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4. Análise cultural

4.1.2. Cultura imaterial

a) Organização social

Krahô

Os Krahô possuem mais de uma divisão em metades, mas nenhuma delas tem a função de regulamentar as alianças matrimoniais. Segundo Melatti (2009), as dicotomias existentes entre os Krahô são:

1. Divisão nas metades Wakmeye e Katamye

A qualidade de membro de uma dessas metades se confere segundo o nome próprio do indivíduo. Sendo assim, cada uma das metades corresponde a um certo número de nomes pessoais. A escolha dos nomes ocorre da seguinte forma: todo indivíduo do sexo masculino recebe o nome de um irmão da mãe ou de qualquer outro parente consanguíneo a que se possa aplicar o termo de parentesco keti. Já os indivíduos do sexo feminino recebem nome da irmã do pai ou de qualquer outro parente consanguíneo a que se possa aplicar o termo de parente tii.

Essas metades se separam espacialmente na praça da aldeia. Os Wakmeye ficam a leste e os Katamye a oeste. As metades também estão ligadas a normas que regulam a vida cotidiana.

A filiação a uma dessas duas metades também é regulada pelo nome próprio do indivíduo, porém nesse caso apenas os homens são designados a um dos sete grupos cerimoniais das metades Khöirumpe e Harãrumpe. As metades se separam espacialmente na praça da aldeia, os Khöirumpe ocupam o lado oriental e os Harãrumpe o lado ocidental. A metade Khöirumpe é composta pelos seguintes grupos, enumerados de norte para sul: Pãre (Coruja), Autxet (Tutupeba) e Txon (Urubu). A metade Harãrumpe é composta também no sentido norte para sul, dos seguintes grupos: Txoré (Raposa), Hëkti (Gavião), Khedré (Periquito) e Kupe

metade é explicado pelos Krahô da seguinte forma: antigamente, havia mais um grupo no lado oriental, denominado Kre, porém esse grupo foi totalmente aniquilado pelos índios gaviões (pucobiês) durante uma de suas saídas para caçar. Sendo assim, os jovens que tinham seus nomes próprios escolhidos para pertencer aos Kre foram realocados em outros grupos após a aniquilação.

3. A divisão nas metades Khoikateye e Harãkateye

Cada uma das metades ocupa os lados leste e oeste da praça, respectivamente. Cada uma se subdivide em vários grupos que parecem corresponder às classes de idade dos indivíduos.

4. Outras divisões

Há ainda, entre os Krahô, outras divisões cerimoniais como, por exemplo, as metades Hëk (Gavião) e Krókrók (Irara ou Papa-Mel) que são temporárias e não congregam sempre os mesmos membros em todos os festivais aos quais estão relacionados.

Cada aldeia Krahô possui um chefe (pa?hi).22 A chefia, entretanto, não é

hereditária nem vitalícia. Tudo indica que o chefe da aldeia perde seu lugar toda vez que surge um líder mais poderoso e ativo apoiado por um grupo constituído por parentes, afins

22 pa i, e entre os Kaingang, pã i. Segundo

e outros indivíduos. Além disso, de acordo com Melatti (2009), existem entre os Krahô os "chefes honorários":

O "chefe honorário" de toda uma aldeia A, ou apenas dos homens da aldeia A, ou apenas de todas as mulheres da aldeia A, é um indivíduo da aldeia B escolhido por todos os indivíduos ou por todos os homens ou por todas as mulheres, respectivamente, da aldeia A. Geralmente, já antes da escolha, o pai do chefe honorário (que é muitas vezes criança ou jovem) já defendia os interesses da aldeia A entre seus companheiros da aldeia B (MELATTI, 2009, p. 45).

As aldeias Krahô têm suas casas dispostas em círculo; um caminho circular passa diante das habitações, partindo também de cada uma destas um caminho para o pátio central. As casas estão distribuídas de tal maneira que aquelas pertencentes a mulheres ligadas matrilinealmente fiquem próximas umas das outras. Deste modo, cada grupo de parentes unidos por linha feminina tem um determinado sítio no círculo da aldeia, que mantém sempre a mesma posição segundo os pontos cardeais, para construir suas habitações. É esse o único critério para a distribuição das casas na aldeia, a qual não é afetada por outros grupos cerimoniais que nela estão presentes (MELATTI, 2009).

