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O diagnóstico de doença uterina é essencial para que se possa fazer um tratamento adequado e atempado ao tipo de infeção presente, quantificar a gravidade da doença e emitir um prognóstico sobre a futura fertilidade do animal, sendo esta a informação chave que os produtores procuram aquando de um diagnóstico médico veterinário (Sheldon et al. 2006).

Neste momento não existe um diagnóstico “gold standard” para doença uterina, que assim torna o diagnóstico impreciso, com falta de sensibilidade e especificidade, sendo que também há pouca informação disponível sobre a correlação entre a observação clínica de doença e a sua histopatologia (Sheldon et al. 2006). As ferramentas disponíveis para diagnóstico de doença uterina são várias: palpação transrectal do útero com ou sem recurso a ultrassonografia, vaginoscopia, cultura bacteriana, biópsia endometrial e citologia endometrial (Lewis 1997; Sheldon et al. 2006; Azawi 2008; Savc et al. 2016).

A palpação transrectal é neste momento o método mais comum de diagnóstico usado em campo por médicos veterinários. No entanto, também é considerado como sendo o mais inespecífico e com menos sensibilidade, uma vez que varia muito em termos de experiência de cada operador, não dando informação em termos de performance reprodutiva futura do animal. Através deste método é possível avaliar o cérvix e útero em termos de tamanho, simetria e consistência, assim como verificar o nível da involução uterina, no entanto esta varia muito entre animais, não sendo assim uma técnica fiável para avaliação da mesma (Lewis 1997; Azawi 2008; Barrio et al. 2015).

Aliando a esta técnica, na ultrassonografia pode ainda ser avaliado de uma forma mais objetiva o diâmetro dos cornos uterinos e cérvix e visualização de material mucopurulento no lúmen uterino, no entanto, não há evidência de que esta técnica dê mais informação do que

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uma simples análise manual da descarga vaginal presente para diagnóstico de endometrite clínica (Sheldon et al. 2006).

O método de vaginoscopia é um procedimento direto que permite avaliar as características do muco presente na vagina e cérvix exterior, enquanto permite determinar a origem do muco presente na vagina (Leblanc et al. 2002; Williams et al. 2005). O método de vaginoscopia para a deteção da presença de pus e conteúdo cervical é a melhor ferramenta para diagnosticar endometrite (Leblanc et al. 2002). O exame do conteúdo vaginal, por palpação vaginal ou vaginoscopia, com a presença de material purulento no seu interior é o melhor procedimento em termos de diagnóstico para doença uterina, sendo este facto sempre correlacionado com a presença de microrganismos patogénicos no útero (Leblanc et al. 2002; Sheldon et al. 2006, 2008)

O tipo, cor e odor do muco vaginal pode ser caracterizado através de uma escala para diagnóstico de endometrite e está altamente correlacionado com o tipo de crescimento bacteriano patogénico presente no útero nesse momento (Williams et al. 2005; Azawi 2008). A descarga vaginal pode variar, em termos de aspeto, desde um vermelho-acastanhado escuro a sanguinolento ou amarelado e, geralmente, não deve ser considerado como uma descarga anormal a não ser que esteja presente odor, seja de que tipo for, ou outros sinais clínicos concomitantes (Lewis 1997; Azawi 2008).

Em termos de odor existe uma escala que vai de 0 a 3, sendo o 0 correspondente a um muco sem odor e 3 a um muco com odor fétido (Sheldon et al. 2006). Em termos de aspeto, existe uma escala que vai de 0 a 3, sendo o 0 correspondente a um muco transparente ou claro, o 1 corresponde a um muco com flocos esbranquiçados de pus, o 2 é uma descarga vaginal que contém <50% de material purulento e o 3 corresponde a uma descarga que contem > 50% de material purulento branco ou amarelado ou mesmo material sanguinolento em muitas ocasiões, como podemos observar na Figura 1 (Sheldon et al. 2006). Esta escala diagnóstica é bastante importante em termos de prognóstico de fertilidade para o animal assim como para estabelecer uma terapêutica (Sheldon et al. 2008).

De referir que apesar de ainda ser uso comum o vaginoscópio, hoje em dia existe uma nova ferramenta para este tipo de diagnóstico designado de Metricheck® (Simcro, Nova Zelândia) (Sheldon et al. 2006).

Uma cultura bacteriana é uma ferramenta de diagnóstico essencial para determinar a etiologia da doença uterina (Lewis 1997; Leblanc et al. 2002; Sheldon et al 2004; Azawi 2008;). A maneira mais prática de obter amostras para cultura, é através do uso de zaragatoas, que irão caracterizar a população bacteriana anaeróbica e aeróbica presente no útero nesse momento do pós-parto (Lewis 1997). Apesar de estas culturas serem bastante informativas, estas não devem ser o único fator preponderante no que toca ao facto de decidir se um animal

deve ou não ser tratado para doença uterina, sendo que aliado a esse facto, deve-se também ter em conta o facto de ser um método de diagnóstico dispendioso e demorado, e assim a maior parte dos produtores não está disposto a fazê-lo (Lewis 1997).

