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2 FORMAS DE PLANEJAMENTO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

3.3 POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL NO RIO

3.3.2 Aspectos socioeconômicos dos territórios potiguares induzidos

Para analisar alguns aspectos socioeconômicos dos territórios potiguares, foram utilizados dados secundários presentes em três fontes principais. A primeira é o Atlas de Desenvolvimento Humano de 2013, que disponibiliza dados dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010, coletando-se dados referentes às seguintes variáveis: (i) população; (ii) crescimento populacional; (iii) IDH; (iv) mortalidade infantil; (v) energia elétrica; (vi) saneamento; (vii) habitação; (viii) educação; (ix) renda per capita; (x) pobreza; e (xi) extrema pobreza. A segunda base de dados consistiu no Portal da Transparência do governo federal, coletando-se informações a respeito do Programa Bolsa Família40 (PBF), em especial no que concerne ao número de famílias beneficiadas e ao valor de repasse para cada família nos anos de 2004, 2010 e 2013. Por fim, utilizaram-se dados referentes ao Valor Agregado Bruto (VAB) e ao Produto Interno Bruto (PIB)41 para os anos de 2000 e 2010, contidos no Sidra (Sistema IBGE de Recuperação Automática).

Para as três bases de dados utilizadas, os municípios foram compilados no âmbito territorial. Vale destacar que, considerando que a homologação dos territórios Agreste Litoral Sul e Sertão Central Cabugi e Litoral Norte foi recente, optou-se por trabalhar apenas com os territórios Açu-Mossoró, Alto Oeste, Seridó, Sertão do Apodi, Potengi, Trairi e Mato Grande. Feita essa ressalva, realizou-se, em seguida, o cálculo das informações territoriais a partir da média ponderada42.

Partindo-se dessas considerações, tem-se, na Tabela 1, o número de municípios potiguares participantes por território e suas dinâmicas populacionais. Uma primeira observação diz respeito à grande variação no número de municípios que compõem estes territórios, variando desde onze municípios, como é o caso do território Potengi, até 30, como

39 Este subitem traz apontamentos do estudo “Territórios potiguares induzidos pelas políticas de desenvolvimento

territorial rural: uma discussão dos resultados socioeconômicos”, elaborado por Jesus e Fernandes (2015). Além de proporcionar uma análise socioeconômica dos territórios potiguares, utilizou-se este estudo para indicar os dois territórios tomados como estudos de caso nesta tese.

40 O Programa Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação

de pobreza e de extrema pobreza em todo o país. O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria, que tem como foco de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos. Ver: http://www.mds.gov.br/bolsafamilia.

41 No caso do PIB, os valores estão deflacionados para o ano de 2010 e com base no deflator do IBGE.

42 A média ponderada é calculada por meio do somatório das multiplicações entre valores e pesos divididos pelo

somatório dos pesos. Exemplificando a aplicação, o IDH territorial foi calculado a partir da média ponderada entre os respectivos indicadores e a população de cada município do recorte territorial, ou seja, foi calculado por meio do somatório das multiplicações entre valores dos indicadores (IDH) e a população (peso) divididos pelo somatório da população (peso).

é o caso do território Alto Oeste. Por um lado, um número elevado de municípios pode ser positivo ao gerar acúmulo de “lideranças” em torno de projetos comuns e ao criar escala na produção no mercado local. Por outro lado, pode impor vários fatores limitantes, tais como um elevado número de membros para as assembleias e as suas devidas deliberações, com custos altos em um ambiente potencialmente conflitivo para as decisões.

Outra observação refere-se à dimensão dos territórios. Existe diversidade em cada um dos sete territórios analisados. Três deles são relativamente pequenos (inferior a 4,05 mil km²), um supera os 5,9 mil km², e três estão acima dos 8 mil km²; o território Seridó, o maior deles, atinge 10,7 mil km² (Tabela 1). Aqui, vale ressaltar que maior extensão territorial dificulta o processo de governança no interior dos Colegiados.

