• Nenhum resultado encontrado

Atingibilidade de Estados com Restri¸c˜oes de Controle

de Controle

Um problema importante que surge em diversas aplica¸c˜oes pr´aticas ´e aquele em que consideramos restri¸c˜oes `as vari´aveis de controle. Sob essas condi¸c˜oes ´e importante saber quais estados podem ser atingidos em um determinado intervalo de tempo. Consideramos novamente um sistema linear da forma (A, B):

(3.10) z0 = A(t) z + B(t) u,

onde as fun¸c˜oes matriciais

A : [t0, t1]7→ Rn,n, B : [t0, t1]7→ Rn,m

s˜ao supostas cont´ınuas. Impomos agora a seguinte restri¸c˜ao `as vari´aveis de controle: As estrat´egias (ou a¸c˜oes) de controle precisam ser escolhidas a partir de um conjunto fixado a priori. Seja Ω ⊂ Rm o conjunto ao qual est´a restrita a escolha das estrat´egias de controle. Denominamos Ω conjunto de controle (ou de a¸c˜oes) e a partir da´ı definimos o conjunto6

Uad(Ω) := {u ∈ L1([t0, t1]; Rm)| u(t) ∈ Ω q.s. em [t0, t1]}, que ´e chamado conjunto dos controles admiss´ıveis.

Defini¸c˜ao 37. Seja z0 ∈ Rn. O subconjunto do Rn definido por R(Ω; t0, z0, t1) :={z1∈Rn| (t0, z0)7−→ (tu 1, z1) para algum u∈ Uad(Ω)}

´e denominado conjunto ating´ıvel por z0. 2

Pelo que vimos at´e agora, podemos garantir que R(Ω; t0, z0, t1) = Rn quando Ω = Rm e (A, B) ´e control´avel em [t0, t1]. Analisamos nesta sec¸c˜ao o caso em que Ω ´e um subconjunto pr´oprio de Rm.

Teorema 38. Sejam Ω, Uad(Ω), R(Ω; t0, z0, t1) os conjuntos definidos acima. Se Ω ´e convexo e compacto, ent˜ao R(Ω; t0, z0, t1) tamb´em ´e con- vexo e compacto para todo z0∈ Rn.

6Nota¸c˜ao: q.s. ´e abrevia¸c˜ao de quase sempre e significa que determinada pro-

[SEC. 3.6: ATINGIBILIDADE DE ESTADOS COM RESTRIC¸ ˜OES DE CONTROLE 55 Demonstra¸c˜ao: Seja ΦA(·, ·) a matriz de transi¸c˜ao do sistema. Temos ent˜ao (3.11) R(Ω; t0, z0, t1) = {z1| z1 = ΦA(t1, t0) z0+ Z t1 t0 ΦA(t1, s) B(s) u(s) ds, u∈ Uad(Ω)}.

Logo, a compacidade de Ω e a continuidade das fun¸c˜oes A(·) e B(·) implicam na limita¸c˜ao do conjunto R(Ω; t0, z0, t1). Provamos agora que R(Ω; t0, z0, t1) ´e fechado. Seja y = lim

l→∞yl, onde yl∈ R(Ω; t0, z0, t1) para todo l∈ N. Logo, yl = ΦA(t1, t0) z0 + Z t1 t0 ΦA(t1, s) B(s) ul(s) ds, ul∈ Uad(Ω), l∈ N.

Como Ω ´e limitado, ent˜ao (ul)l∈N ´e uma seq¨uˆencia limitada em L1([t0, t1]; Rm) e, portanto, possui uma subseq¨uˆencia fracamente conver- gente.7 Suponha, sem perda de generalidade, que (u

l)l∈N ´e fracamente convergente. Ent˜ao existe u∈ L1([t

0, t1]; Rm), tal que lim l→∞ Z t1 t0 hw(t), ul(t)i dt = Z t1 t0 hw(t), u(t)i dt,

para todo w ∈ L∞([t0, t1]; Rm). Como Ω ´e fechado, temos que Uad(Ω) tamb´em ´e fechado.8 E como Ω ´e convexo, verifica-se facilmente que Uad(Ω) tamb´em ´e convexo. Sendo Uad(Ω) convexo e fechado, um resul- tado conhecido da an´alise funcional garante que Uad(Ω) ´e fracamente fechado. De onde conclu´ımos que u ∈ Uad(Ω). Portanto, para todo

7Dizemos que a seq¨uˆencia x

nconverge fraco para x no espa¸co vetorial normado X

(nota-se xn w

→ x) quando f (xn) → f (x) para todo funcional linear limitado f ∈ X0.

A conclus˜ao do texto segue de um conhecido teorema da an´alise funcional: (veja demonstra¸c˜ao em [Gr, Cap´ıtulo 3] ou [Leig, Cap´ıtulo 5]):

Teorema:[Banach–Alaoglu] Em todo espa¸co de Banach (de dimens˜ao finita ou n˜ao) a bola unit´aria ´e fracamente compacta.

