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ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS

No documento BAQUARA MAIO/2019 VOL 1 NUMERO1 ISSN (páginas 89-111)

CAPÍTULO IV DOS MUNICÍPIOS

ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS

Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço público.

§ 1º - O tempo de serviço dos servidores referidos neste artigo

será contado como título quando se submeterem a concurso para fins de efetivação, na forma da lei.

§ 2º - O disposto neste artigo não se aplica aos ocupantes de

cargos, funções e empregos de confiança ou em comissão, nem aos que a lei declare de livre exoneração, cujo tempo de serviço não será computado para os fins do "caput" deste artigo, exceto se tratar de servidor.

§ 3º - O disposto neste artigo não se aplica aos professores de

nível superior, nos termos da lei.

Art. 53. Ao ex-combatente que tenha efetivamente participado

de operações bélicas durante a Segunda Guerra Mundial, nos termos da Lei nº 5.315, de 12 de setembro de 1967, serão assegurados os seguintes direitos:

IV - assistência médica, hospitalar e educacional gratuita,

extensiva aos dependentes;

Art. 61. As entidades educacionais a que se refere o art. 213,

bem como as fundações de ensino e pesquisa cuja criação tenha sido autorizada por lei, que preencham os requisitos dos incisos I e II do referido artigo e que, nos últimos três anos, tenham recebido recursos públicos, poderão continuar a recebê-los, salvo disposição legal em contrário.

Art. 62. A lei criará o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

(SENAR) nos moldes da legislação relativa ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e ao Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (SENAC), sem prejuízo das atribuições dos órgãos públicos que atuam na área.

Art. 88. (último artigo)

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A legislação brasileira, na área educacional apresenta um grande avanço com a promulgação da Constituição de 1988. O capítulo de educação nela inserido dá os rumos da legislação posterior, seja no âmbito dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. A partir daí surgem novas leis para regulamentar os artigos constitucionais e estabelecer diretrizes para educação no Brasil.

Embora não seja objeto deste texto, importa comentar que uma análise sistêmica das normas no campo da educação implica a observância de todos os atos normatizadores, não apenas a Constituição vigente, considerando os emanados do Conselho Nacional de Educação, do Congresso Nacional, do Ministério de Educação e seus órgãos e instituições, assim como do sistema de ensino ao qual esteja vinculado.

Alguns exemplos são a LDB (BRASIL, 1996a), a lei que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) – Lei nº 13.005/2014 (BRASIL, 2014) e as normas relativas ao financiamento da educação básica, como o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) (BRASIL, 1988, Art.60), posteriormente, alterado pelas Emendas Constitucionais nº 14 (BRASIL, 1996b) e nº 53 (BRASIL, 2006). Do Ato e das Emendas, alterando o ADCT, derivaram as leis nº 9.424 (BRASIL, 1996c); nº 10.195 (BRASIL, 2001); nº 10.845 (BRASIL, 2004a); nº 10.880 (BRASIL, 2004b); e nº 11.494 (BRASIL, 2007).

Implica, ainda, a observância de outras normas do Estado brasileiro que tenham uma relação indireta com e educação, como as Emendas Constitucionais nº 19, que modifica o regime e dispõe sobre princípio e normas da Administração Pública; e nº 95, que impacta no financiamento da educação.

Uma Constituição estabelece as regras de convivência em uma sociedade/Nação. O Estado brasileiro teve sua primeira Constituição em 1824, outorgada no segundo ano da declaração de sua independência. Em 1988 foi aprovada a oitava Constituição, cujo texto apresenta alterações significativas.

Ao descrever a abordagem dada a Educação nas Constituições brasileiras, apreende-se uma evolução no que tange a garantia de direito, da divisão de responsabilidades e do financiamento. Todavia, nem tudo que está previsto está

Considerações Finais

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Referências

ARELARO, Lisete Regina Gomes. A descentralização na Lei 5692/71:

coerência ou contradição. Universidade de São Paulo. Faculdade de Educação.

(Dissertação de Mestrado), 1980.

BRASIL. Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do

Brasil. Brasília, DF, 1988.

BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil de 1824. Rio de Janeiro,

1824.

BRASIL. Constituição da Republica dos Estados Unidos do Brasil de 1891.