Quanto à densidade populacional, somente um território, Sertão do Apodi (19,22 hab./km²), possui densidade menor que a brasileira (22,40 hab./km²), enquanto Açu-Mossoró regista a maior densidade, 56,82 hab./km², inferior à do estado (59,99 hab./km²), sendo este o território mais populoso, com 455.521 habitantes (Tabela 1). Isto se deve, em grande medida, à presença do município de Mossoró, com 259.815 habitantes e uma densidade de 123,76 hab./km². A densidade média dos territórios é 36,40 hab./km², bem inferior à estadual, o que reforça a caracterização de territórios rurais.

Nesse cenário, mantendo-se o critério do IBGE para o recorte entre urbano e rural, os dados da Tabela 1 revelam grande peso da população rural nesses territórios. Enquanto o Rio Grande do Norte possui 22,19% da população que reside no meio rural, seis territórios possuem entre 23,89% da população no meio rural, como é o caso do território Seridó, até 51,47%, como é o caso do território Mato Grande. Apenas o território Açu-Mossoró possui percentual inferior, com 19,09%, em virtude da presença de Mossoró. Como resultado, 31,01% da população dos territórios induzidos vivem no meio rural, percentagem quase duplicada em relação ao Brasil (15,6%), o que justifica políticas específicas para essa população43.

43 O IBGE considera como área rural toda a área que está fora da delibação por parte das prefeituras para o que é

Tabela 1 - Municípios, população 2010, área total e densidade dos territórios potiguares, estado

e Brasil

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano 2013. Dados tabulados por Jesus e Fernandes (2015).

Tratando-se da Tabela 2, percebe-se, de modo geral, que três territórios registraram crescimento da população rural (Açu-Mossoró apresentou uma taxa expressiva de 2,60% a/a) e quatro apresentaram taxas negativas na década de 2000, sendo três deles em um ritmo menor que na década de 1990. Nesse sentido, pode-se inferir que as políticas de desenvolvimento territorial rural podem ter contribuído para reduzir o ritmo da migração rural, mas ainda não conseguiram acabar com a migração da população rural para o meio urbano e têm contribuído para manter parte da população nos núcleos urbanos dos pequenos municípios.

Dos 128 municípios analisados nesses territórios, 97 apresentaram crescimento da população total entre 2000 e 2010, em uma taxa média de 1,08%. Por sua vez, 51 municípios apresentaram crescimento da população rural, no mesmo período, a uma taxa média de 1,43%. Essa realidade é bastante distinta da do País, que apresenta queda da população rural (Tabela 2). Algumas lideranças locais, em entrevistas, apontam para o fato de que muitos moradores têm retornado ao meio rural nos anos 2000, especialmente, os aposentados.

Para compreender melhor a realidade dos territórios potiguares, procurou-se realizar uma avaliação a partir do IDH44. No estado do Rio Grande do Norte, o IDH atingiu 0,684 em 2010, considerado médio, tendo em vista que o do Brasil é de 0,727, considerado alto (Gráfico 1). Dos 167 municípios do estado, 70 (41,92%) possuem IDH considerado baixo, outros 93 (55,69%) possuem IDH médio e apenas quatro (2,39%) possuem IDH alto. Enquanto isso, dos 128 municípios pertencentes aos territórios induzidos por políticas públicas, 51 (39,84%) estão

44 Este índice foi desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq, e tem sido usado desde

1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em seu relatório anual. O IDHM é um número índice que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano de um município. Na versão de 2013, o IDHM foi dividido em cinco faixas: entre 0 e 0,499, é considerado muito baixo; entre 0,500 e 0,599, é considerado baixo; entre 0,600 e 0,699, é considerado médio; entre 0,700 e 0,799, é considerado alto e entre 0,800 e 1, é considerado muito alto.

