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MÁRCIO AYRES

4.3 RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO PIRANHA DO MUNICÍPIO DE MANACAPURU AMAZONAS

4.3.6 Atividades e uso dos recursos ambientais na RDSP

Os fatos descritos abaixo fazem parte do Relatório sócio-econômico (s.d.) elaborado sobre a RDS do Piranha em que síntese detectou que:

O sistema comercial é permeado por relações de dependência moral e de compadrio que reforçam a dependência financeira. A falta de opções a quem vender e a distância dos mercados constituem outros componentes importantes do sistema.

Existem produtos cuja prioridade é o consumo direto e imediato, como quelônios e peixes, enquanto outros, como fibra, farinha e o mel, são trocados por mercadorias.

A exploração madeireira no interior da RDSP está localizada principalmente nas proximidades das margens dos paranás do Piranha, Piranhaúba e Pirapitinga, além dos lagos do Cendê, Flecha e Tauari, mas também ocorre de forma pequena e isolada em torno das comunidades. A madeira extraída pelos próprios moradores é utilizada na construção de residências, de canoas e de embarcações de pequeno porte. Ocorre ainda, por meio de intermediários do ramo, a comercialização para consumidores de Manacapuru, bem como a exploração de madeira por pessoas não residentes na área da unidade. Em alguns casos, está presente o sistema de aviamento; em outros, a madeira é vendida a preços aviltantes.

Atualmente, talvez pela baixa densidade das espécie comerciais e o difícil acesso, o extrativismo vegetal não causa alterações importantes à cobertura vegetal: os métodos

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utilizados para acessar os recursos caracterizam-se pela baixa taxa de visitação às áreas exploradas, uma vez que as picadas e estradas são temporárias e estreitas.

A comercialização dos produtos dá-se quase exclusivamente por venda direta e a maioria dos comerciantes não é especializada em um só produto. Essa atitude pode estar relacionada à proibição da entrada de comerciantes madeireiros na Reserva, feita pela Prefeitura no ano 1997.

Aparentemente, os moradores da RDS-Piranha seguem um padrão semelhante, selecionando algumas espécies de animais que ocorrem em abundância e escolhendo os locais de moradia em função da localização dos recursos. No caso da caça, isso significa procurar fixar residência onde há mais quelônios aquáticos, grandes roedores, primatas e aves.

A caça é praticada nas áreas de floresta, nas margem dos paranás e nos lagos, não somente da propriedade mas em áreas adjacentes. A carne de caça é, depois do peixe, o alimento protéico mais importante para a população ribeirinha da Reserva.

A maioria dos peixes utilizados como alimento pela população da Reserva é pescada artesanalmente com anzol ou zagaia, técnicas que capturam exemplares individuais e pouco ameaçam os estoques naturais enquanto objetivam o abastecimento de pequenas comunidades.

O extrativismo de animais é um tipo de interação predador presa, que pode ser estimulado por dois fatores: pelo crescimento populacional das comunidades extrativistas (fator interno) ou pelo mercado. No nível em que ocorre, o extrativismo na Reserva desenvolvimento sustentável do Piranha, aparentemente não provocou extinções locais, nem produziu variações observáveis nas abundâncias.

Os animais são capturados sobretudo para comer, com exceção dos peixes que em grande parte são vendidos e constituem importante fonte de renda para a população, que, no entanto, ainda vive em situações precárias de empobrecimento.

O sistema de agricultura tradicionalmente praticado na RDS-Piranha, é o sistema de pousio, no qual, os moradores cultivam durante seis meses do ano, com base em seus costumes e tradições e têm uma maneira própria de cuidar das roças, normalmente herdada de seus pais.

Na agricultura praticada os processos ainda são, também, bastante tradicionais corte/queima, com o objetivo de atender ao consumo das famílias. A preparação da área envolve várias etapas, dependendo da cobertura vegetal, tais como broca, derrubada, queimada e coivara. O plantio segue a forma tradicional e é feito pelos membros das famílias. As formas tradicionais de produção normalmente utilizam animais de pequeno porte, geralmente alimentados com restos de alimentos e de processamento de produtos.

Estes dados devem fazer parte do Plano de Manejo da RDS do Piranha para subsidiar as ações que deverão ser implementadas naquela área, além das atividades de educação ambiental e alternativa sustentável que já foram inseridas na Reserva como veremos a seguir.

Em meados de novembro de 2000, a SEDEMAT idealizou um projeto de educação ambiental, com o intuito de formar agentes ambientais para participarem junto aquele órgão do processo de conservação e proteção dos recursos naturais nas comunidades rurais do município de Manacapuru. Este projeto visava capacitar 60 agentes voluntários, dentre eles, 30 seriam provenientes da área de entrada a RDS Piranha165. Segundo documento interno da SEDEMAT (S.D.)166 o projeto foi concretizado naquele ano, com cerca de 80 agentes ambientais, dos quais 54 eram da RDS do Piranha e os demais das comunidades das áreas de amortecimento (Sacambú, Castanho, Laguinho, Campinas e Costa do Cabaleana).

Ainda, a RDS Piranha tem um projeto de ecoturismo e alternativa sustentável aos residentes da UC, que é viabilizado através do hotel de selva, localizado no interior da UC. O hotel de selva foi construído com o patrocínio da Suframa com o objetivo de oferecer uma alternativa econômica as comunitários da RDS do Piranha, que seriam contratados para

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Informações retiradas do referido projeto. SEDEMAT. Projeto de Educação Ambiental: Formação de agente ambiental para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Piranha (RDSP). Manacapuru, nov., 2000. 166

prestar serviços no ramo da hotelaria. Em agosto de 2001, a Prefeitura Municipal de Manacapuru e a Amazona Ecopark Hotéis e Turismo Ltda. celebraram o Termo de Permissão de Uso167, que prevê a permissão do uso do Hotel Flutuante do Piranha168 e de atividades de ecoturismo, consta no seu termo uma estação de tratamento de esgoto sanitário, implementada naquela área.