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Efeitos da doença uterina na eficiência reprodutiva de bovinos leiteiros

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Efeitos da doença uterina na eficiência reprodutiva de

Bovinos Leiteiros

Dissertação de

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Maria João de Almeida Pires

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Efeito da doença uterina na eficiência reprodutiva

de Bovinos Leiteiros

Dissertação de

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Maria João de Almeida Pires

Orientador: Doutor Miguel Nuno Pinheiro Quaresma

Composição do Júri:

Professora Doutora Ana Celeste Bessa

Professor Doutor Filipe Silva

Professora Doutora Maria da Conceição Medeiros

Professor Doutor Miguel Quaresma

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DECLARAÇÃO

NOME: Maria João de Almeida Pires

CORREIO ELECTRÓNICO: maria-joao_22@hotmail.com

DESIGNAÇÃO DO MESTRADO: Mestrado Integrado Em Medicina Veterinária

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA:

Efeitos da metrite puerperal na eficiência reprodutiva de Bovinos Leiteiros

ORIENTADORES:

Doutor Miguel Nuno Pinheiro Quaresma

ANO DE CONCLUSÃO: 2017

Declaro que esta dissertação de mestrado é resultado da minha pesquisa e trabalho pessoal e das orientações dos meus supervisores. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico.

Vila real, 8 de Setembro de 2017

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Agradecimentos

As linhas que se seguem não são mais do que o mais sincero reconhecimento a todos aqueles que de uma forma ou outra estiveram presentes no meu percurso ao longo de estes últimos 6 anos que se concluem neste trabalho.

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, na pessoa do Magnífico Reitor, a todos os professores, técnicos, auxiliares e demais funcionários, o meu obrigada.

Gostaria de começar por agradecer ao Doutor Miguel Quaresma, orientador deste trabalho dissertativo, cuja ajuda, conselhos, conhecimentos e experiência foram uma mais-valia para o sucesso deste projeto.

Um grande beijinho de obrigada ao Dr. Miguel Costa por me ter introduzido no dia-a-dia do médico veterinário e por toda ajuda que me deu, inclusivamente na escolha do tema para este trabalho e pela disponibilização dos dados. Quero também agradecer a todos os membros da Cooperativa Agrícola de Vila do Conde, por todo o apoio que me foi dado ao longo do estágio. Não posso deixar de agradecer aos restantes Médicos Veterinários com quem trabalhei ao longo de todo o estágio curricular em grandes animais, Dr. Sérgio Pereira, Dr. Christopher Burrows e Dr. Mário Rui Amaro.

Uma palavra especial à Sara Leitão, que será sempre a pessoa que marcou o meu percurso em Vila Real, estando presente desde o primeiro dia, por tudo o que me deu e por estar ao meu lado nos piores e melhores momentos.

Quero dedicar também um enorme agradecimento ao meu fiel companheiro de casa Christophe Martins, por todos os momentos únicos dos últimos dois anos, as memórias permanecerão certamente.

Um enorme obrigado a todos os meus colegas de Veterinária que iniciaram este percurso comigo, nada teria sido igual sem eles.

Não poderia deixar de mencionar os meus pais pelo apoio incondicional, carinho, dedicação e amor que sempre me deram ao longo desta jornada e de toda a minha vida, nunca teria conseguido chegar aqui sem eles.

Um beijinho muito especial aos meus restantes amigos que nunca me abandonaram, e que foram essenciais durantes estes anos, Sara Gonçalves, Cristina Aguiar Pinto e Patrícia Azevedo.

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Resumo

O período do pós-parto é um período de grande importância na vida reprodutiva de uma vaca leiteira, em que é bastante comum o desenvolvimento de doença uterina. A função uterina no pós-parto está frequentemente comprometida devido à contaminação bacteriana presente neste período, e pela persistência de microrganismos no lúmen uterino, causando assim doença e consequentemente infertilidade. Esta doença está associada a taxas de conceção mais baixas, aumenta o intervalo desde o parto à primeira inseminação e conceção. Aumenta também a taxa de refugo nas explorações.

O desenvolvimento desta doença estará sempre dependente do balanço entre fatores tais como a imunidade do animal, outros fatores intrínsecos, número e patogenicidade dos microrganismos e o próprio ambiente uterino. Sabe-se que cerca de 25-40% dos animais apresentam metrite puerperal nas duas primeiras semanas do pós-parto, sendo que em 20% dos mesmos há persistência da doença para endometrite clínica.

Foi objetivo deste trabalho o estudo do efeito da doença uterina na performance reprodutiva de bovinos leiteiros de 11 explorações distintas, na bacia leiteira de Vila do Conde. A recolha de dados compreendeu o ano de partos e período pós-parto de 2015. Para esse efeito usaram-se os seguintes parâmetros: intervalo parto-1ªIA, intervalo parto-conceção, intervalo 1ªIA-IA fecundante, taxa de prenhez e número de IA. Além destes parâmetros foi ainda estudada a relação da doença uterina com outros fatores tais como tamanho da exploração, uso de protocolo de sincronização, tempo decorrido entre parto-observação do animal e número de lactações.

Neste estudo verificou-se que a incidência de doença uterina nas explorações foi de 42%. Em relação à sua correlação com os parâmetros reprodutivos mencionados, verificou-se que essa não foi estatisticamente significativa. Apesar deste facto, foram verificadas correlações estatisticamente significativas entre doença uterina e a probabilidade de uma vaca vir a ficar gestante novamente (p <0,001), assim como uma correlação altamente significativa entre a idade ao parto e a ocorrência de metrite, sendo que as vacas mais velhas tinham uma maior probabilidade de vir a ter a doença (p <0,001).

Além da correlação entre doença uterina e os parâmetros reprodutivos estudados, foram ainda estudadas correlações entre outros parâmetros, como o caso da correlação da idade ao parto e tamanho da exploração (p <0,010). Ou seja explorações mais pequenas apresentam animais mais velhos a parir, este facto dá-nos informação sobre o tipo de maneio que está a ser feito nessas mesmas explorações, sendo que presumivelmente os animais são refugados mais tarde.

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Palavras-chave: vaca leiteira, pós-parto, doença uterina, contaminação bacteriana,

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Abstract

The postpartum period has a great importance in the reproductive life of a dairy cow, in which the development of uterine disease is quite common. The postpartum uterine function is frequently compromised due to bacterial contamination at this time, and by the persistence of microorganisms in the uterine lumen, thus causing disease and consequently infertility. This disease is associated with lower conception rates, increases the interval from calving to first insemination and conception. It also increases the culling rate of dairy farms.

The development of this disease will always depend on the balance between factors, such as the animals’ immunity, other intrinsic features, number and pathogenicity of the microorganisms and the uterine environment itself. It is known that about 25-40% of the animals present puerperal metritis in the first two weeks of postpartum, and in 20% of them there is persistence of the disease for clinical endometritis.

The objective of this work was to study the effect of uterine disease on the reproductive performance of dairy cattle from 11 distinct farms in Vila do Conde. Data collection includes the year of calving and the postpartum period of 2015. For this purpose, the following parameters were used: interval from calving to first insemination service, interval from calving to conception, interval from first service to conception, pregnancy rate and AI number. Besides the parameters stated above, other factors were studied regarding the relation of uterine disease on other parameters, such as size of the farm, use of synchronization protocols, time between calving and observation of the animal and age.

In this study, the incidence of uterine disease in the dairy farms was 42%. The relation of the uterine disease with the reproductive parameters, was not statistically significant in this case. Despite of this fact, statistically significant correlations were verified between uterine disease and the likelihood of a cow becoming pregnant again (p<0.001), as well as a statistically significant correlation between the age at calving and the occurrence of metritis, with older cows being more likely to have the disease (p <0.001).

In addition to the correlation between uterine disease and the reproductive parameters studied, other correlations were also studied among other parameters, like the statistically significant correlation between age at calving and size of the farm (p <0.010). In other words, smaller farms present older animals calving, this fact gives us information about the husbandry being done in these farms.

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Key words: dairy cow, postpartum, uterine disease, bacterial contamination, reproductive performance.

