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2. Análise linguística

2.3. Jê Meridional

2.3.4. Aspecto Jê Meridionais

O Xokleng apresenta um conjunto de marcas de aspecto, algumas delas derivadas de verbos (como mu e te, do verbo "ir", ou ne, do verbo "sentar"), que são de presença obrigatória na oração independente e aparecem sempre na posição final. Em alguns casos, guardam proximidade com as noções de perfectivo e imperfectivo, mas alguns casos revelam aspectos relacionados à posição física do sujeito ou objeto da ação expresso no verbo (GAKRAN, 2005).

13 Forma fonológica.

14 Combina-se com outros verbos, dando: ma- = levar, ma-k = trazer 15 Combina-se com outros verbos, dando: wa- = levar, wa-k = trazer

Gakran (2005) registra as seguintes marcas de aspecto em Xokleng:

mu = ação acabada ou completada/ consolidada.

t = habitual, (tempo presente, contemporâneo), ação não completada. jã = ação acontecendo (presente), (posição em pé).

ne = ação acontecendo (posição sentada). nõ = ação presente (posição deitado)

nõde (plural) = não se sabe a posição do sujeito. kó = ação, estado que o sujeito se encontra. vã = ação que irá acontecer.

Em sua tese de doutorado Gakran (2015), apresenta uma divisão mais complexa das categorias aspectuais em Xokleng, relacionando-as com os diferentes conjuntos de paradigmas pessoais. Os paradigmas pessoais são divididos por ele em três conjuntos:

Conjunto 1 - Formas presas

1SG 1PL ãg 2SG mã (ha) 2PL mã m 3SG masc. fem. ta zi 3PL óg 3CORR

Conjunto 2 - Formas livres

1SG nh

2PL ãg

2PL m a 3SG masc. fem. ti zi 3PL óg Conjunto 3 - Enfáticos 1SG nh ja 1PL ãg ha 2SG a ha 2PL m a ha 3SG masc. fem. 3PL óg ha

O aspecto perfectivo é definido por Gakran como correspondente a um evento ou processo que se encontra concluído, mas não explicitado se o evento foi esgotado ou não, apenas pode-se afirmar que foi realizado. Nesse aspecto, o núcleo verbal se combina com o conjunto 1 de paradigmas pessoais. Já quando é utilizado um pronome enfático (conjunto 3) este atrai o sujeito, que nesses casos é um pronome do conjunto1, para a segunda posição, precedendo assim o núcleo verbal. Se houver um pronome de terceira pessoa, o sujeito aparecerá em primeira posição.

i) Aspecto perfectivo a)

cantar 1 PERF

b)

ii) Pronomes enfáticos a)

1 ENF 1 cair PERF

iii) 3ª pessoa a)

3M MS cair PERF

O aspecto imperfectivo, segundo Gakran (2015), é expresso por t . O t marca uma predicação como inacabada, cujo término não está delimitado. Trata-se de um processo verbal que pode nem mesmo ter iniciado, mas estar apenas previsto. A imperfectividade tem um matiz de continuidade, de algo que se estende. Essa ideia também está presente quando o predicado tem por núcleo um nome ou um adjetivo.

a)

cantar 1 IMPERF

b) jan mã t

cantar 2 IMPERF

Gakran ao Português desses exemplos corresponda ao futuro, em Laklãnõ não se trata de tempo, mas de um processo

Kaingang

Para Gonçalves (2007), em uma primeira aproximação, parece ser difícil definir um aspecto como perfectivo ou imperfectivo para o Kaingang, como analisa Wiesemann (2002). A autora questiona a análise de Wiesemann e apresenta como exemplo os seguintes enunciados:

que em Kaingang pode ser expresso como em (2): (2) V sa1 kanhgág fag ta fag kr , .

antigamente índio 3pfpl ms 3pfpl filho dar a luz ASP 3pfpl casa Posp v sa

pela indicação do Passado. O que aponta uma perspectiva Imperfectiva:

restrito àquele momento passado (GONÇALVES, 2007, p. 139). Porém, Gonçalves explica que a categoria aspecto, na língua Kaingang, distingue perfectivo de imperfectivo e parece fazer uma segunda distinção dentro do perfectivo. Ela apresenta os seguintes marcadores de aspecto perfectivo -se

-:

- que enquanto verbo nuclear pode ser traduzido no Português expressem posterioridade ao Momento da Fala, a perspectiva na qual o final do evento é vislumbrado é o que responde pelo seu caráter Perfectivo.

ja - usado em construções nas quais o fato ou o evento já se estabeleceu ou já se encerrou num momento anterior.

ma - pela sua condição especial de ocorrência, utilizado principalmente em construções em que o Momento de Referência é posterior ao Momento da Fala (um Tempo Futuro, portanto), pensou-se inicialmente que poderia ser um marcador temporal, mas encontramos ma -ocorrendo. Sua

frequência nos dados é relativamente pequena e nas construções onde aparece, o vislumbre do ponto final é o que responde pelo seu caráter Perfectivo (GONÇALVES, 2007, p. 177).

Já em relação ao aspecto imperfectivo, segundo a autora há a utilização do à representação de

acrescenta que há também um conjunto de marcadores aspectuais que parecem não

pois ocorrem em ambas as construções. Gonçalves diz que esse conjunto de marcadores parece evidenciar uma propriedade acional dos predicados e provavelmente há graus ou níveis para se expressar esses estados durativos mas não-permanentes ou, em outras palavras, mais ou menos passíveis de mudança:

j n

é utilizado para eventos durativos, estativos, não-permanentes e em eventos não-durativos transformativos. No caso de eventos durativos, chamamos a atenção para o fato da possibilidade

J n

(GONÇALVES, 2011, p. 178).

Sobre os marcadores posicionais, Gonçalves (2007) explica que há uma dificuldade em considerar essas partículas posicionais como marcadores de aspecto, pois:

i. não parecem obrigatórios - para mesmas sentenças dadas encontram- se diferentes formulações com ou sem marcação posicional; ii. em algumas situações, quando a frase proposta incluía uma

informação sobre a posição física explícita lexicalmente, o falante podia apresentar essa informação em forma de categorias gramaticais ou por recursos lexicais (GONÇALVES, 2007, p. 180).

Em Kaingang também pode ocorrer a duplicação de marcadores de aspecto, ou seja, os marcadores de Aspecto podem combinar-se com outros marcadores de Aspecto ou com marcadores modais. Em Kaingang também pode haver a combinação de duas marcas de aspectos distintas. Gonçalves nota que essas composições sugerem e

sentença inteira, dos marcadores que se evidenciam nessas combinações, eles podem co- ocorrer.

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