Urbana Total Total % Trairi 15 141.866 93.901 47.965 33,81 3.064,9 46,29 Sertão do Apodi 17 157.203 101.420 55.783 35,48 8.177,8 19,22 Mato Grande 16 226.714 110.022 116.692 51,47 5.956,2 38,06 Açu-Mossoró 14 455.521 368.552 86.969 19,09 8.017,0 56,82 Alto Oeste 30 196.291 127.158 69.133 35,22 4.045,9 48,52 Potengi 11 80.482 45.776 34.706 43,12 2.631,8 30,58 Seridó 25 295.726 225.066 70.660 23,89 10.796,5 27,39 Total Territórios 128 1.553.803 1.071.895 481.908 31,01 42.690,1 36,40 Rio Grande do Norte 167 3.168.027 2.464.991 703.036 22,19 52.810,2 59,99

Brasil - 190.755.799 160.925.792 29.830.007 15,64 8.515.767,0 22,40

Total Rural

Territórios Número de municípios

População 2010

Área total Habitantes por km2

na faixa do IDH baixo, 75 (58,59%) na faixa do IDH médio e apenas 2 (1,56%) estão na faixa do alto IDH.

Tabela 2 - Taxa de crescimento populacional dos territórios potiguares, estado e

Brasil (1991,2000 e 2010)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano 2013. Dados tabulados por Jesus e Fernandes (2015).

O Gráfico 1 ajuda a compreender melhor o comportamento e a evolução do IDH nas duas últimas décadas. Observa-se que o IDH territorial dos sete territórios fica abaixo do IDH do Rio Grande do Norte (0,684). No entanto, pelo comportamento das curvas, seis territórios têm apresentado crescimento médio dos indicadores do IDH um pouco acima da média do estado, o que propiciou reduzir a diferença entre 12,4% e 22% no período. A exceção ocorreu no território Açu-Mossoró, que acompanhou a trajetória do estado, reduziu a diferença em apenas 2% e se igualou ao estado em 201045.

Apesar dessa evolução, torna-se importante lembrar que, entre os sete territórios analisados, dois apresentam baixo IDH e quatro apresentam IDH abaixo da média estadual (0,684), suscitando assim uma atenção maior das políticas públicas.

45 Para melhor compreensão dos gráficos, as curvas dos territórios estão organizadas no sentido ascendente, do menor para o maior valor.

Total Urbana Rural Total Urbana Rural

Trairi 0,75 2,28 -1,38 1,18 1,74 0,17 Sertão do Apodi 0,29 1,40 -1,09 -0,01 0,99 -1,59 Mato Grande 1,82 2,46 1,26 0,97 1,09 0,85 Açu-Mossoró 1,20 1,88 -1,51 1,76 1,57 2,60 Alto Oeste 0,47 2,27 -1,68 0,60 1,48 -0,83 Potengi 1,06 2,92 -0,53 0,92 2,15 -0,48 Seridó 0,86 1,87 -1,33 0,47 1,06 -1,17 Total Territórios 0,97 2,01 -0,80 0,96 1,38 0,08

Rio Grande do Norte 1,56 2,23 -0,10 1,33 1,93 -0,51

Brasil 1,63 2,45 -1,30 1,17 1,55 -0,65

Territórios

Taxa Anual de Crescimento (%)

Gráfico 1- Comportamento do IDH nos territórios potiguares, estado e Brasil (1991-2010)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013). Dados tabulados por Jesus e Fernandes (2015).

Observam-se, ainda, algumas heterogeneidades entre os territórios. No caso do Açu- Mossoró, por exemplo, a presença de Mossoró, com IDH municipal de 0,720, eleva o IDH territorial ao patamar estadual, mas, quando o município é excluído, o IDH territorial cai para 0,636. No caso do território Seridó, a presença do município de Caicó, com IDH 0,710, não provoca grande variação, dado que seu peso populacional é pequeno.

O aumento do IDH nos territórios pode ser mais bem explicado pela melhoria de alguns indicadores, entre os quais, a longevidade, a renda e a educação. O componente longevidade é o de maior valor entre esses três subíndices, devido a, entre outros fatores, ampliação da expectativa de vida registrada nesses municípios de dinâmica econômica deprimida. Neles, a expectativa de vida média parte de 57 anos, em 1991, para alcançar 70 anos, em 2010.