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Índice

PARTE I

1.Período Pós-Parto……….. 1

1.1 Função uterina………..

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1.2 Actividade ovárica……….

3

2.Doença uterina……… 5

2.1.1 Metrite puerperal e Metrite clínica……….. 6

2.1.2 Endometrite clínica e subclínica……….. 7

2.1.3 Piómetra……….. 9

2.2. Fatores de risco……… 9

2.3 Etiopatogenia………. 11

2.4 Mecanismos de defesa uterinos………. 12

2.5 Diagnóstico de doença uterina………... 15

2.6 Impacto reprodutivo……….. 18

2.7 Impacto económico……….. 22

2.8 Tratamento………. 23

2.8.1 Terapia antibiótica: infusões intrauterinas e sistémicas………

24

2.8.2 Terapia hormonal……….. 26

2.8.3 Terapia de suporte……… 28

2.8.4 Terapias emergentes……… 29

2.9 Prognóstico e evolução clínica…………...……… 30

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PARTE II

1.Objectivos………

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2.Materiais e Métodos……….. 36

2.1 Explorações e animais………. 36

2.2 Método de recolha de dados……….. 37

2.3 Definição dos parâmetros utilizados……….. 39

2.4 Análise estatística………. 40

3. Resultados e Discussão………. 41

3.1 Associação entre parâmetros………. 45

3.2 Considerações sobre a recolha de dados……… 50

4. Conclusões………. 53

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Índice de figuras

Figura 1: Tipo de descarga uterina apresentada por um animal com metrite……… 7

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Índice de tabelas

Tabela 1: Comparação dos parâmetros escolhidos entre explorações………... 41

Tabela 2: Percentagens de aplicação de protocolo de sincronização de cios e

ocorrência de metrite entre explorações……….. 42

Tabela 3: Estatística descritiva dos diferentes parâmetros utilizados……….. 43

Tabela 4: Resultados dos parâmetros reprodutivos em vacas com e sem doença

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Lista de abreviaturas, siglas, símbolos ou acrónimos

® – Sinal de registado % – percentagem > – maior < – menor kg – quilograma mg – miligrama ºC – graus Célsius ml – mililitro

AGNEs – Ácidos gordos não-esterificados AINEs – Anti-Inflamatórios não esteroide BHBA – Beta-hidroxibutirato

CL - Corpo Lúteo

DAE – Deslocamento Abomaso à Esquerda FC – frequência Cardíaca

FR – frequência Respiratória

FSH – Hormona folículo-estimulante

GnRH – Hormona libertadora de gonadotrofinas IA – Inseminação Artificial

IL – Interleucinas IM – Intra-muscular

LH – Hormona luteinizante LPS - Lipopolisacarideo

PAMPs - Padrões moleculares associados aos patogénicos PGE – Prostaglandina E2α

PGF2α – Prostaglandina F2α PMN - células polimorfonucleadas RP – Retenção placentária

SC – Sub-cutâneo

TLR – Toll Like Receptors TR – temperatura rectal UI - Unidades Internacionais

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I. Revisão Bibliográfica

1.Período pós-parto

O período do pós-parto, ou puerpério, corresponde ao período decorrente entre o final do parto e o momento em que os processos fisiológicos de recuperação da gestação devem levar o trato genital ao seu estado pré-gestante. É um período essencial para a vida reprodutiva do animal e consequentemente para a capacidade deste vir a ficar gestante novamente (Galhano 2011). Durante este período existem alguns fatores que devem ser salientados e que comprometem diretamente a fertilidade dos animais, como ciclos éstricos anormais por alterações na ciclicidade ovárica, baixa expressão de cio e doenças do trato reprodutivo, como metrite e endometrite (Sheldon 2011a).

O período pós-parto pode ser dividido em três etapas distintas (Kozicki 1998):

1. Período puerperal, iniciando-se este depois da expulsão do feto e das membranas fetais, continuando-se até que a hipófise adquira a capacidade de resposta á GnRH (7ª até ao 14ª dia pós-parto)

2. Período intermédio, cujo início corresponde ao término do período anterior e vai até ao momento em que ocorre a primeira ovulação, sendo que a duração deste período é muito variável.

3. Período pós ovulatório, que se inicia após a primeira ovulação, estendendo-se até à altura em que a involução uterina está completa, que deverá acontecer por volta da 6ª semana pós parto.

A rapidez com que se obtém nova gestação depende da rapidez com que o trato reprodutivo volta a um estado pré-gravídico, isto é, tem de haver uma recuperação anatómica e funcional do mesmo (Mateus et al. 2002). O tempo necessário para que o trato reprodutivo do animal volte a este estado vai depender de vários fatores, tais como a raça do animal, tipo de maneio reprodutivo da exploração, que inclui o tipo de alimentação e fatores ambientais e, principalmente, problemas que o animal possa ter durante o parto, tais como distócias, partos gemelares ou ainda doenças do pós parto tais como mamite ou doença uterina (Kindahl et al. 1999).

O restabelecimento da função uterina, assim como o retorno á ciclicidade ovárica, devem ser o mais rápidos possível, com o objetivo do animal estar apto a conceber novamente (Sheldon 2011b). Está demonstrado que vacas com doenças reprodutivas no pós-parto apresentam quer uma involução uterina retardada quer um atraso no retorno á ciclicidade ovárica (Leslie 1983).

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1.1 Função uterina

Idealmente no período do pós-parto não deveria ocorrer infeção uterina, uma vez que a involução uterina, fechamento do cérvix e fluxo unidirecional de lóquios deveriam prevenir contaminação bacteriana do mesmo (Gustafsson et al 2004). No entanto estas condições nem sempre se verificam e, dependendo da suscetibilidade do próprio animal assim como das condições de higiene onde se encontra, pode haver ou não infeção bacteriana. (Gustafsson et al 2004). Assim, a vaca leiteira tem geralmente contaminação bacteriana uterina, que poderá estar associada a doença clínica, sendo que esta se verifica em 40% dos animais (Sheldon 2011b).

De realçar que deve ser feita uma distinção entre contaminação bacteriana e infeção, uma vez que contaminação bacteriana não é sinónimo de infeção, sendo que 80-100% dos animais têm bactérias no seu lúmen uterino até 2 semanas pós parto e podem não vir a desenvolver doença uterina (Sheldon et al. 2008). Para haver doença uterina tem de haver persistência de bactérias patogénicas no lúmen uterino. Essas bactérias surgem quando durante o parto há quebra de barreiras físicas do cérvix, vagina e vulva, tornando o animal suscetível a invasão bacteriana ascendente provenientes do ambiente e da própria superfície do animal (Sheldon et al 2004).

A contaminação bacteriana uterina pós parto é uma situação dinâmica, uma vez que há eliminação da mesma, e recontaminação nas primeiras semanas pós parto, em vez de apenas uma contaminação única no momento do parto (Sheldon et al 2004), ou seja a involução uterina que deveria ser um evento asséptico, é em vez disso, na maioria das vezes uma situação que envolve bastante contaminação bacteriana, uma vez que os lóquios são um meio excelente para proliferação bacteriana (Leslie 1983).

O lóquio é um líquido uterino produzido nos primeiros dias após o parto, e é constituído maioritariamente por fragmentos de membranas fetais, fragmentos uterinos, sangue, bactérias e células leucocitárias (Galhano 2011). De salientar, que está demonstrado que vacas com uma involução uterina prolongada, também tiveram um período prolongado de concentrações altas de PGF2alfa no sangue em comparação com vacas com involução uterina normal (Leslie 1983).

O risco de doença uterina aumenta consideravelmente em caso de retenção de placenta ou em caso de parto distócico, sendo que em 100% das vezes em que estas situações estão presentes há contaminação bacteriana (Gustafsson et al 2004; Sheldon 2011b)

Para a função uterina ser reposta e o animal estar apto a conceber novamente, os eventos chave que devem acontecer são: involução uterina, que tem maior expressão entre o momento em que o animal pare até ao terceiro dia pós-parto (Leslie 1983), regeneração do

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endométrio e eliminação da contaminação bacteriana, sendo que o estímulo para que tudo isto aconteça é a expulsão do feto (segunda fase do parto) e respetivas membranas fetais (terceira fase do parto) (Sheldon et al. 2008).

