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Este capítulo apresenta aspectos sócio-históricos que contribuíram para as mudanças e para a atual configuração da família brasileira. Reúne resultados de pesquisas sobre o tema família sob o enfoque, principalmente, da Ciências Sociais e da Psicologia, sem, contudo, fazer essa separação. Para estudar as formas linguísticas de tratamento destinadas aos pais a compreensão teórica da família é de fundamental importância.

Brown e Gilman (1960, p. 158) afirmam que, na história da linguagem, pais são figuras empoderadas (“emperor figures”). Não por acaso, a primeira experiência do indivíduo de subordinação ao poder e à reverência vem da relação com os pais.

Há diferentes concepções para o termo família. No âmbito jurídico, “família, sujeito social”, significa um grupo de pessoas “ligadas entre si pelos vínculos de casamento, parentesco ou afinidade”, muito divergente daquela das leis romanas, por exemplo, que abarcava “tudo aquilo que estivesse debaixo do poder paterno, mulher, filhos, escravos e até bens, como terra, instrumentos e animais de trabalho” (GENOFRE, 1995, p. 97).

Rocha (2009, p. 9) destaca que “durante séculos, a tradição jurídica ocidental identificou família com a realidade social criada pelo casamento” e que, no Brasil, este conceito foi ampliado pela Constituição da República de 1988, (art. 226, §§ 3o e 4o), com a

referência a duas outras formas de entidades familiares: a união estável e a família formada “por qualquer dos pais e seus descendentes” (BRASIL, 1988). Em 1977, onze anos antes, havia sido instituído o divórcio no Brasil (BRASIL, 1977). Até então, predominava o pensamento da Igreja sobre a indissolubilidade do casamento religioso.

Com a Constituição de 1988 surgiram mudanças significativas para o casamento civil e para a família:“O casamento é civil e gratuita a celebração”; “O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.”; “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”; “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos” (BRASIL, 1988).

A Constituição Federal de 1988 representou um marco na evolução do conceito de família, corporificando o conceito de Lévy-Brul [sic]35, hoje bastante atual: “o traço dominante da evolução da família é a sua tendência a se tornar um grupo cada vez menos organizado e hierarquizado e que cada vez se funda mais na afeição mútua” (GENOFRE, 1995, p. 99-100).

Alves, L. (2006) comenta que o conceito moderno de família apareceu pela primeira vez, na área jurídica, a partir do art. 5o, II, da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha). O referido artigo diz: “II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa” (BRASIL, 2006). Conforme o autor, a modernidade deve-se ao entendimento da constituição familiar por vontade própria e não pela imposição da lei. Além disso, conforme Alves, J. (2005),

A outra conclusão a que se chega é que esse conceito legal acaba por expressamente reconhecer, no mundo jurídico, a união homossexual (ou homoafetiva). Aliás, a própria Lei Maria da Penha não deixa dúvidas de que é possível considerar a união homoafetiva como entidade familiar ao dispor, no parágrafo único do art. 5º, que “as relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”.

Como se sabe, uma lei reflete mudanças anteriores na organização da sociedade, que precisam ser “oficializadas” e normatizadas. No caso da Lei Maria da Penha, que tem por objetivo “coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher” (BRASIL, 2006), seu texto explicita aspectos da atualidade sobre família, casamentos, uniões e relacionamentos. Watarai (2010, p. 9) afirma que “devido a mudanças no comportamento conjugal, registradas não apenas no Brasil, mas em diferentes países, o casamento tradicional, institucionalizado e indissolúvel, deixou de ser visto como a única forma de constituir uma família”.

Marcondes (2008) observa que os casamentos formais continuam predominando como “forma de união e, consequentemente, de constituição familiar”, mas sua importância vem sendo reduzida, especialmente nos oficializados somente por cerimônias religiosas. Nas últimas quatro décadas, teria ocorrido contínua redução do número de pessoas casadas e aumento da parcela de pessoas unidas consensualmente na população brasileira.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, s. d.) considera três diferentes configurações de família: a) “Conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, todos residentes na mesma casa”; b) “Família unipessoal - pessoa que mora sozinha em uma casa”; c) Famílias conviventes - compostas por, no mínimo, duas pessoas cada uma, que residam na mesma unidade domiciliar (domicílio particular ou unidade de habitação em domicílio coletivo).