Rio de Janeiro, 1891.

BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934.

Rio de Janeiro, 1934.

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937. Rio de Janeiro,

1937.

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946. Rio de Janeiro,

1946.

BRASIL. Constituição do Brasil de 1967. Brasília, DF, 1967.

BRASIL. Emenda Constitucional de 1969. Brasília, DF, 1969.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 13.005. Aprova o Plano Nacional de

Educação (PNE) (2014-2024). Brasília, DF, 2014.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 11.494. Regulamenta o Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. Brasília, DF, 2007.

BRASIL. Congresso Nacional. Emenda Constitucional nº 53. Brasília, DF,

2006

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 10.845. Institui o Programa de

Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência, e dá outras providências. Brasília, DF, 2004a.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 10.880. Institui o Programa Nacional

de Apoio ao Transporte do Escolar - PNATE e o Programa de Apoio aos

Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos, dispõe sobre o repasse de recursos financeiros do Programa Brasil Alfabetizado. Brasília, DF, 2004b.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 10.195. Institui medidas adicionais de

estímulo e apoio à reestruturação e ao ajuste fiscal dos Estados e dá outras providências. Brasília, DF, 2001.

regulamentado, e, talvez até por isso, exista uma distância significativa entre o que rege a Carta Magna e a práxis educacional desenvolvida pelos entes federados.

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BRASIL. Congresso Nacional. Emenda Constitucional nº 14. Brasília, DF,

1996b.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 9.394. Estabelece as Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (LDB). Brasília, DF, 1996a.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 9.424. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção

e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). Brasília, DF, 1996c.

CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE, Hilton Lobo. Constituições do

Brasil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

COSTA, Messias. A educação nas constituições do Brasil: dados e direções.

Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

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DP&A, 2000.

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Campinas, SP: Autores Associados, 1996.

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história, política e filosofia da educação. 2001.

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São Paulo: Cortez, Autores Associados, 1986.

TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo:

Malheiros Editores, 2004.

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POLITICA SOCIAL, DIREITOS E CIDADANIA NO CAPITALISMO: (in) visibilidade social da exploração sexual de crianças e adolescentes na

região metropolitana de Cuiabá-MT.

RESUMO

Este texto aborda a constituição dos direitos e sua relação entre cidadania e democracia no capitalismo, sobretudo no impacto da construção de grandes obras para megaeventos como a Copa do Mundo de 2014 em Mato Grosso, este revelado nas ações de enfrentamento através do Sistema de Garantia de Direitos de crianças e adolescentes vítimas da violência sexual, especialmente no âmbito da exploração sexual comercial convertida em mercadoria no capitalismo tardio. Discute a Política Social no tocante a (in) visibilidade da violação de direitos no contexto de crise do capital provocando profundas transformações nas relações sociais.

PALAVRAS-CHAVES: Política Social; Capitalismo; Direitos; Cidadania;

Exploração Sexual comercial de crianças e adolescentes.

INTRODUÇÃO

A concepção de direitos no capitalismo tardio e sua incompatibilidade com a democracia a partir dos ditames da acumulação capitalista, direcionadas às leis do mercado alinhadas ao capitalismo necessariamente situado nas esferas da vida cotidiana fora do parâmetro, no qual a democracia deve prestar conta de seus

Leila Chaban1

1 Doutoranda em Política Social pelo PPGPS - DINTER/UnB-UFMT. Professora do Departamento do curso de Serviço Social do Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG-MT. E-mail: leilachaban17@hotmail.com

2 Mestra em Política Social pelo PPGPS - UFMT. Coordenadora de Curso no Depar- tamento de Serviço Social do Centro Universitário de Várzea Grande - UNIVAG-MT. E-mail: terezinaarruda4@hotmail.com

Terezina Fátima Paes de Arruda2

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atos e assumir responsabilidades. E neste contexto, a prática humana também é convertida em mercadoria como as abordagens relacionadas com a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes e seu enfrentamento no cenário dos megaeventos, sobretudo pela realidade vivenciada no Brasil em 2014 com o advento da Copa do Mundo e o seu impacto social, econômico e cultural alinhado ao aparato político na construção de grandes obras provocando profundas transformações na vida cotidiana da população matogrossense, quanto brasileira.