A involução uterina e regeneração do endométrio é um processo complexo que envolve várias fases em tempos diferentes. Em primeiro lugar, logo após o parto, dá-se a eliminação das carúnculas e começa a regeneração do endométrio (Slama 1991). Além das alterações endometriais que começam logo após o parto, como referido, dão-se também ao mesmo tempo contrações do miométrio para haver expulsão de lóquio, fluidos placentários, sangue e outros exsudados uterinos (Slama 1991). A eliminação de carúnculas, que deve ser feita até ao dia 12 do pós-parto, contribui eficazmente para uma redução drástica do tamanho do útero, passando este de 13kg no momento do parto a cerca de 1kg três semanas depois, uma vez que estas representam cerca de metade do peso uterino no total (Sheldon et al. 2008).

A regeneração do endométrio dá-se superficialmente até ao dia 25 do pós-parto, no entanto as camadas mais profundas só se encontram totalmente regeneradas entre as 6 e as 8 semanas do pós-parto (Sheldon 2011b). Apesar de, na generalidade dos casos, o processo de involução uterina se desenrolar como descrito, observa-se que alguns fatores interferem temporariamente, prolongando-o. Os principais fatores responsáveis por estes atrasos na involução são: raça, idade, sazonalidade e nutrição (Galhano 2011).

1.1 Atividade ovárica

O reinício da atividade ovárica é outro dos processos do pós-parto que desempenha um papel fundamental na subsequente fertilidade da vaca leiteira, pois através da sua eficiência, é possível atingir o objetivo de ter um intervalo entre partos de 365 dias (Galhano 2011). É importante também referir que o retorno á ciclicidade ovárica facilita a involução uterina (Mateus et al. 2002).

Após a regressão do CL responsável por manter a gestação, que juntamente com a placenta exerceu uma retroação negativa sobre o eixo hipotálamo-hipófise responsável pela inatividade ovárica durante este período (Kozicki 1998), há geralmente um período anovulatório, que é bastante variável, antes da primeira ovulação ocorrer. Este período vai ser afetado por diferentes variáveis tais como: nível de nutrição, número de lactações, condição corporal, idade, patologias uterinas, entre outros (Savio et al. 1990).

Em relação ao restabelecimento da atividade ovárica, sabemos que cerca de metade das vacas leiteiras falham a primeira ovulação, no pós-parto e muitas delas acabam por apresentar ciclos éstricos irregulares, anestro, quistos ováricos ou prolongamento da fase

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lútea (Sheldon 2011a). Após o parto, as concentrações de estrogénio e progesterona decrescem até um nível basal e simultaneamente há um aumento dos níveis de FSH no plasma que estimula a emergência da primeira onda folicular pós-parto, onde há recrutamento de vários folículos ováricos que são gonadotrofino-dependentes. Desta série de folículos recrutados, geralmente apenas um será selecionado para ovulação, que será o folículo dominante (Kozicki 1998). Assim o primeiro folículo dominante é selecionado por volta do 12º dia pós-parto, em praticamente todas as vacas leiteiras, independentemente do desempenho reprodutivo que venham a ter (Sakaguchi et al. 2004; Sheldon et al. 2008). Esse folículo dominante tem a capacidade de inibir o crescimento de outros folículos, provocando nos mesmos, atresia folicular (Emerick et al. 2010).

Após a seleção desse folículo, existem três possíveis situações, que são: ovulação com formação do primeiro CL pós parto, (caso isto aconteça o animal está com a função ovárica reposta), atresia do mesmo, ou formação de um quisto ovárico (Beam and Butler 1997).

Através do uso de ultrassonografia por palpação transrectal, chegou-se á conclusão que o primeiro folículo dominante do pós-parto é preferencialmente selecionado no ovário contralateral ao corno uterino gravídico. Isto é um facto relevante, uma vez que a presença de folículos de grandes dimensões no ovário ipsilateral ao corno gravídico ate às 4 semanas pós-parto é um sinal de fertilidade melhorada (Sheldon et al. 2002).

Em situações normais, em resposta a uma secreção de estradiol por parte do folículo dominante, há um aumento da secreção de LH em forma de pulsos, libertada pela glândula pituitária, que irá culminar num pico de LH, que leva a que esse folículo ovule por volta dos 15-21 dias pós-parto (Sheldon 2011a). No entanto, apesar dessa primeira ovulação pós-parto os animais, em 90% das situações, não exibem sinais de cio, sendo estes denominados de cios silenciosos. Isto leva a que muitas das vezes os animais não sejam inseminados na altura certa (Sheldon 2011a).De salientar que uma primeira ovulação pós-parto demasiado cedo, na presença de infeção uterina, pode levar ao desenvolvimento de uma piómetra com persistência de um CL e pus no lúmen uterino (Mateus et al. 2002; Sheldon et al. 2008).

Em relação aos problemas reprodutivos que ocorrem no pós-parto, as infeções uterinas são responsáveis por afetarem a função lútea e por perturbarem o crescimento folicular e a função ovárica no geral (Sheldon et al. 2008). Observou-se ainda que quando ocorrem infeções uterinas, o crescimento do folículo dominante é menor e o seu tamanho encontra-se mais reduzido (Sheldon et al. 2002).

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2. Doença uterina

Qualquer doença uterina, no geral, irá sempre diminuir de alguma forma a eficiência reprodutiva do animal e assim afetar diretamente o potencial económico das explorações leiteiras. No entanto, como sabemos, nem todos os animais desenvolvem infeção uterina grave (Lewis 1997).

A definição de doença infeciosa uterina não é universal. No entanto, em termo lato, define-se como define-sendo uma contaminação uterina com persistência de bactérias patogénicas no define-seu interior, sendo que o facto de haver contaminação bacteriana só por si, que acontece sempre no pós-parto, já é um fator predisponente (Lewis 1997; Sheldon et al. 2006, 2008). A infeção em si, implica geralmente uma aderência de organismos patogénicos á mucosa, assim como a sua colonização e penetração do epitélio e/ou libertação de toxinas bacterianas que levam ao estabelecimento de doença (Sheldon et al. 2006).

Quando há doença uterina, ou seja persistência de bactérias patogénicas no útero, há infiltração de células inflamatórios no endométrio tais como neutrófilos, linfócitos e plasmócitos, necrose da superfície do epitélio com congestão e hiperémia, sendo que este pode vir a ser substituído por tecido fibroso, impedindo que o animal venha a ter uma gestação seguinte (Lewis 1997). Além disto, um fator essencial que vai influenciar o estabelecimento de doença uterina ou não é a resposta imunitária individual de cada animal assim como o tipo de bactérias que colonizaram o útero e o seu número (Sheldon et al. 2006).

O tipo de bactéria mais comumente associado a doença uterina, concomitantemente com Gram negativos como Fusobacterium necrophorum e Bacteroides spp , é a Trueperella, sendo que, quando este foi isolado da descarga uterina em animais depois dos 21 dias pós-parto os animais desenvolveram endometrite grave e nunca ficaram gestantes na primeira inseminação (Lewis 1997).

O estabelecimento de doença uterina vai depender também de alterações endócrinas que possam ocorrer no animal. Sabe-se que a progesterona libertada pelo primeiro CL pós-parto inibe o sistema imunitário do animal, predispondo o mesmo para o desenvolvimento de doença uterina, no entanto é de salientar que em muitos animais há doença uterina até as 3 semanas pós parto muito antes de haver ovulação do primeiro folículo dominante (Sheldon et al. 2006).

