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E ASSIM SE FEZ A PESQUISA

Este capítulo está baseado em uma pesquisa que bus- cou entender como se estabelecem as relações de gênero no ambiente escolar, de modo especial, nas salas de aula de ma- temática. Intenciona ser uma contribuição para a discussão da temática de gênero e educação no meio acadêmico. A pes- quisa que deu origem a este capítulo foi realizada durante o período de 2008 a 2011 para a realização de uma tese de dou- torado2, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação

em Tecnologia (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A tese foi defendida em 09 de dezembro de 2011, junto àquele programa.

Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizado o mé- todo etnográfico, pois este se mostrava adequado para atingir os objetivos da pesquisa que era verificar como aconteciam as relações de gênero nas aulas de matemática de 5ª a 8ª séries3

do ensino fundamental em um colégio da rede estadual de educação de Curitiba no Paraná. Segundo Moreira e Caleffe (2008, p. 86), o método etnográfico apresenta uma “perspecti- va holística – observações e interpretações são feitas na totali- dade das interações humanas”. Os autores afirmam ainda que “o propósito da pesquisa etnográfica na educação é descrever,

2 A tese Entre silenciamentos e invisibilidades: relações de gênero no cotidiano das

aulas de matemática na íntegra está disponível no site <http://repositorio.utfpr.

edu.br/jspui/handle/1/372>. Acesso em: 08 nov. 2016.

3 Esta era a nomenclatura utilizada na época da pesquisa e equivale ao 6º ao 9º ano da atualidade.

analisar e interpretar uma faceta ou segmento da vida social de um grupo” (MOREIRA; CALEFFE, 2008, p. 86) dessa forma se aplicava à pesquisa em questão.

O método etnográfico prevê várias formas de produção de dados. Neste caso, utilizou-se a entrevista semi-estrutura- da (20 alunos e 20 alunas, 2 professores e 2 professoras e a vice-diretora), a observação (cerca de 6 meses em 4 turmas, uma de cada série) e a análise de documentos (diários de clas- se das turmas pesquisadas). Os resultados aqui apresentados são oriundos da triangulação dos dados obtidos por meio das três formas de coleta/produção de dados. Cabe salientar que é uma leitura, uma interpretação do que acontecia naque- le espaço baseada na formação da pesquisadora, ou seja, a partir das lentes que foram utilizadas ao adentrar em sala de aula. Os dados produzidos são o resultado de uma seleção fei- ta pela pesquisadora, seja consciente ou inconscientemente.

Foram pesquisadas quatro turmas do ensino fundamen- tal, 5ª a 8ª séries. Fez-se observação por seis meses das aulas de matemática das turmas escolhidas. Destas turmas foram selecionados/as quarenta estudantes (vinte de cada sexo e dez de cada turma) para a entrevista. Entrevistou-se ainda os/ as professores/as de matemática (dois homens e duas mu- lheres) das referidas turmas e fez-se a análise de documentos que continham as notas dos/as alunos/as.

Para a realização desta pesquisa partiu-se do pressuposto de que o gênero é uma das categorias importantes nos estudos sobre a sociedade. A categoria gênero pode ser entendida:

como uma linguagem, uma forma de comunicação e or- denação do mundo, que orienta a conduta das pessoas em suas relações específicas e que é, muitas vezes, base

para preconceitos, discriminação e exclusão social” (SI- MIÃO, 2006, p. 13).

Este preconceito e discriminação de que fala Simião é o que dificulta o respeito e a inserção das mulheres na socie- dade brasileira e, quiçá, mundial. Para Felipe e Guizzo (2003, p. 121), gênero está “relacionado fundamentalmente aos sig- nificados que são atribuídos ao ser mulher ou ao ser homem em diferentes sociedades e épocas”. Já Scott (1995) considera que as relações de gênero são também relações de poder. O poder que estamos falando aqui é o poder que circula, estan- do ora com um e ora com outro membro da sociedade, é a concepção foucaultiana de poder. Este poder permeia todas as relações sociais e, evidentemente, as relações de gênero não poderiam ficar à margem.

Toma-se como pressuposto o fato de que o gênero é so- cial e culturalmente construído. Representa e estabelece rela- ções de poder entre os sujeitos de cada gênero e mesmo entre sujeitos do mesmo gênero (SCOTT, 1995; COSTA, 1994). As- sim, todos os segmentos da sociedade contribuem para esta construção, inclusive a escola e os sujeitos que nela atuam.

Com relação à escola, parte-se do pressuposto de que ela não atua somente como mantenedora da cultura dominante e das regras estabelecidas pela sociedade. Pode ser um ins- trumento importante na transformação de tais normas para assegurar a todos/as o direito à educação e à vida em socie- dade com dignidade. Dessa forma, tem papel importante na construção das identidades de gênero dos/as estudantes, po- rém não é a única instituição responsável por tal construção. Outras instituições como família e igreja, além da mídia e do convívio em sociedade, contribuem de forma significativa

para esta construção. Aqui centraremos as atenções no papel que a escola e a educação desempenham na construção, ma- nutenção e transformação das relações de gênero, porém sem esquecer que esta não é a única instância onde elas ocorrem.

Ao chegar ao espaço escolar, a pesquisadora estava com o olhar impregnado destes pressupostos. E foi com este olhar que adentrou na sala de aula e observou o que acontecia na- quele ambiente e naquele momento. Evidentemente que os resultados aqui apresentados são baseados na sua percepção do que ali ocorria. Ao observar o cotidiano da sala de aula, o fez com as suas lentes. Outro/a pesquisador/a certamente perceberia coisas diferentes, nem melhor e nem pior, apenas diferentes. Uma parcela dos resultados desta pesquisa traze- mos neste capítulo.

Ao adentrar em sala de aula para a pesquisa encontra- mos um ambiente rico no que tange as relações entre os/as estudantes e seus/suas professores/as. A pesquisa possibi- litou conhecer a relação e o posicionamento de meninas e meninos no ambiente escolar, fato fundamental para poder falar sobre as relações de gênero neste espaço. A sala de aula forneceu muitas opções de análise e eu escolhi as relações de gênero cuja análise ampla apresentei na tese e para este capí- tulo faço um recorte dos resultados lá relatados.

A pesquisa foi realizada junto a estudantes e professores/as de um colégio da rede pública de ensino da cidade de Curitiba, capital do Paraná. A produção de dados deu-se durante o ano de 2009. O colégio Centenário4, escolhido para a pesquisa tem

mais de 100 (cem) anos de funcionamento e localiza-se na re-

4 Os nomes utilizados são todos fictícios e foram escolhidos pelos/as pesquisa- dos/as.

gião central de Curitiba. Foi escolhido devido a sua localização, história e tradição em oferecer uma educação de alta qualidade. A pesquisa se mostrou rica em relações de todo o tipo (amiza- de, aversão, respeito, falta de respeito, preconceito, ditos e não ditos, dentre outras). Observei as relações de gênero, porém as questões raciais, sociais e relacionadas à sexualidade também se faziam perceber, porém não eram objetivo desta pesquisa.

AS RELAÇÕES ENTRE ALUNOS E ALUNAS NO COTI-