• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO

3.5 A atividade de leitura aplicada

A fim de verificar como se dá a leitura e compreensão de texto e atividades do livro com e sem participação/mediação de outro, foi aplicada à turma uma mesma atividade de leitura, mas com abordagem diferente para cada um dos quatro grupos formados.

Para aplicação da atividade, cada grupo foi retirado da sala, no horário das aulas e com permissão dos professores. O grupo era encaminhado à biblioteca, espaço indicado pela escola para realização do trabalho, uma vez que não havia outra sala disponível. Dessa maneira, as atividades foram aplicadas a um grupo por vez, já que cada aluno devia realizar as atividades individualmente.

Tais atividades foram selecionadas no livro didático de português usado pela escola, ―Para Viver Juntos - Português‖, em consenso com professora regente, de forma a não prejudicar o planejamento dela. A intenção foi proporcionar a leitura de um gênero textual conhecido pela turma, por acreditar que eles responderiam melhor às atividades sobre o texto de um gênero já estudado. Ou seja, já contávamos com o conhecimento prévio do leitor sobre o gênero.

Relembramos que as atividades foram desenvolvidas em quatro grupos. Na turma 601 de 2011, houve dois grupos com sete alunos e outros dois grupos com oito alunos. Na turma 601 de 2012 foram quatro grupos com cinco alunos. As respostas das duas turmas foram consideradas em conjunto na composição do corpus. A seguir, explicitamos como foi feito o trabalho, a abordagem do texto e das atividades em cada grupo.

Grupo A: Nenhuma mediação

Neste primeiro grupo, chamado de grupo A, foi pedido aos alunos que fizessem a leitura do texto e respondessem em seguida as dez questões. Foi previamente dito a eles que não haveria nossa ajuda ou intervenção na resolução das atividades. Eles deveriam, por si sós, ler e entender o texto e fazer as atividades.

Essa opção de atividade foi feita para representar a situação que, muitas vezes, ocorre no espaço escolar e nas aulas de leitura, quando o professor simplesmente pede que seja lido o texto e sejam respondidas as questões no caderno. Observa-se que, nessa prática, não há intervenção, não há ensino. Diferente dessa é uma situação em que o professor se coloca como mediador da aprendizagem e facilitador dela, construindo junto com o aluno o conhecimento. Sobre o trabalho do professor de língua portuguesa os PCNs destacam:

Para que essa mediação aconteça, o professor deverá planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno (BRASIL, PCN- LP, MEC, 1997, p. 25).

Nessa prática, prevalece a concepção de leitura como decodificação, possivelmente com a crença de que o sentido está no texto. Além disso, a autoaprendizagem e/ou autoinstrução predominam como opção de ensino. Há certo espontaneísmo presente, ao se acreditar que basta o sujeito ser exposto ao conhecimento, no caso, ao texto e às atividades do LD.

O grupo A, foi o grupo sem intervenção externa, os alunos realizaram sozinhos a leitura e as atividades. Ou seja, com esse grupo, foi observado o produto da não mediação.

A hipótese é de que o grupo demonstraria mais dificuldades na realização da tarefa e um índice de acerto mais baixo que os demais grupos.

Grupo B: Mediação na leitura do texto

Para o segundo grupo, chamado grupo B, foi proposta a leitura do texto com o auxílio da leitura colaborativa. Técnica esta em que professor e alunos leem juntos um texto e em seguida são comentadas algumas de suas partes com o intuito de perceber as pistas textuais; esclarecer dúvidas que possam ocorrer e colaborar também no processo de construção de sentido. Esse tipo de atividade foi indicada como uma possibilidade no trabalho com a leitura na primeira edição dos Parâmetros Curriculares Nacionais:

A leitura colaborativa é uma atividade em que o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura, questiona os alunos sobre as pistas linguísticas que possibilitam a atribuição de determinados sentidos. Trata-se, portanto, de uma excelente estratégia didática para o trabalho de formação de leitores (BRASIL, PCN- LP. MEC, 1997, p.61).

Como o objetivo foi verificar o uso do livro didático, essa estratégia foi adaptada, ou seja, lemos juntos parágrafo por parágrafo seguidos de explicações e comentários. Essa abordagem foi usada com o propósito de favorecer a leitura e a compreensão do texto. Além disso, essa

intervenção foi uma alternativa para minimizar a provável dificuldade imposta pela extensão do texto (queixa dos alunos e apontamento das professoras), pela sua estrutura, ou ainda pela seleção lexical usada. O texto apresenta linguagem padrão, com termos a serem ressignificados pelos leitores como, por exemplo, ―nau‖, ―adernado‖, ―timão‖, ―refulgir‖ etc. Assim, foram feitas mediações na leitura do texto e foi pedido que, em seguida, os alunos respondessem às questões propostas na seção de ―Estudo do texto‖, ficou estabelecido com eles que não haveria explicação na hora de realizar as atividades.

Nesse grupo, a intenção foi verificar em que medida os sujeitos conseguiriam cumprir a tarefa, responder às questões, com a intervenção externa, com a ajuda apenas da leitura do texto. Ou seja, foi observado o efeito da mediação da leitura colaborativa na compreensão do texto e da não mediação na realização das questões.

Diferentemente do grupo A, para esse grupo, houve mediação na leitura, ou seja, houve ensino de estratégia, o que poderia representar compreensão do texto. A hipótese é de que o grupo B apresentaria um desempenho superior ao grupo A , superior ou igual ao grupo C e inferior ao grupo D.