A descarga vaginal pós-parto ou lóquio, deve cessar por volta da segunda ou terceira semana pós-parto. Se houver persistência desta, aliada ao facto de ter um odor fétido e presença de material mucopurulento, é um sinal clínico claro de que existe doença uterina, sendo que pode ser ou não acompanhada de sinais sistémicos (Mateus et al. 2002)

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2.1.1 Metrite puerperal e Metrite clínica

A metrite, doença uterina em sentido lato, pode ser classificada em três graus ( Sheldon et al 2009;Galhano 2011; Sheldon 2011b; Galvão 2012; Pascottini et al 2016; Savc et al. 2016): - Grau 1 ou metrite clínica – animais com útero aumentado, corrimento uterino purulento sem sinais sistémicos de doença;

- Grau 2 ou metrite puerperal – animais com útero aumentado, corrimento aquoso e fétido, associado com sinais sistémicos (diminuição na produção de leite, apatia e sinais de toxemia) e hipertermia (TR> 39,5ºC);

-Grau 3 ou metrite tóxica – animais que apresentam sinais de toxemia, como apatia generalizada, extremidades frias, depressão e colapso, sendo que esta é a que apresenta pior prognóstico;

A metrite puerperal pode ainda ser definida como uma doença sistémica de carácter agudo, que se desenvolve devido a uma infeção uterina bacteriana, geralmente nos primeiros 21 dias após o parto, sendo que é mais comum nos primeiros 10 dias (Sheldon et al. 2006; Sheldon et al. 2009).

Com o aumento da gravidade da doença, os sinais locais são acompanhados por sintomatologia sistémica como hipertermia, que pode variar entre os 39,5ºC e os 41ºC, taquicardia (FC entre 96-120/minuto), taquipneia (FR entre 60-72/minuto), aumento dos ruídos respiratórios, depressão marcada, diminuição da produção de leite, diminuição das contrações ruminais ou estase ruminal, anorexia, desidratação e em alguns casos podem apresentar diarreia induzida pela toxemia(Galhano 2011; Foldi 2006). Estes animais têm um útero com aumento de dimensões, com atraso na involução uterina e uma descarga uterina fétida, aquosa, vermelho-acastanhada (Sheldon et al. 2006;Benzaquen et al. 2007).

Em contrapartida os animais que não apresentam alterações sistémicas, tal como pirexia, mas que no entanto têm um útero com aumento das duas dimensões com descarga vaginal até aos 21 dias pós parto devem ser classificados como apresentando uma metrite clínica (Sheldon et al. 2006:Leblanc et al. 2011).

Uma metrite envolve alteração de todas as camadas da parede uterina, já uma parametrite envolve também o ligamento suspensório, e uma perimetrite envolvimento também da serosa (Sheldon et al. 2006).

A inflamação provocada pela metrite é também facilmente distinguível por apresentar sinais evidentes de inflamação em todas as camadas do útero, tais como edema, infiltração de leucócitos e degeneração do miométrio, no entanto, os dois primeiros sinais podem também ser evidentes na endometrite (Sheldon et al. 2006).

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Do ponto de vista do patologista, uma metrite puerperal é uma doença inflamatória aguda devido a uma contaminação bacteriana massiva no lúmen uterino que leva a que os animais apresentem uma descarga vaginal pútrida (Foldi 2006).

Os processos degenerativos e infiltrativos consequentes a este facto levam a lesão do epitélio do lúmen uterino, assim como do epitélio glandular, sendo que estas lesões se podem estender a todas as camadas da parede uterina (Foldi 2006; Sheldon et al. 2006; Sheldon et al. 2009).

2.1.2 Endometrite clínica e subclínica

A endometrite é definida como uma inflamação superficial do endométrio, que não se estende para além do stratum spongiosum e que é caracterizada histologicamente por uma leve descamação da superfície epitelial, infiltração de células inflamatórias, congestão vascular, edema e acumulação de várias formas de linfócitos nas camadas superficiais do endométrio (Galhano 2011; Galvão 2012).

Durante o período pós-parto, como mencionado anteriormente, o útero apresenta sempre algum nível de contaminação bacteriana e possivelmente, 90% dos animais acabam sempre por desenvolver uma forma de endometrite menos grave. No entanto, na maior parte dos animais o sistema imunitário acaba por combater este problema, sendo que assim esta endometrite não patológica acaba por ficar resolvida em apenas alguns dias (Foldi 2006).

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Uma situação bastante comum é o facto de animais que desenvolveram uma metrite puerperal virem mais tarde a desenvolver uma endometrite clínica, devido a uma recuperação incompleta, uma vez que o útero permanece infetado com microrganismos (Foldi 2006).

Uma endometrite clínica pode ser caracterizada pela presença de inflamação endometrial com descarga uterina purulenta, isto é com mais de 50% de pus, ou mucopurulenta, isto é com 50% de pus e 50% de muco, 21 dias ou mais pós-parto, sendo que nunca é acompanhada por sinais sistémicos de doença (Gilbert et al. 2005; Sheldon et al. 2006).

Normalmente quando o conteúdo é purulento associamos a endometrite clínica depois dos 21 dias pós parto enquanto se o conteúdo for mucopurulento associamos a endometrite clínica após 26 dias pós parto (Sheldon et al. 2009). Histologicamente esta pode ser definida como uma alteração do epitélio endometrial com infiltrado de células inflamatórias (Dubuc et al. 2010).

A endometrite subclínica é caracterizada por uma inflamação apenas superficial do endométrio que resulta numa diminuição bastante significativa do desempenho reprodutivo do animal sem que haja sinais clínicos de endometrite clínica. Assim, a inflamação está presumivelmente associada a uma recuperação do tecido endometrial depois de uma endometrite clínica, trauma ou outras doenças reprodutivas não bacterianas (Sheldon et al. 2009).

A endometrite subclínica é por definição diagnosticada quando um animal evidencie na citologia uterina > 18% de neutrófilos entre os dias 21-33 pós parto ou >10% entre os dias 34-47 do pós parto (Sheldon et al. 2008; Pascottini et al .2016;). Para outros autores, uma endometrite subclínica é uma doença crónica aparentemente não inflamatória, que geralmente aparece depois da involução histológica completa do útero, ou seja durante ou após a oitava semana do pós-parto, sendo que esta é caracterizada por um endométrio extensivamente infiltrado com neutrófilos (Foldi 2006)

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2.1.3 Piómetra

Uma piómetra é definida como uma acumulação de material purulento ou mucopurulento no lúmen uterino com a sua consequente distensão, na presença de um CL persistente e um cérvix fechado (Sheldon et al. 2006, 2008). Na presença de uma endometrite clínica que ocorra depois da primeira ovulação, simultaneamente à formação de um CL, há uma grande probabilidade de se vir a desenvolver uma piómetra, uma vez que a progesterona secretada pelo mesmo faz com que haja fechamento do cérvix e assim leva a acumulação de exsudado no útero (Lewis 1997;Foldi 2006;).

Apesar da ocorrência de piómetra estar associada á presença de um corpo lúteo, não se sabe ainda se a doença ocorre por consequência da persistência deste ou se este ocorre por consequência da doença, e quais são os mecanismos responsáveis pelo seu aparecimento (Foldi 2006).

De realçar que em animais com endometrite clínica pode também haver a presença de um CL. No entanto não há fechamento do cérvix existindo uma descarga vaginal concomitantemente. Assim, uma endometrite clínica é uma situação bem mais comum que uma piómetra, sendo que esta representa menos de 5% dos casos de doença uterina no pós-parto (Sheldon et al. 2008)

2.2 Fatores de risco

As causas ou fatores de risco exatos que predispõe o animal a ter doença uterina no pós-parto ainda não estão totalmente esclarecidos. No entanto a literatura disponível diz-nos que há uma relação direta entre os vários fatores (Lewis 1997; Sheldon et al. 2008). Em relação aos principais fatores de risco para doença uterina, estes podem ser divididos em três tipos diferentes (Sheldon et al 2004):

1. Trauma uterino: morte fetal, partos gemelares, cesariana, retenção placentária e involução uterina atrasada;

2. Condições metabólicas: cetose, DAE e hipocalcemia;

3. Balanço entre patogenia e imunidade: tipo de flora bacteriana presente no lúmen uterino, administração ou não de glucocorticoides e progesterona, ou formação de CL e nível de higiene do ambiente envolvente em que o animal se encontra.

De salientar que o principal fator predisponente para o estabelecimento de doença uterina é a presença de Trueperella e outras bactérias Gram negativas no lúmen uterino, sendo que

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está claro que a doença uterina depende também do sinergismo entre as diferentes bactérias presentes no lúmen uterino num determinado momento (Lewis 1997;Giuliodori et al 2013;).