As biópsias endometriais são boas ferramentas de diagnóstico para detetar a natureza de um problema de infertilidade num animal, sendo que quando a combinamos com cultura bacteriológica nos permite chegar a conclusões mais precisas sobre o futuro reprodutivo do mesmo (Azawi 2008). As amostras devem ser recolhidas de mais do que um local, e devem ser recolhidas também depois do primeiro dia do pós-parto (Lewis 1997). Para se delinear um prognóstico em relação à fertilidade do animal aquando da realização deste método de diagnóstico, devem-se ter em conta a presença ou ausência de alguns fatores, tais como: inflamação, fibrose periglandular e degeneração quística glandular (Azawi 2008). Em suma, este teste de diagnóstico revelou-se com bastante validade científica no que concerne a fazer um prognóstico em relação a fertilidade futura do animal. No entanto, a realização da técnica em si representa riscos para o animal e pode vir a comprometer a sua performance reprodutiva futura, além disso é uma técnica dispendiosa e demorada (Lewis 1997; Sheldon et al. 2006; Azawi 2008).

A citologia endometrial é uma ferramenta chave para diagnosticar endometrite subclínica ou crónica, uma vez que se esta estiver presente o animal não vai apresentar mais nenhum sinal clínico de doença ou inflamação (Mateus et al. 2002; Azawi 2008; Dubuc et al. 2010). A base do exame citológico é a resposta inflamatória celular que se dá aquando da presença de doença uterina crónica, isto é, endometrite subclínica, sendo esta caracterizada pela presença de neutrófilos no lúmen uterino (Azawi 2008). As duas técnicas usadas nesta ferramenta de diagnóstico são as lavagens uterinas e técnica citológica de “cytobrush” (Barrio et al. 2015). Os animais são diagnosticados com endometrite subclínica se evidenciarem na citologia uterina > 18% de neutrófilos entre os dias 21-33 pós parto ou >10% entre os dias 34- 47 do pós parto (Pascottini et al., 2016). De realçar que esta técnica é também pouco utilizada por ser dispendiosa e demorada (Barrio et al. 2015).

Através das definições de doença uterina previamente mencionadas, dirige-se o diagnóstico consoante os sinais clínicos, fazendo assim uma classificação consoante os mesmos. No entanto, para isto é preciso fazer um exame do trato reprodutivo o mais completo possível, recorrendo a uma das técnicas de diagnóstico previamente mencionadas, sendo que devemos antes destas, começar por realizar uma inspeção manual (Sheldon et al. 2006). Em primeiro lugar, devemos fazer uma limpeza adequada da zona do períneo, mantendo o foco na vulva, usando material adequando descartável e limpo, passando de seguida á introdução da mão na vagina, com uma luva descartável devidamente lubrificada, retirando uma amostra de muco vaginal para observação (Sheldon et al. 2008).

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O diagnóstico da metrite puerperal baseia-se, maioritariamente, na sintomatologia observada durante o exame clínico geral. Dos sinais previamente descritos, a presença de um corrimento uterino aquoso, vermelho-acastanhado e com um forte odor fétido, acompanhado ou não pelos sinais sistémicos de doença, são suficientes para determinar a presença da infeção uterina, sendo que este corrimento é um sinal claro de metrite puerperal. A consistência e o odor do corrimento refletem o número de bactérias presentes no útero, que, no caso do odor, passa a fétido após o terceiro ou 4º dia nos casos de metrite puerperal tóxica e, mais tarde, entre o dia seis e o dia 10 do pós-parto, nos casos menos graves (Foldi et al 2006; Galhano 2011).

O diagnóstico de piómetra é feito principalmente por palpação transrectal, recorrendo ao uso de ultrassonografia, uma vez que através desta técnica é possível observar sinais claros de um útero aumentado de tamanho com conteúdo purulento uterino no lúmen, cérvix fechado e um CL no ovário (Foldi 2006). Para diagnosticar piómetra pode ainda recorrer-se á medição de progesterona no leite ou plasma (Sheldon et al. 2006).

O diagnóstico definitivo de endometrite baseia-se em análises histopatológicas de tecido endometrial, sendo que estes conseguem predizer a subsequente fertilidade do animal. No entanto é uma técnica bastante cara e demorada e, assim, pouco usada no dia-a-dia, ou seja, o exame clínico da descarga vaginal apresentada pelo animal é o meio de diagnóstico de eleição em trabalho de campo (Sheldon et al. 2006).

Para concluir, os meios de diagnóstico para os diferentes tipos de doença uterina estão neste momento estandardizadas na literatura disponível, no entanto o diagnóstico clássico para doença uterina, seja ela de que tipo for, é ainda bastante impreciso, e existe bastante discordância entre autores (Lewis 1997).

Figura 2. Escala de diagnóstico para endometrite. 0-muco translúcido; 1-muco contendo flocos

de pus; 2-muco com <50% de material purulento; 3-muco contendo <50% de material purulento Adaptado de Sheldon et al 2006.

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