Apinajé

Os Apinajé de ambos os sexos são divididos em metades men-ga-txa matrilineares e matrilocais que tinham sua localização em cada aldeia. As metades eram:

i) Kol-ti/Kolo-ti: metade que habitava o lado setentrional do círculo das casas.

denominação tivesse qualquer relação topográfica;

ii) Kol-re/Kolore: metade suplementar da aldeia, também eram denominados

A mitologia Apinajé narra que os Kolti foram criados pelo sol e os Kolre pela lua. As duas metades utilizavam diferentes cores, sendo que os Kolti utilizavam a cor vermelha e os Kolre a cor preta. As funções das metades são quase exclusivamente cerimoniais, não tendo influência na organização religiosa ou econômica da comunidade.

Porém, o chefe da aldeia pertencia sempre à metade Kolti. Os nomes de ambas as metades exigiam certas cerimô

Nimuendajú ([1939] 1983).

As metades não são exogâmicas, a exogamia é regulada por uma organização que não apresenta dualismo. A exogamia é regulada pela divisão dos quatro Kiyê, que ocorre da seguinte forma:

a) Ipôg-nyõ- b) Ikré-nyõ- c) Krã-õ-mbédy d)

qualificada pela palavra -

diferem por seus enfeites e pinturas.

De acordo com Nimuendajú, a exogamia funciona da seguinte forma para os homens: A casa com B; B com C; C com D; D com A. Para as mulheres a regra segue a ordem inversa. Os quatro Kiyê são organizados de forma bilinear, ou seja, os filhos de um casal pertencem ao Kiyê paterno e as filhas ao Kiyê materno. Porém, a pesquisa com os Apinayé realizada no contexto do Projeto Harvard-Brasil Central, que ocorreu no período de 1962 a 1967, também mostra que as metades não estavam relacionadas ao matrimônio, e que Nimuendajú estava enganado sobre os quatro kiyé, grupos que casariam em círculo, de modo que os homens do primeiro casavam com as mulheres do segundo, os homens do segundo com as mulheres do terceiro, e assim por diante, até fechar o círculo. Da Matta registrou em uma carta determinadas dúvidas em relação aos kiyê descritos por Nimuendajú:

(...) Quanto aos famosos kiyé, tenho verificado que eles são apenas dois. Por incrível que possa parecer, o velho Curt deu dois nomes complementares para os mesmos kiyé, que nada mais são do que nomes de enfeites. Assim, temos uma organização tipicamente dual, no que toca à forma de sistema social. A solução para este problema seria logicamente encontrada no sistema de parentesco. Entretanto, aqui tenho tido as minhas maiores dores de cabeça. Acontece que os informantes não sabem como vão chamar certos parentes, e

para obter uma lista dos primos cruzados demora-se às vezes meia hora. A terminologia está perdendo o seu significado tradicional e novos termos estão sendo incorporados ao sistema (MELATTI, 2002).

Nimuendajú aponta também uma relação importante regulada pelos Kyiê que é a relação de Kram e Krangêd. Os Kiyê são importantes para a escolha de duas pessoas (um homem, o Krangêd e uma mulher, a Krangêdy) que são simpáticas às crianças da comunidade (os pakram). Quando as crianças têm mais ou menos 5 anos, seus Krangêd e Krangêdy são escolhidos pelos pais ou avós. A diferença de idade entre o kram e krangêd deve ser de pelo menos 10 anos. O Krangêd e Krangêdy irão acompanhar a criança durante diversas cerimônias que marcam fases importantes de seu crescimento. A relação permanece também nos ritos funerários, a parte sobrevivente (kram ou kragêd) deve se ocupar do enterro e enfeites da parte falecida.

A planta circular da aldeia Apinajé consiste da periferia das famílias e a praça ou pátio representa os dois pares de metades cerimoniais. As aldeias Apinajé, ainda de

elevado e próximo d

Segundo o autor, os Apinajé, como os demais povos Jê do Norte, preferem localizar suas aldeias no campo, utilizando a mata para a caça e a agricultura. As aldeias, assim, ficam situadas no alto de colinas e as roças sempre se localizam nas suas vertentes ao lado do ribeirão, onde um pedaço da mata ciliar foi domesticado.

4.2. Ramo Jê Central

Nas seguintes seções são analisados aspectos da cultura material e imaterial do povo Xerente.