O número de lactações do animal pode também ser um fator que contribui para o estabelecimento de doença uterina, sendo que vacas primíparas têm uma probabilidade acrescida de ter metrite em relação às vacas no segundo e terceiro parto. A justificação para estes resultados deve-se ao facto de os animais apresentarem maior probabilidade de necessitarem assistência durante o parto e da ocorrência prévia de RP, sendo que o efeito da idade na metrite puerperal foi relatado em vários estudos. Num desses estudos, realizado em 1978, os autores concluíram que, a incidência da metrite puerperal em vacas de leite é maior nos animais com idades compreendidas entre os dois e os quatro anos e menor naqueles com mais de sete anos (Markusfeld 1987;Galhano 2011;). Noutro estudo realizado, verificou-se que a incidência é mais alta nas vacas com mais de dez anos, elevada nos animais entre os sete e os dez anos e mais baixa entre os dois e os quatro anos (Erb and Martin 1980).

A dieta pode também ter impacto, uma vez que animais alimentados com uma dieta deficiente em proteína demonstraram uma incidência mais elevada de doença uterina depois dos 40 dias pós parto que animais alimentados com uma dieta com nível de proteína adequado, já aos 25 dias pós parto não houve qualquer diferença(Ruder et al. 1981).

Num estudo efetuado nos Estados Unidos, observou-se que em explorações de maior dimensão, há um aumento na incidência da metrite puerperal (Kaneene et al. 1994). A explicação para o efeito do tamanho da exploração, na incidência da metrite puerperal, prende-se com a sobrelotação observada nas maternidades deste tipo de explorações, particularmente nas épocas com maior número de partos, visto que, nestas condições, as maternidades apresentam altos níveis de contaminação bacteriana (Galhano 2011). A dimensão da exploração é também um dos fatores que pode influenciar as condições de higiene nas instalações utilizadas como maternidades. Normalmente, verificam-se melhores padrões de higiene nas instalações utilizadas como maternidades em explorações de menor dimensão do que naquelas de dimensão superior (Foldi 2006).

De referir que em explorações com maior controlo veterinário, também há uma aparente maior incidência de metrite. Isto deve-se ao facto de haver um maior controlo de doença nestas explorações, isto é, é feito um diagnóstico de doença por parte do médico veterinário ao contrário das explorações onde apesar de poderem haver animais com doença uterina, a mesma não é diagnosticada (Kaneene et al. 1994).

Apesar de fatores como parto distócico ou mesmo realização de cesariana poderem ser fatores que podem ser controlados por seleção genética, assim como as doenças metabólicas controladas por um bom maneio pré-parto, como seja o exemplo da alimentação durante o período seco e início de lactação, o que é facto, é que a incidência de doença uterina se tem

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mantido inalterada durante os últimos 30 anos, o que nos diz que o controlo dos fatores de risco não tem um papel tão preponderante com se pensava (García 2004; Sheldon et al 2004).

2.3 Etiopatogenia

A etiologia da doença uterina é multifatorial e o desenvolvimento desta está dependente do balanço entre a imunidade intrínseca do animal e a patogenicidade dos microrganismos presentes no lúmen uterino no momento do pós-parto (Sheldon et al. 2009). Este balanço pode favorecer a doença, se estivermos na presença de fatores de risco, sendo exemplo um parto distócico, uma vez que o trauma tecidular vai facilitar a adesão e invasão de microrganismos no útero ou retenção placentária uma vez que a lóquio que fica no útero é um meio ideal para o crescimento de microrganismos (Sheldon et al. 2009).

Estes fatores aliados ao facto do animal apresentar um sistema imunitário debilitado na altura do parto predispõe ao mesmo á incidência de doença (Opsomer 2015). Outros fatores como o desenvolvimento de doenças metabólicas e infeciosas, deficiências nutricionais, alterações hormonais ou condições deficitárias de higiene do meio envolvente, são tudo condições que estão intrinsecamente relacionadas com a patogenia da doença uterina, uma vez que são fatores de risco (Pulfer and Riese 1991).

De realçar que a patogenia da doença uterina, ainda não está totalmente esclarecida na literatura disponível. No entanto, está demonstrado que a atividade fagocítica dos neutrófilos em explorações leiteiras de regime intensivo sofre um declínio na altura do parto (Hammon et al. 2006; Opsomer 2015).

Existem um vasto número de microrganismos que estão associados a doença uterina, sendo que os encontrados mais frequentemente no lúmen uterino destes animais são

Escherichia coli e Trueperella pyogenes. No entanto, é frequente encontrar uma variedade de

outros anaeróbios negativos tais como Prevotella spp, Fusobacterium necrophorum e

Fusobacterium nucleatum ( Williams et al 2005; Dubuc 2011; Leblanc et al. 2011; Opsomer

2015; Bromfield et al. 2015).

É de grande importância realçar que a Escherichia coli é geralmente encontrada nos primeiros dias ou primeira semana do pós-parto e pensa-se que este microrganismo influencia diretamente a subsequente colonização de outros vírus e bactérias, potenciando esse mesmo facto (Opsomer 2015). Em contrapartida, sabe-se ainda que, pode estar presente inflamação uterina em animais sem isolamento de bactérias no lúmen uterino (Leblanc et al 2011).

Além deste facto, é ainda possível encontrar bactérias no lúmen uterino, na altura do pós-parto, sem evidências de doença uterina, como sendo a presença de Sthaphilococus

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coagulase negativa e Streptococus hemolítico que diminuem o risco de endometrite (Foldi 2006; Sheldon et al. 2009)

Apesar das bactérias anteriormente mencionadas serem as mais comuns em casos de doença uterina, sabe-se que as lesões endometriais mais graves são causadas por algumas estirpes de T. Pyogenes, sendo que esta, em sinergismo com as anteriores, aumenta exponencialmente a gravidade e probabilidade de um animal vir a ter doença uterina, além de produzir um fator de crescimento para as anteriores (Sheldon et al 2004; Sheldon et al. 2009). O Fusobacterium necrophorum, por exemplo, produz ainda uma leucotoxina e a Prevotella produz uma substância que inibe a fagocitose (Sheldon et al 2004).

Relativamente ao aspeto da secreção vaginal, o corrimento mucoso e fétido está intimamente associado a um aumento da densidade de desenvolvimento bacteriano de algumas espécies. O T. pyogenes e a E. coli são as bactérias relacionadas com o odor fétido ao contrário do Fusobacterium necrophorum e Prevotella melaninogenicus. Este tipo de corrimento uterino pode ainda estar associado ao crescimento de Mannhemia haemolytica e

Streptococcus não-hemolíticos (Williams et al. 2005, Galhano 2011).

Além da presença de bactérias contribuir de maneira significativa para o estabelecimento de doença uterina, o mesmo acontece também com agentes virais, sendo o caso do vírus herpesvírus 4 bovino (BoHV-4) , o único agente viral consistentemente associado a doença uterina no pós-parto (Sheldon et al. 2009;Opsomer 2015;) . Este vírus tem alto tropismo para as células endometriais, apresentando uma replicação bastante rápida, destruindo células estromais e epiteliais durante este processo (Sheldon et al. 2009). De realçar que a incidência de bactérias e espécies vão gradualmente diminuindo com o aumento dos dias desde o parto (Foldi 2006).

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2.4 Mecanismos de defesa uterinos

A quebra do equilíbrio entre a contaminação bacteriana e os mecanismos de defesa uterinos contra os microrganismos envolvidos resulta sempre em doenças uterinas tais como metrite puerperal, endometrite, endometrite subclínica e piómetra (Foldi 2006). De referir, mais uma vez, que o período do pós-parto, devido a todas as mudanças fisiológicas típicas do mesmo, caracteriza-se por um período de baixa imunidade para o animal, o que torna o útero suscetível a ocorrência de doença uterina (Azawi 2008).

