castel (1998, p. 516-18) considera a precarização do trabalho como toda forma de contrato que não é estável nem homogêneo, que “se inseriram na dinâmica atual da modernização em consequência dos novos modos de estruturação do emprego dada as reestruturações industriais empreendidas em busca de mais competitividade”. Após a substituição dos empregos estáveis por formas instáveis de contra- tação consolida-se efetivamente a disseminação das terceirizações. Hoje já se pratica a terceirização da terceirização.

2. CONSIDERAÇÕES DA HISTÓRIA DA

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