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mas devem também preocupar-se em explicar ou talvez, mais acuradamente, em aduzir razões para aquela distribuição”.

2.1 Os artigos definidos e os nomes próprios

2.1.1 Aspectos conceituais, semânticos e pragmáticos

O estudo do nome próprio sempre se constituiu num desafio para a Linguística, visto que é difícil precisar a sua definição exata e o seu lugar dentro da língua. Em geral, admite- se que os nomes próprios e os pronomes, por serem referencialmente únicos, formam uma expressão nominal de um único elemento.

Segundo Castro (2013),

a projeção de referente único traz ainda a questão de os nomes próprios terem ou não sentido. Para alguns autores, como Mill (1843) e Russel (1905), há uma conexão direta entre um nome próprio e um objeto no mundo, ou seja, eles apenas denotam um objeto ou um ser, o que seria suficiente para caracterizá-lo como um elemento não possuidor de sentido. Já para autores como Frege (1982) e Searle (1958), os nomes próprios denotam e conotam, ou seja, referem e significam (cf. CASTRO, 2013: 01-02).

O modo como a referência dos nomes próprios é determinada tornou-se objeto de pesquisa da linguística e também da filosofia. Conforme se pode observar através da citação

acima, a referência dos nomes próprios estaria ligada a descrições definidas, já que estas designam uma propriedade a uma entidade particular, descrevendo-a.

Saul A. Kripke, todavia, argumenta contra essa visão descritivista envolvendo a semântica dos nomes próprios. Em suas conferências proferidas em 1970 que, posteriormente, foram transcritas e deram origem à obra clássica Naming and Necessity (1980), o referido autor propõe que a função referencial dos nomes próprios decorre de questões que envolvem a comunicação. Para ele, “os nomes são designadores rígidos, pois, mesmo que não estejam vinculados a seu referente por uma descrição e não tenham sentido algum, eles fixam a referência de maneira direta” (cf. RUSSO, 2009: 29). Assim, os nomes próprios não têm sentido proveniente de uma descrição definida, já que estas não são rígidas; ao contrário, adquirem referência de maneira direta a partir da dimensão social (cf. BARROSO, 2012).

Sendo assim, conceitualmente, os nomes próprios, contrariamente aos nomes comuns, são considerados como inerentemente referenciais36, pois estabelecem referência

direta a indivíduos únicos, não em virtude de um conteúdo descrito associado (cf. EGEDI, 2013). Enquanto os nomes próprios identificam uma entidade através da sua singularização dentro da classe a que pertencem, os nomes comuns designam uma entidade como membro de uma classe (cf. RAPOSO et al, 2013).

Nessa tese, consideramos os seguintes casos como nomes próprios:

- Prenomes de Pessoas:

(25) Mas se a Anna nos assegura que não tem perigo, que não chega a esse ponto, que basta que a menina diga que sim a seu pae, que está prompta a obedecer--lhe, que finja que é muito Sebastianista ... e que o mais tudo se arranja? (161 ID G- 004,0.1862)) – século XIX.

- Sobrenomes:

(26) O Bragadas vem ensaiado por ele, e talvez pelo cónego (38 ID B_005_PSD,35.941)) – século XIX.

- Títulos/ hierarquias:

(27) Dom Estevão da Gama saiu fóra cuberto com um roupão, (C_007,04.40) – século XVI.

36 Além dos nomes próprios, os pronomes pessoais e os sintagmas nominais acompanhados de um artigo definido

ou um demonstrativo, cujo núcleo é um nome comum (chamados de descrições definidas), também assumem tipicamente um valor referencial (cf. RAPOSO et al, 2013: 707). “Tal como para as outras expressões referenciais, a identificação do referente de um nome próprio depende inteiramente do falante, do contexto situacional e discursivo e do lugar e do tempo em que produz o enunciado” (cf. RAPOSO et al, 2013: 713).

- Cidades, países e estados/ lugar:

(28) Tendo Espanha tanta parte de seus domínios no mar Mediterrâneo, tanta no mar Setentrional, e tantas, e tão vastas em todo o mar Oceano, havia de ter a Corte, aonde as ondas lhe batessem nos muros: (B_001_PSD,45.422) – século XVII.