A imunidade uterina atua através dos mecanismos da imunidade inata e de imunidade adquirida (Galhano 2011). O sistema imunitário inato é o responsável principalmente por combater a contaminação bacteriana uterina através de um complexo sistema de defesa anatómico, fisiológico, fagocítico e inflamatório, sendo que a vulva, vestíbulo, vagina e cérvix atuam como barreiras físicas á contaminação bacteriana ascendente (Sheldon et al 2004;Bromfield et al. 2015;). O sistema de defesa imunitário inato baseia-se num padrão de recetores celulares de reconhecimento que se ligam a moléculas associadas a patógenos, denominado de PAMPs, sendo que o primeiro padrão de recetores a ser identificado foi o TLR4 em macrófagos, que se liga ao LPS (lipossacarídeo, endotoxina) (Healy et al., 2014). Esta ligação vai estimular a secreção de mediadores inflamatórios tais como citoquinas, interferão e fator de necrose tumoral, que por sua vez ativam mais células imunitárias do sistema hematopoiético para eliminar a contaminação bacteriana (Healy et al., 2014).

Em termos de defesas anatómicas, o epitélio simples ou pseudoestratificado colunar que cobre o endométrio contribui também para este mesmo efeito (Azawi 2008). As barreiras fisiológicas incluem o muco secretado pelas glândulas endometriais, e o muco secretado pela vagina e cérvix, principalmente durante a fase do estro, que impede a contaminação ascendente ( Sheldon et al 2004; Azawi 2008).

O principal componente do mecanismo fagocitário e inflamatório é a atuação dos neutrófilos e de anticorpos do sistema imunitário humoral (Azawi 2008). Os neutrófilos polimorfonucleares (PMN) são as células fagocitárias que desempenham um papel importante no combate à contaminação bacteriana do útero (Hammon et al. 2006; Leblanc 2014). Funcionam como a primeira linha de defesa celular a ser recrutada da circulação sanguínea periférica para o lúmen uterino, onde fagocitam, eliminam as bactérias e contribuem para a formação de pus (Sheldon et al 2004).

Como mencionado, as células PMN são as células mais eficazes no organismo a remover a contaminação bacteriana uterina. No entanto, alterações metabólicas e endócrinas na altura do parto modulam a ação destas células em termos de função fagocítica e expressão genética (Sheldon et al. 2009). Posteriormente, entram em ação os macrófagos com um papel

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fundamental na resposta imunitária do útero através da deteção dos componentes bacterianos (endotoxinas, peptidoglicanos). As endotoxinas e os peptidoglicanos são, pois, os responsáveis pela ativação da resposta imunitária das células do endométrio (Sheldon et al 2004).

A ativação da resposta imunitária é efetuada através de recetores de reconhecimento-padrão existentes no endométrio, que reconhecem e se ligam aos PAMPs (Sheldon et al 2004; Sheldon et al. 2009). Estes recetores de reconhecimento padrão são constituídos por TLR, que ativam a cascata de sinalização através da libertação de histamina e de citoquinas pró-inflamatórias onde se incluem o TNF-α e as IL, particularmente a IL-1 e IL-6 (Sheldon et al 2004; Foldi 2006). As citoquinas são as responsáveis pela pirexia e por providenciarem um feedback positivo como forma de aumentar a mobilização de células imunitárias (Sheldon et al 2004). Para além disso, são também responsáveis pela estimulação hepática das proteínas de fase aguda (Sheldon et al 2004).

Assim, a concentração das proteínas de fase aguda do sangue periférico, aumentam na altura do parto e, de seguida, decrescem concomitantemente com a eliminação da contaminação bacteriana e involução uterina (Sheldon et al 2004). As proteínas de fase aguda limitam o dano tecidular causado pela contaminação bacteriana e promovem a sua reparação (Williams et al. 2005).

Os muitos estudos disponíveis dizem-nos que existe uma associação entre concentrações circulantes de haptoglobina, uma proteína de fase aguda, e infeção uterina após o parto (Huzzey et al. 2009). A haptoglobina liga-se á hemoglobina e assim inibe a proliferação bacteriana reduzindo a disponibilidade do ferro (Hirvonen et al. 1997; Huzzey et al. 2009).

Sabe-se que quando a concentração de progesterona se encontra a um nível basal, os animais são resistentes a doença uterina, sendo que quando esta se encontra em valores aumentados, estes tornam-se bastantes suscetíveis a incidência de doença (Azawi 2008). Uma prova deste mesmo facto é não haver aparecimento espontâneo de doença uterina até á primeira ovulação e formação do primeiro CL. No entanto, a contaminação bacteriana pode ser suficiente para se desenvolver uma metrite puerperal, que acontece geralmente nos primeiros dias do pós-parto, mesmo com concentrações de progesterona num nível basal (Azawi 2008).

Um grupo de animais no pós-parto que foi exposto a infusões intrauterinas de T. pyogenes

e E.coli quando as concentrações de progesterona se encontravam num nível basal não

desenvolveram doença uterina, enquanto aqueles animais cujas infusões foram feitas quando estes se encontravam em fase lútea desenvolveram doença uterina (Azawi 2008; Sheldon et al. 2008).

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Já o estradiol tem uma função bastante positiva na proteção contra doença uterina, causando um aumento de secreção de muco cervico-vaginal, que só por si já tem um papel essencial na proteção do endométrio contra agentes patogénicos, funcionando como barreira fisiológica contra os mesmos (Azawi 2008).

Sabe-se também, que quando a progesterona se encontra em níveis basais e o estradiol em níveis altos (durante o estro), há um aumento da produção uterina de PGF2α assim como

um leucotrieno endometrial, sendo que ambos, têm um papel essencial na prevenção do desenvolvimento de doença uterina, atuando no aumento da quimiotaxia dos neutrófilos e estimulando a produção de citoquinas pro-inflamatórias que aumentam a fagocitose e ação de linfócitos (Azawi 2008).

2.5 Diagnóstico de doença uterina

O diagnóstico de doença uterina é essencial para que se possa fazer um tratamento adequado e atempado ao tipo de infeção presente, quantificar a gravidade da doença e emitir um prognóstico sobre a futura fertilidade do animal, sendo esta a informação chave que os produtores procuram aquando de um diagnóstico médico veterinário (Sheldon et al. 2006).

Neste momento não existe um diagnóstico “gold standard” para doença uterina, que assim torna o diagnóstico impreciso, com falta de sensibilidade e especificidade, sendo que também há pouca informação disponível sobre a correlação entre a observação clínica de doença e a sua histopatologia (Sheldon et al. 2006). As ferramentas disponíveis para diagnóstico de doença uterina são várias: palpação transrectal do útero com ou sem recurso a ultrassonografia, vaginoscopia, cultura bacteriana, biópsia endometrial e citologia endometrial (Lewis 1997; Sheldon et al. 2006; Azawi 2008; Savc et al. 2016).

A palpação transrectal é neste momento o método mais comum de diagnóstico usado em campo por médicos veterinários. No entanto, também é considerado como sendo o mais inespecífico e com menos sensibilidade, uma vez que varia muito em termos de experiência de cada operador, não dando informação em termos de performance reprodutiva futura do animal. Através deste método é possível avaliar o cérvix e útero em termos de tamanho, simetria e consistência, assim como verificar o nível da involução uterina, no entanto esta varia muito entre animais, não sendo assim uma técnica fiável para avaliação da mesma (Lewis 1997; Azawi 2008; Barrio et al. 2015).

Aliando a esta técnica, na ultrassonografia pode ainda ser avaliado de uma forma mais objetiva o diâmetro dos cornos uterinos e cérvix e visualização de material mucopurulento no lúmen uterino, no entanto, não há evidência de que esta técnica dê mais informação do que

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uma simples análise manual da descarga vaginal presente para diagnóstico de endometrite clínica (Sheldon et al. 2006).

O método de vaginoscopia é um procedimento direto que permite avaliar as características do muco presente na vagina e cérvix exterior, enquanto permite determinar a origem do muco presente na vagina (Leblanc et al. 2002; Williams et al. 2005). O método de vaginoscopia para a deteção da presença de pus e conteúdo cervical é a melhor ferramenta para diagnosticar endometrite (Leblanc et al. 2002). O exame do conteúdo vaginal, por palpação vaginal ou vaginoscopia, com a presença de material purulento no seu interior é o melhor procedimento em termos de diagnóstico para doença uterina, sendo este facto sempre correlacionado com a presença de microrganismos patogénicos no útero (Leblanc et al. 2002; Sheldon et al. 2006, 2008)

O tipo, cor e odor do muco vaginal pode ser caracterizado através de uma escala para diagnóstico de endometrite e está altamente correlacionado com o tipo de crescimento bacteriano patogénico presente no útero nesse momento (Williams et al. 2005; Azawi 2008). A descarga vaginal pode variar, em termos de aspeto, desde um vermelho-acastanhado escuro a sanguinolento ou amarelado e, geralmente, não deve ser considerado como uma descarga anormal a não ser que esteja presente odor, seja de que tipo for, ou outros sinais clínicos concomitantes (Lewis 1997; Azawi 2008).

