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2. PRÁTICA LETIVA

2.2. Assistência às aulas

Segundo Mendes, Clemente, Rocha & Damásio (2012), “a génese da observação acompanha o ser humano desde os primórdios da espécie. O Homem sempre se socorreu da observação como instrumento de garantia da sua subsistência e evolução” (p. 58).

Hernández e Molina (2002), citados por Prudente, Garganta e Anguera (2004) referem que o âmbito desportivo refere-se a uma “situação social em mudança

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permanente, pelo que os procedimentos estáticos de análise não são suficientes, antes requerem uma perspetiva dinâmica das condutas, o que coloca a metodologia observacional como ferramenta mais adequada” (p. 51).

Para que o nosso processo observacional seja exequível foi importante a construção do instrumento de recolha de dados, a fim de que o instrumento seja adequado ao contexto e às finalidades específicas que se pretende analisar.

De acordo com Mendes et al., (2012), o fenómeno da observação “é

influenciado por distintos fatores, dos quais se destacam a experiência do observador, a realidade observada, a atenção seletiva, o acoplamento com o objetivo e o ambiente em que se observa” (p. 58).

A observação das aulas de Educação Física bem como a análise crítica e a discussão dos resultados obtidos constituem-se como fatores decisivos na promoção da reflexão sobre a prática letiva e, consequentemente, na procura da melhoria da ação educativa.

Os processos de análise dos padrões comportamentais do professor observado resultaram numa reflexão crítica sobre a sua atuação centrada na resolução de eventuais dificuldades, sendo este processo estimulado ao longo do estágio através da troca de ideias que nos permitiu estruturar e repensar a aplicação de determinadas metodologias e estratégias.

Neste sentido, a análise do comportamento do professor estagiário e do professor experiente insere-se nas linhas do estágio, sendo este um processo observacional através do qual se pretende recolher e analisar os dados recolhidos num sentido crítico e reflexivo.

“As funções essenciais da observação estão relacionadas com a identificação de prestações/rendimentos menos eficazes que permitam ao professor fornecer informação de retorno ao aluno sobre a performance ou sobre o resultado como, por exemplo, o feedback pedagógico que contribui para o aperfeiçoamento da sua prestação e, como tal, produz efeitos benéficos no processo de aprendizagem” (Mendes et al., 2012, p. 60).

De acordo com Oliveira et al., (2013), citando Fink & Siedentop (1989), “o stresse provocado no professor estagiário pela sua falta de experiência, a falta de maleabilidade e de sistematicidade de regras e rotinas explicam a propensão para adotar comportamentos extremos e inconsequentes, ora para contemporizar com comportamentos inaceitáveis dos alunos, ora para impor castigos desajustados sobre comportamentos de indisciplina triviais” (p. 28).

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Cloes et al., (1998), citado por Oliveira et al., (2003, p. 28), explicam que “professores inexperientes, por falta de confiança, por menor capacidade de prevenção e controlo do comportamento dos alunos, acabam por recorrer frequentemente a estratégias punitivas”.

A assistência às aulas foi um procedimento realizado por parte dos professores estagiários às aulas dos professores mais experientes, e vice-versa, na escola onde se realizou o estágio pedagógico, o que resultou num processo da partilha de experiências observadas entre as duas partes e todos entre si, as quais conduziram a processos de reflexão conjuntos e individuais e contribuíram para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional.

Essas observações envolveram, além dos estagiários, quatro professores com experiência profissional que lecionam Educação Física aos alunos do 12.º ano da Escola Jaime Moniz.

Para a assistência às aula de Educação Física, foi necessário solicitar aos professores observados a sua autorização. Os professores de Educação Física aceitaram voluntariamente participar na sua análise.

O nosso estudo envolveu 4 turmas mistas do12.º ano de diferentes cursos. A recolha de informação relativa ao comportamento do professor foi realizada com base no sistema observacional realizado pelos colegas estagiários dos anos letivos anteriores e nalguns documentos de observação consultados aquando da revisão da bibliografia.

O instrumento concebido contempla oito categorias relativas aos comportamentos dos professores e, ao criá-lo, pretendeu-se que fosse prático, fiável e que as suas categorias fossem devidamente discriminadas.

Segundo Sarmento, Rosado, Rodrigues, Veiga e Ferreira (1990), o sistema de observação do comportamento do professor consiste num instrumento de observação da aula de Educação Física, com objetivo de estudar o seu comportamento, traçando um perfil das suas características mais frequentes. Os mesmos autores referem que a observação visa um registo com “grande grau de objetividade, cuja validade está assegurada por aplicações sucessivas em diversos trabalhos de investigação”.

Na fase anterior à seleção do instrumento, procurámos identificar aquilo que pretendíamos efetivamente identificar; esta seleção teve por base os critérios que considerámos pertinentes e a análise dos conteúdos dos registos existentes realizados por colegas de anos anteriores.

