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2 O ENFRENTAMENTO DA DEFICIÊNCIA

2.4 Aspectos Constitucionais Específicos

Neste item irei efetuar uma abordagem, ainda que tênue, da legislação constitucional aplicável às pessoas portadoras de deficiência.

Serão transcritas e brevemente comentadas as normas da Constituição da República Federativa do Brasil e das Constituições dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, que asseguram educação, acesso, assistência social, trabalho e integração às pessoas portadoras de deficiência.

É importante alertar para a divisão de competências que o Estado Federal Brasileiro adota. O pacto federativo brasileiro estabelece que as receitas arrecadadas pela União Federal serão devidamente distribuídas conforme as despesas necessárias nas demais entidades federadas.

Isto aduz ao que denominamos divisão de competências - É a partir deste o sistema que são atribuídas aos estados e municípios as parcelas de recursos que a União arrecada.

No que se refere ao tema aqui abordado, cabe asseverar que a Constituição Federal de 1988, ao determinar as competências comuns à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, conferiu merecido destaque à matéria referente à saúde e assistência pública, bem como à proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência, conforme dispõe seu artigo 23, inciso II, in verbis:

"Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

II- cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; (..)"

Nesse mesmo sentido, estabeleceu a competência legislativa concorrente entre a União, Estados e Distrito Federal para proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência, como resta claro na leitura do artigo 24, inciso XIV:

"Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

XIV -proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; (...) "

Este dispositivo põe termo a qualquer dúvida quanto ao caráter integralizador das medidas adotadas pelo Poder Público em favor das pessoas portadoras de deficiência.

integradoras, estaria paternalizando ou privilegiando o cidadão portador de deficiência em detrimento dos demais - esta última interpretação toma o cidadão portador de deficiência como objeto e não como sujeito de direitos.

O caráter integralizador referido é carecedor de um tempero fundamental em qualquer democracia – a educação. A ciência da cidadania é uma visão esclarecida da vida, de direitos e de deveres e depende, precipuamente, de que a pessoa tenha desenvolvido suas capacidades através da educação. Este é um pressuposto básico para qualquer mudança. O texto Constitucional de 1988, sintonizado com esta necessidade, estabelece em seu artigo 208, inciso 111, como uma garantia à efetivação do dever do Estado de prestar educação:

"Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;...

Esclarece, ainda que:

Art. 227. (..)

§ 1. O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não governamentais e obedecendo aos seguintes preceitos:

II- criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.

§ 2. A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.

Atento a este dispositivo e, portanto, em consonância com a vocação que o constituinte imprimiu em 1988, o Ministério da Educação, houve por bem determinar, pela Portaria n° 1.679, de 2 de dezembro de 1999, que sejam incluídos nos instrumentos destinados a avaliar as condições de oferta de cursos superiores, para fins de sua autorização e reconhecimento e para fins de credenciamento de instituições de ensino superior, bem como para sua renovação, requisitos que garantam às pessoas portadoras de deficiência o essencial acesso à educação.

Diante da importância desta decisão ministerial, transcrevemos alguns de seus trechos:

Diário Oficial da União, 03 de dezembro de 1999:

Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os processos de autorização e de reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições.

O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições, considerando o disposto na Lei n° 9.131, de 24 de novembro de 1995, na Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no Decreto n° 2.306, de 19 de agosto de 1997, e considerando ainda a necessidade de assegurar aos portadores de deficiência física e sensorial condições básicas de acesso ao ensino superior, de mobilidade e de utilização de equipamentos e instalações das instituições de ensino, resolve:

Art. 1° Determinar que sejam incluídos nos instrumentos destinados a avaliar as condições de oferta de cursos superiores, para fins de sua autorização e reconhecimento e para fins de credenciamento de instituições de ensino superior, bem como para sua renovação, conforme as normas em vigor, requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de necessidades especiais.

Art. 2° A Secretaria de Educação Superior deste Ministério, com o apoio técnico da Secretaria de Educação Especial, estabelecerá os requisitos,

tendo como referência a Norma Brasil 9050, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, que trata da Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficiências e Edificações, Espaço, Mobiliário e Equipamentos Urbanos.

Art. 3° A observância dos requisitos estabelecidos na forma desta Portaria será verificada, a partir de 90 (noventa) dias de sua publicação, pelas comissões de especialistas de ensino, responsáveis pela avaliação a que se refere o art. 1°, quando da verificação das instalações físicas, equipamentos, laboratórios e bibliotecas dos cursos e instituições avaliados.

Art. 4° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Consoante à dicção constitucional federal, o constituinte fluminense de 1989 dedicou todo um capítulo da Constituição do Estado do Rio de Janeiro à pessoa portadora de deficiência.

Nesse sentido, ordena a CERJ/89 sobre a educação:

Art. 338 - É dever do Estado assegurar às pessoas portadoras de qualquer deficiência a plena inserção na vida econômica e social e o total desenvolvimento de suas potencialidades, obedecendo aos seguintes princípios:

I - assegurar às pessoas portadoras de deficiência o direito à assistência desde o nascimento, incluindo a estimulação precoce, a educação de primeiro e segundo graus e profissionalizante, obrigatórias e gratuitas, sem limite de idade;

II- assegurar a formação de recursos humanos, em todos os níveis, especializados no tratamento, na assistência e na educação dos portadores de deficiência;

Art. 340 - O Estado implantará sistemas de aprendizagem e comunicação para o deficiente visual e auditivo, de forma a atender à s suas necessidades educacionais e sociais.

Quanto ao acesso adequado - leia-se, adaptado – ele é básico para as pessoas portadoras de deficiência. Cioso disso, o constituinte federal de

1988 determinou:

"Art. 244. A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes , a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme disposto no art. 227, §2.°."

Assegurar a eliminação de obstáculos arquitetônicos e definir como obrigação a regulamentação acerca da construção dos logradouros e dos edifícios de uso público, bem como da fabricação de veículos de transporte coletivo, é matéria de fundamental importância para as pessoas portadoras de deficiência.

Eis que o acesso adequado é, após a preliminar conscientização, literalmente, o primeiro passo para alcançar os demais direitos.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2008) insere-se nesse processo de construção do conjunto de determinações legais para garantia dos direitos humanos.

Essa Convenção elaborou um documento com 30 artigos, os quais contemplam os direitos humanos universais devidamente instrumentalizados para atender às necessidades do segmento composto de pessoas co m deficiência.

Nesses artigos são assegurados às pessoas com deficiência os direitos humanos básicos, como os de livre expressão, de ir e vir, de acessibilidade, de participação política, de respeito à sua intimidade e dignidade pessoal.

São também assegurados aqueles direitos de índole social, como o direito à saúde, ao trabalho, ao emprego, à educação, à cultura, ao lazer, aos esportes, à moradia, dentre outros.

Esta Convenção, que teve participação direta de pessoas com deficiência e de Organizações Não-Governamentais de todo o mundo, teve forte relevância jurídica na medida em que incorporou na tipificação das deficiências, além dos aspectos físicos, sensoriais, intelectuais e mentais, a conjuntura social e cultural em que o cidadão com deficiência está inserido.

de cerceamento dos direitos humanos que são inerentes a essas pessoas.

É significativo assinalar a participação brasileira em todo o processo de preparação da Convenção - que se deu em tempo recorde (cerca de 5 anos) – e o fato da Convenção ter sido aprovada com força de norma constitucional, em 01 de agosto de 2008.