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BAQUARA MAIO/2019 VOL 1 NUMERO1 ISSN

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Academic year: 2021

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Revista

BAQUARA

MAIO/2019 VOL 1 NUMERO1

ISSN 2675-2964

Revista Online Cuiabá/MT

Revista

Revista Online Cuiabá/MT

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BAQUARA

A Revista Baquara é uma revista on line semestral, de acesso aberto e gratuito, que publica trabalhos originais na área de políticas públicas, formação de professores, ensino e outros publicações na área de educação. Objetiva publicar artigos inéditos resultantes de pesquisas, de estudos teóricos, de resenhas, experiências e reflexões pedagógicas. É uma publicação do Conselho Municipal de Educação de Cuiabá, aceita colaboração, reservando-se no direito de publicar ou não o material espontaneamente enviado ao Comitê Editorial. As colaborações devem ser enviadas à Revista em meio eletrônico, conforme as normas de publicação para editorial@ revistabaquara.com.br. A Instituição ou a editora da Revista Baquara não se responsabilizam pelas ideias ou conceitos emitidos nos textos. Os artigos assinados refletem as opiniões de seus autores.

Indexadores 2019 CME/Cuiabá Projeto gráfico e diagramação Lucia Maria da Silva - Luma Silva Capa

Cristiano Brito

Lucia Maria da Silva - Luma Silva

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Comitê Editorial

Profº Ms. Geraldo Grossi Junior Profº Drº Rosemar Eurico Coenga Conselho Editorial Externo

Anna Maria Ribeiro F. M. Costa (UNIVAG) Bárbara Cortella Pereira de Oliveira (UFMT) Cláudia Cristina Ferreira Carvalho (UFGD) Degmar dos Anjos (IFPB)

Fernando Rodrigues de Oliveira (UNIFESP) Gilda Cardoso de Araújo (UFES) Jaqueline Pasuch (UNEMAT) José Nicolau Gregorin Filho (USP) Luiz Augusto Passos (UFMT) Luiz Fernandes Dourado (UFG)

Maria do Rosário Longo Mortatti (UNESP) Marisa Martins Gama-Khalil (UFU) Maria Margarida Machado Nilza Cristina Gomes Marijó (UFMT) Odorico Ferreira Cardoso Neto (UFMT) Rosilene Lagares (UFT)

Sidney Barbosa (UnB)

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Endereço para Correspondência Conselho Municipal de Educação - Revista Baquara Rua Diogo Domingos Ferreira, 265 - Bairro Bandeirantes

CEP: 78 010 090 - Cuiabá/MT

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Prefeitura Municipal de Cuiabá

Emauel Pinheiro

Prefeito

Niuan Ribeiro

Vice-prefeito

Secretaria Municipal de Educação

Alex Vieira Passos

Secretário

Conselho Municipal de Educação de Cuiabá/MT

Luiz Batista Jorge

Presidente

Jiordana Silva Ramos Nascimento

Vice-presidente

Câmara de Educação Infantil - CEI

Geraldo Grossi Junior

Presidente

Câmara de Ensino Fundamental Legislação e Normas -

CEFLN

Osvaldo Borges da Silva

Presidente

Lucia Maria da Silva

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Sumário

Ecologias Feminitas De Saberes: Discursos E Práticas

Emancipatórias Pós-Abissais

07

Imigrações e Políticas Educacionais:

Vivências, Confrontos e Potencializações

25

Dimensões Educacionais da América Latina no Pensamento

Pedagógico de Paulo Freire e Anisio Teixeira

45

BAQUARA

MAIO/2019 VOL 1 NUMERO 1

Claudia Cristina Ferreira Carvalho

Carlos Alberto Caetano Filomena Maria de Arruda Monteiro

Odorico Ferreira Cardoso Neto

Educação nas Constituições do Brasil: Descrição Panorâmica

58

Política Social Direitos e Cidadania no Capitalismo: (in)

visisbilidade social da exploração sexual de crianças e

adolescentes na região metropolitana de Cuiabá-MT

93

Rosilene Lagares

Geraldo Grossi Junior

Literatura Afro-Brasileira: Multiculturalismo na Escola

Estadual Quilombola Reunidas de Cachoeira Rica

111

História e Cultura Afrobrasileira e Africana e o Currículo da

Educação Básica

132

O Processo de Monitoramento e Avaliação do Plano Nacional

de Educação: breve histórico no PNE 2001-2011 e premissas

para o PNE 2014-2024

146

Leila Chaban

Terezinha Fátima Paes de Arruda Mabel Strobel Moreira da Silva Anna Maria Ribeiro F. M. da Costa Rosemar Eurico Coenga

