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1 INTRODUÇÃO

4.2.2 Mediação na leitura do texto – o caso do grupo B

O grupo B contou com a mediação da leitura colaborativa do texto e realizou sozinho as perguntas. Esse grupo representa uma situação em que há uma estratégia parcial de ensino. O resultado do grupo pode ser visualizado na tabela 2 a seguir.

Tabela 2 – Resultados do grupo B Questão/

resultado

Correta Incorreta Não

respondeu C PC CO Total 1 8,3 8,3 50,0 66,0 25,0 8,3 2 41,6 33,3 - 74,9 16,6 8,3 3 8,3 - - 8,3 91,7 - 4 50,0 25,0 - 75,0 25,0 - 5 16,7 75 - 91,7 8,3 - 6 16,6 33,3 8,3 58,2 41,6 - 7 50,0 16,6 - 66,6 33,3 - 8 25,0 25,0 - 50,0 50,0 - 9 16,7 16,7 16,7 50,0 50,0 - 10 25,0 66,7 - 91,7 8,3 -

Fonte: Dados computados pela autora desta pesquisa.

Na tabela 2, observa-se que o grupo B obteve resultado na média de 70% em quatro questões: as de número dois, quatro, cinco e dez. Isso significa que as habilidades demonstradas por esse grupo foram:

(1) demonstrar compreensão global do início do texto, ou seja, compreender os primeiros parágrafos necessários à elaboração da resposta;

(2) identificar a informação e levantar hipóteses sobre essa informação;

(3) perceber a intenção do uso de determinado termo, recuperar o referente dele;

(4) perceber a intenção do uso de determinado termo, recuperar o referente dele e inferir a generalização imposta pelo plural do termo.

Também chama a atenção a questão que apresenta alto índice de respostas incorretas ou baixo índice de acerto: a questão 3. Esses índices evidenciam que o grupo B encontrou dificuldades na questão que exigia as habilidades de inferir informação e justificar resposta com citação do texto. Além dessa, outra questão que merece ser analisada no grupo B é a número um. O grupo apresentou um percentual de 66% nela, mas houve ocorrência significativa de cópias que nos chamou a atenção neste grupo.

A questão 3 é aquela em que todos os grupos apresentaram dificuldades para responder. Como ela foi comentada no grupo anterior, neste trabalho, apenas são verificados alguns exemplos de respostas deste grupo seguidos de comentários. Nessa questão, o grupo B apresentou o percentual de respostas de 8,3% de acerto e 91,7% de erro. Alguns exemplos de resposta do grupo são:

Pergunta 3 ―Quanto tempo duraram os acontecimentos narrados no conto? Justifique sua resposta com trechos do texto‖. B14 2 dias.

Porque o pirata acharam o tesouro. B16 Uma hora, por volta do meio dia

B17 1 dia e meio. Os piratas esvasiaram com menos de uma hora, Ao cair a noite, duas horas depois quando todos ja dormiam, No dia seguinte por volta do meio dia

B25 Vamos, molengas, vamos ao saque. Duas horas depois, quando todos dormiam

Apenas um componente desse grupo consegue responder à questão. As respostas se assemelham às do grupo A, quando houve identificação de algumas das marcas de tempo e o não acerto da duração dos fatos. O aluno B14 responde livremente sem atentar para elementos que pudessem comprovar sua resposta. B16 responde citando uma duração de tempo que ele, provavelmente, supõe ser e exemplifica com um marcador de tempo presente no texto ―por volta do meio dia‖. Como não percebe outras marcas linguísticas de tempo, não tem como ser preciso na indicação do tempo decorrido. B17 responde corretamente de acordo com a resposta do MP do LD, além de, citar adequadamente os trechos com os marcadores temporais previstos. B25 responde apenas com citação de marcas temporais presentes no texto, sem, contudo, apresentar a resposta para duração dos acontecimentos, provavelmente não entendeu o que foi pedido, se ateve apenas que era para indicar tempo. A maioria das respostas apresentadas pelo grupo atentou para segunda parte da questão e, para isso, bastava fazer cópia de trechos do texto. Novamente, a frequência de respostas que focam na transcrição do texto é um dado significativo também no grupo B.

Para responder corretamente de acordo com o previsto no MP, o aluno deveria concluir que os acontecimentos duraram um dia e meio, comprovando suas respostas com transcrição dos marcadores temporais. Embora esse grupo tenha contado com a mediação na leitura do texto, esse fato não favoreceu a elaboração da resposta esperada.

O resultado do grupo, nesta questão, é bastante similar aos dos demais grupos da pesquisa. Foi recorrente, portanto, o baixo percentual de acertos. A questão sem a devida contextualização e com a ausência de parâmetros de correção dificulta mais do que elucida para os alunos. Questões com problemas de elaboração no enunciado podem confundir mais o aluno do que ajudá-lo, como alerta Cafiero (2010, p.39): ―...é preciso ter cuidado com as perguntas para que elas possam orientar, de fato, a compreensão.‖ Há evidências nas respostas dos alunos de que a questão três não orienta adequadamente, por isso foi possível encontrar um resultado tão baixo e recorrente nos grupos.

