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3. Resultados e Discussão

3.1 Associação entre parâmetros

Na associação entre o uso de um protocolo de sincronização pós-parto e metrite/endometrite avaliou-se se o facto de o animal ter tido doença uterina no pós-parto influenciou a decisão ou não de se realizar um protocolo de sincronização. Das vacas que tiveram metrite/endometrite diagnosticada, um protocolo de sincronização de cio foi aplicado em 73% (n=184) enquanto nas vacas a que não foi diagnosticada doença uterina, um protocolo de sincronização de cio foi aplicado somente em 69% (n=261), ou seja, há uma associação negativa entre ambas, no entanto essa associação não foi estatisticamente significativa neste caso (p=0,315). Para se realizar um protocolo de sincronização de cio numa vaca, esta já tem de ter iniciado a ciclicidade ovárica, isto é, presença de folículos com determinadas dimensões e/ou presença de corpo lúteo no ovário e involução uterina a 100%. Se foi feito um protocolo de sincronização estes fatores tinham de estar presentes, ou seja, em princípio o animal tem de ter recuperado totalmente de uma metrite/endometrite pós- parto.(Sheldon et al. 2002).

O diagnóstico de metrite/endometrite está positivamente associado ao intervalo parto-1ªIA, apesar de não ser estatisticamente significativo (p=0,174). Na correlação entre metrite/endometrite e o intervalo parto-1ªIA explora-se se o facto de o animal ter tido uma metrite/endometrite, influenciou ou não a altura em que o animal era inseminado pela primeira vez. Mais uma vez, para isto acontecer, tem de ser feita uma avaliação reprodutiva ao animal, isto é, avaliar o nível de involução uterina e função ovárica. A literatura disponível salienta que, a ocorrência de metrite e endometrite vai aumentar o número de dias desde o parto até à primeira inseminação e que a ocorrência de doença uterina tem um papel bastante relevante quando falamos de infertilidade num efetivo, sendo que aumenta em média 7,3 dias o intervalo desde o parto á primeira inseminação (Lewis 1997; Bell and Roberts 2007)

Doença uterina (metrite/endometrite)

P value Parâmetros n SIM (Média±DP) N NÃO (Média±DP) Intervalo parto-1ªIA 188 95,35±44,10 257 89,9±30,1 p=0,174 Intervalo parto-conceção 157 151,55±87,72 252 142,4±80,0 p=0,282 Número de IA 188 2,62±2,08 257 2,32±1,8 p=0,090

Intervalo 1ºIA-IA fecundante 157 58,79±78,46 252 52,5±73,1 p=0,361

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Segundo um estudo de 2015, a taxa de conceção ao primeiro serviço difere em animais que apresentam doença uterina no pós-parto e que não apresentam, sendo que para os primeiros essa taxa é de 34.5% e em animais com descarga uterina mucopurulenta fétida essa taxa diminui para os 16,6% (Piccardi et al 2015). Segundo um estudo de 2003 o intervalo parto-1ºIA em animais com endometrite aumenta 23 dias em relação a este mesmo intervalo para animais que não apresentaram doença no pós-parto(Kim and Kang 2003).

O diagnóstico de metrite tinha uma associação positiva com o número de dias decorridos entre primeira inseminação e inseminação fecundante, no entanto esta não foi estatisticamente significativa (p=0,361). A correlação entre metrite/endometrite e intervalo 1ºIA-IA fecundante já tem implícito o facto de o animal ter sido inseminado uma primeira vez, ou seja, o animal reunia as condições necessárias, anteriormente faladas, para haver uma primeira inseminação pós-parto. Avaliou-se assim se houve ou não influência da metrite/endometrite no tempo necessário para o animal conceber, isto é, intervalo entre 1ªIA- IA fecundante. Segundo o que está disponível na literatura, a doença uterina aumenta 15,4 dias em média, o intervalo entre a primeira inseminação e a inseminação fecundante (Lewis 1997).