A discussão apresentada perpassa pelo enfrentamento e conquista sóciohistorica dos direitos fundamentais da criança e do adolescente no tocante a violência sexual agravada no capitalismo. Considera-se também atrelar a este cenário da democracia pautada nas condições de trabalho antigo e moderno, pois os gregos inventaram o trabalho livre e não a escravidão, como afirma Wood, (2011). Porém, as condições materiais que se estabelecem com o trabalho e sua relação com a liberdade, e que condições pautadas numa democracia representativa e substantiva, na capacidade de realizar e ter acesso aos direitos nas relações democráticas, no sentido de participação ativa, no protagonismo consistente da sociedade na luta pelos direitos infanto-juvenil. E neste sentido, a democracia é incompatível com o capitalismo, pois a utilização da exploração sexual comercial apropriada como mercadoria pode-se considerar no tempo presente uma atualização da escravidão, que do ponto de vista dos direitos sociais mesmo com a conquista do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA de 1990 e o Sistema de Garantia de Direitos não garante que a criança esteja livre da violação dos seus direitos, e principalmente do desenvolvimento integral e saudável.

É a partir de pautas concretas que tornam o protagonismo como no caso dos movimentos de meninos e meninas de rua na luta por direitos através da cidadania, emancipação política e emancipação humana, na perspectiva crítica, qual o sentido do Estado, da liberdade, da igualdade, da democracia para além da defesa dos diretos pelos direitos. Construir cotidianamente a perspectiva da luta emancipatória de uma superação da desigualdade. Recuperar o sentido do termo democracia – governo do e para o povo – e ao mesmo tempo pondo-a em perspectiva como prática, da consciência e alienação está colocada nesta discussão às várias transformações ao longo do desenvolvimento do sujeito da história no debate sobre democracia, cidadania, emancipação e direitos, reforçados no

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conjunto de reflexões no contexto da “Democracia contra o capitalismo”. O desafio requer mobilização da sociedade para a promoção e garantia dos direitos da infância e adolescência, dar visibilidade e reconhecimento do direito, sobretudo livres da violência sexual ainda está por consubstanciar-se em prática social no Brasil.

Discutir a invisibilidade no contexto da democracia em demarcar não somente o enfrentamento desta expressão da questão social das vítimas da exploração sexual na região metropolitana de Cuiabá-MT numa abordagem que perpassa pelos megaeventos, em locais de turismo, e grande visitação. Assim como, conhecer as políticas de enfrentamento na garantia dos direitos dos cidadãos e cidadãs, bem como as respostas que a sociedade e o Estado oferecem diante da real situação.

Tratar esta temática atrelada à política social e dos direitos no capitalismo, sobretudo no Brasil implica considerar em tempos atuais a contrarreforma do Estado, tanto na manutenção da pobreza, quanto no fortalecimento do mercado globalizado conduzido pelos ataques do neoliberalismo frente o desmantelamento das políticas sociais e os direitos ameaçados. Historicamente, a política social tem sua gênese no capitalismo através de mobilizações operárias, nos movimentos populares e com a Revolução Industrial na Inglaterra entre os séculos VIII e XIX. E no Brasil,

No curso dialético da formação do capitalismo brasileiro entre os séculos XVI e XIX, o processo da colonização serviu a acumulação originária de capital nos países centrais. Este processo se configura até os dias atuais com reflexos de desigualdade marcando profundamente os ritmos de mudança impulsionados

Concepção de Direitos no Capitalismo e Distinção entre Cidadania, Emancipação Política e Humana: Protagonismos da Infância e Juventude

[...] pensar o surgimento e o desenvolvimento da politica social nas condições brasileiras [...] cabe uma breve caracterização da formação do capitalismo entre nós. Afinal não fomos o berço da Revolução Industrial e as relações sociais tipicamente capitalistas desenvolveram-se aqui de forma bem diferente dos países de capitalismo central. [...] a politica social no Brasil, país da periferia do mundo capitalista, se constituiu com as marcas dessa particularidade histórica. (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 71).

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pela impossibilidade de igualdade social, cultural, ética e etc. Considerado por Ianni (1999, p. 267 apud Behring e Boschetti, 2006, p. 72), “O maior exemplo é a condição do trabalho nas relações sociais e no ambiente cultural brasileiros, carregados até hoje de desqualificação, definidora da relação entre capital e trabalho no país”.

