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esse “exótico” que necessariamente compreender os sentidos da manifestação.

É impossível não perceber nessa configuração dos corredores dos shoppings onde emergiam índios, baianas e rainha a semelhança com o processo que ocorre com os desfiles do centro, onde o maracatu se insere no espaço enquanto elemento diferencial, dividindo espaço e atribuindo novos valores ao que foi projetado iminentemente enquanto comercial, atribuindo ao espaço do shopping, que também tem o lazer como marca principal, novos usos e sentidos culturais, em uma interação dialógica.

Em contrapartida ao mês de janeiro, a edição de fevereiro ocorria após o término do carnaval, que havia ocorrido na primeira semana do mês. Coincidentemente, mais uma vez havia uma proximidade com um shopping Center, mas dessa vez localizado na Av. Bezerra de Menezes, que tem caráter mais popular, com intensa movimentação. Entretanto, não ocorreu dentro das imediações, e sim na praça lateral, conhecida como Praça do North Shopping, com o maracatu Axé de Oxóssi, que tem sua sede não muito longe de onde ocorreria o evento.

É comum o uso das praças da cidade associado a atividades físicas, mas dessa vez em específico, além do número considerável de pessoas que circulavam realizando exercícios, a quadra de basquete onde o evento deveria ocorrer estava ocupada por jogadores que treinavam no local, e usavam o espaço constantemente. Assim, foi necessário dialogar para que a mesma fosse cedida ao maracatu. Como o carnaval havia ocorrido dias atrás, foram acrescidas as informações do locutor do evento o balanço positivo do carnaval, bem como a comemoração oficial do dia do maracatu, no mês de março, que deveria acontecer no Bairro Centro, do Parque das Crianças

Praça da Liberdade

até Praça do Ferreira. Entretanto, havia uma clara indefinição quanto a data, devido a coincidência com a Sexta-feira Santa. A representante da Secultfor garante que o evento vai ocorrer, e que devem ser divulgadas informações mais

próxima da data do evento. Em contrapartida, o presidente de uma agremiação que prestigiava a apresentação afirmava que era provável que não ocorresse devido a essa confluência das datas.

Do ônibus do maracatu que estava estacionado na lateral da praça, saem brincantes parcialmente vestidos, outros que já estão prontos, alguns com rostos cobertos de negrume, muitas crianças que se preparam com roupas de índias animadamente, principalmente quando percebem que são fotografadas, compondo um cordão considerável de índios, entre meninas e meninos, que se preparavam e ajudavam aos outros em meio a risos e brincadeiras. Dessa vez foi possível notar a presença de uma repórter que estava fazendo uma matéria acompanhada com um assistente filmando entrevistas com os organizadores para uma emissora de TV local.

O cortejo ocorreu ao redor da praça até a quadra de basquete, onde se apresentaram para o público que se aglomerou na praça para assistir à apresentação. Dentre eles, os jogadores que antes ocupavam a praça, transeuntes, as pessoas que faziam exercícios, e alguns guardas que estavam próximo ao local. A loa entoada, tema dos desfiles de 2016, foi a principal música utilizada para a apresentação, e ainda estava viva na memória dos brincantes, que cantavam em uníssono, principalmente as crianças. No momento da coroação, a Dona Fátima, responsável pelo maracatu, foi chamada para cantar a música da coroação, sendo destacado o papel da mesma para o maracatu, seu envolvimento com a comunidade, e as dificuldades que o maracatu superou para que pudesse sempre participar do carnaval de rua da cidade. Aqui é interessante perceber a relação que o maracatu possui com a comunidade, conhecida como Comunidade do Mercado Velho, e o papel que o mesmo tem como manifestação cultural, como espaço de socialização e integração de jovens e adultos, e como ferramenta de resistência aos problemas enfrentados pela comunidade. Essas contextualizações, que nem sempre estão presentes nos eventos, são de fundamental importância para compreendermos o papel cultural da manifestação, bem como a forma que se relaciona com suas sedes, com projetos sociais e enquanto patrimônio imaterial produzido pela comunidade, apesar das dificuldades. O locutor do evento foi convidado a coroar a rainha, que após ser reverenciada pelos brincantes e desfilar brevemente para o público, encerrou a apresentação. No momento em que o maracatu saiu da quadra, rapidamente a mesma voltou a ser utilizada pelos jogadores, antes mesmo que a estrutura, o som e o banner do maracatu fossem retirados.

