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3.4 C OLETA DE DADOS DA PESQUISA DE CAMPO

3.4.2 Entrevistas

3.4.2.1 Atividades com Gráficos

Tendo em vista que o objetivo geral da pesquisa busca analisar as compreensões de LE por parte de licenciandos em Matemática ao participarem de uma formação com ênfase na leitura e interpretação de dados, optamos por inserir na entrevista gráficos que continham informações estatísticas publicadas por fontes oficiais, abordando assuntos de interesse por parte da sociedade, em geral.

A investigação acerca da interpretação dos participantes da pesquisa sobre os gráficos buscou obter não somente os conhecimentos conceituais, os quais consideramos importantes e não os descartamos, mas também, buscamos obter indícios de possíveis posicionamentos críticos, crenças e/ou atitudes que estejam vinculados às suas interpretações, seja de forma explícita ou implícita. Para podermos reconhecer tais comportamentos, consideramos as ideias de Gal (2002a) para as crenças e atitudes.

No processo de escolha dos gráficos a serem utilizados como atividades para a entrevista, reconhecemos a importância em utilizar aqueles que abordassem assuntos polêmicos, como feminicídio, por exemplo, reconhecendo que temas dessa natureza costumam aparecer na mídia, mas geralmente de maneira muito superficial e utilizando-se de linguagem, símbolos e conceitos estatísticos que são desconhecidos pela população. As representações gráficas escolhidas são, basicamente, gráficos de barras e linhas, que apresentam números absolutos, taxas ou porcentagens.

Gráfico 1 – Taxa de homicídio no Brasil e regiões, 2005 a 2015

Fonte: Atlas da Violência (2017).

O primeiro gráfico apresentado aos participantes diz respeito à violência no Brasil e envolve taxas de homicídios a nível de Brasil e suas regiões. Trata-se de uma representação gráfica mista, envolvendo barras e linhas, onde as barras representam as taxas de homicídios a nível de Brasil e as linhas representam as taxas relativas a cada uma das regiões do país. São os tipos mais comuns de representação para este tipo de informação. O gráfico foi publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e utilizado pelo Atlas da Violência de, 2017, para informar sobre a taxa de homicídios, mostrando as variações e tendências no decorrer do período de 10 anos.

Percebemos que o Atlas da Violência, de 2017, traz essa informação, utilizando a unidade de medida “taxa”, porém não explica como é calculada e a partir de quais dados. Esse conhecimento matemático implícito na informação, muitas vezes gera interpretações equivocadas ou nenhuma interpretação. Também observamos que não é informada a unidade de registro dos homicídios para o cálculo da taxa. Os dados sobre violência ao redor do mundo não contam ainda com uma padronização para sua contabilização, no entanto, o protocolo internacional recomenda o cálculo por número de vítimas.

A conferência sobre Qualidade de Dados de Homicídios na América Latina e no Caribe, realizada em Bogotá (Colômbia), no ano de 2015, recomenda em seu protocolo internacional, conhecido como protocolo de Bogotá (2015, p. 4, tradução livre): “a unidade de registro do homicídio deve ser a vítima. Assim, caso duas ou mais pessoas sejam vítimas de homicídio no mesmo incidente, cada uma delas deverá ser registrada individualmente”2. No Brasil, não há

uma padronização, por exemplo, enquanto São Paulo contabiliza de acordo com o número de casos, o Rio de Janeiro considera o número de vítimas.

A informação da unidade de registro do número de homicídios é bastante relevante, porque por meio dela pode-se ter uma melhor noção sobre os números apresentados. É uma informação contextual que traz implicações para a interpretação; ao compararmos os dados sobre o número de homicídios do Rio de Janeiro e São Paulo chegaremos a uma conclusão mais próxima da realidade, ou não?

Foi dado um tempo para os licenciandos observarem e pensarem sobre o gráfico e, em seguida, foram feitas as seguintes perguntas:

 Você pode tirar alguma conclusão acerca dos resultados expressos neste gráfico?  Como você analisa a variação da taxa de homicídio no Brasil de 2005 a 2015?  A que conclusão você chega quando compara a variação da região Nordeste com a

variação nacional?

 E quando você compara a variação da taxa da região nordeste com a região sudeste?  Tomando como base os dados apresentados no gráfico sobre a taxa de homicídios no

Brasil, você poderia prever como estarão esses valores no ano de 2030? Por quê?  Caso você pudesse, acrescentaria alguma informação ao gráfico? Qual (is)?

2 O “Protocolo de Bogotá: sobre calidad de los datos de homicidio en America Latina y el Caribe” foi promulgado na conferência “Calidad de datos de homicídios”, que ocorreu de 7 a 9 de setembro de 2015, na cidade de Bogotá (Colômbia), em uma iniciativa associada da Cámara de Comercio de Bogotá (CCB), da Fiscalía General de la Nación (Colombia), do Ministerio de Justiça y del Derecho (Colombia), e da Open Society Foundation. Fonte: https://www.ccb.org.co/Sala-de-prensa/Noticias-CCB/2015/Noviembre-2015/Protocolo-de-Bogota-sobre- calidad-de-los-datos-de-homicidios-en-America-Latina-y-el-Caribe. Acesso em: 14 fev. 2020.

As atividades utilizando gráfico na entrevista foram intercaladas pela inserção de um texto escrito (Apêndice A) sobre o tema “Feminicídio no Brasil”. O texto contém várias informações estatísticas sobre o tema. Apresenta informações através de números absolutos, taxas e porcentagens, os quais estão relacionados a um contexto específico, isto é, o assassinato de mulheres, por sua condição de ser mulher. Os dados apresentados no texto são provenientes do Mapa da Violência, de 2015. Em seguida, foi apresentado um gráfico de linha sobre o mesmo tema do texto, com o objetivo de investigar indícios de relação entre os dois meios de representação nas interpretações dos participantes. O referido gráfico pode ser visualizado a seguir:

Gráfico 2 – Evolução das taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil)/Brasil. 2003/2013

Fonte: Mapa da Violência (2015).

No gráfico 2 é apresentada a informação sobre a taxa de homicídio de mulheres no Brasil, no período de 10 anos (2003-2013). Diferentemente do gráfico apresentado pelo Atlas da Violência, este informa que a referida taxa é calculada por grupos de 100 mil mulheres.

Após o licenciando observar, analisar e pensar sobre o gráfico na tela do computador pelo tempo que julgasse necessário, fizemos as seguintes perguntas:

 Qual a sua análise a partir dos resultados expressos no gráfico acima?

 Observamos um decréscimo das taxas após 2003 e 2006. A que você poderia atribuir essa diminuição?

 Os dados são apresentados por um número chamado taxa. Você sabe quais dados são utilizados para se obter esse valor?

 Qual (is) informação (ões) você acrescentaria ao texto: Feminicídio no Brasil? Qual a sua percepção a respeito desse assunto?

 Que perguntas você faria a pessoa que elaborou esse gráfico?