• Nenhum resultado encontrado

relacionado aos modos de fazer das comunidades, o “Livro de Registro das Celebrações” onde são registrados os rituais e festas de religiosidade, “Livro d e Registro das Formas de

25 S.G.M.A. Entrevista VI. [Fev. 2017]. Entrevistador: Jacquicilane Honorio de Aguiar. Fortaleza, 2017. 26 R.P.A.R. Entrevista III. [jun. 2016]. Entrevistador: Jacquicilane Honorio de Aguiar. Fortaleza, 2016. 27 B.L.C.F. Entrevista V. [Fev. 2017]. Entrevistador: Jacquicilane Honorio de Aguiar. Fortaleza, 2017.

Expressão”, onde são inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas e

“Livro de Registro dos Lugares”, onde serão inscritos feiras, santuários, praças e demais

espaços de práticas culturais coletivas.28

Entretanto, no decreto 13.769/2016 que dispõe sobre o registro do maracatu cearense como patrimônio imaterial de Fortaleza, o art. 2 determina que:

Fica determinada a inscrição do Maracatu Cearense nos Livros de Registro dos Saberes, no Livro de Registro das Celebrações e no Livro dos Registros das Formas de Expressão, nos termos do § 1º do artigo 34, da Lei Municipal n 9347/2008, de 11 de março de 2008. (DECRETO Nº 13.769, DE 14 DE MARÇO DE 2016, art. 2).

Em relação ao Livro dos Registros dos Saberes, considera-se no decreto:

[...] os conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades, tendo em vista a presença de participantes do Maracatu Cearense, como batuqueiros, tiradores de loas, desenhistas, figurinistas, além de alguns personagens como Balaieiro, Calungueira e Rainha, que são pessoas detentoras de especial e indispensável saber para a prática dessa manifestação. (DECRETO Nº 13.769, DE 14 DE MARÇO DE 2016).

Já em relação ao Livro de Registros das Celebrações, considera-se a relação que:

[...] alguns grupos de Maracatu possuem ações e rituais que traduzem sua religiosidade referente à Umbanda e ao Candomblé, assim como outros grupos têm o Carnaval como mote principal do seu Maracatu, onde as festas populares dão sentido à manifestação. (DECRETO Nº 13.769, DE 14 DE MARÇO DE 2016).

Assim, o decreto estabelece junto ao registro que fica a cargo da SECULTFOR a ampla divulgação e promoção da manifestação. Consideraram-se no registro os principais aspectos que compõem a manifestação, que vão desde o saber que perpassa a elaboração e representação de cada personagem, bem como a relação da manifestação dos grupos com a religiosidade. Aqui é importante destacar que os grupos possuem em sua composição elementos que se relacionam com as religiões de origem afrodescendente, com referências que são feitas dentro do cortejo como na presença de cordões de orixás e a criação de loas em homenagem a estes. Entretanto, nem todos os brincantes ou organizadores da manifestação se declaram adeptos a estas religiões, destacando sua importância enquanto elemento cultural.

Além das ações recomendadas anteriormente para salvaguarda do maracatu, está o maior apoio financeiro aos grupos, um inventário sonoro dos maracatus cearenses e um documentário acerca da manifestação. Sobre isso, é importante destacar as loas, pois geralmente

28 Lei 9.347/2008, de 11 de março de 2008. Dispõe sobre a proteção do patrimônio histórico -cultural e natural do município de Fortaleza, por meio do tombamento ou registro, cria o Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-cultural (COMPHIC) e dá outras providências.

os registros audiovisuais são disponibilizados logo após o período carnavalesco, por registros audiovisuais

não oficiais

que são confeccionados e

postados

nasredes e mídias sociais

.

São poucos os grupos que fazem a gravação oficial das loas, disponibilizando-as nas mídias sociais como o

Youtube

e

Facebook,

ou nas páginas de

Blogger.