Alves, J. (2005) explica que, para tornar o conceito de família operacional, os institutos de pesquisa restringem o escopo da família ao domicílio. Desse modo, nos censos demográficos e em outras pesquisas domiciliares, como na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE, a família é delimitada pelo espaço físico da moradia. Mas o autor alerta para as diferenças de metodologias adotadas em diversos países e exemplifica:

Por exemplo, nos Estados Unidos (EUA) e na Argentina, uma pessoa que more sozinha num domicílio ou mais de duas pessoas sem laços de parentescos que morem juntas são classificadas como “não-família”. Já no Brasil, ambos os casos se encaixam na definição de família do IBGE. O que o IBGE define como família no Brasil é o que os EUA e a Argentina definem como família + “não-família” (ALVES, J., 2005, p. 1).

Além de desconsiderar os “arranjos domiciliares de não-parentes”, o IBGE contabiliza mais de uma família no mesmo domicílio, divergindo de países como Argentina e Estados Unidos (ALVES, J.; CAVENAGHI, 2006, p. 280).

Alves, J. (2005) ainda chama a atenção para o problema metodológico que pode ocorrer se não observado o conceito de famílias conviventes do IBGE, quando se quer comparar dados internacionais. O texto mostra que, nos países supracitados, o número de domicílios ocupados é igual à soma de famílias e “não-famílias”; mas, no Brasil, há o que o autor chama de “excesso” de famílias. Como o IBGE considera as famílias conviventes – que podem ser formadas por família principal + família secundária + terciária + 4a ou mais famílias –, a soma de famílias e “não-famílias” é maior do que o de domicílios ocupados. Ou seja, 3.437.304 famílias em domicílios “compartilhados”, conforme dados do censo de 2000. O procedimento metodológico tem a vantagem de desmembrar das famílias as várias gerações de parentes. Detalhando esta configuração de família, o autor, esclarece: O conceito de

família censitária do IBGE define um responsável pela família, mesmo que este não seja o

responsável pelo domicílio. Toda vez que isso acontece, têm-se os domicílios com famílias conviventes.

Na verdade, as famílias conviventes do IBGE são famílias estendidas, compostas por duas ou mais famílias nucleares, parentes ou não-parentes. Exemplificando: um casal com dez filhos é uma família única (12 pessoas), mas um casal com apenas um filho se torna duas famílias se este filho se casa e o cônjuge for morar no mesmo domicílio. Nesse segundo caso teríamos uma família principal (composta pelo casal de pais) e uma família secundária composta pelo casal formado pelo filho/a e genro/nora. Teríamos, então, duas famílias nucleares compostas de duas pessoas cada uma. Da mesma forma, se algum filho/a de um casal de família principal tem um filho/a que vá morar debaixo do mesmo teto (neto/a do casal responsável pelo domicílio), então, o IBGE classifica como duas famílias nucleares. Se uma terceira família nuclear (um irmão ou primo com o respectivo cônjuge ou filho) for morar sob o mesmo teto, então, teríamos uma terceira família convivente (mesmo sendo parente próximo), e assim por diante (ALVES, J., 2005, p. 1-2, grifos do autor).

Goldani (1993, p. 88) assinala que, apesar de sua complexidade, a referência comum sobre o conceito de família nos discursos é o grupo de pessoas que reside em uma mesma casa, que mantém laços de parentesco, dependência e relações hierárquicas.

Na literatura antropológica e sociológica, a definição de família não se restringe ao grupo domiciliar, uma vez que os laços de família extrapolam o domicílio, a cidade e até o país. Nessa perspectiva, uma família engloba pessoas com diferentes graus de parentesco,

definidos por critérios como descendência/ascendência sanguínea, casamento e adoção (ALVES, J., 2005).

Lobo (2005, p. 95) faz menção ao conceito de família proposto pelo sociólogo norte- americano Ernest W. Burgess36 “enquanto uma unidade de indivíduos em interacção”, bastante abrangente.

