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2.   A SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL 20

2.2   ATITUDE 31

O interesse pelo estudo das atitudes linguísticas partiu e continua sendo objeto de pesquisa da psicologia social. Neste campo do conhecimento, Pickens (2006, p. 44) cita

Allport (1935)16, que “definiu a atitude como um estado mental ou neural de prontidão, organizado através da experiência, exercendo uma influência diretiva ou dinâmica sobre a resposta do indivíduo a todos os objetos e situações a que se relaciona”. No entanto, opta por uma definição mais simples: “um estado de espírito ou uma tendência a agir de determinada maneira, devido à experiência e ao temperamento de um indivíduo”. Explicando tal definição, propõe um modelo tricomponente, formado por sentimentos, pensamentos e ações:

As atitudes são uma complexa combinação do que se tende a chamar de personalidade, crenças, valores, comportamentos e motivações. Como exemplo, podemos entender quando alguém diz: “Ela tem uma atitude positiva em relação ao trabalho” versus “Ela tem uma atitude pobre em relação ao trabalho.” Quando falamos da atitude de alguém, estamos nos referindo às emoções e ao comportamento da pessoa. A atitude de uma pessoa em relação à medicina preventiva abrange o seu ponto de vista sobre o tema (por exemplo, o pensamento), como ele ou ela se sente sobre esse assunto (ex., a emoção), bem como as ações (ex., comportamentos) nas quais ele ou ela se engaja como um resultado da atitude para prevenir problemas de saúde. Este é o modelo tricomponente de atitudes [...]. Uma atitude inclui três componentes: afeto (sentimento), cognição (um pensamento ou crença) e comportamento (uma ação)17 (PICKENS, 2006, p. 44).

Para o autor, embora os componentes crença e atitudes sejam internos, é possível perceber a atitude da pessoa pelo comportamento. Pickens afirma ainda que as atitudes: (i) são provenientes do aprendizado e das experiências; (ii) influenciam decisões; (iii) guiam comportamento; (iv) podem ser medidas e alteradas. Atitudes seriam formadas ao longo da vida no processo de socialização do indivíduo e incluiriam formação de valores e crenças durante a infância, influenciados não só pela família, religião e cultura, mas também por fatores socioeconômicos (PICKENS, 2006, p. 50). Garrett (2007) igualmente afirma que as crenças se formam na infância e acrescenta que durante a fase adulta são difíceis de mudar.

No prefácio do Manual de actitudes, que reúne diversos artigos de psicólogos sociais pesquisadores de diferentes universidades, Albarracín, Johnson e Zanna (2005, p. 5) esclarecem que o livro representa “uma análise detalhada de atitudes em relação a outros constructos psicológicos importantes (especialmente os sentimentos, crenças e comportamentos), além de uma seção mais integrada, com foco nos processos e nas

16 ALLPORT, G. W. Attitudes. In: MURCHISON, C. (Ed.). Handbook of social psychology. Worcester, MA:

Clark University Press, 1935, p. 798-844.

17 Attitudes are a complex combination of things we tend to call personality, beliefs, values, behaviors, and

motivations. As an example, we understand when someone says, “She has a positive attitude toward work” versus “She has a poor work attitude.” When we speak of someone’s attitude, we are referring to the person’s emotions and behaviors. A person’s attitude toward preventive medicine encompasses his or her point of view about the topic (e.g., thought); how he or she feels about this topic (e.g., emotion), as well as the actions (e.g., behaviors) he or she engages in as a result of attitude to preventing health problems. This is the tri- component model of attitudes […]. An attitude includes three components: an affect (a feeling), cognition (a thought or belief), and behavior (an action).

diferenças individuais que estão relacionadas com atitudes, comunicação e influência social”. Segundo os autores, em 1918, Thomas e Snaniecki (sic)18 definiram a psicologia social como o estudo das atitudes. Embora sociólogo de formação, Thomas fazia parte de um grupo mais referenciado pelos trabalhos em psicologia. Na referida obra, de 1919, The Polish Peasant in

Europe and America (O camponês polonês na Europa e na América), Thomas e Znaniecki

(1918-1920) apresentam uma abordagem biográfica sobre a vida e a cultura de imigrantes poloneses em Chicago, descrevem a situação difícil na Polônia e as razões que motivaram a imigração para a América e analisam como, na tentativa de se adequar à nova realidade, as famílias de imigrantes se deparam com inúmeros problemas, como novos valores. Dentre os novos valores, destacam o individualismo como gerador de confrontos entre gerações: enquanto os pais tentam manter seus valores tradicionais, os filhos que crescem no ambiente novo adquirem não a atitude tradicional de solidariedade familiar, mas ideais individualistas americanos (THOMAS; ZNANIECKI, 1918-1920, p. 104).