Grupo C: Mediação na realização das questões

No terceiro grupo, grupo C, foi proposta a leitura individual e silenciosa, ou seja, uma leitura sem o auxílio ou intervenção e, em seguida, foram explicadas uma a uma as questões para que os alunos pudessem responder. Nessa prática, procuramos diminuir as dificuldades impostas pelos enunciados das questões. Muitos professores acreditam que os alunos não conseguem responder às questões porque não conhecem o significado das palavras presentes nos enunciados; outras vezes, porque os enunciados não apresentam uma elaboração adequada. Isso se evidencia, por exemplo, na fala da professora Ana durante a entrevista, ao ser questionada sobre o que é dificuldade para os alunos:

...E nas questões também eles têm bastante dificuldade, tanto é que o tempo inteiro... eu tenho que ficar ajudando o tempo todo, porque eles não conseguem entender o enunciado das questões. E às vezes, assim, só de você chegar e explicar o significado de uma palavra, eles já conseguem resolver. É, às vezes, é questão pouca!, é só o jeito de formular a questão que dificulta o entendimento deles...(Depoimento da professora da turma 601/2011).

A esse respeito, Cafiero (2010, p. 29) também alerta ―O problema é que em muitos casos as perguntas não orientam a compreensão do aluno, elas podem, às vezes, até mesmo desorientá-

lo.‖ Assim para verificar se a dificuldade de interpretação de texto estava localizada apenas na leitura e compreensão dos enunciados é que realizamos essa prática. Afinal, ―Um enunciado que apresente problemas em sua elaboração dificulta o processo de compreensão do aluno‖ (CRUZ, 2012, p.143). A intenção foi verificar em que medida os sujeitos conseguiriam cumprir a tarefa, responder às questões, com a intervenção apenas das atividades e com a leitura feita individualmente e sem colaboração. Portanto, foi observado o efeito da mediação, explicação na leitura e interpretação dos enunciados das questões e efeito da não intervenção na leitura do texto.

Em uma situação de ensino, as questões também devem ser exploradas e trabalhadas no contexto de uma aula de leitura. Para o grupo C, que apesar de não ter sido mediado na leitura do texto, a hipótese é que o desempenho seria superior ao grupo A, igual e/ou inferior ao grupo B e inferior ao grupo D.

Grupo D: Mediação na leitura do texto e nas questões

Ensinar a ler é tarefa da escola que, para cumprir com êxito o seu trabalho, deve entender o que é a leitura e qual a melhor forma de tratar os diferentes e múltiplos gêneros que circulam dentro e fora de suas dependências. Deve também considerar os diferentes leitores em formação com os quais lida. Ciente de que a leitura é um processo complexo de produção de sentido que envolve a mobilização de diversas capacidades, entenderá que isso implica o uso de diversas estratégias durante o seu processamento. Voltando aos PCNs, ao tratar sobre o aprendizado inicial da leitura, constatamos que

Para aprender a ler, portanto, é preciso interagir com a diversidade de textos escritos, testemunhar a utilização que o já leitores fazem deles e participar de atos de leitura de fato; é preciso negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado pelo texto, o que está atrás e diante dos olhos, recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes (BRASIL, PCN-LP, MEC, 1997, p.56).

Essa afirmação, ainda que tratando do aprendizado inicial da leitura, pode ser aplicada em outros níveis, quando os estudantes leitores já conseguem decodificar, mas continuam aprendizes em nossas aulas de leitura. Ela destaca pontos importantes como a necessidade da presença de variados gêneros, e da experiência real de leitura, além de chamar a atenção para o fato de que é preciso ―negociar o conhecimento que já se tem e o que é apresentado‖; essa nem sempre é uma tarefa fácil e possível de se realizar sozinho. Por isso, outro aspecto relevante no trecho é ―recebendo incentivo e ajuda de leitores experientes‖. Ensinar a leitura

na escola requer um trabalho intenso, a figura do professor, ―leitor experiente‖, é que vai garantir durante suas intervenções, ―incentivo e ajuda‖ para que os alunos compreendam o texto lido. E, em outro momento, que eles compreendam também as questões de interpretação e sejam capazes de respondê-las devidamente.

Diante dessas considerações, foi proposta para o quarto grupo, grupo D, a leitura colaborativa e, em seguida, a leitura e explicação das questões uma a uma para que os alunos respondessem. Nessa abordagem, foram unidas as duas abordagens anteriores usadas uma no grupo B e outra no grupo C por entender que essa seria uma situação ideal de ensino de leitura.

Nesse grupo, a intenção foi verificar em que medida os sujeitos conseguiriam cumprir a tarefa, responder às questões, com a intervenção, explicação, mediação completa: do texto e das questões de interpretação. Ou seja, foi observado o efeito da mediação na leitura do texto e nas questões. Neste caso, atentando para o papel do professor nas aulas de leitura: intervir, construir junto com os alunos a competência leitora.

Por se tratar de um grupo que representa a situação ideal de ensino de leitura, em que há mediação na leitura do texto e também na realização das atividades, a hipótese é que o grupo D apresentaria desempenho e índice de acertos superiores aos demais grupos.

Os quatro grupos e as hipóteses de resultados podem ser assim visualizados:

QUADRO 1 – Hipóteses de desempenho dos grupos

No quadro 1, a pirâmide representa o desempenho, em que a base é o nível mais baixo a ser alcançado por um grupo e o topo o nível mais alto. Assim, o grupo A que não conta com nenhum tipo de mediação apresentaria o desempenho inferior aos demais grupos, seguido pelo grupo B, mediado na leitura e pelo grupo C, mediado nas questões. O grupo D, por sua vez, apresentaria o maior resultado por contar com a mediação na leitura e na realização das questões.

As respostas obtidas dos diferentes alunos nos diferentes grupos constituíram a principal parte do corpus da pesquisa e foram analisadas conforme descrevemos na próxima seção.