• Nenhum resultado encontrado

2 FORMAS DE PLANEJAMENTO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

4.1 ASPECTOS GERAIS DO TERRITÓRIO AÇU-MOSSORÓ

4.1.3 Proinf’s no território Açu-Mossoró: construções interrompidas

4.1.3.2 Proinf’s no Núcleo de Mossoró

No Núcleo de Mossoró, apenas os municípios de Mossoró e Serra do Mel tiveram Proinf’s aprovados ou encaminharam propostas (Quadros 1 e 2). No caso de Mossoró, Nunes

et al. (2015) destacam três Proinf’s que não constam nas informações da SGE/MDA. O

primeiro, em 2006, cujo valor de repasse do MDA foi de R$ 127.000,0081, objetivou a Construção de uma Casa de Mel e Aquisição de Equipamentos para Grupos de Assentamento de Reforma Agrária, almejando o fortalecimento da atividade e a melhoria da comercialização sob enfoque da questão de gênero, uma vez que os Grupos são formados por mulheres.

Segundo uma das beneficiadas, a Prefeitura chegou a comprar os equipamentos e realizou o pagamento da primeira parcela para a empresa contratada. Na etapa de vistoria técnica, a CEF condicionou a liberação de recursos ao cumprimento de ajustes, que não foram executados pela empresa sob a justificativa de incapacidade financeira, paralisando assim as obras. De todo modo, é preciso considerar que a construção da Casa de Mel poderia ser inviabilizada por estar localizada em uma agrovila, denotando que não existiu uma observação das regras vigentes no processo de planejamento do Projeto. Atualmente, estuda-se a possibilidade de utilizar a estrutura iniciada para construir uma Casa de Polpa, mediante os recursos do Projeto Governo Cidadão. Por sua vez, os equipamentos ficaram sob a posse da

Prefeitura durante anos, e foram repassados apenas recentemente para os Grupos, e de forma incompleta, segundo informações.

Os outros dois Proinf’s foram aprovados com o intuito de estabelecer uma central de comercialização da agricultura familiar no município: (i) Implantação de uma Central de Comercialização da Agricultura Familiar de Mossoró, em 2007, no valor total de R$ 250.000,00; e (ii) Ampliação da Central de Comercialização da Agricultura Familiar de Mossoró, em 2009, orçada em R$ 416.583,05. Com base no SGE/MDA, pode-se destacar outra proposta voltada para a central de comercialização, encaminhada em 2015, cujo objeto era a Reforma e Adequação da Central de Comercialização da Agricultura Familiar do Município de Mossoró no Território da Cidadania Açu-Mossoró/RN, em 2015, no valor de R$ 428.892,91.

Como é possível perceber, foram três tentativas de se criar uma Central de Comercialização no município, todas sem avanço. Um dos entraves principais para a implementação dos três projetos consistiu na localização do empreendimento. Em relação aos Proinf’s de Implantação e Ampliação da Central, deve-se destacar que as ações ocorreriam no mercado público municipal, o que não foi aprovado pelas partes envolvidas. Diante desse impasse, os recursos retornaram e o convênio foi anulado.

Em 2015, reeditou-se o Projeto de construção da Central da Agricultura Familiar de Mossoró. Na proposta (PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ, 2015), demonstra-se a necessidade do empreendimento em virtude das dificuldades de acesso aos mercados e comercialização dos agricultores familiares do território. Nesse sentido, o Projeto elencou cinco objetivos principais: (i) apoiar ações estruturantes; (ii) atuar na geração de renda e na promoção da Economia solidária, com vistas a reduzir a pobreza rural e as desigualdades; (iii) fortalecer as cadeias produtivas do território; (iv) garantir o acesso a mercados institucionais; e (v) inserir jovens e mulheres.

Dada essa dimensão, a Central possui um abrangência territorial, que envolve produtores, associações e cooperativas dos dez municípios. Ainda segundo o documento, o modelo de gestão seria compartilhado, envolveria beneficiados, poder público municipal, Colegiado Territorial, Nedet, poder público estadual, IES, instituições financeiras, entidades da sociedade civil de Mossoró (Sindicato da Lavoura e CMDS) e Projeto Governo Cidadão, que deveriam atuar em aspectos como mobilização, organização, controle social, acompanhamento, assistência técnica e capacitação. É importante lembrar que, assim como nas outras iniciativas, não se logrou êxito com a construção da Central. Nesse caso, a Prefeitura chegou a doar o terreno, mas existiram problemas com a sua escritura, que dificultaram o andamento do

processo, inclusive com o pagamento da contrapartida vis-à-vis prazo estabelecido. Some-se a isso a conjuntura política nacional, o que dificultou a liberação das ações e dos recursos.

Um último Proinf para o município foi aprovado em 2016, no valor de R$119.530,00, cujo objeto corresponde à Estruturação e Logística da Unidade de Beneficiamento de Frutas do Projeto de Assentamento Mulunguzinho/Mossoró-RN. Aqui, a dificuldade de acesso aos mercados por parte dos agricultores familiares é um tema que novamente se sobressai, especialmente considerando as questões de armazenamento, conservação e transporte da produção sob égide das normas da legislação vigente (PREFEITURA MUNICIPAL DE MOSSORÓ, 2016).