Para este trabalho, considera-se família os entes assim denominados pelos entrevistados, que são parentes consanguíneos (pais, avós, filhos, irmãos), filhos adotivos e os entes provenientes de relacionamento(s) anterior(es) ou posterior(es), como a madrasta, o padrasto e o meio-irmão, independente de residirem ou não no mesmo espaço.

Como afirma Goldani (2004, p. 221), “as famílias estão mudando tanto em termos de forma quanto de significado”. Algumas das configurações de famílias contemporâneas envolvem: separações, sucessões conjugais, recasamentos37, cuidados de pai e mãe biológicos a distância e novos padrões de criação dos filhos.

São muitos os arranjos familiares encontrados na atualidade, destacando-se algumas tendências, como se pode observar em Goldani (1993; 1994; 2004), Camarano, Kanso e Leitão e Mello (2004), Maricondi; Soares (2010), IBGE (2002a, 2002b, 2006, 2010a, 2011), Jacquet; Costa (2004): redução do tamanho das famílias; aumento do número de mulheres responsáveis pelos domicílios; diminuição do número de famílias nucleares compostas de pai, mãe e filhos; crescimento das separações conjugais; aumento do número de famílias monoparentais, compostas de mães sem cônjuge com filhos e de pais morando sozinhos com seus filhos; aumento do número de pessoas morando sozinhas; aumento de famílias reconstruídas ou recompostas, geradas pelos casamentos, divórcios e recasamentos (com filhos de casamentos anteriores morando juntos); famílias extensas ou ampliadas para além da estrutura das famílias nucleares, com agregados parentes ou amigos; aumento do número de pessoas idosas na família; aumento do número de domicílios chefiados por idosos; surgimento de casamento entre homossexuais.

A ordem de exposição não obedece a uma ordem hierárquica; estão entre as mais comentadas nos estudos consultados. Além disso, como a instituição familiar está em constante processo de transformação é importante lembrar que essas configurações não são estáticas, pelo contrário, é preciso considerar a dinamicidade dos arranjos, sabendo que as variações são constantes e contínuas. A seguir, passa-se à descrição sucinta de cada um.

36 Ernest Watson Burgess (1886-1966) é considerado o pai da sociologia da família americana.

37 Há outros termos para definir essas famílias, como recasada, reconstituída, rearranjada e novo arranjo

(WATARAI, 2010). Lobo (2005) lista nomes que foram surgindo: famílias reconstruídas, famílias reconstituídas, segundas famílias, famílias mosaico, famílias de recasados e famílias de padrastos.

a) Redução do tamanho das famílias

De acordo com o último censo, dentre as transformações sociais ocorridas, destaca-se a redução do tamanho das famílias (IBGE, 2002a, p. 10), como se pode ler no trecho retirado do relatório: “As tendências que mais se destacaram quanto às formas de organização doméstica foram a redução do tamanho das famílias e o crescimento da população das famílias, cujas pessoas responsáveis são mulheres”.

O fato explicado é pela diminuição da taxa de fecundidade (número médio de filhos que uma mulher teria ao final do seu período fértil) para 2,0 filhos, uma tendência não somente no Brasil, mas em diversos países; a partir da década de 1960, o surgimento da pílula anticoncepcional e a expansão do feminismo permitiram separar fecundidade, sexualidade e procriação. Fatores como escolha, necessidade econômica, o ingresso da mulher no mundo do trabalho também são destacados.

b) Aumento do número de mulheres responsáveis pelo domicílio

Tem crescido o número de mulheres que se declaram chefes de família ou principal

responsável pelo domicílio, para usar o termo utilizado pelo IBGE, a partir do Censo de 2000

(IBGE, 2002a). Este aumento foi observado entre as décadas de 1990 a 2000 (GARCIA; COSTA; RODARTE, 2006; HORTA; STREY, 2006) e, novamente, entre 2000 e 2010 (IBGE, 2010b). A proporção de mulheres responsáveis pelos domicílios em 2000 era de 24,9% no Brasil e de 37,5% em Salvador (IBGE, 2002a).

De acordo com o IBGE (2006), no período de 1995 a 2005, a proporção de mulheres na chefia das famílias com parentesco chegou a 42,0% na Grande Salvador, maior que a média nacional, de 28,3%. No Brasil, esse percentual de mulheres responsáveis pelo domicílio chegou a 28,7% em 2010.