João Bosco da Silva José Carlos Patrício

Jhonata Moreira Pereira Denise Severo

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Editorial

O Conselho Municipal de Educação está a véspera de comemorar trinta anos de sua existência, esta gestão está frente de sua direção há um ano e meio, busca e tem a necessidade de ser efetivamente uma ferramenta de controle social com representação da sociedade civil organizada e do executivo, para isto vem desenvolvendo um trabalho com a ótica de dar transparência e visibilidade aos seus atos e ações, buscando um diálogo com a sociedade cuiabana e propondo um caminho que priorize a participação do sistema educacional do município perseguindo uma educação de qualidade e gratuita.

Entre as várias possibilidades que estamos lançando mão para cumprir com a nossa missão queríamos contribuir também no campo de produção cientifica e para isso refletimos como poderíamos contribuir para divulgar e socializar os belíssimos trabalhos que estão sendo produzidos pelos profissionais da educação e não estão disponíveis para toda a categoria.

Foi aí que chegamos a ideia de editarmos uma revista eletrônica para que se possa suprir esta lacuna deixando a disposição dos profissionais da educação a possibilidade de ter um canal para dar vazão a estas obras produzidas e que não eram divulgadas. E é com muita alegria que lançamos a revista de educação do Conselho Municipal de Educação com o a denominação de BAQUARA, nome escolhido e que de agora em diante a partir desta primeira edição estará disponível a todos educadores ou não, revista esta que inicialmente será semestral.

Que todos possamos nos deliciar com esta edição inaugural, queremos agradecer a todos que nos ajudaram para que ela se torna se realidade, principalmente aos autores dos trabalhos divulgados nesta edição os nossos agradecimentos e obrigado pela confiança de nos entregar de forma inédita a suas produções, um grande abraço à todos e uma boa leitura.

LUIZ BATISTA JORGE

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ECOLOGIAS FEMINISTAS DE SABERES: discursos e práticas emancipatórias pós-abissais.

Claudia Cristina Ferreira. Carvalho1

RESUMO

Neste artigo, a autora analisa o fenômeno da “colonialidade de gênero” (LUGONES, 2008), observa a “colonialidade do saber” (MIGNOLO, 2000), a partir dos modos como a racionalidade do pensamento único ocidental subsidia práticas e discursos sociais que atingem a vida das mulheres, particularmente- nomeadamente as subalternizadas do Sul-global, gerindo e gerenciando linhas abissais de subalternidades do masculino sobre o feminino. Interessa-se de modo particular em problematizar de modo interseccional como o sistema colonial aliançada ao capitalismo interagem como o patriarcado para acentuar a invisibilidade, o emudecimento, desigualdades em múltiplas camadas de opressão do ser-feminino, mas, sobretudo, em analisar outras Ecologias Feministas de Saberes com vistas a discursos e práticas emancipatórias pós-abissais, num estreito diálogo entre as teorias femininas pós-coloniais e as epistemologias do sul, proposta por Boaventura de Sousa Santos.

PALAVRAS-CHAVES: (des)colonialidade de gênero, Ecologias Feministas de

Saberes, Feminismos pós-coloniais.

INTRODUÇÃO

Parte-se neste artigo da premissa que as generalizações essencializadas e monolíticas utilizadas para designar todas as mulheres do mundo e seus gêneros, ou melhor, a idéia de uma suposta “irmandade feminina” ou “femocrácia ocidental” ( MCFADDEN, 2006) tendem a desqualificação política e epistêmica das

mulheres do “Terceiro Mundo”2 , que também se encontram presente no Norte-

1 Doutora em Educação pela UFMT, com Sanduíche doutoral no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Pedagoga, Mestre em Educação e docente da Rede Pública de Educação de Cuiabá/MT.

