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Durante estes anos de contato com professoras das re- des estaduais e municipais de ensino pudemos crescer como pessoas e profissionais. Mais do que a formação das partici- pantes dos cursos ocorreu a nossa formação. Tínhamos a te- oria, a experiência do meio acadêmico, porém elas tinham a experiência de sala de aula, do ensino público, das escolas de periferia, das dificuldades e da riqueza que se apresenta em tais escolas. Foi uma troca muito enriquecedora.

Com o desenvolvimento das atividades aqui apresentadas pôde-se perceber que as participantes do curso estavam pre- ocupadas em desenvolver uma educação que contemplasse a realidade da maioria das crianças atendidas pelas escolas pú- blicas brasileiras. As participantes se mostraram interessadas e preocupadas com a inclusão e o respeito à realidade de todas as crianças. Preocupavam-se também em desenvolver uma edu- cação que minimizasse as desigualdades de gênero e buscasse integrar a todos no espaço escolar, independentemente do sexo, orientação sexual, cor da pele, crenças religiosas, classe social.

As participantes se mostraram ávidas pelo conhecimen- to e sentiu-se a necessidade de se proporcionar outros mo- mentos como estes para que a discussão sobre as relações de gênero, a busca pela equidade e o respeito à diversidade den- tro e fora do ambiente escolar seja ampliado e difundido a um número cada vez maior de pessoas. As participantes demons- traram bastante interesse em discutir a temática e reforçaram a necessidade da busca por cursos que auxiliem as professo- ras a abordar assuntos tão relevantes e delicados como estes.

Ao final do módulo solicitou-se que as participantes completassem três frases. O objetivo era avaliar a satisfação das participantes com as atividades, conteúdos e desempe- nho dos pesquisadores responsáveis pelo módulo. As frases eram Que bom quê..., Que pena quê... e Que tal se... A ava- liação das participantes foi positiva. A maioria ressaltou a im- portância de se debater a temática, lamentou que o curso es- tava acabando e sugeriu que tivesse continuidade com outros momentos de discussão. Mesmo sendo um curso de final de semana, na maioria das turmas, sem a liberação de suas ati- vidades profissionais para tal, as participantes gostariam de ter mais encontros, o que confirmou o interesse das mesmas pelo conhecimento e a necessidade que elas têm de debater a temática com o intuito de buscar subsídios para que suas práticas docentes, no interior das escolas, sejam em busca de uma educação mais igualitária e justa.

Este desejo de conhecimento e crescimento, a necessi- dade de se ter espaço para conversar e debater sobre proble- mas que ocorrem no cotidiano escolar apareceram em todas as edições do curso. Ao analisar os projetos de intervenção apresentados naquelas turmas pôde-se perceber que as pro-

fessoras que destinaram parte de seus finais de semana ao es- tudo mostraram-se satisfeitas com os resultados. Apresenta- ram diversas sugestões de atividades que seriam possíveis de se desenvolver nas escolas com a parceria da comunidade na qual estavam inseridas.

Muitas participantes solicitaram que fosse dada conti- nuidade à discussão, com a oferta de cursos de especialização nos quais os temas fossem aprofundados. Lamentaram a fal- ta de tempo para implementar os projetos propostos por elas e a necessidade de se fazer um encontro posterior para que pudessem compartilhar as experiências com a implementa- ção dos projetos. Este fato demonstra que as professoras que procuraram o curso estão preocupadas em oferecer uma edu- cação que possibilite a inclusão e a permanência de todas e todos no ambiente escolar. Sabe-se que a educação é a forma mais segura e viável de se promover mudanças sociais tão ne- cessárias ao nosso país e ela não pode ser destinada a apenas alguns. É importante pensar na inclusão das minorias para que elas deixem de ser minorias e passem a ter seus direitos assegurados sem a necessidade de lutas para tal.

Este curso evidenciou que a busca por uma educação igualitária, que acolha no espaço escolar a diversidade en- contrada na sociedade brasileira, que respeite as diferenças, que evite que tais diferenças se transformem em desigualda- des é um anseio das professoras e que a educação em todos os seus aspectos, inclusive no aspecto da inclusão e equidade de gênero é um direito de todos e todas e não um luxo.

Finalizamos com um relato de uma professora de ensino fundamental e pedagoga de escola pública que participou da edição de 2014. Sua fala representa muitas outras falas que ouvimos em todas as edições dos cursos...

Esse curso me fez aprender e me emocionar muito a cada encontro, por refletir e verificar que muitas pessoas sofrem e tem suas vidas marcadas por diversos tipos de preconceito e que a sociedade em sua grande maioria ignora tudo isso. Percebi que posso fazer muita diferença em meu ambiente escolar e em minha vida. Percebi que o ensino público ainda não é o ideal, porém é um espaço bem mais democrático que recebe todos os tipos de alunos em sua diversidade e que possibilita uma maior liberdade de expressão para todos os par- ticipantes. Os professores que se interessam tem a oportunidade de estudar a diversidade e aplicar em sala de aula trabalhando todas estas diferenças existentes em sala de aula e tendo autonomia para isso (Maria10).

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CAPÍTULO

2

GÊNERO E DIVERSIDADE NA FORMAÇÃO