Neste grupo, vale a pena destacar a questão 1, que apresenta grande número de cópia de trechos do texto na elaboração de respostas. Nela, o grupo B obteve um percentual de acerto correspondente a 66% de acerto, cerca de 50% das respostas apresentam cópias. Essa questão chama a atenção, pois o grupo apresenta uma visão que parece recorrente na turma. Como exemplos de respostas, temos:

Pergunta 1 ―Os dois parágrafos iniciais da história trazem elementos característicos de um conto de aventuras. Que informações do texto comprovam essa afirmação?‖

B17 Voltando a ilha do Caribe.

Na altura do linha do Equador desviouse da rota programada.

B20 Voltando das ilhas do Caribe, o pirata francês Jean-Thomas Dulaien comandava seus dois navios, que se chavam Sem rumo e sem piedade.

B21 Voltando das ilhas do caribe, o pirata frances Jean-tomas dulaien.

B22 Voltando da ilha do Caribe, o pirata francês Jean-Thomas Dulaien comadava seus dois navios, que se chamavam Sem rumo e Sem piedade.

B23 Voltando das ilhas do caribe e o pirata comantava dos navios chamato sem rumo e sem piedate.

B24 Voltando das ilhas do caribe, o pirata Francês Jheam-Thomas Dualaim comandavan seus dois navios.

No momento de responder as questões, apenas um aluno pergunta se na questão 1 ―é para copiar uma parte dos parágrafos?‖

Como a prática de cópia foi recorrente, é possível dizer que esse grupo compreende o texto com o auxílio da mediação, mas, ao responder as perguntas, a percepção do grupo sobre produção de respostas, ou a compreensão do que é responder, é apenas ―copiar‖ algum trecho do texto. Um fator que pode ter contribuído para a cópia é o fato de no enunciado da questão estar presente a indicação dos parágrafos nos quais a resposta pode ―ser encontrada‖. Na maioria das respostas destacadas como exemplo (B20, B22, B23, B24), os estudantes copiam o primeiro parágrafo e apenas um (B17) transcreve o início do primeiro e o início do segundo parágrafos.

Há evidências de que os estudantes do grupo B compreenderam o texto, mas não compreenderam as questões; isso os leva a responder uma questão simplesmente copiando trechos do texto em que havia pistas para resposta. Ou seja, o que eles fazem é reafirmar uma visão de que responder a uma questão sobre um texto é meramente copiar uma parte dele. Essa situação também foi verificada durante as filmagens das aulas, quando em alguns

momentos os estudantes perguntaram à professora se era para copiar do texto, se a resposta estava no texto:

A: ―... é para TIRAR a resposta dos dois textos lidos anteriormente?‖ A: ― A resposta a gente RETIRA do texto?‖

(Perguntas dos alunos identificadas nas aulas filmadas em 21/03 e 09/05/2012, respectivamente).

Esses trechos revelam que, muitas vezes, a ideia de compreensão demonstrada pelos estudantes é apenas copiar, ―tirar‖, ―retirar‖ trechos do texto para responder alguma questão. Em relação à compreensão ser considerada como cópia, Marcuschi ([2001]2003) após analisar vários livros didáticos de português na seção de compreensão e constatar a presença de 70% de perguntas de cópias alerta:

A compreensão é considerada, na maioria dos casos, como uma simples e natural atividade de decodificação de um conteúdo objetivamente inscrito no texto ou uma atividade de cópia. Compreender o texto resume-se, no geral a uma atividade de extração de conteúdos (MARCUSCHI,[2001] 2003, p. 51).

Com questões desse tipo e com a falta de clareza quanto ao que deve ser feito em atividades de compreensão, perde-se a oportunidade de trabalhar o raciocínio, o pensamento crítico, as habilidades argumentativas e a formação de opinião. O autor afirma que os exercícios de compreensão, nos LDP, constituem a evidência mais clara da perspectiva impositiva da escola. Ou seja, há a impressão de que os textos são ali ―monossemânticos‖ e os sentidos únicos. Essa visão foi difundida e ainda parece prevalecer na escola. Isso se percebe quando os alunos entendem que basta ―copiar‖ para responder, mesmo que se possa reconhecer que atualmente os LDs tenham melhorado pelas sucessivas avaliações do PNLD.

O grupo B conseguiu o percentual acima de 70% em quatro questões, duas a mais que o grupo A. Como esse grupo foi mediado na leitura do texto, houve melhor aproveitamento em questões que exigem a compreensão global do texto e mobilizam habilidades como identificar a informação e levantar hipóteses sobre essa informação; perceber a intenção do uso de determinado termo, recuperar o referente dele e inferir a generalização imposta pelo plural do termo; relacionar informações metalinguísticas a informações localizadas no texto e fazer inferência a partir da compreensão global do texto. Questões que têm o foco no texto, portanto, foram mais acertadas pelo grupo B.