2 Substituímos a expressão mulheres do “Terceiro Mundo” por “Mulheres do Sul-glo-bal”, por considerar que se deva designar não apenas as mulheres do “Terceiro Mundo” como aquelas do Sul-global presente também no Norte-global, como alerta Santos (2009) em suas teorizações a respeito das Epistemologias do Sul.

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global. Sejam por invisibilizarem suas lutas e resiliências situadas contra o sistema neoliberal global, os imperialismos coloniais de desigualdade socioeconômico e cultural, seja porque:

3 Tal qual Tereza Cunha (2003), usa-se aqui o termo de feminismos dominantes de matriz nortecêntrica para designar um catalogado frequentemente reconhecido como feminismo liberal, feminismo radical, feminismos pós-modernos e da diferença, entre outros – que apresentam dificuldades em tematizar outras racionalidades feministas que divirjam em coisas consideradas nucleares como, por exemplo, o conceito de emancipação feminina ou das mulheres, como uma versão, não assumida, de um pensamento abissal.

[...] esta femocrácia que se vê a si mesma como um centro que irradia conhecimento e energia para as periferias preserva e reconstrói a ideia colonial que a maioria das mulheres-do-mundo-ex-colonizado de hoje precisam ser libertas de si mesmas e das suas histórias para se emanciparem” (CUNHA, 2014, p.69).

Esta femocracia ocidental carrega o problema político do peso canônico eurocêntrico que reproduz os padrões androcêntricos só que de saias. Tal como Smith, é compreendido:

El feminismo es la teoría y la práctica políticas que lucha para liberar a todas las mujeres: a las mujeres de color, a las mujeres de la clase obrera, a las mujeres pobres, a las mujeres discapacitadas, a las lesbianas, a las mujeres ancianas, así como a las mujeres blancas, heterosexuales económicamente privilegiadas. ( SMITH, 1982.p.3).

Na obra intitulada “Under Western Eyes: Feminist Scholarship and Colonial Discourses boundary”, um dos fios fundacionais dos estudos feministas pós-coloniais, Mohanty (1984), alerta sobre os riscos de um pensamento único, das construções de narrativas monolíticas, universalistas, assimilacionistas dos

viés dos femininos hegemônicos de matriz nortecêntrica3, que pressupõem serem

as únicas vozes, os ùnicos lugares geográficos, históricos e culturais privilegiado de enunciação à todas as mulheres do mundo e, com isso, anulam as diferenças, invisibilizam e marginalizam as Mulheres do Sul-global.

Por vezes, as mulheres do Sul-global são representadas e trancadas em uma identidade de pertença como vítimas ignorantes, pobres, sem educação, limitadas por tradições, pelo espaço doméstico, restringidas à família, como as únicas e eternas vítimas da violência masculina, sexualmente oprimidas, tudo isso, em contraste com a auto representação (implícita) da mulher ocidental da mulher ocidental como educada, moderna, com controle de seu corpo e sua sexualidade e com liberdade de tomar suas próprias decisões (MAMA,2011). Não se pode esquecer, que a complexidade da multiplicidade da diferenciação

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subalterna4 das mulheres, lembra aquilo que Gayatri Spivak (1988), denominou

de “subjetividades precárias”.

As reflexões feministas pós-coloniais de gênero, obriga a todos e todas a reconhecerem que o patriarcado como sistema excludente que é, inscreve-se nas práticas e discursos sociais através da construção de formas de hierarquização de poder desigual estabelecido por homens sobre as mulheres, institucionaliza-se pela via da discriminação do feminino a partir de pseudos privilégios camuflados em injustiças e violências, aliançado ao encontro colonial.

Este artigo, parte das reflexões pós-coloniais para tecer a crítica à racionalidade reducionista da ciência moderna e, como em sua versão abissal, forjou e teve consequências relevantes para a construção dos lugares de subalternização das mulheres, reunindo-as sob o rótulo do vazio epistêmico e ontológico como um ser sem histórias e historiográficas, negando-se a reconhecer a infinita experiência de Ecologia Feminista de Saberes que há no mundo. Uma femocracia que não é capaz, em si mesmo, de abarcar a multiplicidade de valores e culturas presente nas sociedades, sobretudo, naquelas em que não se baseiam organicamente na genderização dos corpos, ou centradas na diferenciação do sexo biológico, da raça ou de classe social. (OYÉRONKE, 1987; MOHANTY, 2008; CUNHA, 2014).