4.2.1. Cultura material

a) Agricultura

Nimuendajú (1942, p.62) afirmou que as duas plantas selvagens mais importantes para os Xerente eram a palmeira de buriti (Mauritia fiexuosa) e a palmeira de babaçu (Orbignia speciosa). As folhas do buriti eram um material muito utilizado nas cestarias e seus frutos eram importantes fontes alimentícias. Quanto ao babaçu, a parte mais

aproveitada eram as suas sementes oleaginosas. Os Xerente também utilizavam as folhas mais novas do babaçu para fazer esteiras e para fins decorativos. As palmeiras de buriti e babaçu localizadas nas aldeias não eram para uso geral, seu uso era dividido entre quatro sociedades, sendo que caso as regras de uso das palmeiras não fossem respeitadas, essas sociedades poderiam entrar em conflito.

A colheita também era uma tarefa de caráter associativo; os indivíduos que trabalhavam em diversas plantações recebiam como recompensa apenas seus alimentos. Posteriormente, o dono da plantação a abria para que as mulheres dos seus sócios realizassem a finalização da colheita. Esse processo ocorria especialmente com a colheita do milho, já que é costume coletar seus tubérculos para o uso imediato (NIMUENDAJÚ, 1942, p. 62).

Tanto as mulheres quanto os homens participavam do processo de plantio e também capinavam as roças. Se durante a capinação a família precisasse de ajuda de outros membros da comunidade, o homem da família ia à caça e a família preparava uma refeição com a carne obtida para todos os membros da sociedade que os ajudaram na tarefa de capinar. O plantio era praticamente uma tarefa das mulheres.

Nimuendajú (1942) relata que no período em que estava entre os Xerente, geralmente um homem acompanhava o grupo de mulheres quando elas iam para a fazenda buscar frutas para o uso diário, mas esse homem raramente carrega uma carga para casa. No período relatado por Nimuendajú (1942), a farinha de mandioca antes desconhecida

era preparada apenas pelas mulheres.

A abertura das roças era sempre precedida pela visita de um sekwa ao local escolhido. Os sekwa, por meio das orientações de seus espíritos auxiliares, são exímios conhecedores do potencial das plantas. Além disso, na aldeia cantava-se e dançava-se, solicitando autorização para derrubada da mata. De maneira semelhante, o corte das toras de buriti, usadas durante as disputas esportivas, ainda hoje é feito por meio da mediação de um xamã.

b) Tecelagem e cerâmica

Os Xerente, assim como outros povos Jê do Brasil Central não possuíam registros da produção de tecelagem e cerâmica. As poucas exceções encontradas no território eram explicadas pela influência de culturas vizinhas, em geral, as Tupi. Apesar de não terem tecelagem ou cerâmica, os Xerente são os responsáveis pelo artesanato de capim dourado,

que chegou por meio deles ao Jalapão em meados de 1920 e foi aprendido por moradores da comunidade quilombola da Mumbuca e, desde então, é passada de geração em geração nas comunidades jalapoeiras (cf. Mello, 2014).

Mello (2014) relata que embora haja uma disputa sobre a origem do artesanato com capim dourado, as índias artesãs Shirlene Xerente e Vanessa Xerente afirmam que a produção artesanal com capim dourado sempre pertenceu ao povo Xerente. Mello (2014) cita os dados da pesquisa de Schmidt (2005) que afirma que a técnica de costurar

concêntricos, caraterísticos do artesanato de capim dourado do Jalapão, tem origem

om seda

Atualmente, o artesanato das comunidades Xerente, em sua maioria, é elaborado por mulheres índias que adentram ao mercado de trabalho, atuando na comercialização de suas peças e contribuindo para o fortalecimento de sua autonomia (MELLO, 2014).

4.2.2. Cultura imaterial

a) Organização social

De acordo com Nimuendajú (1942, p.19), os Xerente se dividiam em metades exógamas e patrilineares: Sdakrã e Xiptató, que se localizavam nos lados norte e sul da aldeia, respectivamente. Cada uma das metades possuía três clãs, sendo que um quarto clã foi subsequentemente adicionado a cada metade. Os clãs tinham sua localização definida de forma que os clãs que ficavam frente a frente possuíam uma relação especial entre eles. Além desses grupos hereditários, existiam quatro associações de homens e uma associação de mulheres. Apenas uma dessas associações realizava uma iniciação formal.