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O sistema de análise por nós utilizado é composto por 8 categorias, que representam os comportamentos mais comuns dos professores, citados por Sarmento et al., (1990) e por Freitas, Vieira e Gonçalves (2012, p. 48).

Instruções (I) – são as intervenções do professor, claras e objetivas, relativas à matéria de ensino ou à forma de realização do exercício (critérios de êxito);

Feedback (FB) – é toda a reação verbal ou não verbal do professor à prestação

motora dos alunos com diferentes possibilidades de objetivo e com um momento de observação da indução desse feedback;

Organização (ORG) – intervenções do professor que regulam as condições materiais da turma, tais como: deslocamentos dos alunos, transições, indicações relativas à colocação de materiais, formação de grupos, etc.;

Afetividade aprovativa (AP) – o professor elogia, encoraja, recompensa, incita ao esforço ou apresenta um aluno como exemplo a seguir, criando um clima positivo na aula;

Afetividade desaprovativa (AN) – o professor critica, acusa, ironiza, ameaça, castiga, etc;

Intervenções verbais dos alunos (IVA) – período durante o qual o professor ouve os alunos. O aluno fala por sua iniciativa ou responde a uma questão apresentada pelo professor;

Observações (OBS) – períodos durante os quais não ocorre intervenção verbal do professor ou do aluno. O professor revela interesse no decorrer da aula, observando-a;

Outros comportamentos (O) – outros comportamentos não especificados.

As regras de registo implicam um período temporal onde decorrem as ações a observar. No caso das aulas de Educação Física, estas têm a duração de 90 minutos, sendo cada aula considerada a sessão de observação. Contudo, está estabelecido pelo regulamento interno da escola que os alunos têm 5 minutos de tolerância após o toque de entrada, 10 minutos no caso do primeiro tempo e 10 minutos de tolerância antes do toque de saída no caso das aulas práticas de Educação Física. Este tempo de tolerância deve-se à necessidade de os alunos tomarem banho e sair das instalações até ao toque da aula seguinte. Assim sendo, restam 75 minutos, 70 no caso da aula do primeiro turno, sendo esta a duração de cada sessão observada. O método de registo centra-se no número de registo de ocorrências que surgem nos intervalos temporais estabelecidos.

No nosso sistema, os professores estagiários utilizaram 5 sessões de observações a cada professor experiente. Cada sessão de observação (1 aula) é composta por 5

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períodos de observação de 5 minutos. Optámos por dividir cada período em 3 intervalos de 5 minutos.

Quanto ao registo, optámos por marcar todas as ocorrências com um traço dentro da categoria verificada respetiva a cada período temporal, facilitando assim o processo de apontamento e obtendo maior número de informações.

Quanto à grelha de registo, verificou-se a necessidade de realizar algumas alterações no sentido de torná-la mais adequada ao processo de observação (ver ficha de registo no (ANEXO I).

Através da assistência às aulas dos professores estagiários e dos professores experientes, verificou-se que os comportamentos mais registados foram a instrução, o feedback, a organização e a observação. No geral, podemos constatar que o mesmo acontece com os professores estagiários, o que significa que todos os professores observados dão maior ênfase às categorias referidas.

Concluímos ainda, de forma mais detalhada, que os professores estagiários, quer na instrução quer na organização, revelam valores mais elevados de ocorrência. Face a esta análise, podemos explicar a ocorrência destes acontecimentos como resultante da experiência dos outros professores, a qual lhes permite manter a classe organizada durante períodos mais longos, reduzir os tempos de transição entre os exercícios bem como os momentos de instrução.

Relativamente ao feedback, os professores experientes registam grande incidência durante as aulas. Os professores estagiários, fruto das reflexões críticas realizadas após as aulas em conjunto com a professora orientadora, procuraram utilizar o feedback de forma frequente como meio de auxiliar os seus alunos. Aqui, sentimos que seria interessante observar o conteúdo do feedback e compará-lo entre os professores experientes e os professores estagiários para verificarmos quais os tipos de feedback que são mais utilizados em ambos os casos.

A utilização da ficha de observação contribuiu para registar e analisar de forma quantitativa os comportamentos dos professores. Este tipo de análise, contudo, não nos permitiu determinar que tipo de intervenção é mais frequente num e noutro professor. Consideramos, portanto, que seria relevante estender a nossa análise à observação dos professores estagiários ao longo de todo o ano letivo de forma significativa durante todos os períodos letivos, procurando apurar se o perfil do professor se manteve igual ou se se alterou ao longo da sua prática letiva.

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Durante este processo metodológico observacional, verificaram-se algumas limitações respeitantes à sua aplicação. Relativamente à observação das aulas dos professores estagiários, considerámos que estas deveriam ter sido realizadas no início do ano letivo, uma vez que este processo poderia ter representado uma mais-valia na nossa formação como professores, reconhecendo no entanto que, apesar disso, ele muito contribuiu para a compreensão de fatores inerentes ao processo de lecionação.

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