Ao mesmo tempo, problematiza a sinergia que há entre a aliança do sistema colonial, do capitalismo e do patriarcado na fabricação do “colonialismo de gênero” (LUGONES, 2008), argumenta, ainda, que o colonialismo de gênero, constitui-se interseccionalmente preso a organização da vida simbólica e material neoliberal e fortemente ligado ao padrão hierarquizado de classificação social com base a racialização dos corpos. E, ainda, articula-se, a idéia de “conhecimento-emancipatório” (SANTOS, 2013), das Epistemologias do Sul (SANTOS, 2007, 2010,2014) com a hermenêutica feminista, configurativos como uma Hermenêutica Feministas das Epistemologias do Sul.

4 O sentido de subalterno empregado neste artigo, inspira-se nos conceitos inicialmente proposto por Gramsci e, mais adiante, trabalhado pelos autores dos Estudos Subalternos – a saber, Ranajit Guha, Dipesh Chakrabarty, Partha Chatterjee e Gayatri Spivak. Contudo, diferente da hipótese gramisciniana que não vê autonomia imediata para o subalterno- submetido ao controle das elites –, as mulheres subalternizadas- mulheres negras e periféricas de comunidades pobres, mulheres indígenas, imigrantes islâmicas, mulheres ciganas, mulheres transgénero, para citar algumas das que estão em situação de explícita vulnerabilidade, tem demonstrado autonomia, ainda que pequena e fragmentada, como caminhos para a construção de narrativas e historiografias emancipatórias.

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O texto é organizado em três partes: primeiro discute a colonialidade do saber como estratégia de perpetuação da subalternidade feminina, tendo em conta os modos como o saber e o poder se articulam no âmbito da racionalidade da ciência moderna. Na segunda parte, discute as noções de interseccionalidade

para demonstrar as diferentes dinâmicas de colonialismo de gênero5 aliançado

a geopolítica do espaço doméstico e espaço privado na ótica da acumulação primitiva do capital e os processos de classificação social racial, retro aliançado e alimentado pelo o “ colonialismo do poder” (QUIJANO, 2010) e o “colonialismo de gênero” (LUGONES, ibid). Por fim, aborda as Epistemologias do Sul, de Boaventura de Sousa Santos (2010, 2014) , de modo a procurar elucidar alguns caminhos que conduzam a Hermenêutica Feminista das Epistemologias do Sul num alargamento epistêmico, político, ontológico e cognoscente dos lugares de anunciação das mulheres do Sul-global.

5 Alerta-se que a hierarquização subalterna do feminino pré-capitalista e pré-moderna oprimiu tanto na metrópole quanto nas colônias, as mulheres foram destituídas dos espaços de falas, de direito, de decisões políticas e de conhecimentos em suas comunidades, e seus sistemas sociais não genderizados destruídos.

1. Colonialidade do saber algoz da subalternização do feminino

No momento, não é útil realizar a contabilidade plena das convergências e das divergências das diferentes e diversas correntes dos estudos pós-coloniais e descoloniais, até porque, são complexas e não inteiramente contraditórias. Mas, há de se reconhece a relevância dos Estudos Subalternos, surgidos como consequência dos Estudos Diaspóricos do Oriente Médio, Ásia do Sul e África, Os estudos pós-estruturalistas, tanto os/as teóricos/as pós-coloniais quanto descoloniais, como Frantz Fanon (1961, 1971), Albert Memmi (1965), Edward Said (1978) na obra "Orientalismo", Richar Weber (1996) e Stuart Hall (1996), Homi Bhabha (1994), ambos intelectuais das culturas diaspóricas; Gayatri Spivak (1995), Anibal Quijano ( 2010) Maria Lugones (2008) Walter Mignolo (2000), em seus argumentos apresentam-se como bem sucedidos em desafiarem a insularidade das narrativas históricas e historiográficas de matriz eurocêntrica. Intelectuais que consideraram de modo mais amplo o colonialismo, o imperialismo, a escravização e a pós-escravização, e o deslocamento dos discursos dominantes através das narrativas interrogativas dos grupos subalternizados.

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do Imperialismo (Europeu e Oeste) e da Invenção da América Latina.

