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REVISÃO DA LITERATURA

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 SAB: CONSIDERAÇÕES GERAIS

2.2.2 Fatores etiológicos da SAB

Até a presente data, não foram identificados aspectos etiopatogênicos comprovadamente envolvidos no desenvolvimento da síndrome da ardência bucal. Entre outros fatores, alterações emocionais, hormonais e genéticas têm sido investigadas, entretanto, seus mecanismos de desenvolvimento são complexos e ainda não foram totalmente compreendidos. Possivelmente, esses processos estariam associados a alterações do sistema nervoso (central e periférico), visto que lesões nervosas perivasculares e/ou determinados fenômenos vasculares, como isquemia e vasodilatação são relacionados com sensações de ardência ou queimação (GRANOT; NAGLER, 2005; CERCHIARI et al., 2006; MENDAK-ZIÓŁKO et al., 2012; SPANEMBERG et al., 2012). Isso é explicado com base no fato de que as sensações gustativas da região anterior da língua são captadas pelo nervo corda do tímpano, um ramo do nervo facial (NC VII). Na parte posterior da língua, o nervo responsável é o glossofaríngeo (NC IX). O nervo corda do tímpano atua ainda inibindo a resposta gustativa da região posterior da língua. Assim, um dano nesse nervo impediria sua ação de inibição sobre o glossofaríngeo e trigêmeo (NC V), o que levaria à intensificação das sensações gerais trigeminais, entre elas a de tato, secura e dor bucal (HECKMANN et al., 2001).

Grushka e Bartoshuk (2001) propuseram que a SAB represente uma dor bucal fantasma, induzida por um dano no sistema nervoso. Estes autores

acreditam que, quando as terminações nervosas gustativas são estimuladas, podem enviar ao cérebro tanto estímulos excitatórios como inibitórios, causando em algumas situações a sensação de ardor. Segundo Gracely, Lynch e Bennett (1992), os estímulos podem ser interpretados de maneira errada pelo sistema nervoso central, e reconhecidos como dores. Jäaskeläinen, Forssel e Tenovuo (1997) observaram aumento do reflexo palpebral em alguns pacientes com SAB e acreditam que este achado é a evidência de uma disfunção no sistema dopaminérgico. Esta disfunção consistiria na diminuição da inibição dopaminérgica pré-sináptica e consequentemente no aumento da excitabilidade dos neurônios. Nesse contexto, o mesmo princípio poderia estar associado ao desenvolvimento dessa condição.

Svensson e Kaaber (1995) propuseram que a presença de tensão psicossocial crônica em indivíduos usuários de próteses pode se manifestar frequentemente como um movimento involuntário crônico da língua, que leva a mudanças periféricas ou centrais na função nervosa sensorial, originando dores atípicas. Koszewicz et al. (2012) encontraram comprometimento significativo do sistema nervoso simpático e parassimpático em pacientes com SAB de forma semelhante ao que ocorre na doença de Parkinson, sugerindo uma possível semelhança na sua patogênese. Corsalini et al. (2013) sugerem que há uma possível relação ainda não bem compreendida entre SAB e desordens temporomandibulares, indicando assim que possivelmente ambas as situações sejam desencadeadas por alterações neuropáticas comuns.

Um estudo realizado por Asikainen et al. (2012) relembra o funcionamento morfofisiológico da língua e comenta que um complexo de mucinas associadas à membrana encontram-se concentradas em micropregas nas células epiteliais bucais, formando glicocálices que estabelecem uma relação entre componentes salivares e essas células. Os autores sugerem que a arquitetura desse complexo, assim como ocorre na superfície ocular, proporciona a base subjacente para a função de proteção dessas mucinas, e apontam para a possibilidade de que uma alteração morfofuncional nesses componentes moleculares estaria relacionada com o desenvolvimento da síndrome da ardência bucal. Nesse mesmo contexto, Camacho-Alonso, López-Jornet e Molino-Pagán (2012) com o auxílio de uma câmera digital, analisaram a

densidade de papilas fungiformes em um grupo de pacientes com SAB e outro com xerostomia, concluindo que os primeiros apresentaram maior densidade, sugerindo assim que essa alteração local pode estar relacionada com a síndrome, sendo a mesma facilmente diagnosticada.

Marques-Soares et al. (2005) encontraram alterações na composição salivar, com aumento da concentração de sódio, lisozima, imunoglobulinas IgA, IgM e albumina. Ainda quanto à composição salivar, De Moura et al. (2007B) analisaram as características salivares de pacientes com SAB utilizando a técnica dodecil-sulfato de sódio (SDS) de poliacrilamida (PAGE) e concluíram que a identificação e caracterização de proteínas salivares de baixo peso molecular como cloreto, fósforo e potássio, pode ser importante no entendimento de sua patogênese, contribuindo para o diagnóstico e tratamento dessa condição.

Ainda na linha de pesquisa sobre composição salivar, Boras et al. (2006) não observaram diferença estatisticamente significativa dos níveis salivares de TNF-α e IL-6 entre pacientes com e sem SAB; e Suh, Kim e Kho (2009) também não constataram diferença estatisticamente significativa nos níveis salivares de IL-1beta, IL-6, IL-8 e TNF-α. Chen et al. (2007) encontraram uma redução nos níveis de IL-6 nos pacientes com SAB, porém em estudo anterior (CHEN et al., 2004), não foram observadas diferenças nos níveis das citocinas IL-1β, IL-6, IL-8 e TNF-α entre pacientes com e sem SAB. Pekiner et al. (2009) analisaram os níveis salivares de magnésio (Mg), zinco (Zn), cobre (Cu) e as interleucinas IL-2 e IL-6 em pacientes com SAB, buscando uma correlação com estados psicológicos de estresse e depressão. Seus resultados demonstraram níveis de Mg significantemente menores nos pacientes com SAB comparando com um grupo controle, e os autores sugerem que alterações nesse componente podem ter alguma influência na sintomatologia da síndrome. Mais recentemente, Henkin, Gouliouk e Fordyce (2012) analisaram aspectos bioquímicos da saliva em pacientes com glossopirose e oropirose, concluindo que os pacientes com glossopirose exibem uma redução dos níveis e magnésio na saliva, o que seria consistente com uma hiperalgesia e inflamação neurogênica observada em pacientes e animais com deficiência de magnésio. Assim, os autores sugerem uma possível alteração de cunho

bioquímico nos pacientes com SAB concentrada na região da língua (glossopirose).

Também tem sido relatado que infecções bacterianas ou aumentos nos níveis de citocinas proinflamatórias podem induzir o aumento da regulação de genes da mucina como MUC-1 em células epiteliais bucais (CHANG et al., 2011). MUC1 é uma glicoproteína ligada à membrana expressa pelas glândulas salivares e células epiteliais orais. Esta molécula está envolvida principalmente na proteção das superfícies epiteliais e, possivelmente, no processo de sinalização intracelular. O papel protetor da MUC-1 pode ser especialmente importante para as superfícies da mucosa oral, que são constantemente atacadas por uma variedade de agentes patogênicos e não patogênicos e tem sido relatado que os idosos apresentam uma diminuição da expressão de MUC-1 em mucosa oral, quando comparado com indivíduos mais jovens. Kho et al. (2013) encontraram significativo aumento da transcrição de MUC-1 em pacientes com SAB, sugerindo que essa proteína pode desempenhar importante papel no desenvolvimento e/ou progressão da SAB.

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