Contribuiu, ainda, para o desempenho do componente longevidade, a redução da taxa de mortalidade infantil. De acordo com os dados do Gráfico 2, percebe-se uma queda entre 1991 e 2010 da mortalidade infantil, de modo que os municípios pertencentes a cinco territórios passaram de um patamar de 70 a 81 mortos por mil nascidos, em 1991, para um patamar entre 24 a 30, em 2010, aproximando-se da média potiguar. Um número ainda bem acima da média nacional, que é de 16,7 mortos por mil nascidos.

0,000 0,100 0,200 0,300 0,400 0,500 0,600 0,700 0,800

IDH Territorial 1991 IDH Territorial 2000 IDH Territorial 2010

Açu-Mossoró Seridó Sertão do Apodi Alto Oeste Trairi Mato Grande Potengi

Rio Grande do Norte Brasil

Gráfico 2 - Taxa de Mortalidade Infantil nos territórios potiguares, estado e Brasil (1991, 2000

e 2010)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013). Dados tabulados por Jesus e Fernandes (2015).

Analisando-se as habitações da população que reside nesses territórios, podem-se verificar sensíveis melhorias, muito em função de uma série de políticas públicas, antes distantes de parte dessa população, que têm sido implantadas nesses territórios. Esse é o caso do acesso à energia elétrica, serviço público que, em 2010, estava presente em 99,36% das habitações potiguares (Gráfico 3), percentual pouco superior ao da média brasileira. Os sete territórios analisados possuíam, em 1991, mais de 60% das habitações com energia elétrica, com trajetória de crescimento. Tratando-se do ano de 2010, o menor percentual encontra-se no território Sertão do Apodi, que apresenta 98,64%.

10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 65,0 70,0 75,0 80,0 85,0 Mortalidade infantil (1991) Mortalidade infantil (2000) Mortalidade infantil (2010) Trairi Sertão do Apodi Mato Grande Açu-Mossoró Alto Oeste Potengi Seridó

Rio Grande do Norte Brasil

Gráfico 3 - Domicílios com energia elétrica nos territórios potiguares, estado e Brasil (1991,

2000 e 2010)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013). Dados tabulados por Jesus e Fernandes (2015).

Ainda com relação aos domicílios, a trajetória dos serviços públicos (água encanada e coleta de lixo) continua crescendo em um ritmo acima da média do estado, segundo dados do Atlas de Desenvolvimento Humano (2013), e isso faz com que os territórios se aproximem da média estadual. No caso da coleta de lixo, cinco territórios apresentavam taxa de coleta inferior a 70% no ano de 1991, serviço que avançou ao longo das duas décadas analisadas e atingiu o patamar mínimo de 95,37% das residências no território Alto Oeste.

Já os domicílios com banheiro e água encanada têm apresentado crescimento acima da média, especialmente nos anos 2000 e nos territórios com piores IDHs, como pode ser visualizado nos territórios Potengi e Sertão do Apodi, que abrangiam menos de 20% dos domicílios, em 1991, passaram para 30%, em 2000, e chegaram ao patamar dos 60%, em 2010 (Gráfico 4). Nesse caso, mesmo com a melhoria na década de 2000, o que propicia melhor qualidade de vida para a população local, cinco territórios ainda estão distantes da média estadual, que é de 85,06%, um pouco abaixo da brasileira, indicando que os municípios desses territórios ainda tem um longo caminho para se desenvolverem.

20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 % da população em domicílios com energia

elétrica (1991)

% da população em domicílios com energia

elétrica (2000)

% da população em domicílios com energia

elétrica (2010) Sertão do Apodi Potengi Mato Grande Trairi Açu-Mossoró Seridó Alto Oeste

Rio Grande do Norte Brasil

Gráfico 4 - Domicílios com banheiro e água encanada nos territórios potiguares, estado e Brasil

(1991, 2000 e 2010)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013). Dados tabulados por Jesus e Fernandes (2015).

Em relação aos dados da educação do estado, vale destacar que eles se apresentam inferiores aos do Brasil. Além disso, todos os territórios apresentam dados educacionais inferiores ao do estado, mas com uma trajetória ascendente. Tais dados revelam queda no percentual de analfabetos, aumento na expectativa de anos de estudo, aumento do percentual de adultos que concluíram o Ensino Médio e aumento de adultos com Ensino Superior.