Entretanto não é possível encontrar de todos os grupos. A importância desse acesso e divulgação está no fortalecimento da relação do público com o grupo assistido, gerando um maior envolvimento e inclusive maior difusão através do canto, que se faz importante nas manifestações culturais.

Espera-se a partir da institucionalização uma maior visibilidade e valorização da manifestação. Entretanto o processo de reconhecimento deve perpassar não apenas a oficialização do patrimônio e o reconhecimento do poder público, mas também a apropriação dos brincantes que são responsáveis pela perpetuação dos cortejos na cidade, pois o reconhecimento dos próprios grupos é fundamental tanto quanto sua institucionalização, pois as ações só conseguirão ter sucesso efetivo com a colaboração dos grupos.

3.3.

A promoção dos maracatus enquanto patrimônio metropolitano

O maracatu é considerado entre brincantes e organizadores manifestação cultural de fundamental importância para a cidade, com práticas culturais que se relacionam com as tradições que se perpetuaram no carnaval da capital desde a década de trinta, compondo o cenário carnavalesco da Fortaleza. A manifestação, frente às dinâmicas da modernidade, ganhou novas composições quanto a sonoridade e composição dos personagens, entretanto, tal fato não descaracterizou a manifestação enquanto prática cultural tradicional para os grupos e o público.

Apesar do espaço demarcado dentro dos desfiles carnavalescos, pode-se perceber que o maracatu tem ocupado outras programações na cidade, com apresentações em escolas e feiras culturais, nos eventos que ocorrem ligados a culturas tradicionais, no mês do folclore e mês da consciência negra, em festas da iniciativa privada, bem como nas programações desenvolvidas pela Prefeitura de Fortaleza. Tal participação não apresenta necessariamente uma articulação político-midiática, muito menos alcança todos os grupos de forma igualitária, sendo expressiva a presença dos maracatus que estão entre os primeiros colocados. Entretanto, diferentes espaços são ocupados pelos grupos, dado o reconhecimento cultural atribuído aos mesmos.

A

“patrimonialização” atribuída ao maracatu a partir da in

stitucionalização do dia 25 de março como o Dia do Maracatu revela a importância da manifestação para a cidade, frente sua inclusão no calendário oficial, sucedido das comemorações no centro de Fortaleza com os cortejos de todos os grupos. Entretanto, ainda se faz necessário questionar e compreender as intencionalidades e fluxos que demarcam a ligação oficial do dia 25 com a data magna. É importante destacar que alguns brincantes questionam até onde é de interesse a vinculação da manifestação para com a data, visto que a abolição dos escravos no Ceará, por mais que tenha sido a primeira oficialmente declarada, encontra dissonâncias quanto aos duvidosos interesses da abolição. Entretanto, independente das motivações relacionadas à data comemorativa atribuída ao maracatu é importante ressaltar que a mesma traz a vinculação do tempo simbólico da manifestação.

Sobre essa vinculação do Dia do Maracatu com a Data Magna, S.G.M.A. afirma que:

O dia quando foi instituído foi pela libertação dos escravos no Ceará. Foi o primeiro estado a libertar escravos. Então foi no dia 25 de março o dia que predominou essa questão da libertação dos escravos entre aspas né, a gente sabe que houve muitas coisas por trás, questão política. Hoje o dia é comemorado, por exemplo, dia 25 de março agora todos os maracatus vão se apresentar comemorando o dia do maracatu, e ai consecutivamente durante o ano inteiro, todo mês uma apresentação de um maracatu, e ai a gente se divide de uma forma que todos participem e levem para o espaço público a apresentação de maracatu, praça, escola, locais públicos, pra demonstrar um pouco essa coisa do maracatu, porque tem muita gente que não conhece que nunca viu, que acha que tem essa ligação com a questão da macumba, da umbanda, mas não tem. 29

O relato do entrevistado nos mostra um pouco sobre o projeto “Dia 25 é dia de