No mesmo trabalho, apresentam definições complementares para atitude na psicologia social: “um processo de consciência individual que determina a atividade real ou possível do indivíduo no mundo social”; “a contraparte individual do valor social”; “um processo psicológico tratado como manifestado na referência do mundo social, levando em consideração algum valor social” (THOMAS; ZNANIECKI, 1918-1920, p. 22). Como se percebe nas citações, tratam da atitude de modo geral sem incluir as atitudes linguísticas e, além disso, desconsideram que o individual é construído socialmente.

Segundo Moreno Fernández (2008), os estudos sobre atitudes linguísticas no campo da sociolinguística foram iniciados somente em 1970, por Rebecca Agueyisi e Joshua Fishman. Não é fácil encontrar uma definição satisfatória para atitude linguística, embora se encontrem muitos trabalhos sobre o tema e sobre as mais diferentes comunidades e línguas espalhadas pelo mundo. Pelo contrário, alguns autores explicitam essa dificuldade de definir.

Loureiro-Rodriguez, Boggess e Goldsmith (2012, p. 1) ressaltam que a definição mais utilizada para atitude linguística (apesar de excessivamente simples) é a que foi formulada por Fishbein; Ajzen (1975): “predisposição do indivíduo para agir favoravelmente ou desfavoravelmente a dado objeto”.

18 William Isaac Thomas (1863-1947), sociólogo norte-americano, conhecido pelo trabalho inovador sobre

sociologia das migrações, realizado em cooperação com Florian Znaniecki (1882-1958), filósofo e sociólogo polonês.

Destaca-se o conceito proposto por Moreno Fernández (2008, p. 177-178), por ser mais detalhado e bastante objetivo e apresentam-se outros mais, que ampliam o entendimento e sua inserção.

A atitude linguística é uma manifestação da atitude social dos indivíduos, distinguida por centrar-se e referir-se especificamente tanto à língua como ao uso que dela se faz em sociedade, e falando de “língua” incluímos qualquer tipo de variedade linguística: atitudes para diferentes estilos, diferentes socioletos, dialetos diferentes ou línguas naturais diferentes.

Para Meyerhoff (2006), a atitude sobre a língua é uma percepção ou valoração que se atribui a determinada comunidade linguística, a uma língua ou aspecto específico da língua. Em síntese, trata-se de crenças sobre a linguagem e seu uso. As atitudes sobre os falantes se referem ao modo de falar – como para expressar atitudes sobre os outros, pelo modo como avaliam o estilo de conversação. Sendo assim, os sujeitos alteram a fala a depender, não somente do local onde se encontrem e de com quem estão falando, mas também em função da atitude direcionada à(s) pessoa(s) com quem estão falando. A ação de recuperar o que antes era termo negativo, redefinindo de maneira positiva, por exemplo, é uma estratégia utilizada para lidar com as desigualdades. É o que ocorre, por exemplo, dentro de uma comunidade para mudar um conceito exterior sobre as pessoas que fazem parte do grupo. A autora afirma que os falantes usam a língua como um andaime para formular e expressar atitudes sobre os outros. Considera quepara entender a forma como os falantes alteram estilos devem-se levar em conta as atitudes de falante e interlocutor para com o outro.

Aguilera (2008, p. 105) utiliza o conceito proposto por Lambert19, em 1967, o qual denomina atitude como “a manifestação de preferências e convenções sociais acerca do status e prestígio de seus usuários”. Como se pode observar, trata-se de um conceito que se restringe à atitude positiva e não contempla o tema em toda a sua dimensão. O prestígio é credor de atitudes positivas, como diz Moreno Fernández (2008).

Atitudes linguísticas têm a ver com as línguas em si e com a identidade dos grupos que a manejam. Consequentemente, a relação entre língua e identidade se manifesta nas atitudes que os indivíduos fazem das línguas e de seus usuários (MORENO FERNÁNDEZ, 2008).

19 LAMBERT, Wallace E. A social psychology of bilingualism. Journal of Social Issues, 23, 91-109, 1967.

[Parcialmente] Disponível em:

<http://books.google.com.br/books?id=moOnAAAAIAAJ&pg=PA212&lpg=PA212&dq="A+Social+Psycho logy+of+Bilingualism"&source=bl&ots=RHWhXjRSl3&sig=QqDx0CHtn5rma0W28FBt3ftq-

a0&hl=pt&sa=X&ei=702lUdnELenD0AHph4C4Cg&redir_esc=y - v=onepage&q="A Social Psycholo>. Acesso em: 28 maio 2013.