O território Potengi apresentou os piores dados, entre os quais, a maior taxa de analfabetismo, a menor expectativa de anos de estudo e o menor percentual de dezoito anos ou mais com Ensino Médio completo (18,96%) no ano de 2010. Além disso, nesse território, apenas 3,10% da população com 25 anos ou mais possui Ensino Superior completo, ficando muito aquém da média estadual, que já é baixa (8,32%).

O tempo de escolaridade elevou-se no período analisado. Em 1991, os territórios apresentavam tempo menor que o Rio Grande do Norte (7,51 anos), com destaque para o Alto Oeste (apenas 6,43 anos). Já em 2010, aumenta-se o tempo médio na escola no estado (9,54 anos). Esse movimento foi acompanhado por todos os territórios, inclusive, Seridó e Açu- Mossoró superaram esse tempo médio. De caráter não menos importante, esses dados têm impactado positivamente o aumento de pessoas com obtenção de Ensino Superior nesses territórios. 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 % da população em domicílios com banheiro e água encanada (1991) % da população em domicílios com banheiro e água encanada (2000) % da população em domicílios com banheiro e água encanada (2010) Potengi Sertão do Apodi Trairi Mato Grande Alto Oeste Açu-Mossoró Seridó

Rio Grande do Norte Brasil

Tabela 3 - Informações sobre educação da população nos territórios potiguares, estado e Brasil

(1991, 2000, 2010)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano 2013. Dados tabulados por Jesus e Fernandes (2015).

O tempo médio na escola, registrado pela expectativa de anos de estudo, que progrediu dois anos no período, é um bom indicador de que as políticas educacionais têm avançado nesses espaços. As ações governamentais nos três níveis de governo, que têm propiciado, entre outras ações, a reforma e a ampliação das escolas e a melhoria das condições de transportes dos estudantes na zona rural, parecem estar sendo relativamente bem sucedidas. Nesse sentido, programas como o Programa Nacional de Transporte Escolar (Pnate), Caminho da Escola e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)46 asseguraram recursos para a melhoria da infraestrutura educacional nos pequenos municípios, em que pese a necessidade de avanços.

Analisando-se outras informações socioeconômicas extraídas do Atlas do Desenvolvimento Humano, tornam-se evidentes algumas transformações que corroboram o baixo IDH nos territórios, mas que também evidenciam certa melhoria ao longo dos últimos vinte anos. Neste cenário, a partir dos resultados sintetizados no Gráfico 5, pode-se concluir que todos os sete territórios apresentam renda per capita inferior à média estadual ao longo das duas últimas décadas, o que, por sua vez, é bem inferior a brasileira. Em 1991, enquanto a renda

per capita do Brasil foi de R$ 447,56 e a do Rio Grande do Norte foi de R$ 240,93, a dos sete

territórios variou entre R$ 102,93 (Potengi) e R$ 211,98 (Açu-Mossoró).

46 O Pnate foi instituído pela Lei nº 10.880, de 9 de junho de 2004, com o objetivo de garantir o acesso e a

permanência nos estabelecimentos escolares dos alunos do Ensino Fundamental público residentes em área rural que utilizem transporte escolar, por meio de assistência financeira, em caráter suplementar, aos estados, Distrito Federal e municípios. Já o Programa Caminhos da Escola é uma linha de crédito especial do BNDES para a aquisição, pelos estados e municípios, de ônibus, miniônibus e micro-ônibus e de embarcações novas. Maiores informações sobre os programas consultar: www.fnde.gov.br.