Em termos de odor existe uma escala que vai de 0 a 3, sendo o 0 correspondente a um muco sem odor e 3 a um muco com odor fétido (Sheldon et al. 2006). Em termos de aspeto, existe uma escala que vai de 0 a 3, sendo o 0 correspondente a um muco transparente ou claro, o 1 corresponde a um muco com flocos esbranquiçados de pus, o 2 é uma descarga vaginal que contém <50% de material purulento e o 3 corresponde a uma descarga que contem > 50% de material purulento branco ou amarelado ou mesmo material sanguinolento em muitas ocasiões, como podemos observar na Figura 1 (Sheldon et al. 2006). Esta escala diagnóstica é bastante importante em termos de prognóstico de fertilidade para o animal assim como para estabelecer uma terapêutica (Sheldon et al. 2008).

De referir que apesar de ainda ser uso comum o vaginoscópio, hoje em dia existe uma nova ferramenta para este tipo de diagnóstico designado de Metricheck® (Simcro, Nova Zelândia) (Sheldon et al. 2006).

Uma cultura bacteriana é uma ferramenta de diagnóstico essencial para determinar a etiologia da doença uterina (Lewis 1997; Leblanc et al. 2002; Sheldon et al 2004; Azawi 2008;). A maneira mais prática de obter amostras para cultura, é através do uso de zaragatoas, que irão caracterizar a população bacteriana anaeróbica e aeróbica presente no útero nesse momento do pós-parto (Lewis 1997). Apesar de estas culturas serem bastante informativas, estas não devem ser o único fator preponderante no que toca ao facto de decidir se um animal

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deve ou não ser tratado para doença uterina, sendo que aliado a esse facto, deve-se também ter em conta o facto de ser um método de diagnóstico dispendioso e demorado, e assim a maior parte dos produtores não está disposto a fazê-lo (Lewis 1997).

As biópsias endometriais são boas ferramentas de diagnóstico para detetar a natureza de um problema de infertilidade num animal, sendo que quando a combinamos com cultura bacteriológica nos permite chegar a conclusões mais precisas sobre o futuro reprodutivo do mesmo (Azawi 2008). As amostras devem ser recolhidas de mais do que um local, e devem ser recolhidas também depois do primeiro dia do pós-parto (Lewis 1997). Para se delinear um prognóstico em relação à fertilidade do animal aquando da realização deste método de diagnóstico, devem-se ter em conta a presença ou ausência de alguns fatores, tais como: inflamação, fibrose periglandular e degeneração quística glandular (Azawi 2008). Em suma, este teste de diagnóstico revelou-se com bastante validade científica no que concerne a fazer um prognóstico em relação a fertilidade futura do animal. No entanto, a realização da técnica em si representa riscos para o animal e pode vir a comprometer a sua performance reprodutiva futura, além disso é uma técnica dispendiosa e demorada (Lewis 1997; Sheldon et al. 2006; Azawi 2008).

A citologia endometrial é uma ferramenta chave para diagnosticar endometrite subclínica ou crónica, uma vez que se esta estiver presente o animal não vai apresentar mais nenhum sinal clínico de doença ou inflamação (Mateus et al. 2002; Azawi 2008; Dubuc et al. 2010). A base do exame citológico é a resposta inflamatória celular que se dá aquando da presença de doença uterina crónica, isto é, endometrite subclínica, sendo esta caracterizada pela presença de neutrófilos no lúmen uterino (Azawi 2008). As duas técnicas usadas nesta ferramenta de diagnóstico são as lavagens uterinas e técnica citológica de “cytobrush” (Barrio et al. 2015). Os animais são diagnosticados com endometrite subclínica se evidenciarem na citologia uterina > 18% de neutrófilos entre os dias 21-33 pós parto ou >10% entre os dias 34-47 do pós parto (Pascottini et al., 2016). De realçar que esta técnica é também pouco utilizada por ser dispendiosa e demorada (Barrio et al. 2015).

Através das definições de doença uterina previamente mencionadas, dirige-se o diagnóstico consoante os sinais clínicos, fazendo assim uma classificação consoante os mesmos. No entanto, para isto é preciso fazer um exame do trato reprodutivo o mais completo possível, recorrendo a uma das técnicas de diagnóstico previamente mencionadas, sendo que devemos antes destas, começar por realizar uma inspeção manual (Sheldon et al. 2006). Em primeiro lugar, devemos fazer uma limpeza adequada da zona do períneo, mantendo o foco na vulva, usando material adequando descartável e limpo, passando de seguida á introdução da mão na vagina, com uma luva descartável devidamente lubrificada, retirando uma amostra de muco vaginal para observação (Sheldon et al. 2008).

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O diagnóstico da metrite puerperal baseia-se, maioritariamente, na sintomatologia observada durante o exame clínico geral. Dos sinais previamente descritos, a presença de um corrimento uterino aquoso, vermelho-acastanhado e com um forte odor fétido, acompanhado ou não pelos sinais sistémicos de doença, são suficientes para determinar a presença da infeção uterina, sendo que este corrimento é um sinal claro de metrite puerperal. A consistência e o odor do corrimento refletem o número de bactérias presentes no útero, que, no caso do odor, passa a fétido após o terceiro ou 4º dia nos casos de metrite puerperal tóxica e, mais tarde, entre o dia seis e o dia 10 do pós-parto, nos casos menos graves (Foldi et al 2006; Galhano 2011).

O diagnóstico de piómetra é feito principalmente por palpação transrectal, recorrendo ao uso de ultrassonografia, uma vez que através desta técnica é possível observar sinais claros de um útero aumentado de tamanho com conteúdo purulento uterino no lúmen, cérvix fechado e um CL no ovário (Foldi 2006). Para diagnosticar piómetra pode ainda recorrer-se á medição de progesterona no leite ou plasma (Sheldon et al. 2006).

O diagnóstico definitivo de endometrite baseia-se em análises histopatológicas de tecido endometrial, sendo que estes conseguem predizer a subsequente fertilidade do animal. No entanto é uma técnica bastante cara e demorada e, assim, pouco usada no dia-a-dia, ou seja, o exame clínico da descarga vaginal apresentada pelo animal é o meio de diagnóstico de eleição em trabalho de campo (Sheldon et al. 2006).

Para concluir, os meios de diagnóstico para os diferentes tipos de doença uterina estão neste momento estandardizadas na literatura disponível, no entanto o diagnóstico clássico para doença uterina, seja ela de que tipo for, é ainda bastante impreciso, e existe bastante discordância entre autores (Lewis 1997).

Figura 2. Escala de diagnóstico para endometrite. 0-muco translúcido; 1-muco contendo flocos

de pus; 2-muco com <50% de material purulento; 3-muco contendo <50% de material purulento Adaptado de Sheldon et al 2006.

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2.6. Impacto reprodutivo

O desempenho reprodutivo de um efetivo bovino é uma componente essencial do bom funcionamento de uma exploração intensiva de produção de leite, sendo que uma baixa fertilidade do efetivo reduz diretamente os lucros da mesma uma vez que afeta a quantidade de leite produzida mensalmente e o número de partos por ano (Strawderman and Emanuelson 2004;Hossein-Zadeh 2013). O grande objetivo do maneio reprodutivo em explorações leiteiras será sempre ter animais gestantes a um tempo biologicamente dito de ideal após o parto, sendo que esse mesmo tempo deve ser o mais economicamente rentável possível para o produtor (Sheldon et al. 2006).