Uma ciência comprometida com outros lugares de enunciação das identidades subalternizadas, uma geopolítica do conhecimento a partir de práticas e narrativas negadas pelo domínio de formas particulares de racionalidade, a construção alargada de conjunto de ethos humanitárias, é o que sugere Homi Bhabha (1988). Com afirma Santos ( 2013, p. 250), “ a negação total do outro, pela identidade dominante, só é possível através da produção ativa da inexistência do outro”. Ambos, ajudam a lembrar que a coisificação dos indivíduos colonizados remeteu-os e, ainda remete, à condição de propriedade, então, não há uma relação intersubjetiva pautada na equidade, o que há é ideia de vazio como a ausência radical do/a “outro/a”.

A ideia de totalidade, ou universalismo apregoada na racionalidade ocidental moderna, permite (des)humanização do outro não europeu. Além disso,

modernidade sempre se serviu da linha abissal6 para constituir uma estrutura

conjugada de poder e dominação gerida e gerenciada pelos sistemas de opressão capitalista, hetero-patriarcal e colonial, diz Boaventura de Sousa Santos ( 2007, 2010, 2013). Trata-se de uma linha constituída da diferenciação subalterna que separou e caracterizou o mundo em zonas “civilizadas” e zonas “coloniais” (FRANTZ FANON, 1975), forjando um mundo cortado ao meio, de um lado, vigora “emancipação social” de outra “apropriação e violência” ( SANTOS, ibid).

6 O pensamento abissal da ciência moderna e o pensamento pós-abissal tem sido problematizações recorrentes e revisitadas nas obras de Boaventura de Sousa Santos. Cf. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In: BARREIRA, César (Org.). Sociologia e Conhecimento além das Fronteiras. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2006.; SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do Pensamento Abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: STARLING, Heloisa; ALMEIDA, Sandra (Org.). Sentimentos do Mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.; SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: [s.n.], 2006.; SANTOS, Boaventura de Sousa. Una Epistemologia del Sur. La reinvención del Conocimiento y la Emancipación Social. Buenos Aires: Siglo XXI Editores; CLACSO, 2009.; SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo. Para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006.

A linha abissal produz e reproduz fronteiras físicas e simbólicas que tanto separam quanto obliteram a sociedade moderna em dois universos distintos, o universo dos/as visibilidades e o universo das invisibilidades, reifica a idéia de uma humanidade sacrificial canibalizada como objeto de sobrevivência

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de outra parte da humanidade. Um pensamento abissal presente no direito e no conhecimento, incrustado no sociedade e nas instituições, que se vale da

reafirmação da diferenciação subalterna, do genocídio e do “epistemicídio”7 (

SANTOS, 2010, 2013).

7 O epistemicídio é a nova ordem normativa de organização social colonialista que insiste no desperdício da experiência, pela via da deterioração dos saberes dos povos colonizados, estigmatizando suas identidades e memórias de lutas e resistências.

Do ponto de vista do conhecimento, a racionalidade moderna comportou duas formas principais de conhecimento: o “conhecimento-emancipação e o conhecimento-regulação” ( SANTOS, 2010), o primeiro, percorre uma trajetória que vai de um estado de ignorância designada por colonialismo para um estado de saber compreendido como solidariedade; Já o segundo percorre uma trajetória entre o estado de ignorância designada por caos para um estado designado de ordem, a simultaneidade reside no poder cognitivo da ordem alimentando o

poder cognitivo da solidariedade e vice-versa8 .

Não se pode esquecer, que o “eurocentrismo epistemológico” (MUDIMBE, 1988), a “falácia do ocidentalismo”, (DUSSEL 2013), a invisibilidade de outras realidades, colonizando os saberes, as linguagens, as representações e a memória (MIGNOLO, 1995; SANTOS, 2010), o “desaparecimento do SUl” assentado numa “razão indolente (SANTOS, 2000), a falsa neutralidade científica alimentou a “epistemologias da cegueira (idem) ou a “epistemologias do ponto zero” (CASTRO-GÓMEZ, 200). Ao coisificar o sujeito de pesquisa, em nome das leis canônicas do conhecimento, reduziu-o a objeto, desqualificou-o cognoscentemente, minou a resistência à superação a atomização desnuda da sua (des)corporeidade, “a pesquisa, desde a formulação das perguntas e a aquisição dos recursos até a interpretação, análise e divulgação, passando pela fase de concepção da própria pesquisa a e pelos métodos de pesquisa de campo, implica numa ética”(MAMA, 2010, p.535).