1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 Potengi 55,80 40,98 31,43 6,93 7,31 8,95 3,71 7,65 18,96 0,23 0,36 3,10 Trairi 53,90 40,78 31,11 7,21 7,96 9,48 7,32 11,70 22,28 0,52 1,02 3,81 Mato Grande 53,50 38,70 28,64 6,53 7,48 9,02 5,14 8,93 19,32 0,42 0,68 3,44 Alto Oeste 48,10 36,85 28,58 6,43 8,13 9,52 8,49 11,78 22,26 1,92 2,48 4,83 Sertão do Apodi 46,97 36,04 28,30 6,62 8,30 9,47 9,31 13,14 23,94 1,60 1,87 4,58 Seridó 39,93 29,93 22,24 7,44 8,81 9,70 10,40 15,36 27,56 1,72 2,64 5,44 Açu-Mossoró 36,72 26,33 19,24 7,51 8,82 9,77 14,02 19,60 33,46 4,58 5,19 7,37

Rio Grande do Norte 37,80 27,21 19,74 7,51 8,56 9,54 14,62 20,30 33,75 3,81 4,64 8,32

Brasil 20,88 14,50 10,19 8,16 8,76 9,54 17,91 24,67 37,89 5,75 6,77 11,27 Territórios Taxa de analfabetismo - 18 anos ou mais Expectativa de anos de estudo % de 18 anos ou mais com médio completo

% de 25 anos ou mais com superior completo

Gráfico 5 - Renda per capita nos territórios potiguares, estado e Brasil (1991, 2000 e 2010)

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano 2013. Dados tabulados por Jesus e Fernandes (2015).

Ainda de acordo com os dados do Gráfico 5, os resultados da renda per capita média, em 2000, revelam um crescimento médio no estado em torno de 46%. Esse comportamento foi semelhante em quatro territórios induzidos, que cresceram entre 42% e 48% (Mato Grande, Alto Oeste, Açu-Mossoró e Sertão do Apodi). Por sua vez, Trairi e Seridó cresceram em torno de 52% e Potengi cresceu quase 58%. Entre 2000 e 2010, houve uma inflexão também positiva no crescimento da renda per capita em seis territórios comparativamente à média estadual. Nesse sentido, enquanto o estado registrou um crescimento médio de sua renda per capita de 55%, os territórios registraram um crescimento entre 58% e 77%. Nesse mesmo período, o crescimento da renda per capita no Brasil foi de 34%.

Duas conclusões podem ser retiradas dessas observações. Em primeiro lugar, ainda que lentamente, a renda per capita nos territórios induzidos apresenta crescimento contínuo no período analisado, especialmente nos anos 2000, quando cresceu de forma mais acelerada nos territórios mais pobres, justamente aqueles que tinham recebido maior atenção do governo federal com os programas de transferência de renda. Em segundo lugar, mesmo crescendo, inclusive superior às médias do estado e do País, ainda se verifica o distanciamento de realidades com rendas médias mais elevadas.

0,00 100,00 200,00 300,00 400,00 500,00 600,00 700,00 800,00 900,00

Renda per capita (1991)

Renda per capita (2000)

Renda per capita (2010) Potengi Trairi Mato Grande Alto Oeste Sertão do Apodi Seridó Açu-Mossoró Rio Grande do Norte Brasil

Esse comportamento do aumento da renda per capita ajudou a diminuir o percentual de pobres e de extremamente pobres em todos os territórios do Rio Grande Norte47. O Gráfico 6

apresenta uma trajetória de queda de 25% da população pobre do estado na década de 1990. Entretanto, essa queda foi menor nos cinco territórios de menor renda (Trairi, Potengi, Mato Grande, Alto Oeste e Sertão do Apodi), variando de 18% a 23%. Por sua vez, Seridó e Açu- Mossoró apresentaram reduções maiores, 41% e 47% respectivamente.

Na década seguinte, 2000-2010, a redução da pobreza foi ainda mais acentuada. No estado do Rio Grande do Norte, a pobreza passou a representar, em 2010, 23,79% da população, queda de 47% ao longo da década, enquanto o Brasil possuía 15,79% da população considerada pobre. Essa situação também é verificada nos territórios induzidos, apesar de ter apresentado um ritmo menor de queda nos cinco territórios de menor renda, variando de 35% a 41%. Os territórios Seridó e Açu-Mossoró apresentaram reduções maiores, 47% e 56% respectivamente. Como resultado, notam-se dois grupos ao longo do período: (i) um formado pelos cinco territórios com patamar de pobres na casa de 35% a 41%; e (ii) outro pelo Seridó, próximo a