Quando um menino da comunidade tinha cerca de oito anos de idade ele era atribuído à filiação vitalícia em uma das duas equipes esportivas e também em uma das quatro associações masculinas, mas sem ser imediatamente reconhecido como um participante de pleno direito. Nesse ínterim, ele recebia um nome, tinha o lóbulo da orelha

perfurado e recebia um cinto. Após esse processo, ele alcançava o status de Sipsa, o que implicava na sua residência na cabana dos solteiros no centro da aldeia. Dentro dessa estrutura, os jovens eram divididos espacialmente de acordo com suas associações e suas metades. Além disso, eram reconhecidos seis graus entre os solteiros, sendo que apenas os que já estavam no mais alto grau eram considerados prontos para o casamento. Não havia um processo equivalente para as meninas, que eram levadas para a associação das mulheres quando crianças e tornavam-se parte dela sem qualquer formalidade.

A comunidade Xerente como um todo era responsável i) pela escolha e deposição dos chefes; ii) pelas guerras;

e v) pelos funerais de dignitários e pessoas de prestígio da comunidade. Fora dessas circunstâncias, cada aldeia era completamente independente da outra. Como a organização social dos Xerente era uniforme, os membros da comunidade tinham sua mobilidade totalmente livre. Qualquer pessoa poderia morar em qualquer aldeia que preferisse, sendo que seu status permaneceria idêntico, e ela poderia se encaixar facilmente em qualquer comunidade (NIMUENDAJÚ, 1942).

Como já mencionado, as metades Xerente eram patrilineares, patrilocais e exógamas. A exogamia era respeitada mesmo para as relações sexuais fora do casamento. As metades se distinguem de acordo com desenhos que usavam, feitos com tinta preta. Os Sdakrã usavam séries verticais de linhas curtas horizontais em ambos os lados do corpo, enquanto os Xiptató utilizavam uma série de círculos. Cada metade possui um conjunto distinto de nomes masculinos transmitidos patrilinearmente para netos e sobrinho-netos. As metades são localmente segregadas a depender da i) escolha dos

Jejum.

Segundo Nimuendajú (1942) as metades e clãs tinham a seguinte configuração:

Sdakrã Xiptató

1. Kieprehí 1. Kuze

3. Isrurié 3. Kbazi

4. Krozaké (clã suplementar) 4. Prasé ou Klitó (clã suplementar)

Cada clã ocupava um lugar distinto entre as moradias da aldeia. Os Kuze e Kiprehí localizavam-se a direita e a esquerda da saída oriental. Os Isibdu e Isaurié ficavam ao centro e os Kbazi e Isurié a oeste. Os clãs Krozaké e Prasé (também conhecido como

Kl klitó

adicionados como suplementares. Nimuendajú (1942) acreditava que, provavelmente, a adição desses dois clãs foi a razão para que a configuração espacial antes em semicírculo passasse a ser um círculo de três quartos.

Os Prasé eram originários de uma comunidade chamada Sampe. Eles viviam nas montanhas da bacia hidrográfica do Tocantins-Araguaia, próximo às nascentes do Rio Bananal (afluente do Araguaia). Os Krozaké habitavam uma densa floresta na mesma região que os Sampe. O nome Krozaké faz referência à pintura que utilizavam: uma linha de pontos vermelhos abaixo da linha de cabelo na testa.

Segundo os informantes de Nimuendajú, os Prasé (ou Klitó) da metade Sdakrã, e os Krozaké, da metade Xiptató, eram clãs de origem "estrangeira", embora de fala originalmente Xerente, tendo sido capturados e incorporados pelas respectivas metades; seu status era visto como inferior (NIMUENDAJÚ, 1942). Dois outros clãs tinham, pelo contrário, um estatuto especial: os Kuzé (Xiptató) e os Kreprehí (Sdakrã), responsáveis pela fabricação da maior parte dos ornamentos característicos dos demais clãs de suas respectivas metades algo que Nimuendajú suspeitava ser a "tarefa mais essencial" dos clãs, dada a quase exclusiva referência a esses ornamentos nos nomes clânicos e em seus numerosos sinônimos, mas que parece ter hoje perdido importância (COELHO DE SOUZA, 2002).