A correlação entre metrite/endometrite e tamanho da exploração avaliava se ter mais ou menos animais afetava de alguma forma a saúde reprodutiva nos pós-parto, estará implícito que isso se pode dever quer ao tipo de maneio que está associado a explorações grande ou pequenas, ou às visitas do veterinário às explorações. Assim, o diagnóstico de metrite/endometrite não esteve associado ao tamanho da exploração na amostra em estudo (p=0,083).

A probabilidade de uma vaca ficar prenha se não tivesse um diagnóstico de metrite/endometrite era mais elevada (p <0,001). As vacas sem diagnóstico de metrite ficaram prenhas em 98% dos casos, enquanto as vacas a que foi diagnosticada metrite só tiveram um diagnóstico de gestação posterior positivo em 85% dos casos (independentemente do número de IA necessárias para obter uma gestação), ou seja, o diagnóstico de metrite/endometrite está positivamente associado, a ter ficado ou não gestante, sendo uma correlação altamente significativa.

Segundo um estudo de 2011 as taxas de conceção varia entre animais que apresentaram doença uterina no pós-parto e que não apresentaram, sendo que para os primeiros essa taxa é de 35% e para aqueles que apresentaram corrimento mucopurulento essa taxa diminui para os 25% (Dubuc 2011).

As vacas mais velhas tinham mais hipóteses de ter um diagnóstico de metrite, com as vacas com metrite diagnosticada a terem uma idade de 3,75 ± 1,58 anos e as sem metrite a terem 3,27 ± 1,27 anos de idade (p <0,001). Segundo um estudo de 2015, a taxa de prenhez

em animais com doença aumentou em vacas dos 2 aos 6 anos e diminuiu dos 7 aos 11 anos, independentemente da estratégia de refugo usada pela exploração (Shorten et al. 2015). Segundo outro estudo de 2015, as vacas primíparas têm uma probabilidade 1,58 vezes maior de vir a ter doença uterina do que uma vaca multípara (Piccardi et al 2015).

Apesar de estar positivamente associado a um diagnóstico anterior de metrite/endometrite, o número de IA necessárias para obter gestação não foi significativamente maior nesses caos (p=0,090). As vacas com metrite precisaram de 2,64 ± 2,11 IA enquanto as vacas sem metrite só precisaram de 2,32 ±1,78 IA até ficarem prenhas. A correlação entre o diagnóstico de metrite/endometrite e número de IA explora apenas o facto de serem necessárias mais ou menos inseminações até uma vaca conceber, se tiver tido um diagnóstico de metrite/endometrite na gestação anterior. A literatura disponível salienta que um animal com doença uterina precisa de cerca de 0,3 IA a mais do que se não apresentasse doença uterina no pós-parto (Lewis 1997). Segundo um estudo de 2011, os animais com doença uterina precisavam de cerca de 2,58 IA para conceberem enquanto os animais sem doença precisariam apenas de 2,02 IA (Izquierdo-Córdova et al 2011) Segundo um estudo de 2003 os animais que apresentaram endometrite no pós-parto precisavam de cerca de 1,9 IA para conceberem no primeiro serviço, enquanto os animais saudáveis precisaram apenas de 1,6 IA (Kim and Kang 2003).

A associação entre o diagnóstico de metrite/endometrite e o intervalo parto-conceção embora positiva, não foi estatisticamente significativa nesta população (p=0,282). Os animais com metrite tiveram um intervalo de 151,6±9 dias, enquanto esse intervalo foi de 142,4±80,1 dias nos animais sem metrite diagnosticada. A correlação entre o diagnóstico de metrite/endometrite e intervalo parto-conceção explora apenas o facto de uma metrite/endometrite influenciar o facto de uma vaca vir a conceber ou não uma próxima vez, ou se voltar, o intervalo ser maior do que o esperado em relação a um animal que não tenha tido problemas reprodutivos no pós-parto. Segundo Lewis (1997), o facto de um animal apresentar doença uterina no pós-parto aumenta em média o intervalo parto-conceção em 18 dias.