A identidade é “[...] a característica ou o conjunto de características que permitem diferenciar um grupo de outro, uma etnia de outra, um povo de outro” (MORENO FERNÁNDEZ, 2008, p. 178). Assim, uma variedade linguística pode ser interpretada como um traço definidor da identidade.

A identidade pode ser definida sob duas formas: objetiva, caracterizada pelas instituições que a compõem e pelas pautas culturais que lhe dão personalidade; ou subjetiva, antepondo o sentimento de comunidade partilhado por todos os seus membros e a idéia de diferenciação com respeito aos demais (MORENO FERNÁNDEZ, 2008, p. 178).

Atitudes são normalmente vistas como compostas pelos três tipos de componentes igualmente importantes: cognitivos (crenças e estereótipos), afetivo (avaliações, valoração) e de comportamento (conduta). (GÓMEZ MOLINA; 1998).

Na divisão de Gómez Molina (1998), baseada em propostas amalgamadas, as atitudes seriam formadas por elementos resultantes dos seguintes processos:

- Cognoscitivo. O componente cognitivo é provavelmente o de maior peso específico, quanto ao conhecimento e aos preconceitos dos falantes: a consciência linguística, as crenças, os estereótipos, as expectativas sociais (prestígio, promoção), o grau de bilinguismo, características de personalidade, etc.; este componente se relaciona, em grande parte, com a consciência sociolinguística;

- Afetivo. O componente afetivo é baseado em juízos de valor (estima - ódio) sobre as características do discurso: variedade dialetal, sotaque, a associação com características de identidade: raça, lealdade, valor simbólico, orgulho e um sentimento de solidariedade com membros do grupo.

Às vezes, os componentes cognitivos e afetivos podem não estar em harmonia. - Conativo. Este componente reflete a intenção do comportamento, o plano de ação sob certos contextos e circunstâncias. Mostra a tendência de agir e reagir com os seus parceiros em diferentes áreas ou domínios: rua, casa, escola, loja, trabalho20, ...

(GÓMEZ MOLINA, 1998, p. 31).

Loureiro-Rodriguez, Boggess e Goldsmith (2012) colocam que o componente afetivo se refere aos sentimentos de uma pessoa sobre o objeto da atitude; o de comportamento, implicaria no modo como tais atitudes influenciam o comportamento e o cognitivo envolveria o conhecimento de uma pessoa sobre o objeto da atitude.

20 - cognoscitivos. El componente cognitivo es, probablemente, el de mayor peso específico; en él intervienen

los conocimientos y prejuicios de los hablantes: conciencia lingüística, creencias, estereotipos, expectativas sociales (prestigio, ascenso), grado de bilingüismo, características de la personalidad, etc; este componente conforma, en gran medida, la conciencia sociolingüística;

- afectivos. El component afectivo se basa en los juicios de valor (estima - odio) acerca de las características del habla: variedade dialectal, acento; de la asociación con rasgos de identidad: etnicidad, lealtad, valor simbólico, orgullo; y del sentimiento de solidaridad con el grupo de pertencia.

En ocasiones los componentes cognoscitivo y afectivo pueden no estar en armonía.

- conativo. Este componente refleja la intención de conducta, el plan de acción bajo determinados contextos y circunstancias. Muestra la tendencia a actuar y reaccionar con sus interlocutores en diferentes ambitos o dominios: calle, hogar, escuela, tienda, trabajo,…

Para Garret (2007), não se tem clareza de como o comportamento se relaciona com os outros dois componentes. De acordo com Redinger (2010), atitudes linguísticas só podem ser correlacionadas com o comportamento linguístico se ambos forem mensurados em relação ao mesmo contexto (contexto educacional, familiar etc.). Além disso, lembra que nem sempre uma mudança de atitude resulta automaticamente em uma mudança de comportamento.

Moreno Fernández (2008) discorre sobre a consciência sociolinguística, um dos componentes do processo cognoscitivo, lembrando que os indivíduos têm consciência de fatos linguísticos e sociolinguísticos que lhes dizem respeito ou lhes afetam. De acordo com o autor, o nível de consciência varia, sendo maior entre os indivíduos de nível socioeconômico mais alto e entre as mulheres em geral. No geral, “os falantes sabem que sua comunidade prefere uns usos linguísticos a outros, que certos usos são próprios de uns grupos e não de outros e, portanto, têm a possibilidade de eleger o que consideram mais adequado às circunstâncias e aos seus interesses” (p. 180, grifo do autor).

