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O Preconceito Um Entrave a Ser Vencido no Processo de Inclusão

1 A DEFICIÊNCIA

1.6 O Preconceito Um Entrave a Ser Vencido no Processo de Inclusão

Segundo Heller (2008), o preconceito pode ser individual ou social - materializa-se na forma de discriminação - é uma realidade objetiva para amplos segmentos da sociedade, as diferenças se materializam no jeito de ser e viver, tem significado uma arena fértil para a manifestação de múltiplas modalidades de opressão.

Sua materialização precisa ser desmistificada, porque o preconceito, enquanto algo que dizima o humano e destitui os indivíduos sociais de sua autonomia e liberdade.

Refletir sobre o preconceito supõe, em princípio, inscrevê-lo na dinâmica da vida cotidiana, privilegiando a sua reprodução. Aqui repousa o entendimento de que para a compreensão crítica dos preconceitos e o exame cuidadoso de suas manifestações há que se considerar o significado da cotidianidade em sua dimensão mais genérica, alargando o olhar para sua configuração na lógica da sociabilidade burguesa.

Segundo Heller (op.cit.), os preconceitos são criados e disseminados na esfera cotidiana, constituindo-se, desse modo, numa categoria do pensamento e do comportamento cotidianos, no qual o indivíduo atua em suas objetivações pondo-se como homem inteiro – mas apenas no terreno da singularidade.

O preconceito exerce também uma função substantiva em esferas que gozam de universalidade e se encontram acima da cotidianidade, como por exemplo, na arte, na ciência e na política.

Vale realçar que, o preconceito não advém dessas esferas, nem enriquece sua utilidade; ao contrário, empobrece e obscurece o descortinar das possibilidades que elas comportam.

Isso porque a vida cotidiana é marcada, sobretudo, pela heterogeneidade, tanto no que se refere ao conteúdo, quanto ao significado das ações.

A problematização desses esquemas depende não apenas das condições subjetivas, através da atitude crítica dos indivíduos, mas também das condições objetivas postas pelo contexto histórico.

Nesta dissertação analisamos uma situação na qual a desestruturação do preconceito se fez em termos de sua totalidade, lançando mão de argumentos ao nível da subjetividade e utilizando a objetividade das condições postas em nossa sociedade, como se poderá ver nos depoimentos que serão apresentados mais adiante.

Preconceito é uma manifestação particular do juízo provisório. Segundo Agnes Heller (2008:47), os preconceitos são “juízos provisórios refutados pela ciência e por uma experiência cuidadosamente analisada, mas que se conservam inabalados contra todos os argumentos da razão”.

Nesse sentido, os preconceitos têm sua sustentação em bases afetivas e irracionais, amparadas na desinformação, na ignorância, no moralismo, no conservadorismo e no conformismo. Tais determinações e atitudes de discriminação podem até ser explicadas, mas nunca justificadas.

“todo preconceito impede a autonomia do homem, ou seja, diminui sua liberdade relativa diante do ato de escolha, ao deformar e, consequentemente, estreitar a margem real de alternativa do indivíduo” (2008: 59).

Os preconceitos constituem, pois, uma modalidade de discriminação sobre aqueles que se orientam na vida de forma diferente dos padrões dominantes.

Assim, inseridos no novo milênio, mas em meio a velhas desigualdades e opressões, em determinados contextos históricos, homens e mulheres permanecem alvo de atitudes de cunho preconceituoso, porque não compõem o padrão dominante (ou o desejado) de sexualidade, do estético, do étnico, do etário etc.

Estas atitudes discriminatórias da condição de existir são práticas que ganham legitimidade com a crescente banalização de múltiplas formas de opressão e dominação. Afinal, por que temos que nos enquadrar, nos padronizar?

A atitude preconceituosa não pode ser destituída do conteúdo ideológico que lhe é inerente, permitindo banalizar e naturalizar através de brincadeiras, piadas e gozações aspectos do jeito de ser e de viver dos indivíduos, colocando-os em situação vexatória.

Nesses termos, partindo das reflexões até agora desenvolvidas, uma questão merece destaque: para que serve a reprodução de preconceitos?

Para Agnes Heller, “os preconceitos servem para consolidar e manter a estabilidade e a coesão da integração dada” (2008:54).

Poderíamos, desse modo, afirmar que, ao reproduzirmos preconceitos na vida cotidiana, estamos corroborando para manter ideológica e moralmente a estabilidade e coesão da sociedade capitalista na qual vivemos, reforçando - independente da consciência que os sujeitos têm de sua ação preconceituosa - a manutenção da hegemonia de um projeto político opressor e explorador.

Diante do exposto, torna-se fecundo, na atualidade, reeditar a inquietação de Heller (op.cit.:59) quando se interroga: “o que é necessário para que o homem possa escolher com relativa liberdade em determinadas circunstâncias concretas?” Ou, com outras palavras, “como libertarmo-nos

dos preconceitos?”

O preconceito é contrário a princípios e valores éticos fundamentais: liberdade, dignidade, respeito, pluralismo e democracia.

A construção de uma sociedade emancipada exige o respeito ao diferente e a garantia da dignidade humana. Neste sentido, o “empenho na eliminação de todas as formas de preconceitos, o respeito à participação de grupo socialmente discriminado e à discussão das diferenças”, deve ser um princípio ético-político defendido por todos os indivíduos e profissionais comprometidos com a construção de uma sociedade verdadeiramente emancipada.

Diversos segmentos cujo pensamento é consonante com esta nova construção societária estão lutando pela defesa dos direitos de segmentos socialmente discriminados. Tais lutas e iniciativas contribuem para o amadurecimento da democracia, da liberdade e da autonomia.

Enfim, podemos afirmar que a atitude de superação dos preconceitos exige um processo contínuo de reflexão e crítica frente aos desvalores que aprendemos em espaços como a família, a escola etc. Muitas vezes, estes desvalores escondem - na aparência de serem corretos - o desrespeito e a discriminação.

“Por mais difundido e universal que seja um preconceito, sempre depende de uma escolha relativamente livre o fato de que alguém se aproprie ou não dele. Cada um é responsável pelos seus preconceitos. A decisão em favor do preconceito é, ao mesmo tempo, a escolha do caminho fácil no lugar difícil, o descontrole do particular-individual, a fuga diante dos verdadeiros conflitos morais, tornando a firmeza algo supérfluo” (Heller, 2008:60).