Neste sentido, é necessário compreender as políticas sociais, especificamente nos estudos em Boschetti (2008) que, no contexto latino- americano e brasileiro, foram criadas para concretizar direitos sociais, tem-se se mostrado limitadas e mais restritivas no âmbito neoliberal, tendo provocado intensas transformações que implicam diretamente no acesso aos direitos da seguridade social. Ou seja, uma proteção seletiva e dependente da contribuição do próprio trabalhador na manutenção regulada segurada pela Previdência Social. O cidadão fora destes princípios constituídos pelo mercado de trabalho se distancia do acesso aos direitos via seguridade social. As políticas sociais marcadas pelo processo dialético no Brasil atrelado aos direitos sociais são advindas das reivindicações e lutas iniciais dos trabalhadores no tocante às primeiras leis direcionadas ao mundo do trabalho.

A política social está atrelada as lutas sociais, forçando o Estado a assumir algumas das reivindicações populares e coletivas. Especialmente no que diz respeito aos direitos da população infanto-juvenil gestados a partir de 1891, depois em 1927 com o Código de Menores até a conquista do ECA em 1990. Considerando a grande conquista de direitos no Brasil pela Constituição Federal de 1988 contemplando a grande conquista sóciohistorica brasileira. Contudo, os direitos sociais dizem respeito inicialmente à “consagração jurídica de reivindicações dos trabalhadores, ao que convém ao grupo dirigente do momento que configure melhoria das condições humanas”. (VIEIRA, 2007, p. 144).

Contudo, o fenômeno da exploração sexual está presente em escala mundial e que atinge milhões da população infanto-juvenil, principalmente do gênero feminino, em países com população pobre. A autora destaca ainda a fragilidade deste entendimento, pois:

A dificuldade conceitual da questão e sua precária avaliação quantitativa deve-se ao fato do mercado do sexo ser extremamente poderoso economicamente, florescente, que se recicla constantemente, ser ilegal, criminoso e dominado por máfias, o que faz com que o conhecimento e as pesquisas sobre

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essa problemática sejam extremamente difíceis e até mesmo perigosos (FALEIROS, 2000, p. 31).

Estudos já realizados nos remetem a compreender o caráter econômico do trabalho e da exploração sexual aproximadas na “pobreza e na exclusão (e a busca de inclusão via renda e consumo)” como importantes determinantes da inserção neste mercado de trabalho. “A dimensão e complexidade desta questão podem acrescentar outras dimensões ao se tratar de um fenômeno de caráter econômico e peculiar” (FALEIROS, 2000, p. 33). A população infanto-juvenil tem sofrido diretamente o impacto das transformações sociais, econômicas e políticas na cena contemporânea, principalmente aqueles em situação de pobreza, sendo inseridas no mercado de trabalho precocemente (OIT/IBGE, 1988).

O fato é que violência sexual é um fenômeno antigo, e segundo dados do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes - CECRIA (1999) é “produto das relações sociais construídas de forma desigual e geralmente materializada contra aquela pessoa que se encontra em desvantagem física, emocional e social.” A violência tem sido denunciada no ambiente doméstico/ familiar contra mulheres, meninos, meninas e adolescentes, sendo que a incidência maior é em mulheres e meninas, daí a questão de gênero ser compreendida como categoria a ser discutida.

A pobreza indica situações de exclusão social, possibilita espaços apropriados para a exploração sexual comercial, exploração do trabalho infantil, assim como propicia as múltiplas expressões da violência no cenário advindo e mantido na perspectiva do capitalismo liberal cujo princípio é fundado na liberdade em detrimento da igualdade, como, por exemplo, “a naturalização da miséria”, pois para os liberais, a miséria é compreendida como resultado da moral humana e não como resultado do acesso desigual à riqueza socialmente produtiva (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 62).

