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3.6 O CURSO DE FORMAÇÃO

3.6.1 Eixos de Análises para o Curso de Formação

Nesta seção, apresentamos os procedimentos para a análise do curso realizado com licenciandos em Matemática com base na Estatística, numa perspectiva de Letramento Estatístico. A realização de um curso deste tipo e com esta temática não é uma tarefa fácil de realizar. Inicialmente, foi enviado e-mail para um total de 30 licenciandos, dos quais apenas 10 responderam, sinalizando o interesse para fazer parte da pesquisa. Não obtivemos resposta dos demais convidados, o que talvez tenha ocorrido por questões de disponibilidade de tempo, ou por não terem interesse na temática, ou até mesmo por não ter visualizado o e-mail.

Os licenciandos eram alunos de uma universidade em que o pesquisador já havia atuado como docente durante um período de 4 anos, o que facilitou o contato e a sua comunicação com o departamento, que tinha como objetivo obter os meios necessários para a realização da pesquisa. A primeira visita ao departamento ocorreu com o objetivo de solicitar pessoalmente ao chefe do departamento a autorização para trabalhar com os alunos da licenciatura em Matemática e verificar a disponibilidade de um local apropriado para os encontros. O então chefe do departamento foi bastante solícito ao nosso pedido, autorizando a realização para a pesquisa e disponibilizando uma sala.

Outro obstáculo se deu pela dificuldade de conciliação de horários entre os participantes. À princípio, nos comunicávamos por e-mail e, a partir desses contatos, foi definida uma data para a realização de uma reunião. Nesse primeiro momento, foi feita a apresentação geral sobre o curso, conversamos sobre os conteúdos a serem trabalhados, qual seria a dinâmica dos encontros e falamos sobre o termo de compromisso (ver Apêndice G), que posteriormente receberiam para assinar.

Por ocasião desta reunião, aplicamos uma atividade, a qual denominamos de diagnóstica, cuja análise apresentaremos no capítulo 5. Naquele momento, encontravam-se reunidos o pesquisador e nove licenciandos. O décimo participante, informou que, por motivos pessoais, não seria possível participar da pesquisa, o que justifica a presença de apenas 9. Dessa forma, a nossa primeira etapa de coleta de dados foi composta por um quantitativo de 9 licenciandos, porém, passada essa fase, mais 4 integrantes comunicaram a desistência. Destes, 3 alegaram apenas motivos pessoais e um deles, em uma conversa informal, revelou que está mais ligado aos contextos da Matemática pura e, pensando que o curso proposto seria dessa natureza, constatou a partir da primeira atividade aplicada e também pela entrevista que o foco não era do seu interesse, preferiu não participar, pois, segundo ele, não iria contribuir de forma positiva. Naquela ocasião, usamos como argumentos que a formação do professor não se constitui apenas nos princípios da Matemática pura, mas respeitamos a decisão do participante e fizemos os agradecimentos devidos.

Naquela ocasião, informamos aos licenciandos que havia a necessidade de realizar uma entrevista individual. Dada a necessidade de nos comunicarmos, optamos por criar um grupo no aplicativo WhatsApp posteriormente. Ao final da reunião, ficou acordado entre todos os participantes que os encontros aconteceriam às quartas-feiras no período da tarde, das 13h às 16h, logo que fossem concluídas as entrevistas. Após acertarmos os detalhes, explicarmos os pormenores do curso e tirarmos todas as dúvidas, os licenciandos foram convidados a assinar o termo de compromisso (ver Apêndice G); feito isto, encerramos a reunião.

Nesta seção, também, buscamos descrever e analisar a dinâmica ocorrida no decorrer da realização dos encontros, durante os quais foram propostas atividades envolvendo a leitura e interpretação de dados estatísticos, bem como a leitura de textos acerca da Educação Estatística. O pano de fundo do curso está fundamentado no modelo de LE (GAL, 2002a).