Quanto à distribuição espacial da aldeia, Nimuendajú (1942) registrou que tinham a forma de uma ferradura de cavalo, ou de um círculo incompleto. Nimuendajú cita que os indígenas com quem Martius (1867) teve contato às vezes concebiam o círculo como completo, outras vezes como um semicírculo. A forma de ferradura tinha sua curva aberta para o oeste, e no ápice uma estrada, o "caminho do sol" que levava para o leste. As casas na aldeia eram agrupadas dessa forma, em um segmento norte e um sul; no lado

norte de todas as aldeias estavam os clãs da metade Sdakrã e no sul os clãs da metade Xiptató.

4.3. Ramo Jê Meridional

Nas seguintes seções são analisados aspectos da cultura material e imaterial dos povos Xokleng e Kaingang.

4.3.1. Cultura material

a) Agricultura Xokleng

Henry (1941) relata a importância da coleta de pinhões entre os Xokleng e registra o processo pelo qual era realizada. Geralmente, a coleta era feita por um homem e uma mulher juntos; caso a mulher não tivesse um marido, um irmão ou outro familiar do sexo masculino a acompanhava. Algumas vezes, porém, segundo Henry, a coleta era realizada por dois indivíduos do sexo masculino também. Cada pessoa selecionava suas árvores antes de iniciar a coleta. Já que havia muitas árvores, nenhuma briga surgia pelo motivo da escolha delas. Os pinhões eram propriedade de quem os coletou, não havendo compartilhamento dos pinhões.

Segundo Henry (1941), durante o período em que esteve entre os Xokleng (de 1932 a 1934) os frutos silvestres não eram importantes para o povo. Os Xokleng coletavam os frutos quando eles caíam ou colhiam diretamente na árvore.

O consumo de mandioca23 e milho também é registrado por Henry, assim como o

consumo de um alimento feito a partir do tronco de uma palmeira. Os Xokleng transformavam a massa do tronco dessa palmeira em bolos e os assavam no carvão. Henry relata que antigamente esse parecia ser um importante alimento na dieta Xokleng e que eles também utilizavam o milho dessa forma.

23 após o contato com os

Bebidas fermentadas

Henry (1941) registrou a produção e consumo de bebidas fermentadas a partir do mel e água. Essa bebida era feita por um dos homens da comunidade juntamente com seus primos ou irmãos e era oferecida aos parentes da sua esposa. Para a produção da bebida, eles cortavam cedros, faziam uma espécie de barril e iam em busca de mel. As mulheres enchiam os barris de água, e o mel era colocado nessa água que, em seguida, era esquentada com pedra quentes. A haste de uma planta chamada nggign era esmagada e misturada com água, formando uma infusão vermelha que era acrescentada ao barril. Esse processo era realizado para deixar a bebida vermelha; sem a nggign não era possível fermentá-la.

Assim que a bebida começava a borbulhar, os Xokleng decidiam que já estava thô, ou seja, intoxicante e amarga e pronta para o consumo. Os Xokleng relataram a Henry que algumas vezes, ao invés de água, eles utilizavam a seiva de uma palmeira que deixa a bebida especialmente thõ, mais amarga. Algumas vezes também era acrescentado algum medicamento à bebida, para auxiliar na boa saúde de todos.

Essa bebida fermentada era chamada mõn e era usada em ocasiões especiais, como o ritual de perfuração labial feita com os meninos e em funerais (WEBER, 2007).

Kaingang

não possuíam cerâmica nem agricultura. Porém, no momento do contato dos Kaingang com os colonizadores, o povo já era agricultor e a antiguidade das práticas agrícolas é atestada entre eles por meio de um mito que relata a origem da agricultura (VEIGA, 2000).

A economia Kaingang era baseada na ocupação dos diversos nichos ecológicos da terra que habitavam e seus deslocamentos lhes possibilitavam explorar melhor o potencial do território. O povo possuía uma aldeia fixa onde plantava suas roças e fazia os seus rituais, mas costumava circular pelo território durante a maior parte do ano, pescando na época propícia, e depois coletando e processando o pinhão. Os Kaingang também

coletavam diversos frutos, mel e os próprios frutos de suas roças (AMBROSETTI, 1894, p. 307-308 apud VEIGA, 2000, p. 37).

Veiga (2000) explica que os Kaingang coletavam pinhões de março a junho, fruto das araucárias, abundantes em todas as suas terras originais. Os pinhões representavam a maior fonte de alimento para os Kaingang durante os meses de inverno. Além disso, eram alimento para os porcos do mato, quatis e outro mamíferos caçados pelos Kaingang. Os pinhões eram comidos diretamente assados no fogo, mas poderiam ser conservados,

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