Dentre os motivos para a formação deste quadro estão: maior participação das mulheres no mercado de trabalho; maior expectativa de vida das mulheres em algumas cidades ou regiões; os casamentos desfeitos, que levam as mulheres a assumirem a responsabilidade, sozinhas ou com filhos; por causa dos homens que migram de seu estado ou região em busca de emprego ou outros atrativos (neste caso, a ausência masculina é temporal).

Na maior parte dos casos em que os domicílios tinham uma mulher como responsável, ela vivia com seus filhos, sem a presença do cônjuge. Em poucos domicílios se atribuiu a responsabilidade a uma mulher, quando nele existia algum homem (IBGE, 2002a; HORTA; STREY, 2006; GARCIA; COSTA; RODARTE, 2006). Na segunda situação, tem-se uma

mudança de comportamento social e econômica, uma vez que a composição da renda familiar, antes de responsabilidade do homem, passou a ser formada pela participação feminina, dos jovens e demais membros da família (GARCIA; COSTA; RODARTE, 2006).

Horta e Strey (2006), em estudo realizado para verificar o modo como homens e mulheres compreendem as expressões chefes de família e responsável pelo domicílio e afirmam que “Chefe de família foi associado a finanças, decisão, cuidado e esteio para a família, enquanto que para principal responsável, a ordem foi cuidados, esteio, finanças e decisão” (p. 1, grifo nosso).Além de relacionarem chefe a finanças e principal responsável a cuidados, em primeiro lugar, homens e mulheres foram indicados para ocupar qualquer um dos papéis e os sujeitos entendem que a responsabilidade deve ser assumida por mais de uma pessoa no domicílio, o que mostra mudança de mentalidade sobre os papéis desempenhados pelos membros das famílias. Com este conceito em voga, o censo de 2010 (IBGE, 2011) também registrou que em 1/3 das unidades domésticas tinha mais de um responsável.

Outro dado importante é o aumento da população feminina. De acordo com o último censo demográfico (IBGE, 2010a), a população feminina tem aumentado no Brasil. Em Salvador 53,33% da população é formada por mulheres.

c) Diminuição do número de famílias nucleares compostas de pai, mãe e filhos

Embora seja o arranjo predominante entre as famílias brasileiras (GOLDANI, 1993, 2004; JACQUET; COSTA, 2004), o tipo composto de casal com filhos, vem diminuindo nas regiões metropolitanas (SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003; GARCIA; COSTA; RODARTE, 2006; MARICONDI; SOARES, 2010), principalmente por conta do grande número de divórcios e separações.

De acordo com Goldani (1993), tanto nas famílias brasileiras das camadas médias urbanas quanto nas famílias de trabalhadores urbanos ou rurais, predomina o modelo nuclear conjugal, com destaque para a preferência destes últimos por uniões legais e duradouras.

Mesmo considerando que a maioria das crianças vive com pais presentes (GOLDANI, 2004), a família nuclear é cada vez menos o único espaço de socialização na infância (JACQUET; COSTA, 2004). Como apontado por Diniz e Coelho (2005), as famílias nucleares mantêm fortes vínculos com a família extensa. Grande parte das crianças são criados por pais e mães que trabalham fora e precisam deixá-los sob cuidados de outras pessoas, como babás e familiares.

É comum a existência de famílias nucleares por conveniência. Os casais optam por manter o casamento ou a união e continuar dividindo o mesmo domicílio mesmo quando o

relacionamento já se desfez, por motivos como: filhos, questões financeiras, sobrevivência, tradição, sentimento de obrigatoriedade e outros (SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003; PORRECA, 2004).

O modelo nuclear goza de prestígio, sendo dotado de importante valor simbólico. Montalvão e Costa (2009) observaram que adolescentes enfatizaram a constituição familiar como formada por pai, mãe e irmãos, apesar da ocorrência de separações, rupturas e até mesmo ausência de um dos genitores, o que seria influência desse valor simbólico historicamente construído.

d) Crescimento das separações conjugais

Como destacam Cano et al. (2009), o divórcio e o recasamento já existiam antes de serem regulamentados, mas não eram reconhecidos ou aceitos pela sociedade, tratados de modo velado ou evitados nas redes sociais e familiares. Com base em dados do IBGE, afirmam que, entre 1993 e 2003, os divórcios e separações cresceram 44% e 17,8%, respectivamente, no Brasil, sem contar as uniões e dissoluções consensuais, que não estão incluídas. O tempo médio transcorrido entre a data do casamento e a da separação judicial foi de 12,1 anos em 2005 (IBGE, 2006).