Sendo assim, a proposta consistia em viabilizar infraestrutura rural para estruturação produtiva, beneficiamento, equipamentos para processamento de produtos agropecuários, transporte e armazenamento da produção para cerca de 200 mulheres, abrangendo os municípios do território Açu-Mossoró. De modo mais específico, estaria contemplada, segundo o Projeto, aquisição de equipamentos, como câmara fria, e um veículo, que, em última instância, atuariam na busca da certificação e no escoamento da produção com segurança alimentar e nutricional.

Todos esses investimentos deveriam estar articulados com o Projeto do Governo Cidadão para a construção da Unidade de Polpa de Fruta no Assentamento, citado anteriormente. Todavia, o atraso na liberação de recursos por parte da política estadual fez com que técnicos da CEF atestassem que não existia estrutura para alocar os equipamentos solicitados. Nesse contexto, no site da CEF é possível encontrar que o Projeto está sob cláusula suspensiva total, destacando ausência de documentação de Projeto e/ou de titularidade e/ou de licença ambiental. De todo modo, existe uma tentativa do poder público municipal de retomar o andamento das ações.

Já para Serra de Mel, destacam-se dois Proinf’s voltados para o fomento à cadeia da apicultura; um consta como financiado e outro como proposta. O primeiro, em 2010, requereu o investimento em máquinas, equipamentos e veículos para serem utilizados na produção de mel, envolvendo um valor total de R$ 455.040,00. No âmbito desses investimentos, pode-se mencionar a aquisição de colmeias, homogeneizador, caminhão e motocicletas, que deveriam promover o aumento da produção e o fortalecimento da atividade, atingindo diretamente 250 agricultores familiares apicultores. Com essas ações, buscava-se, ademais, alcançar um maior poder de barganha quanto ao preço, reduzir, dessa maneira, o papel dos atravessadores e elevar a capacidade de competitividade no mercado. Vale destacar que este Proinf teve como como proponente a Emater (Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do

Norte), que estabeleceu um regime de comodato com a Associação de Apicultores de Serra do Mel (Apismel).

Segundo um representante da Associação, que também atuava no Colegiado como membro da sociedade civil, uma primeira dificuldade residiu na seleção da proponente, em virtude do prazo curto para escolha e desinteresse das entidades. Concretizado o processo de definição da proponente, um segundo problema emergiu na ausência de contrapartida da Emater e , nesse sentido, fez com que existisse uma possibilidade real de que o repasse do MDA retornasse. Todavia, uma articulação política garantiu a contrapartida e a liberação dos recursos. Outro enclave consistiu na aquisição das colmeias, motivada pela incapacidade financeira da empresa vencedora da licitação em cumprir com o objeto do contrato, o que exigiu a abertura de um novo processo licitatório. O resultado desses fatos é o atraso nas metas estabelecidas, que foram concluídas, apenas, em outubro de 2017.

Em relação ao outro Projeto, encaminhou-se uma proposta, em 2014, para a construção de um Entreposto de Mel no município, envolvendo a aquisição de máquinas, orçado em R$ 449.873,8582, tendo como proponente a Prefeitura Municipal de Serra do Mel. Na verdade, conforme explica o Projeto do empreendimento (PREFEITURA DE SERRA DO MEL, 2014), a Apismel dispõe de uma Casa de Mel para extrair o produto, mas julga-se como necessária a construção do Entreposto para atender os parâmetros da certificação, com vistas à conquista do SIF.

Segundo a proposta, o Entreposto, do ponto de vista econômico, poderá contribuir com a comercialização do mel em novos mercados (nacionais, internacionais, institucionais e orgânicos), de forma a gerar ocupação e renda. Outro ponto a ser considerado é a internalização da produção, à medida que muitos apicultores do território necessitam de transferir a produção para outros municípios já certificados. Do ponto de vista social, o Projeto prevê um direcionamento para jovens e mulheres e almeja não só a ampliação da cadeia produtiva, mas também a manutenção no meio rural (para os jovens) e a inserção de um público representativo no território de apicultoras. Por fim, na esfera ambiental, a possibilidade de acessar mercados mais exigentes tende a reforçar as boas práticas da produção do mel, bem como poderá contribuir para a preservação da caatinga.

Cumpre enfatizar que o Nedet desempenhou um importante papel na estruturação e na articulação desse Projeto. Mesmo assim, é importante destacar que o Entreposto ainda não foi concluído, carecendo de algumas obras físicas e aquisição de máquinas e, consequentemente, a

completa legalização não foi atingida. Chama a atenção o fato de que o Entreposto foi deliberado depois do Proinf relacionado à aquisição de máquinas, equipamentos e veículos, o que pode tornar alguns desses utensílios obsoletos. Ademais, a partir do discurso de um membro da sociedade civil, é possível perceber que a abrangência territorial – pelo menos considerando o início de algumas ações já concluídas – do Projeto, que contempla outros nove municípios (Alto do Rodrigues, Assú, Baraúna, Mossoró, Porto do Mangue, São Rafael, Areia Branca, Grossos e Tibau), não está sendo condizente com os objetivos propostos.