Segundo vários estudos, o intervalo parto-conceção é bastante afetado nos animais que apresentam doença uterina no pós-parto, sendo que segundo LeBlanc (2008), os animais doentes apresentam em média um aumento desse intervalo em 34 dias. No entanto segundo Piccardi (2015), esse intervalo aumenta em média 23 dias, e segundo Dubuc (2011) esse intervalo aumenta em média 25 dias, ou seja estes três estudos apresentados estão em concordância. Num estudo de 2011 é referido ainda que a presença de endometrite pode aumentar este intervalo em 7-31 dias (Izquierdo-Córdova et al 2011). Num estudo de 2003, é referido que os animais que apresentaram endometrite no pós-parto apresentaram um

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intervalo parto-conceção aumentado em cerca de 36 dias comparativamente aos animais que não apresentaram doença no pós-parto(Kim and Kang 2003).

O tamanho da exploração teve uma associação negativa com a idade ao parto, isto é, explorações mais pequenas têm vacas mais velhas a parir, tendo sido esta associação estatisticamente significativa (p=0,010). A correlação entre tamanho da exploração e idade ao parto explora se o efetivo de uma exploração, em termos do número de animais, vai de alguma forma influenciar a idade ao parto dos animais, estando implícito nesta questão, o maneio que é desenvolvido nessa exploração, e o tipo de refugo praticado. O tamanho da exploração teve uma associação negativa com o intervalo entre a 1ª IA-IA fecundante e intervalo parto- conceção, isto é, explorações mais pequenas tiveram um intervalo menor (p=0,014 e p <0,001 respetivamente). A correlação entre tamanho da exploração e intervalo 1ºIA-IA fecundante e intervalo parto-conceção, explorando o facto de haver influência ou não do tamanho da exploração nos dias que decorrem entre a primeira inseminação pós-parto e a inseminação fecundante e entre o parto e próxima conceção, analisa o tipo de maneio reprodutivo que está a ser feito nessa mesma exploração pelo veterinário e pelo proprietário.

Existiu uma correlação estatisticamente muito significativa entre o tamanho da exploração e o intervalo parto-conceção, que era mais curto em explorações mais pequenas; em explorações mais pequenas os animais conceberam mais cedo. Isto pode se dever ao facto de serem inseminadas mais cedo, ou seja, um melhor acompanhamento dos animais em termos de calendário de inseminações comparando com explorações de maior dimensão. Este facto também poderá ter estado relacionado com a saúde reprodutiva dos animais no pós-parto, uma vez que para haver uma decisão de inseminar um animal a um determinado momento no pós-parto, este tem de apresentar uma involução uterina completa, entre outros fatores, como por exemplo não apresentar doença uterina. Concluiu-se assim, que de alguma forma, as explorações de menor dimensão têm uma eficiência reprodutiva mais elevada, tendo em conta o intervalo parto-conceção.

Explorações com efetivos maiores aplicam mais vezes protocolos de sincronização de cios aos seus animais, ou seja, houve uma associação positiva muito significativa entre o tamanho da exploração e aplicação de protocolo de sincronização de cios (p <0,001). Observou-se que em explorações de maior dimensão havia uma aplicação maior de protocolos de sincronização de cios. Mais uma vez, este facto deveu-se ao tipo de maneio reprodutivo feito na exploração. Tendo em conta a experiência durante o estágio este facto deveu-se a um maior investimento por parte dos proprietários de explorações de maior dimensão.

O tamanho da exploração teve uma associação negativa estatisticamente muito significativa com o intervalo decorrido entre parto e diagnóstico/observação, ou seja, quanto maior era a exploração menor foi o número de dias que passaram desde o parto até que foi

feito um exame reprodutivo ao animal (p <0,001). A correlação entre o tamanho da exploração e o intervalo decorrido entre parto e diagnóstico/observação verifica se uma exploração com um efetivo maior ou menor tem influência na periodicidade das visitas de âmbito reprodutivo por parte do veterinário á exploração. O mesmo se deveu ao investimento feito pelos proprietários deste tipo de explorações, que se reflete num maior número de visitas de maneio reprodutivo.