8Aqui usamos o fato da convergˆencia fraca em L1([t

0, t1]; Rm) de uma seq¨uˆencia

56 [CAP. 3: CONTROLABILIDADE v∈ Rn temos que hv, yi = lim l→∞ hv, yli = lim l→∞{hv, ΦA(t1, t0)z0i + Z t1 t0 hv, ΦA(t1, s)B(s)ul(s)i ds} = hv, ΦA(t1, t0)z0i + lim l→∞ Z t1 t0 hB∗(s)ΦA(t1, s)∗v, ul(s)i ds = hv, ΦA(t1, t0)z0i + Z t1 t0 hB∗(s)ΦA(t1, s)∗v, u(s)i ds = hv, {ΦA(t1, t0)z0 + Z t1 t0 ΦA(t1, s)B(s)u(s) ds}i. De onde conclu´ımos que

y = ΦA(t1, t0) z0 + Z t1

t0

ΦA(t1, s) B(s) u(s) ds ∈ R(Ω; t0, z0, t1). Provando assim que R(Ω; t0, z0, t1) ´e fechado. O teorema de Heine-Borel garante que, em Rn, ser compacto ´e equivalente a ser simultaneamente fechado e limitado, portanto R(Ω; t0, z0, t1) ´e compacto. A convexi- dade de R(Ω; t0, z0, t1) segue da representa¸c˜ao afim de seus elementos em (3.11) e da convexidade de Ω.

Exemplo 39. Considere o sistema (A, B) com matrizes A = µ a 0 0 a ¶ , B = µ 1 0 0 1 ¶ .

O sistema (A, B) ´e totalmente control´avel, pois Po(B|AB) = 2. Logo, R(R2; 0, z0, T ) = R2 para todo z0 ∈ R2. Escolha agora Ω = {u ∈ R2| |u| ≤ r}, z0 = 0 e t0 = 0. Como a solu¸c˜ao do sistema possui a representa¸c˜ao

z(t) = Z t

0

ea(t−s)u(s) ds, podemos concluir que:

Se a > 0, ent˜ao R(Ω; t0, z0, t1) ={z ∈ R2| |z| ≤ ra−1(eat1 − 1)}. Logo, [

T >0

[SEC. 3.6: ATINGIBILIDADE DE ESTADOS COM RESTRIC¸ ˜OES DE CONTROLE 57 Se a < 0, ent˜ao R(Ω; t0, z0, t1) ={z ∈ R2| |z| ≤ r|a|−1(1−e−at1)}. Logo,

[ T >0

R(Ω; 0, z0, T ) = {z ∈ R2| |z| ≤ |a|−1r}.

2 Este exemplo mostra que a investiga¸c˜ao do fato de um determi- nado estado, em particular o estado z = 0, pertencer ao conjunto R(Ω; t0, z0, t1) para algum t1 > t0 ´e relevante no que diz respeito `a controlabilidade de um sistema. Esta quest˜ao ´e especialmente interes- sante quando observamos que 0 pode ser considerado como estado ideal a ser atingido.

Defini¸c˜ao 40. Dado Ω⊂ Rm, o sistema autˆonomo (A, B) ´e denominado Ω–control´avel ao zero em z0 quando

0∈ R(Ω; z0) := [ T >0

R(Ω; 0, z0, T ).

2 No lema a seguir discutimos condi¸c˜oes suficientes para obtermos a Ω–controlabilidade ao zero de sistemas de controle autˆonomos.

Lema 41. Seja (A, B) um sistema de controle autˆonomo, totalmente control´avel e Ω⊂ Rm. Se 0 ´e um ponto interior de Ω, ent˜ao para todo T > 0 existe uma vizinhan¸ca V de 0 em Rn tal que 0 ∈ R(Ω; 0, z0, T ) para todo z0 ∈ V .9

Demonstra¸c˜ao: Seja T > 0 e VT := R0T eAsBB∗eA

s

ds. Defina u L1([0, T ]; Rm), conforme o Teorema 34, por

u(t) := −B∗eA∗(T −t)VT−1eATz0, t∈ [0, T ].

Este mesmo teorema nos garante que (0, z0)7−→ (T, 0). Como a aplica¸c˜aou [0, T ]3 t 7→ e−tA∗ ∈ Rn,n´e cont´ınua e [0, T ] compacto, ent˜ao existe uma constante m > 0 tal que

|u(s)| ≤ m |z0| para todo [0, T ] e todo z0 ∈ Rn.

Como 0∈ Int(Ω), existe R > 0 tal que BR(0)⊂ Ω. Definindo δ = Rm−1 e V = Bδ(0), temos que |u(s)| ≤ m δ = R, ∀t ∈ [0, T ], z0 ∈ V , i.e. u(s)∈ Ω, ∀t ∈ [0, T ], z0∈ V , provando o teorema.