A forte seleção genética de bovinos leiteiros, com o objetivo de maximizar a produção de leite, foi acompanhada de um declínio contínuo na fertilidade, sendo que o maneio da doença uterina no pós-parto assim como a função ovárica nas primeiras sete semanas pós-parto é essencial para prevenir que uma vaca venha a ser refugada por causas de infertilidade (Sheldon 2011b). Um baixo desempenho reprodutivo é muitas vezes responsável por altas taxas de refugo nas explorações, sendo que tem influência direta no futuro produtivo e reprodutivo da mesma (Maizon et al. 2004).

Para estudar os efeitos da doença uterina no desempenho reprodutivo é essencial ter critérios de diagnóstico bem definidos, assim como definições universalmente aceites para os diferentes tipos de doença existentes, o que ainda não acontece claramente hoje em dia (Leblanc et al. 2002). Sabe-se, no entanto, que a doença uterina, quer clínica quer subclínica, está associada a subfertilidade e infertilidade, mesmo depois de instituído tratamento. Este facto se traduz no aumento de alguns parâmetros reprodutivos, tais como intervalo parto-1ªinseminação, intervalo parto-conceção, aumento da taxa de refugo por causas de infertilidade assim como diminuição das taxas de conceção em 3-6%, aumento do número de dias até ao primeiro cio, dias em aberto, sendo que havia um aumento médio de 18 dias neste valor e número de IA necessárias para haver conceção (Sheldon et al. 2006, 2008; Williams 2013; Dawod 2014).

De salientar que o efeito negativo com maior expressão no desempenho reprodutivo de animais que apresentaram metrite puerperal no pós-parto é o aumento do número de dias em aberto, sendo que esse facto afeta negativamente todos os outros parâmetros (Fourichon et al. 2000; Overton and Fetrow 2008). Animais que apresentam endometrite no pós-parto tinham uma taxa de conceção, ao primeiro serviço, menor do que animais que não apresentaram doença uterina nesse mesmo período (29,8%vs.37,9%), complementando ainda com o facto de apresentarem um intervalo maior entre o parto e conceção seguinte (151

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dias vs.119 dias) e uma maior percentagem de animais refugados por infertilidade (6,7% vs.3,8%) (Leblanc et al. 2002; Sheldon et al. 2008).

De salientar ainda que animais que apresentaram endometrite no pós-parto e que conceberam no período seguinte, precisaram de 10% mais inseminações para esse mesmo efeito, do que animais sem endometrite (Leblanc et al. 2002). Num outro estudo, verificou-se que vacas que apresentavam diagnóstico de endometrite no pós-parto tinham uma probabilidade 27% menor de vir a ficar prenhas na gestação seguinte do que vacas que não apresentaram doença nesse mesmo período e 1,7 vezes maior probabilidade de virem a ser refugadas por razões de infertilidade (Gilbert et al. 2005).

Num outro estudo, comparando um grupo de animais com metrite puerperal com um grupo de animais sem metrite puerperal, verificou-se uma diminuição estatisticamente significativa no número de animais gestantes à primeira IA, um aumento no intervalo entre o parto e a conceção e um aumento do número de IA necessárias para resultarem em gestação (Galhano 2011). Em animais com endometrite, foi ainda relatado, uma diminuição das taxas de conceção em cerca de 20%, com intervalo parto-conceção 30 dias mais longo do que seria esperado (Sheldon et al 2004).

Em relação às consequências diretas que a doença uterina tem no desempenho reprodutivo dos animais, pode ser feita uma divisão em três situações distintas (Giuliodori et al. 2013; Bromfield et al. 2015):

- Perturbação do sistema endócrino por alterações no eixo hipotálamo-hipófise-gónadas; - Alteração da capacidade endometrial para suportar nova gestação;

- Desregulação ovárica com alterações diretas na qualidade dos oócitos produzidos. Em relação á perturbação do sistema endócrino, sabe-se que a exposição ao LPS, componente da membrana exterior de bactérias, no pós-parto ou mesmo uma administração sistémica do mesmo, diminui consideravelmente a secreção de GnRH pelo hipotálamo e consequentemente a secreção pulsátil de LH. Assim, a ovulação vai ser alterada, havendo um atraso da mesma (Battaglia et al. 1999; Bromfield et al. 2015).

O mecanismo específico pela qual a exposição ao LPS, secretado num local tão distante, afeta o eixo hipotálamo-hipófise não está neste momento esclarecido na literatura disponível. No entanto, alguns modelos experimentais apontam para o facto, do LPS entrar na circulação sistémica, atravessar a barreira hematoencefálica e chegar ao cérebro exercendo assim o seu efeito negativo sobre o mesmo que se traduz, como mencionado, numa alteração da dinâmica do ovário. O animal vai assim apresentar fases lúteas mais longas, ovulação atrasada, crescimento folicular lento e risco aumentado de anovulação, sendo que animais com doença uterina tinham menor probabilidade de vir a ovular o primeiro folículo dominante do pós-parto

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(Opsomer 2000; Sheldon et al. 2002; Sheldon et al. 2008; Konyves 2009; Bromfield et al. 2015).

No entanto, é de realçar que a doença uterina no pós-parto não teve efeitos nas concentrações de FSH plasmáticas ou na emergência de novas ondas foliculares (Sheldon et al. 2002). O LPS bacteriano tem ainda efeitos ao nível da produção de prostaglandina, sendo que estimula a produção de PGE2, com um efeito imunomodulador que contribui para o aumento da fase lútea, em vez da produção de PGF2α que tem uma ação luteolítica (Bromfield

et al. 2015). Além da ação específica do LPS, pode ser ainda referida a ação negativa de alguns imunomoduladores inflamatórios como citoquinas e endotoxinas, nas interações hormonais responsáveis pela atividade ovárica normal (Williams et al. 2001; Sheldon et al. 2002).

Em relação á alteração da capacidade endometrial para suportar nova gestação, é de salientar que para o mesmo não acontecer deve haver expulsão da placenta até 12h após o parto assim como contração uterina e do cérvix para expulsão de lóquios (Sheldon 2011b).

É facto, que a infeção uterina com persistência de bactérias patogénicas pode vir a impedir o estabelecimento de uma nova gestação, sendo que se esta infeção ocorrer após a conceção, há mortalidade embrionária (Sheldon et al. 2008).

Para combater a doença uterina, existem alguns mecanismos que atuam em conjunto para debelar a infeção, tais como a resposta dada por mediadores inflamatórios, o influxo de células imunitárias e a indução de fatores antimicrobianos. Sabe-se assim que estes fatores, em conjunto, contribuem ativamente para a infertilidade, mesmo em animais após resolução da infeção, sendo que a expressão endometrial de mediadores inflamatórios tais como IL 1A e IL 1B em vacas com infeção uterina, que consequentemente ficaram inférteis devido a esse mesmo facto, é bastante grande comparada com as vacas que voltaram a conceber novamente (Sheldon et al. 2008; Turner et al. 2014).

O simples facto da doença uterina provocar inflamação no endométrio, mais propriamente no stratum spongiosum, e o consequente dano tecidual desse processo, estão associados a uma performance reprodutiva diminuída, sendo que a presença de endometrite só por si causa infertilidade e depois da sua resolução, subfertilidade (Sheldon et al 2004). As bactérias responsáveis pelo estabelecimento de doença uterina, produzem fatores de virulência que têm efeitos diretos ao nível do endométrio, tais como dano tecidual e necrose, sendo que T.

pyogenes secreta uma molécula que causa hemólise e citólise das células endometriais

especialmente, células do estroma (Healy et al. 2014).

Em relação á desregulação ovárica, sabemos que é uma situação bastante comum em bovinos leiteiros, com cerca de 13% dos animais a apresentarem anestro anovulatório no pós-parto ou quistos ováricos e consequentemente falhando a ovulação do primeiro folículo

Imagem

Figura 1. Tipo de descarga uterina apresentada por um animal com metrite. Adaptado de Sheldon et al 2011
Figura 2. Escala de diagnóstico para endometrite. 0-muco translúcido; 1-muco contendo flocos  de pus; 2-muco com &lt;50% de material purulento; 3-muco contendo &lt;50% de material purulento  Adaptado de Sheldon et al 2006
Tabela 3. Estatística descritiva dos diferentes parâmetros utilizados.

Referências

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