A construção dos eixos analíticos para esta parte da tese se deu a partir da organização dos dados produzidos no curso de formação sobre LE ofertado a licenciandos de Matemática, mas também pelas diversas interações que vêm acontecendo desde o início do processo, entre pesquisador e participantes, mais precisamente desde quando os licenciandos interessados responderam àquele e-mail. A perspectiva teórica subjacente à construção desse eixo está fundamentada no referencial teórico do modelo de LE proposto por Gal (2002a; 2019), de estudos acerca da Educação Matemática Crítica (SKOVSMOSE, 2013; 2007) e da formação inicial de professores de Matemática, do ponto de vista dos estudos de Fiorentini e Oliveira (2013), Moreira e David (2007), Alro e Skovsmose (2007) e Menezes et al. (2014).

Atentos às questões principais de pesquisa, a saber: “Quais as compreensões que licenciandos têm da Estatística numa perspectiva de LE?” e “Quais os aspectos do trabalho coletivo entre licenciandos que contribuem para a compreensão do LE?”; e, ainda, sem perder de vista o objetivo, qual seja: analisar as compreensões de Letramento Estatístico de licenciandos de Matemática, no contexto de um curso de formação, a partir da exploração de dimensões críticas, descreveremos, portanto, as ações desenvolvidas para analisar indícios de desenvolvimento de LE de licenciandos em Matemática, emergidas a partir da proposição de atividades de leitura e interpretação de informações estatísticas, bem como da postura dos licenciandos e do formador durante a realização dos encontros.

Para analisar os dados produzidos pelos encontros entre formador e licenciandos, organizamos os dados obtidos com a filmagem dos encontros em um quadro, destacando as ações que, à luz dos referenciais teóricos, se configurariam como indícios de LE. Procuramos registrar as recorrências e/ou regularidades nos extratos, de maneira a captar e definir eixos de análise, fundamentados no método da análise de conteúdo de Bardin (1977). O quadro 15, a seguir, apresenta um recorte do modelo utilizado na organização dos dados:

Quadro 15 – Modelo de organização e construção dos eixos de análises

Unidades de contexto Unidades de

registro Categorias

Extrato da fala dos participantes envolvidos

Frases extraídas das unidades de

contexto

Operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto...

Fonte: Elaboração do autor.

Na primeira coluna, agrupamos os extratos das falas dos participantes, transcritas do material gravado em vídeo. Esses extratos se constituem em um ou mais parágrafos e são denominados de unidades de contexto. Na segunda coluna, agrupamos as unidades de registro, que são unidades menores (códigos), extraídas das unidades de contexto, com significados a codificar visando à categorização. A terceira coluna, apresenta a categoria propriamente dita, como resultado dos procedimentos de análises imediatamente anteriores.

Por meio desses procedimentos para identificar, classificar e codificar regularidades, construímos três eixos de análises, os quais estão relacionados ao modelo de Letramento Estatístico, de pressupostos da Educação Matemática Crítica e, também, de aspectos ligados à formação de licenciandos de Matemática. Desta maneira, foram elaborados os seguintes eixos de análise:

 Eixo de análise 1: Significados atribuídos à Estatística;

 Eixo de análise 2: O papel do diálogo no processo de promoção do LE;

 Eixo de análise 3: O papel desempenhado pelo pesquisador para o estabelecimento de diálogos.

Nos capítulos 4, 5 e 6, a seguir, apresentaremos as análises e discussões dos resultados, respectivamente, da RSL, da atividade diagnóstica e entrevistas, e do curso de formação.

C

APÍTULO

4–

REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

Neste capítulo, apresentamos os resultados da RSL e a análise desses resultados. Inicialmente, são apresentados os resultados do levantamento das publicações selecionadas por meio do portal de periódicos da Capes e também dos periódicos da Educação Matemática. Posteriormente, são apresentados os resultados do levantamento das publicações via Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD).