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REVISÃO DA LITERATURA

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 SAB: CONSIDERAÇÕES GERAIS

2.2.3 Aspectos psicológicos relacionados à SAB

Muitos autores defendem a participação de distúrbios psicológicos no desenvolvimento da SAB (LÓPEZ CARRICHES et al., 2003; SOTO-ARAYA; ROJAS-ALCAYAGA; ESGUEP, 2004), e fortes evidências apóiam a teoria de que esses fatores poderiam ter algum papel no desenvolvimento e/ou exacerbação dos sintomas (THEMESSL-HUBER, 2012). De acordo com a literatura (DE SOUZA et al., 2012A), alterações psicológicas são apresentadas por quase todos os pacientes com SAB, embora não seja detectada correlação estatisticamente significativa em muitos estudos. Assim, não se pode afirmar até o momento se esses distúrbios representam um fator associado com o surgimento dos sintomas ou uma resposta do organismo diante da síndrome já instalada (OSTROSKI et al., 2012). De Moura et al. (2008) apontam que os estados de ansiedade e depressão em indivíduos com SAB parecem ter relação com a sintomatologia apresentada, podendo estar envolvidos na caracterização da síndrome. Entre as alterações psicológicas citadas,

destacaram-se no estudo principalmente estresse, ansiedade, depressão, cancerofobia, ressentimentos, incapacidade de tomar decisões condizentes com seus desejos, bem como recorrência a apelos religiosos e espirituais. Esses autores sugerem que as alterações emocionais afetam as subjetividades de portadores da SAB, sendo relevantes no surgimento e manutenção dos sintomas de ardor. Conforme proposto por Spanemberg et al. (2011), sintomas de depressão, ansiedade e estresse são fatores que podem estar associados à etiologia da SAB, sendo necessária porém a realização de estudos controlados para comprovar tais associações.

A ansiedade é um vago e incômodo sentimento de desconforto ou temor, acompanhado por uma resposta autônoma e inespecífica de apreensão causada pela antecipação de perigo. É um sinal variável que alerta para um perigo iminente e pertinente ao indivíduo, convocando-o a tomar medidas para lidar com a ameaça (NARDI, 1998; KAPLAN; SADOCK; GREEB, 2003). Sua manifestação pode ser branda ou intensa, breve ou prolongada, podendo causar danos sociais, de percepção e aprendizagem. Esse processo é capaz de desencadear reações orgânicas que preparam o indivíduo para a manutenção e preservação de seu meio de vida, no entanto, quando presente em níveis elevados, compromete o desempenho, levando a um comportamento inadequado para a situação vivenciada, caracterizando assim um quadro patológico (BERNIK; CORREGIARI, 2002). Nardi (1998) conceitua a ansiedade normal como uma sensação desagradável de apreensão, acompanhada por várias sensações físicas como mal-estar gástrico, dor precordial, palpitações, sudorese excessiva e cefaléia, com padrões individuais físicos amplamente variáveis.

Andrade e Gorestein (1998) definem a ansiedade como um estado emocional com alterações de componentes psicológicos e fisiológicos, que faz parte do espectro normal das experiências humanas, sendo propulsora do desempenho. Ela passa a ser patológica quando é desproporcional à situação que a desencadeia, ou quando não existe um objeto específico a que se direcione. Assim, é considerada doença quando ultrapassa aspectos adaptativos, dificultando o desempenho de funções e se apresenta sob a forma de queixa, com sinais e sintomas, restringindo o repertório funcional. Nesse

contexto, encontram-se os seguintes transtornos da ansiedade: pânico, fobias, transtorno obsessivo-compulsivo, ansiedade generalizada, entre outros (DRATCU; LADER, 1993).

Schiavone et al. (2012) avaliaram a relação entre dor, depressão e ansiedade em pacientes com SAB e um grupo controle de indivíduos saudáveis e sugeriram que a ansiedade poderia determinar o desenvolvimento de uma depressão em pacientes com SAB e estes sintomas depressivos estariam então contribuindo para a dor. Assim, a dor/ardor representaria uma somatização da depressão causada pela ansiedade. Komiyama et al. (2013) encontraram altos níveis de ansiedade entre pacientes com SAB e sugeriram que o tratamento em nível cognitivo-comportamental apresenta-se eficaz na redução da ansiedade e sintomatologia desses pacientes.