Ainda em Wood (2011, p. 228), é preciso estar atento aos perigos do capitalismo, pois “nenhuma pessoa racional deveria apoiá-lo; mas sabemos que não é assim que as coisas funcionam”. Ainda mais se tratando de crianças e adolescentes como produto da acumulação do capital através da exploração sexual comercial. A autora chama a atenção para algumas características do capitalismo, sendo “ele incomparavelmente indiferente às identidades sociais das pessoas que explora”. Anunciando que,

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[...] o capitalismo tem uma tendência positiva de solapar essas diferenças e a diluir identidades como gênero ou raça, pois o capital luta para absorver as pessoas no mercado de trabalho e para reduzi-las a unidades intercambiáveis de trabalho, privadas de toda identidade específica. (WOOD, 2011, p. 228)

Ou seja, Wood (2011) reforça que o capitalismo é capaz de prevalecer- se de toda opressão extraeconômica (gênero ou raça) que esteja histórica e culturalmente disponível em qualquer situação. As múltiplas agressões contra crianças e adolescentes vêm se caracterizando ao longo dos tempos não mais como um problema interpessoal de caráter privado, mas, sobretudo uma expressão da correlação de forças da sociedade em que acontece. Problematizá-la significa trazer a tona relações de opressão embutidas na organização da sociedade como normais e naturais, visando mudanças estruturais e não somente individuais (LEAL, 2003). Portanto, a exploração sexual infanto-juvenil como uma relação de dominação dos adultos sob as crianças e aos adolescentes. Vejamos,

Importante destacar em Faleiros (2007), que a violência sexual é favorecida por fatores de vulnerabilidade da vítima. No Brasil, a grande desigualdade social e as condições precárias de vida de parte da população transportam as crianças para mais próximo da exploração. Trata-se de uma pobreza e uma indigência estrutural, vinculadas a relações sociais concentradoras de renda, poder e privilégios para poucos. Para o capitalismo não importa se é criança, idoso, mulher, vai se tornar uma exploração da riqueza socialmente produzida com vistas a sua acumulação.

O termo “Exploração Sexual Infanto-Juvenil” cunhou-se a partir da Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI de 1993, que em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei Federal n. 8.089/96) produziu- se significativo avanço nessa temática. Identifica que criança com idade inferior a doze anos e o adolescente com menos de dezoito anos, “não optam por se prostituírem, e sim são induzidos pela prática delituosa do adulto”, conforme

A exploração sexual comercial é uma violência sexual sistemática que se apropria comercialmente do corpo, como mercadoria para auferir lucro. Mesmo inscrito como “autônomo” sem intermediários, o uso (abuso) do corpo, em troca de dinheiro, configura uma mercantilização do sexo e reforça os processos simbólicos, imaginários e culturais machistas, patriarcais, discriminatórios e autoritários. Essa “imagem de marca”, parafraseando o moderno marketing, [...] de modernas redes que oferecem nos anúncios “corpinho de adolescente”, “cara de criança”, “loirinha”, “moreninha” (FALEIROS, 1998 apud CECRIA, 1999, p. 21).

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o relatório do CECRIA, (1999, p. 21). Para Cerqueira-Santos (apud OMS 2008, p. 2), a exploração sexual tem sido discutida em todo o mundo como uma das formas mais extremas de violação aos direitos de crianças e adolescentes.

A exclusão social, as propostas neoliberais e a lei do mercado estão incluídas nesse cenário. A história brasileira, assim como a da América Latina, foi marcada por colonização escravagista e por uma elite oligárquica dominante que tinha como característica a exclusão daqueles considerados inferiores (FALEIROS; CAMPOS, 2000, p. 2). Os critérios utilizados para a exclusão social baseados na cor, raça, gênero e idade, dando origem a uma sociedade machista, sexista e adultocêntrica, que predomina até os dias atuais (CERQUEIRA- SANTOS, 2008). Assim, é fundamental compreender a violação de direitos e o enfrentamento desta questão é de responsabilidade da sociedade e do Estado. Pois,

É preciso considerar o fato de que se há exploração sexual infanto- juvenil é porque há a compra, como a lei do mercado, principalmente pela situação de miséria, a qual força o ser humano a se submeter a esta prática, principalmente quando a cultura local desvaloriza a mulher e condiciona à submissão. As relações sociais se definem quanto às bases econômicas e as relações de produção determinantes à estrutura e funcionamento da sociedade, com ênfase aos elementos que a compõem, tanto as instituições sociais quanto os in¬divíduos que interagem uns sobre os outros de forma dialética, tendo seu comportamento

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