As vacas mais velhas tiveram menos hipóteses de ter um diagnóstico de gestação positivo final, ou seja, a idade ao parto teve uma associação negativa com a probabilidade de ficar ou não gestante (p=0,009). Sabe-se que, vacas multíparas e mais velhas têm uma maior incidência de metrite/endometrite quando comparadas com vacas primíparas de primeira lactação (Meziane et al. 2013).

A correlação entre o número de IA e o diagnóstico final de gestação explora se o facto de uma vaca necessitar de várias IA, e isto acontece por variados motivos que foram discutidos oportunamente neste trabalho, sendo o principal e objeto de estudo o facto de ter um diagnóstico de metrite/endometrite, vai influenciar o facto de uma vaca vir a ficar prenha ou não. O número de IA teve uma associação negativa estatisticamente muito significativa com o diagnóstico final de gestação, ou seja quanto mais IA foram necessárias, menos hipóteses teve uma vaca de vir a ficar prenha (p <0,001). Isto é, quanto mais IA foram feitas, menor foi a probabilidade de uma vaca vir a ficar prenha. Presumivelmente, podemos concluir que se uma vaca está a ser inseminada constantemente e não está a ficar prenha, apresenta algum problema reprodutivo, ou existe algum problema de maneio por parte do inseminador.

O número de IA teve uma associação positiva estatisticamente muito significativa com aplicação de protocolos de sincronização de cios. A utilização de protocolos não só não diminuiu o número de IA necessárias para uma vaca ficar gestante como até esteve associado a mais IA (p <0,001). A correlação entre o número de IA e aplicação de protocolos de sincronização de cios avaliou se uma vaca fazer ou não protocolo de sincronização de cio no pós-parto, diminuiu ou não o número de vezes que tem de ser inseminada até ficar gestante, ou seja, na prática, explora a eficácia do uso de protocolos de sincronização de cio.

Existiu uma associação positiva entre o intervalo parto-1ª IA e Parto-Conceção, isto é, vacas que foram inseminadas mais cedo após o parto pela primeira vez, ficaram prenhas mais cedo (p=0,014). A correlação entre o intervalo parto-1ªIA e intervalo parto-conceção explora se o facto de uma vaca ter a primeira inseminação pós-parto mais cedo ou mais tarde vai ou não influenciar o facto de ficar prenha ou não.

A correlação entre o intervalo 1ªIA-IA Fecundante, intervalo parto-conceção e intervalo parto-1IA e aplicação de protocolo de sincronização de cios afere mais uma vez, a eficácia do uso de um protocolo de sincronização de cio e se este tem alguma influência positiva no

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maneio reprodutivo de uma exploração, isto é se há alteração, diminuição ou aumento, dos intervalos mencionados, sendo estes parâmetros básicos para estudar a eficiência reprodutiva de uma exploração.

Existiu uma associação positiva entre aplicação de protocolo de sincronização e intervalo Parto-1ª IA, intervalo parto-conceção e intervalo 1ªIA-IA fecundante, isto é, aqueles animais em que foi aplicado protocolo foram inseminados mais cedo (p <0,001), assim como aquelas em que foi aplicado protocolo ficaram prenhas mais cedo (p <0,001) e aquelas em que foi aplicado protocolo tiveram um intervalo menor entre a 1º IA e a IA fecundante (p <0,001), todas estas associações foram estatisticamente muito significativas. O uso de protocolos de sincronização de cio diminui o número de dias até á primeira inseminação pós parto, assim como os dias em aberto foram também menores em vacas que realizaram o protocolo de sincronização no pós-parto.(Pursley et al 1997).

É ainda de salientar que as taxas de conceção em vacas que não foram submetidas a protocolos de sincronização são tendencialmente maiores que aquelas que foram sujeitas a IATF, no entanto, uma vez que as vacas que não foram submetidas a protocolo de sincronização têm baixa expressão de comportamento de cio e essa deteção pareceu ser também pouco eficiente, essas taxas de conceção são de maior magnitude na vacas sujeitas a IATF.(Stevenson et al. 1999).

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