A atitude gerada a partir da combinação dos três componentes linguísticos seria, para Gómez Molina, de três tipos: positiva, negativa ou de insegurança e, além disso, alguns componentes poderiam ter precedência sobre os outros, conforme o caso. Sobre os tipos de atitudes, alguns exemplos:

Em seu estudo sobre alternância de código no contexto educacional multilíngue de Luxemburgo, Redinger (2010) constatou que estudantes que demonstraram atitudes positivas em relação à utilização do francês como língua de instrução no ensino secundário falavam significativamente mais francês (e menos luxemburguês) que seus colegas que expressaram atitudes negativas.

Moreno Fernández (2008, p. 177) destaca os possíveis efeitos de atitudes negativas: “Uma atitude desfavorável ou negativa pode levar ao abandono e ao esquecimento de uma língua ou impedir a difusão de uma variante ou de uma mudança linguística”. Em Salvador, como se observa neste trabalho, homens que consideram os tratamentos nominais painho e

mainha como termos infantis tendem a abandonar a forma, substituindo-a por outra, como pai

e mãe, mais “neutras”.

Labov ([1963] 2008) observou que a insegurança linguística da classe média baixa levou a geração mais velha a adotar a norma mais recente de (r) na cidade de Nova York. Em outro exemplo, já de atitude positiva, o caso da forte centralização dos ditongos (ay) e (aw) em Martha’s Vineyard, reação subjetiva interpretada como traço da identidade dos nativos da ilha e forma de se posicionarem contra a “invasão” de veranistas que, no verão, superlotavam a ilha. Nas palavras de Labov, “[...] o significado da centralização, a julgar pelo contexto em

que ocorre, é uma atitude positiva em relação a Martha’s Vineyard” (LABOV, [1963] 2008, p. 59, grifo nosso). Labov tem sido referido pelo seu papel significativo na sociolinguística para o estudo das atitudes, com a inserção do teste de reação subjetiva e com o conceito de prestígio, sempre presente nos estudos que envolvem atitudes linguísticas (GARRETT, 2007; PRESTON, 2002; FASOLD, 1984).

Já Meyerhoff (2006) divide as atitudes em positivas e negativas. As atitudes positivas estariam ligadas aos grupos com maior poder social e eles mesmos se encarregariam de validar a “superioridade” moral e estética do próprio grupo. A autora retoma a hipótese Sapir- Whorf para tratar do relativismo linguístico que envolve a questão: a maneira como percebemos o mundo reflete na forma como falamos. Desconsiderando a versão “dura” a relação mútua entre pensamento e linguagem e acatando a influência assimétrica: a linguagem em si não pode influenciar a maneira como as pessoas pensam. Exemplifica que em se tratando de linguagem sexista e racista, se as pessoas mudarem a forma de pensar, a mudança no idioma também acontecerá. Por outro lado, muitos termos depreciativos direcionados às mulheres em inglês, sem um equivalente para os homens, seriam ilustrativos de atitudes negativas, evidências da visão masculina difundida na sociedade.

Meyerhoff (2006) considera que as pessoas têm opiniões sobre dialetos ou variedades para os quais as provas ou objetivos linguísticos são limitados. As percepções subjetivas estariam tomando crenças profundamente arraigadas sobre as fronteiras sociais e projetando essas crenças no sistema linguístico.

Para Moreno Fernández (2008), são os grupos sociais mais prestigiados e mais poderosos socioeconomicamente que ditam as pautas das atitudes linguísticas. Desse modo, são objeto de atitudes favoráveis às variedades ou línguas que desfrutam de alto grau de padronização. Por outro lado, afirma que uma mesma variedade linguística pode ser objeto de atitudes positivas ou negativas, dependendo da valoração que se faça do grupo que a fala, pois, também neste caso, a avaliação resulta das reações ou percepções subjetivas. As línguas são valoradas por razões diferentes, normalmente sociais.

No capítulo Language atitudes, Fasold (1984) comenta que o estudo da natureza das atitudes começa pela decisão entre duas teorias concorrentes: mentalista ou comportamental. A maioria dos trabalhos baseia-se numa visão mentalista, bastante problemática para o método experimental, por considerar a atitude como um estado interno de prontidão mais que uma resposta observável, e, assim, depende-se do relato da pessoa do que seriam as atitudes ou de inferir atitudes pelos padrões de comportamento do falante. Nesta visão, a atitude é

identificada com os subcomponentes cognitivo (conhecimento), afetivo (sentimento) e

conativo (ação) (FASOLD, 1984, p. 148).

