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A quebra do equilíbrio entre a contaminação bacteriana e os mecanismos de defesa uterinos contra os microrganismos envolvidos resulta sempre em doenças uterinas tais como metrite puerperal, endometrite, endometrite subclínica e piómetra (Foldi 2006). De referir, mais uma vez, que o período do pós-parto, devido a todas as mudanças fisiológicas típicas do mesmo, caracteriza-se por um período de baixa imunidade para o animal, o que torna o útero suscetível a ocorrência de doença uterina (Azawi 2008).

A imunidade uterina atua através dos mecanismos da imunidade inata e de imunidade adquirida (Galhano 2011). O sistema imunitário inato é o responsável principalmente por combater a contaminação bacteriana uterina através de um complexo sistema de defesa anatómico, fisiológico, fagocítico e inflamatório, sendo que a vulva, vestíbulo, vagina e cérvix atuam como barreiras físicas á contaminação bacteriana ascendente (Sheldon et al 2004;Bromfield et al. 2015;). O sistema de defesa imunitário inato baseia-se num padrão de recetores celulares de reconhecimento que se ligam a moléculas associadas a patógenos, denominado de PAMPs, sendo que o primeiro padrão de recetores a ser identificado foi o TLR4 em macrófagos, que se liga ao LPS (lipossacarídeo, endotoxina) (Healy et al., 2014). Esta ligação vai estimular a secreção de mediadores inflamatórios tais como citoquinas, interferão e fator de necrose tumoral, que por sua vez ativam mais células imunitárias do sistema hematopoiético para eliminar a contaminação bacteriana (Healy et al., 2014).

Em termos de defesas anatómicas, o epitélio simples ou pseudoestratificado colunar que cobre o endométrio contribui também para este mesmo efeito (Azawi 2008). As barreiras fisiológicas incluem o muco secretado pelas glândulas endometriais, e o muco secretado pela vagina e cérvix, principalmente durante a fase do estro, que impede a contaminação ascendente ( Sheldon et al 2004; Azawi 2008).

O principal componente do mecanismo fagocitário e inflamatório é a atuação dos neutrófilos e de anticorpos do sistema imunitário humoral (Azawi 2008). Os neutrófilos polimorfonucleares (PMN) são as células fagocitárias que desempenham um papel importante no combate à contaminação bacteriana do útero (Hammon et al. 2006; Leblanc 2014). Funcionam como a primeira linha de defesa celular a ser recrutada da circulação sanguínea periférica para o lúmen uterino, onde fagocitam, eliminam as bactérias e contribuem para a formação de pus (Sheldon et al 2004).

Como mencionado, as células PMN são as células mais eficazes no organismo a remover a contaminação bacteriana uterina. No entanto, alterações metabólicas e endócrinas na altura do parto modulam a ação destas células em termos de função fagocítica e expressão genética (Sheldon et al. 2009). Posteriormente, entram em ação os macrófagos com um papel

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fundamental na resposta imunitária do útero através da deteção dos componentes bacterianos (endotoxinas, peptidoglicanos). As endotoxinas e os peptidoglicanos são, pois, os responsáveis pela ativação da resposta imunitária das células do endométrio (Sheldon et al 2004).

A ativação da resposta imunitária é efetuada através de recetores de reconhecimento- padrão existentes no endométrio, que reconhecem e se ligam aos PAMPs (Sheldon et al 2004; Sheldon et al. 2009). Estes recetores de reconhecimento padrão são constituídos por TLR, que ativam a cascata de sinalização através da libertação de histamina e de citoquinas pró- inflamatórias onde se incluem o TNF-α e as IL, particularmente a IL-1 e IL-6 (Sheldon et al 2004; Foldi 2006). As citoquinas são as responsáveis pela pirexia e por providenciarem um feedback positivo como forma de aumentar a mobilização de células imunitárias (Sheldon et al 2004). Para além disso, são também responsáveis pela estimulação hepática das proteínas de fase aguda (Sheldon et al 2004).

Assim, a concentração das proteínas de fase aguda do sangue periférico, aumentam na altura do parto e, de seguida, decrescem concomitantemente com a eliminação da contaminação bacteriana e involução uterina (Sheldon et al 2004). As proteínas de fase aguda limitam o dano tecidular causado pela contaminação bacteriana e promovem a sua reparação (Williams et al. 2005).

Os muitos estudos disponíveis dizem-nos que existe uma associação entre concentrações circulantes de haptoglobina, uma proteína de fase aguda, e infeção uterina após o parto (Huzzey et al. 2009). A haptoglobina liga-se á hemoglobina e assim inibe a proliferação bacteriana reduzindo a disponibilidade do ferro (Hirvonen et al. 1997; Huzzey et al. 2009).

Sabe-se que quando a concentração de progesterona se encontra a um nível basal, os animais são resistentes a doença uterina, sendo que quando esta se encontra em valores aumentados, estes tornam-se bastantes suscetíveis a incidência de doença (Azawi 2008). Uma prova deste mesmo facto é não haver aparecimento espontâneo de doença uterina até á primeira ovulação e formação do primeiro CL. No entanto, a contaminação bacteriana pode ser suficiente para se desenvolver uma metrite puerperal, que acontece geralmente nos primeiros dias do pós-parto, mesmo com concentrações de progesterona num nível basal (Azawi 2008).

Um grupo de animais no pós-parto que foi exposto a infusões intrauterinas de T. pyogenes

e E.coli quando as concentrações de progesterona se encontravam num nível basal não

desenvolveram doença uterina, enquanto aqueles animais cujas infusões foram feitas quando estes se encontravam em fase lútea desenvolveram doença uterina (Azawi 2008; Sheldon et al. 2008).

Já o estradiol tem uma função bastante positiva na proteção contra doença uterina, causando um aumento de secreção de muco cervico-vaginal, que só por si já tem um papel essencial na proteção do endométrio contra agentes patogénicos, funcionando como barreira fisiológica contra os mesmos (Azawi 2008).

Sabe-se também, que quando a progesterona se encontra em níveis basais e o estradiol em níveis altos (durante o estro), há um aumento da produção uterina de PGF2α assim como

um leucotrieno endometrial, sendo que ambos, têm um papel essencial na prevenção do desenvolvimento de doença uterina, atuando no aumento da quimiotaxia dos neutrófilos e estimulando a produção de citoquinas pro-inflamatórias que aumentam a fagocitose e ação de linfócitos (Azawi 2008).

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