Outro fator psicológico possivelmente associado com a SAB é o estresse, definido por McCormick (1997) como um estado de tensão ou pressão relacionado com muitos fatores psicológicos e fisiológicos que causam alterações neuroquímicas no organismo. O estresse prolongado provoca um desequilíbrio permanente no indivíduo, podendo gerar sinais e sintomas físicos e psicológicos, como tensão nos músculos, ansiedade, dispepsia e insônia, os quais são responsáveis pelo aparecimento de doenças. Podem ser referidas também sensação de apreensão, agitação, frustração, irritação, medo, desconforto mental, infelicidade, entre outros. As fontes de estresse são inúmeras e podem ser positivas ou negativas, exigindo que o indivíduo se adapte, e requerendo alterações ou modificações, muitas vezes significativas e urgentes (MCCORMICK, 1997). Os autores relatam que o estresse ocorre nos dois extremos: frente à pressão muito elevada ou muito baixa, e alguns sugerem uma estrutura de adaptação do corpo ao perigo (CAMPEAU et al., 1998).

Embora existam algumas variações na definição do estresse, uma das mais comuns é um processo no qual as demandas do ambiente excedem a capacidade adaptativa do indivíduo, contribuindo para mudanças psicológicas e biológicas que podem colocá-lo em risco para doença (COHEN et al., 2012). Segundo Campeau et al. (1998), o estresse é um termo que inclui estímulo ou evento externo ao organismo (estressor), a percepção e avaliação de uma

experiência ou situação como estressante e as respostas endócrinas/psicológicas originadas por esta experiência. Em estudo realizado por de Souza et al. (2012A), pacientes com SAB apresentaram maior frequência de transtorno depressivo atual ou passado, transtorno de ansiedade generalizada, hipocondria e cancerofobia.

A depressão é uma síndrome psiquiátrica altamente prevalente na população em geral e, quando corretamente diagnosticada, é muitas vezes tratada de forma inadequada, com baixas doses de medicamentos e manutenção de sintomas residuais, que comprometem a evolução clínica dos pacientes. A presença desse distúrbio pode piorar diversos fatores relacionados à saúde em pacientes com outras condições, sendo detectada maior mortalidade associada a sintomas depressivos em pacientes idosos com doenças crônicas (UNÜTZER et al., 2002).

Depressão e ansiedade parecem aumentar a percepção de sintomas físicos inexplicáveis (KATON, 2003) e a presença de comorbidades clínicas com transtornos depressivo-ansiosos provoca maior aumento dos dias de incapacitação do que a soma dos efeitos individuais das doenças clínicas (KESSLER et al., 2001). O custo médico de serviços primários também é maior quando sintomas de depressão estão presentes, apesar deste aumento não ser devido exclusivamente à presença do quadro depressivo. Por outro lado, o tratamento bem sucedido da depressão nos pacientes com doenças de alto custo diminui os dias de incapacitação (CHISHOLM et al., 2003). Rohit Malik et al. (2012) avaliaram os níveis de ansiedade e depressão em um grupo com SAB comparando com indivíduos saudáveis. Seus resultados demonstraram que a maioria da amostra apresentou níveis moderados a severos de depressão, apontando para uma possível influência desse distúrbio em pessoas do sexo feminino pós-menopausa, o que poderia estar intimamente relacionado com o desenvolvimento da SAB, condição comum nesse grupo de pacientes.

Geralmente, a terapia cognitiva para depressão e o uso de antidepressivos tricíclicos são eficazes e auxiliam no controle da sintomatologia (O’MALLEY et al., 2000). A abordagem eficiente da depressão em pacientes com transtornos dolorosos crônicos depende do diagnóstico e tratamentos

adequados dos problemas clínicos de base, bem como do tratamento antidepressivo incisivo, buscando a remissão dos sintomas depressivos (CHISHOLM et al., 2003). Komiyama et al. (2012) avaliaram a intensidade da dor e características psicossociais em pacientes com SAB e neuralgia trigeminal e concluíram que, embora a intensidade da dor tenha se mostrado maior e mais severa no grupo com neuralgia, o impacto psicossocial é similar ou pior nos pacientes com síndrome da ardência bucal.

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