Apesar do crescimento das separações (ROMAGNOLI, 2005), o casamento continua sendo considerado importante na vida das pessoas e os casais se esforçam para manter o laço conjugal e melhorar a qualidade da relação. Na verdade, o casamento é uma das áreas de autorrealização social. Assim sendo, os sujeitos se separam porque não aceitam um casamento que esteja aquém de suas expectativas. Confome Féres-Carneiro (2008), o divórcio reflete a dificuldade de tal exigência e, por esse motivo, quase sempre os divorciados buscam o recasamento, os homens mais rapidamente que as mulheres. Por outro lado, enquanto para os homens casamento significa “constituição de família”, para as mulheres, seria “relação amorosa” e, desse modo, a demanda predominantemente feminina pela separação poderia ser consequência das concepções divergentes de homens e mulheres sobre o casamento.

Grande parte dos divórcios realizados envolve casais com filhos. Marcondes (2008), com base em dados do IBGE, cita que, em 2006, 68,9% dos divórcios ocorreram com casais com pelo menos um filho, na maioria (46%) menor de idade. Em casos de separação, a tendência é a mãe permanecer com a guarda dos filhos (WATARAI, 2010; CANO et al., 2009; TOLOI, 2006).

Após a separação, o contato com o pai tende a diminuir. A maioria dos pais não tenta manter contato regular com os filhos. Acrescenta-se o fato de filhos de pais separados

raramente terem duas casas. As crianças não têm o acompanhamento do pai em atividades diárias ou para realizar trabalhos escolares (FURSTENBERG; NORD, 1985; DANTAS; JABLONSKI; FÉRES-CARNEIRO, 2004). De acordo com estes autores, os pais exercem influência sobre os filhos pelo modo como se comportam em relação a eles e aos ex-cônjuges.

Furstenberg e Nord (1985) constataram que, em casos de separação, a paternidade biológica perde espaço para a paternidade social, ou seja, as crianças têm a oportunidade de criar laços afetivos com outras figuras masculinas, como o namorado ou novo marido da mãe ou alguém próximo que exerça a função de pai.

Apesar de o contato com os pais que estão fora de casa se tornar pouco frequente (os pais são mais ausentes que as mães), as crianças dizem que não discutem com seu pai ou mãe regularmente, dizem se sentir amadas, apreciadas e confiáveis e que passam tempo suficiente com seus pais não residentes. Para Furstenberg e Nord (1985), por um lado, as avaliações extravagantes das crianças são provenientes de lembranças da importância simbólica de manter laços com os pais biológicos, mas, por outro lado, elas parecem preparadas para adotar uma escala móvel, quando julgam sua relação com os pais que estão fora: esperam pouco e o que quer que lhes seja dado é recebido com gratidão. Observação semelhante é feita por Watarai (2010), ao constatar que, mesmo sem contato prolongado com o pai biológico, os filhos lhe atribuem grande valor simbólico.

Por outro lado, quando o contato é mantido, o relacionamento de pai e filhos tem melhorado qualitativamente após o divórcio, como forma de compensar a quantidade diária que não se tem mais (RAMIRES, 1997). O exercício da paternidade também depende das experiências vividas com os próprios pais.

Geralmente parte da mãe a decisão de romper o laço conjugal (WATARAI, 2010; CANO et al., 2009). Mas a postura da mãe perante o divórcio pode ser contraditória: “se por um lado, ela exige maior participação do pai na vida dos filhos, por outro, existe uma resistência em deixá-los agir” (FEIN, 1978 apud DANTAS; JABLONSKI; FÉRES- CARNEIRO, 2004, p. 351). As dificuldades de lidar com a separação também podem levar mães a dificultar o contato de pai e filhos.