- Rios, praias e oceanos/ ilhas:

(29) O que se diz é que ele passava o Tâmega nas poldras, com a cana de pesca e o cacifro; (B_005_PSD,13.329) – século XIX.

- Nacionalidades37:

(30) Até aqui estava tudo muito bem, porém dizer Vossa Senhoria que este amor e esta ternura obrigam os Portugueses a morrerem e a matarem se pelas suas damas, sendo esta furiosa loucura ignorada por todas as mais nações, é levantar de ponto, faltar a a verdade e mostrar uma pouca de grande ignorância a respeito do que se passa no mundo. (C_001_PSD,92.1267) – século XVIII.

- Continentes:

(31) disse lhes, (...) Que ele VIEIRA, e seus companheiros, deixaram Europa, por virem cultivar aquela terra bravia: que da parte do Redentor lhes pedia não fizessem nascer novos abrolhos, onde havia tantos: que anuindo ambos as razões tão forçosas, dariam ao Mundo de suas pessoas recomendação ilustre, e a as ovelhas, que apascentavam, um perpétuo exemplo. (B_001_PSD,107.860) – século XVII.

- Dias da semana:

(32) Terça-feira vem o primeiro folheto, que remeterei na quarta. (37 ID A_004,47.663)) – século XVIII.

- Meses:

(33) toda está vestida de muito alto e espesso arvoredo, regada com as águas de muitas e muito preciosas ribeiras de que abundantemente participa toda terra: onde permanece sempre a verdura com aquela temperança da primavera que cá nos oferece Abril e Maio. (G_008,8.36) – século XVI.

- Feriados:

(34) Quarta-feira de Cinza a a tarde saiu da cidade de Elvas Gaspar Pinto Pestana comissário da cavalaria com 700 cavalos; (63 ID G_001,53.768)) – século XVII.

37 Em geral, conforme dito anteriormente, um nome comum indica entidades que são membros de uma classe

(cidades), enquanto os nomes próprios indicam que um item é particular dentro de uma determinada classe (Curitiba) – (cf. RAPOSO, et al (2013)). Dito isso, apesar de os nomes de nacionalidades e os nomes de profissão parecerem se enquadrar mais facilmente na classe dos nomes comuns, os consideramos como próprios. Os primeiros por serem derivados de um topônimo e os últimos por textualmente poderem ser usados em substituição a um nome próprio. Cumpre ressaltar, todavia, que apesar de considerarmos uma gama de 16 possibilidades de nomes próprios, na análise dos dados propriamente dita (cap. 06), nos concentramos nos nomes de pessoas e de lugares.

- Instituições:

(35) A Academia de la História elegeu- -me sócio na sessão de Sexta feira passada por unanimidade. (52 ID O_001,99.841)) – século XIX.

- Profissões:

(36) Director convidou- -me a almoçar (O_001,143.1636) – século XIX.

- Divindades:

(37) Stratónica mortificada pela esterilidade, ciosa e agitada com o receio de perder por essa causa o amor de seu marido Dejótaro, aprovou que ele tivesse filhos de Electra com condição porém de os adoptar e de os reputar como seus próprios. (C_001_PSD,43.698) – século XVIII.

- Empresas:

(38) O "chauffeur" da Rádio Tupi, auxiliar utilíssimo de suas transmissões externas, prncipalmente numa época de condução difícil e racionada, não pode entrar no recinto tricolor, mesmo apresentando o cartão convencional fornecido pelo clube (DIARIO-FASE3_POS,44.1713) – século XX.

- Nomes de objetos:

(39) Dizem que casa o Príncipe, e que a "Gazeta de Holanda" traz esta novidade; (51 ID A_004,55.776)) – século XVIII.

- Epítetos:

(40) Não se esperava nesta noite o Boca-de-Serpe, por se saber que estava curando as mazelas, (52 ID C_001_PSD,31.544)) – século XVIII.

A classificação apresentada acima tem como objetivo delimitar o que se considera como nome próprio nessa tese e, dada a complexidade teórica que envolve a própria definição dos nomes próprios38, não tem como objetivo contemplar todas as possibilidades de nomes que eventualmente possam ser classificados como tal.

38 A noção de nome próprio não é óbvia e há na literatura visões diversas sobre como definir esse item