Em abril, o Mercado da Aerolândia

equipamento recém-reformado com recorrentes programações aos fins de semana

recebeu o Maracatu Kizomba para edição do evento. É interessante perceber a coincidência que algumas vezes ocorre em relação a certa proximidade do local de apresentação com a sede do maracatu, o que poderia facilitar tanto no

deslocamento como na maior aproximação com o bairro ou comunidade que o maracatu pertence.

Enquanto se preparavam, os brincantes estavam divididos em seus respectivos cordões para organizarem seus materiais, as indumentárias, com destaque para os jovens nos cordões de índios, pela agitação enquanto dividiam espelhos e se revezavam para fazer as pinturas tribais no rosto. Tal agitação também estava justificada pela presença de uma equipe de filmagem, que registrava o processo de preparação dos maracatus, entrevistavam a rainha e os responsáveis pelo grupo, além de representantes da SECULTFOR, responsável pelo evento.

Como o espaço do mercado não é tão extenso, não foi possível realizar um cortejo mais prolongado, como geralmente se faz nas praças. Dessa forma, o maracatu ocupou o espaço central livre, pois o mercado não é tão extenso, e é ocupado em sua maioria por quiosques e lojas. Assim, o mercado foi preenchido por porta estandarte, índias, africanos, baianas, balaieiro e a rainha, figura máxima do cortejo. A loa do carnaval de 2016 foi à principal utilizada, e a coroação, ponto alto do cortejo, teve uma peculiaridade em relação às demais coroações que já havia presenciado, pois todos os brincantes ficaram ajoelhados de frente para a rainha, enquanto a música para a coroação era entoada, o que proporciona a visualização não apenas de uma reverência feita pelos demais brincantes do grupo, mas todo o processo de ritualização realizado, com a coroação feita por representantes da SECULTFOR.

Após esse momento ritual, os brincantes voltaram às suas posições e finalizaram a apresentação com cortejo até a saída do mercado. Apesar de ter sido uma apresentação bem breve, atraiu os comerciantes das bancas do mercado e seus clientes, moradores próximos que acompanhavam de longe o cortejo, e demais pessoas que ocupavam a praça no momento de início da apresentação e se deslocaram até o mercado para prestigiarem o grupo.

A Praça do Mirante, localizada no Vicente Pizón, recebeu o maracatu Nação Iracema na programação do mês de maio. A princípio, é comum associar o bairro ao discurso da violência e insegurança. O centro da praça, que é um dos pontos mais altos do bairro, possui uma base fixa da polícia militar, com circulação de guardas na área. Porém, mas do que apenas a presença de policiamento, a área pareceu bastante utilizada para diversas finalidades. Estava ocorrendo um ensaio de percussão com alguns jovens, bem próximo onde o maracatu se preparava para a apresentação, regido por um dos brincantes que estavam no batuque do maracatu que deveria se apresentar em breve. Além disso, havia uma programação marcada para acontecer após apresentação do maracatu, com um palco montado que a princípio parecia pertencer ao maracatu, mas na verdade estava apenas montado antecipadamente para um evento

gospel, enquanto ao lado estavam os equipamentos de som e o banner do Dia 25 é dia de maracatu.

Em todos os eventos, geralmente são distribuídos cartões postais com uma fotografia do maracatu e o histórico do mesmo no verso, entretanto esse formato foi alterado, possuindo agora a letra da loa utilizada pelo maracatu no ano de 2016. É interessante perceber este novo formato utilizado pelo material como estratégia de difusão das letras, pois geralmente estas não são distribuídas no carnaval, e na internet geralmente só são disponibilizadas por alguns grupos em suas páginas de

facebook

ou no

youtube

.

O locutor do evento anunciava o evento e convidava a vizinhança para assistir à apresentação, sempre enfatizando as programações anteriores - nunca as posteriores - dos demais meses do ano, a importância da difusão dos maracatus, detalhes sobre o dia do maracatu comemorado no mês de março e a presença do maracatu de Pernambuco que veio se apresentar, bem como a patrimonialização e importância do maracatu. Sobre o Nação Iracema, foi enfatizado o fato da rainha (Seu Almeida) ser a mais antiga em atividade de todos os maracatus, bem como a premiação recebida pelo grupo pela melhor loa de 2016, em homenagem a Fortaleza. A premiação, não existente nos carnavais anteriores, teria sido criada para incentivar os maracatus a homenagear a cidade e pelos 290 anos que Fortaleza completava em 2016. A

loa é intitulada “A chegada dos

caboclos

–Porangaba do Bom Jesus dos Aflitos”, relacionado