A corrente comportamental, embasada no behaviorismo, concebe a atitude como unidade singular. A atitude é interpretada como uma conduta e leva em conta as reações ou respostas a um estímulo.

Fasold (1984) relata exemplos de estudos sobre atitudes que envolvem adjetivações para línguas ou variedades linguísticas (rica, pobre, bonita, feia e outros); avaliação sobre falantes de determinada variedade linguística; compreensão de determinado aspecto linguístico (como som ou sotaque) dentro da comunidade de fala como resultante da atitude linguística do grupo; efeitos sobre aprendizagem de segunda língua; descrição de impressões a respeito de falantes pela análise de um áudio.

Os métodos de pesquisa de atitudes linguísticas mais utilizados e referidos são de tratamento social, direto e indireto. Na abordagem social estão as análises de fontes diversas do domínio público, como o discurso do governo, documentos educacionais, dentre outros (GARRETT, 2007) e se utiliza a pesquisa etnográfica.

Na abordagem direta, geralmente são utilizados questionários ou entrevistas e solicita- se aos informantes que relatem suas atitudes para com o objeto de interesse. Há críticas de que este método pode levar os participantes a dar a resposta que acham que os pesquisadores estão procurando, mas não há um consenso a respeito desta opinião. Atualmente tem-se utilizado técnicas variadas para obter dados sobre atitudes diretamente.

Já na abordagem indireta, o pesquisador se utiliza de testes para obter o que deseja, como fez Lambert21, ao solicitar (aparentemente) que candidatos avaliassem a personalidade de diferentes oradores pelo que ouviam em gravações, quando se tratava, na verdade, de um único falante bilíngue que representava disfarces como o sotaque e lia o mesmo texto, ora em francês ora em inglês (FASOLD, 1984, p. 147-149). Nesta técnica, denominada matched-

guise test, os participantes não estavam cientes de que estavam ouvindo a mesma pessoa. Esta técnica, com variações do modelo inicial ou conjugada com outras estratégias, continua sendo usada para medir atitudes linguísticas. Os estudos que optam pela abordagem indireta também podem ser vistos com reservas. Alguns questionam a autenticidade dos acentos produzidos para estudos que utilizam disfarces, e se a leitura de um trecho em voz alta constitui o uso da

21 LAMBERT, Wallace E. A social psychology of bilingualism. Journal of Social Issues, 23, 91-109, 1967.

[Parcialmente] Disponível em:

<http://books.google.com.br/books?id=moOnAAAAIAAJ&pg=PA212&lpg=PA212&dq="A+Social+Psycho logy+of+Bilingualism"&source=bl&ots=RHWhXjRSl3&sig=QqDx0CHtn5rma0W28FBt3ftq-

a0&hl=pt&sa=X&ei=702lUdnELenD0AHph4C4Cg&redir_esc=y - v=onepage&q="A Social Psycholo>. Acesso em: 28 maio 2013.

língua, uma vez que estaria descontextualizada para estudar as atitudes das pessoas. Também há quem defenda a utilização de abordagens qualitativas (entrevistas e análise do discurso), ao invés de confiar tanto em escalas de avaliação e estímulo por gravação de voz (GARRETT, 2007, p. 119-120). Além disso, tem-se utilizado diferentes estratégias que incluem métodos qualitativos e quantitativos. Como as atitudes são uma construção mental (ou atitudes psicossociais, na visão de Moreno Fernández, 2008), estudiosos admitem haver incerteza sobre se os dados de pesquisas representam mesmo as atitudes dos respondentes.

Estudos sobre atitudes linguísticas e conceitos relacionados (como crenças,

percepções subjetivas, reação subjetiva) têm sido realizados com diferentes objetivos e

métodos, sob a ótica da sociolinguística. Seus resultados mostram sua grande importância para o entendimento da linguagem, tais como atitudes contribuem para a compreensão de aspectos da comunidade de fala, como variação e multilinguismo; podem contribuir para a difusão de mudanças linguísticas, refletir padrões de uso e a avaliação social da variação linguística; o estudo das atitudes mostra a relação entre consciência linguística e concorrência; atitudes linguísticas afetam tanto fenômenos específicos quanto línguas estrangeiras conviventes, língua materna e suas variedades diatópicas e diastráticas; exerce influência sobre a aprendizagem de segundas línguas; mudanças podem afetar as atitudes, dentre outros (BLAS ARROYO, 1999).

Estudos sobre línguas em contato mostram que atitudes influenciam na eleição de uma