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REVISÃO DA LITERATURA

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 SAB: CONSIDERAÇÕES GERAIS

2.2.4 Aspectos hormonais relacionados à SAB

Tem sido proposta uma interferência de alterações hormonais no desenvolvimento e/ou progressão de diferentes condições como líquen plano e SAB (GIRARDI et al., 2011; KIM et al., 2012). Entre os hormônios estudados, destacam-se o cortisol e a desidroepiandrosterona (DHEA).

O Cortisol é um hormônio glicocorticóide produzido pelo córtex da glândula adrenal, em uma taxa de 10 mg/dia aproximadamente, sob controle do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Este é secretado de maneira circadiana pela hipófise em resposta à secreção, pelo hipotálamo, do hormônio liberador de corticotrofina (CRH). Altos níveis de ACTH estimulam a secreção de cortisol e altos níveis de cortisol inibem a secreção de CRH, o que subsequentemente inibe a secreção de ACTH. Esse mecanismo de feedback negativo resulta em um decréscimo dos níveis de cortisol (AHN et al., 2007). As funções desse hormônio estão relacionadas com a restauração da homeostase após uma situação de estresse. Nesse sentido, age como antagonista da insulina por promover a quebra das moléculas de carboidratos, lipídeos e proteínas. Desta maneira mobiliza as reservas energéticas e aumenta assim a glicemia e a produção de glicogênio pelo fígado. Além disso, aumenta a pressão arterial, promove uma atenuação das ações das células do sistema imune e diminui a osteogênese. Esse comportamento fisiológico do organismo visa aumentar o suprimento de glicose e oxigênio aos músculos estriados e ao músculo cardíaco para facilitar seus trabalhos, e ao cérebro para facilitar a memória em curto prazo. A secreção crônica de cortisol causa supressão das funções reprodutiva, imunológica, inflamatória e digestiva com o objetivo de

conservar energia e, adicionalmente, promove aumento da analgesia e do funcionamento do sistema nervoso autônomo (SAPOLSKY, 2000), perda muscular e hiperglicemia, levando à obesidade (GOODYER et al., 1996).

Normalmente, os níveis de cortisol apresentam-se mais altos pela manhã, podendo atingir 70 ng/ml a 250 ng/ml e mudanças no padrão de secreção são associadas a níveis anormais de ACTH, depressão, estresse psicológico ou fisiológico, hipoglicemia, febre, trauma, cirurgias, medo, dor, exercícios físicos exagerados e temperaturas extremas (GIRARDI et al., 2011). No estudo de Kim et al. (2012), foi observado aumento dos níveis de cortisol em pacientes com SAB comparado com um grupo controle. Outro estudo realizado por Shirotsuki et al. (2009) buscou examinar a reatividade do eixo hipotálamo- hipófise-adrenal na ansiedade social, encontrando uma responsividade na produção do cortisol significativamente menor no grupo de pacientes com altos índices de ansiedade social.

Outro hormônio que tem sido investigado quanto à sua associação com a SAB é a DHEA, um esteróide produzido pelo córtex da glândula adrenal, pelas gônadas e pelo sistema nervoso central, razão pela qual é também chamada de neuroesteróide. É um hormônio precursor de andrógenos e estrógenos, com secreção estimulada pela produção de ACTH e apresenta o ritmo circadiano, com pico de elevação matinal, declínio durante o dia, secreção mínima à noite e elevação abrupta durante o sono profundo. Embora as concentrações de DHEA no sangue oscilem em paralelo com as de cortisol, esse hormônio parece não sofrer controle de feedback (BEISHUIZEN; THIJS; VERMES, 2002). A secreção de DHEA exibe variação marcante ao longo das diferentes faixas etárias, com início antes dos oito anos de idade e seguindo um padrão característico ao longo da vida, alcançando concentrações orgânicas mais elevadas entre os 25 e 35 anos (PALMERT et al., 2001). São considerados níveis ideais valores entre 1,5 ng/ml e 7,0 ng/ml. Ahn et al. (2007) encontraram níveis matinais desse esteróide em torno de 0,79 ng/ml em pacientes com idades entre 20 e 50 anos, havendo redução significativa em indivíduos com mais de 50 anos, com níveis de cerca de 0,62 ng/ml. Segundo Gruenewald e Matsumoto (2001), nas oitava e nona décadas de vida, a produção de DHEA diminui para 10 a 20% em relação às concentrações de adultos jovens.

Níveis baixos de DHEA estão relacionados com pior bem-estar psicológico (VAN NIEKERK; HUPPERT; HERBERT, 2001) e depressão (MICHAEL et al., 2000). De acordo com Bastianetto et al. (1999), esse hormônio protege as células do hipocampo contra os danos induzidos pelo estresse oxidativo. Além disso, tem sido relatada sua associação com o funcionamento do sistema imunológico (HAZELDINE; ARLT; LORD, 2010). O fato de o cortisol não ter a sua liberação suprimida com a idade faz com que o ambiente neural fique mais exposto a este glicocorticóide, sem a ação moderadora da DHEA, o que poderia causar o surgimento de deficiências cognitivas, depressão, ansiedade e estresse em idades avançadas (FERRARI et al., 2001). Estudos em adultos e adolescentes com diagnóstico de depressão sugerem que esta doença possa estar associada a uma variação circadiana descoordenada das concentrações de DHEA (GOODYER et al., 1996). Michael et al. (2000) constataram que os níveis salivares matinais de DHEA de um grupo de pacientes adultos com idades entre 20 e 64 anos eram inversamente proporcionais aos índices de depressão.

Uma elevação na relação entre cortisol/DHEA foi encontrada por Young, Gallagher e Porter (2002) e Markopoulou et al. (2009) em pacientes com depressão. Por outro lado, Shirotsuki et al. (2009) encontraram redução na relação cortisol/DHEA em pacientes submetidos a repetidas situações que incitam estresse e ansiedade. Níveis diminuídos de DHEA foram também encontrados em pacientes com doenças cardiovasculares, degenerativas, tumores malignos, artrite reumatóide, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), em indivíduos com anorexia nervosa, síndrome de Cushing, diabetes, esquizofrenia e doença de Alzheimer (KROBOTH et al., 1999; WOLF; KIRSCHBAUM, 1999). Segundo Chen e Parker Jr (2004), os efeitos antiinflamatórios da DHEA incluem a inibição da secreção de radicais livres e do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), diminuindo danos teciduais. Portanto, na ausência desse hormônio, os processos inflamatórios podem ser exacerbados (CHOI et al., 2008).

Dias Fernandes et al. (2009) analisaram as concentrações salivares de DHEA em pacientes do sexo feminino com a SAB, os quais exibiram níveis inferiores aos de indivíduos-controle do mesmo sexo e faixa etária. Kim et al.

(2012) investigaram a presença de marcadores salivares possivelmente relacionados com a SAB e observaram que os níveis de cortisol, β-estradiol, progesterona e DHEA apresentaram correlação significativa com a idade dos pacientes. Além disso, os níveis de cortisol e β-estradiol foram significativamente maiores nos pacientes com SAB, comparando com um grupo controle, sugerindo a interferência de alterações hormonais na ocorrência dessa síndrome. No entanto, permanece controverso se a redução dos níveis desse hormônio representa uma resposta adaptativa à síndrome, ou se é responsável pelo agravamento e perpetuação dos sintomas dessa doença.

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