9Adotamos a seguinte nota¸c˜ao: y ∈ Rm´e um ponto interior de Ω quando existe

r > 0 tal que Br(0) := {v ∈ Rm| |v| ≤ r} ⊂ Ω. Um conjunto V ´e denominado

vizinhan¸ca de y ∈ Rmquando existe r > 0 tal que B

58 [CAP. 3: CONTROLABILIDADE No teorema a seguir analisamos a rela¸c˜ao entre a controlabilidade de um sistema autˆonomo e os autovalores da matriz do sistema.

Teorema 42. Seja (A, B) um sistema autˆonomo e Ω ⊂ Rm limitado. S˜ao v´alidas as afirma¸c˜oes:

a) Se 0 ´e um ponto interior de Ω, o sistema (A, B) ´e completamente control´avel e existem constantes m≥ 0 e ω > 0 tais que

(3.12) keAtk ≤ m e−ωt, t∈ [0, ∞), ent˜ao 0∈ R(Ω; z0) para todo z0∈ Rn;

b) Se a matriz A possui um autovalor com parte real positiva, ent˜ao existe z0∈ Rn tal que 06∈ R(Ω; z0).

Demonstra¸c˜ao: Provamos primeiro a). Seja T1 > 0. O Lema 41 nos garante a existˆencia de uma vizinhan¸ca W de 0 tal que 0∈ R(Ω; 0, w0, T1) para todo w0 ∈ W . De (3.12) temos que, para todo z0 ∈ Rn, existe um T2 (suficientemente grande) tal que eAT2z0 ∈ W . Defina w0 := eAT2z0 e escolha a estrat´egia u∈ L1([0, T

1]; Rm) de forma que (0, w0) 7−→ (Tu 1, 0). Note agora que o controle ¯u definido por

¯ u(t) := ½ 0 , 0≤ t ≤ T2 u(t− T2) , T2≤ t ≤ T2+ T1 satisfaz (0, z0)7−→ (Tu¯ 1+ T2, 0).

Provamos agora b). Seja λ = α + iβ um autovalor de A∗ com α > 0 e w = w1+ iw2 o autovetor correspondente. Temos ent˜ao

A∗w1 + iA∗w2 = (α + iβ)(w1 + iw2), |w1| + |w2| 6= 0 e portanto

A∗w1 = αw1 − βw2, A∗w2 = βw1+ αw2. Tome x ∈ Rn satisfazendo q := hx, w

1i2 + hx, w2i2 6= 0 e seja u∈ L1loc([0,∞); Rm). A partir da solu¸c˜ao z do sistema z0 = Az + Bu(t), z(0) = x, definimos a fun¸c˜ao

[SEC. 3.6: ATINGIBILIDADE DE ESTADOS COM RESTRIC¸ ˜OES DE CONTROLE 59 e obtemos para t≥ 0 a estimativa

v0(t) = 2(hz0(t), w1i hz(t), w1i + hz0(t), w2i hz(t), w2i) = 2(hz(t), A∗w1i hz(t), w1i + hz(t), A∗w2i hz(t), w2i)

+ 2(hBu(t), w1i hz(t), w1i + hBu(t), w2i hz(t), w2i) =: I1(t) + I2(t).

Da defini¸c˜ao de w1, w2 obtemos agora I1(t) = 2αv(t). Como Ω ´e limi- tado, temos ainda

|I2(t)|2 = 4(hBu(t), w1i hz(t), w1i + hBu(t), w2i hz(t), w2i)2 ≤ 8(c1hz(t), w1i2 + c2hz(t), w2i2)

≤ c2|v(t)|2, t≥ 0,

onde a constante c independe de u e x. Logo, |I2(t)| ≤ c

p

v(t), t≥ 0. Podemos ent˜ao afirmar que

v0(t) ≥ ψ(v(t)), t ≥ 0,

onde ψ(s) := 2αs− c√s, s∈ R. Como ψ(s) > 0 para s > ( c2α )2 =: s 0, temos que v ´e mon´otona crescente caso a escolha de x satisfa¸ca v(0) > s0.10 Neste caso a estrat´egia u n˜ao poder´a satisfazer (0, x) 7−→ (T, 0)u para nenhum T > 0. Como u∈ L1loc([0,∞); Rm) foi escolhido de forma arbitr´aria, conclu´ımos que para este x certamente 06∈ R(Ω; x). O caso real β = 0 ´e demonstrado de forma an´aloga.

Note que a condi¸c˜ao imposta em (3.12) no Teorema 42 ´e equivalente a exigir que a matriz A possua apenas autovalores negativos.

Exemplo 43. Considere o sistema de controle obtido da EDO z(n) +

n−1 X j=0

ajz(j) = u.

Como sabemos, este sistema ´e totalmente control´avel se tomamos Ω = R (veja Exemplo 31). Escolha agora como conjunto de controle Ω := [−ω, ω] ⊂ R. Caso o polinˆomio caracter´ıstico do sistema acima possua apenas ra´ızes com parte real negativa, podemos concluir que o sistema de controle associado a EDO ´e Ω–control´avel ao zero. 2

10Se n˜ao for esse o caso, podemos sempre substituir x por um m´ultiplo seu ade-

60 [CAP. 3: CONTROLABILIDADE