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Associação Cultural das Entidades Carnavalescas do Ceará Regulamento dos maracatus – 20.

coroação da rainha” (CRUZ, 2011, p 109) Desde sua inserção e consolidação no tempo

Fonte: Militão, 2007.

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Nos desfiles carnavalescos, não é mais realizado a coroação da rainha, em decorrência do tempo do desfile. Assim, a rainha desfila já coroada do começo ao fim do cortejo. Entretanto, em outras apresentações, há o ritual de coroação da rainha, onde uma figura importante é convidada a coroar a rainha, ao som de uma loa de coroação. Em alguns grupos, apenas a preta velha ou uma baiana faz a coroação da rainha.

O batuque, composto por batuqueiros e tiradores de loas, geralmente usa a caixa sem esteira, o bumbo e o ferro de maracatu. Entretanto, de acordo com a variação sonora dos grupos, há o uso de alfaias, agbês, agogôs, chocalhos e atabaques. O ferro de maracatu (ver figura 11) é a marca do maracatu cearense, pois é específico dos grupos do Ceará. Dessa forma, o ferro foi um dos elementos escolhidos no relatório de patrimonialização como símbolo que identifica o maracatu cearense e o distingue de outros grupos.

Figura 11

Ferro de Maracatu

Fonte: Acervo do autor, 2016.

É importante destacar que alguns cordões são acrescentados de acordo com o tema do grupo, bem como existem diferenciações mínimas quanto a organização dos mesmos, como por exemplo, o batuque, que geralmente varia de posição entre as baianas e a corte, inclusive para que o som possa alcançar todas as alas do cortejo durante o desfile. A descrição dos cordões e personagens não esgota o universo do maracatu quanto aos sentidos atribuídos pelos brincantes, muito menos consegue abarcar de forma satisfatória todos os elementos presentes no cortejo, diante da multiplicidade de formas de fazer e recriar dos grupos frente à diversidade rítmica e estética. Dessa forma, a caracterização tenta apenas fornecer elementos para o leitor conhecer e conseguir dimensionar a imagética dos grupos.

3.2.

Caminhos do patrimônio nos grupos de maracatus

O processo de patrimonialização municipal dos maracatus teve início no ano de 2011, com a solicitação junto a SECULTFOR pelo dirigente do Maracatu Rei do Congo, Rodrigo Damasceno Rodrigues. Entretanto, o processo para regulamentação e solicitação do registro ocorreu somente no ano de 2015, a partir da parceria estabelecida entre a SECULTFOR e o Instituto de estudos, pesquisas e projetos da Universidade Estadual do Ceará

UECE. O brincante R.P.A.R. esclarece que

“Ela já vinha antes, mas nunca ninguém conseguia, quando

chegava na porta a gente voltava, aí tentava, tentava de novo, aí terminava o mandato

morria

18

”,

sendo concretizado apenas no primeiro mandato da gestão do Prefeito de Fortaleza - 2013 a 2016.

Dessa forma, considerou-se a partir da leitura do relatório técnico elaborado19, a pluralidade presente nos grupos de Fortaleza, pela variedade de ritmos sonoros encontrados nos batuques e composição das loas, bem como pelo múltiplo entendimento sobre questões como origem e formação dos maracatus, que são também distintas de acordo com cada grupo e da própria estética, como por exemplo, a divergências quanto ao uso do negrume, não utilizado por todos os grupos, e as alas de orixás, que não se configura como obrigatório nos desfiles, mas que são adotados por alguns grupos. Apesar de tais divergências, não existe uma diferenciação tão expressiva, pois todos seguem certo padrão quanto à estrutura dos cordões, pela própria exigência que os editais possuem quanto às normas a serem seguidas para participação no carnaval, descritas na sessão anterior.

Ainda sobre o processo de registro, o brincante S.G.M.A. relata que:

[...]o patrimônio imaterial foi uma conquista, que a pessoa que deu entrada nesse registro que foi o Rodrigo do rei do congo [...] ele foi que deu início, deu entrada, para o processo começar a andar, e aí deu-se que a gente hoje tem essa condição de patrimônio imaterial de Fortaleza a nossa manifestação, que também é uma questão que ajuda a ter uma classificação melhor diante da história do maracatu. Porque na realidade o maracatu também se tornou cultura popular tradicional. Hoje a gente tem não só para o carnaval, mas também para outros eventos, outras atividades, para outros tipos de ações que o próprio maracatu pode ter pela forma que hoje o maracatu é tratado. Da formatação do patrimônio imaterial. Então o patrimônio do maracatu ele veio muito ajudar essa questão da continuidade do maracatu, porque uma questão que às vezes muitas não tem, é essa questão da continuidade e aí não deixa muito formatar, porque não foi todos os maracatus que assinaram, três não assinaram, não concordaram, aquela coisa toda, que foi o Kizomba, o Rei de Paus que é um dos mais antigos e o Solar. Quer dizer esses três não assinaram o relatório que fez que o maracatu dessa entrada para instituir o decreto lei da patrimonializaçao. E aí assim, é uma questão da forma de como eles vão agir, como

18 R.P.A.R.. Entrevista III. [jun. 2016]. Entrevistador: Jacquicilane Honorio de Aguiar. Fortaleza, 2016. 19 Parecer Técnico nº 311/201.

eles viram essa nova fase que o maracatu pode passar. E aí a gente espera que isso ajude, por exemplo, eu faço um projeto aí no projeto eu já coloco a lei que formatou o patrimônio imaterial e aí vamos ver o que se pode acontecer, o que pode vim a somar com as nossas coisas.20

Podemos perceber pela fala do entrevistado que a patrimonialização para os grupos não era uma luta recente, tendo um histórico longo de discussões para que o processo conseguisse entrar em andamento. Tal valorização, segundo o brincante, vem corroborar no fortalecimento da perpetuação da tradição, que não se restringe mais apenas ao carnaval, bem como contribuir nos projetos e investimentos destinados aos grupos, pois a questão dos custos para manter os grupos é sempre bastante discutida, visto que hoje a verba principal destinada aos maracatus só é repassada para o período carnavalesco, enfrentando dificuldades no restante do ano. Além disso, é importante observarmos que nem todos os grupos concordaram com o processo de patrimonialização, estando de fora os três grupos citados acima, sendo necessário refletir junto a estes grupos as motivações que perpassaram esse posicionamento.

Dessa forma, um aspecto a ser considerado no processo de patrimonialização são as tensões geradas entre os grupos quanto à anuência do inventário e do próprio entendimento sobre as políticas de patrimonialização. A institucionalização precisa vir acompanhada da apropriação dos grupos do bem patrimonial, para que as ações de salvaguarda sejam realizadas de maneira conjunta. A pesquisadora e integrante da equipe para o inventário Danielle Cruz