8 A racionalidade cognitiva-instrumental da ciência e da tecnologia ao se impor como dominante, desequilibrou essa reciprocidade, a ordem transformou-se na forma hegemônica de saber e o caos na forma hegemônica de ignorância re-codificando o saber como solidariedade recolhida no caos.

Esse conjunto de lógicas hierarquizadas do cânone universal de pensar os sujeitos e seus saberes, relegaram aos condenados da terra (FANON, 1975?), a interiorizar em si o regime da própria opressão imposta pelos seus algozes.

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A invenção da América Latina, a partir do século XV é uma modernidade/ colonial, inscrita nas páginas de um livro, cuja narrativa histórica e historiográfica é eurocêntrica, centrada na hierarquização de um único gênero/ sexualidade centrado homem/heterossexual, hetero-patriarcado, de uma “raça” branca em detrimento dos outros grupos étnicos-raciais, da dicotomia ocidente/oriente, do cristianismo como cosmologia universal num panteão de outras cosmologias e espiritualidades não cristão, do poder militar como processo de organização política civilizatória controlada por instituições e administração metropolitanas.

A “provincialização da Europa e do Ocidente”- que diz Dipesh Chrakrabarty (2007), como necessidade paradigmática, permite desfazer os nós dos fios da perceptividade das epistemologias e saberes encapsulados na ardilosa

dinâmica a-histórico monocultural da racionalidade dominante9 . Walter Mignolo

(2000) ao tratar do “colonialismo do saber”, faz perceber como a violência epistêmica, reside em retirar a geopolítica do conhecimento em sua historicidade, com isso, permite ser desconhecido lugares e as temporalidades anteriores a incursões européia.

9 As questões das monoculturas são tratadas com profundidade por Santos, especialmente nas obras Una epsistemología del SUR: La Reinvención del conocimiento yla Emancipaçao Social (2009); A Gramática do Tempo: para uma nova cultura política (2006); Epistemologias de Sul (2010) obra organizada conjuntamente com Maria Paula Meneses; Conhecimento Prudente pra uma Vida Descente: Um discurso sobre a ciência revisitado ( 2005); A Crítica da Razão Indolente: Contra o Desperdício da Experiência” (2007), dentre outras obras. Segundo o autor, a razão metonímica utiliza amplamente cinco lógicas monoculturais para produzir formas de não-existências: a monocultura do tempo linear, a da naturalização das diferenças como desigualdades, a do saber e do rigor do saber, a da escala dominante, a dos critérios de produtividade e de eficácia capitalista.

Spivak em ‘ Can the Subaltern Speak? Explícita a questão de ouvir e aprender dos outros, submete a academia e os pesquisadores ao olhar em dos espelhos problemático e familiar da ciência que é a ‘representação e representatividade’. Aponta para a crítica radical nos modos como o subalternizado tem sido pensado pelas subjetividades que se pressupõem a ser centrais em detrimento das subjetividades consideradas residuais, periféricas e contingencial. E, se “no contexto da produção colonial, o sujeito subalterno – não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno feminino está ainda mais na profundamente obscuridade” (SPIVACK, 2010, p. 82). A falsa neutralidade, reproduziu, e ainda reproduz, o cientificismo androcêntrico como violência cultural, ora por aquilo que diz a respeito das mulheres, ora por aquilo que não diz, dubiedade moldada por divisões visíveis, divisões invisíveis e divisões abissais geridas e gerenciada

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pelo heteropatriarcado-colonial-capitalista.

A crítica feminista10 , tanto nas distorções masculinistas quanto nas

distorções epistemologias, alargaram as reflexões sobre as condições de produção do conhecimento, a “posição epistemológica” de Sandra Harding (2004); o “conhecimento situado” (Donna Haraway, 1991); o “conhecimento social” (Helen Longina, 1990). Essas teóricas, evidenciam que as práticas científicas não são neutras, e os conhecimentos por ela obtidos, bem como as teorias, que lhe subjaz expressam e respondem aos interesses cognitivos, sociais/ético/político e culturais. E, isso diz muito acerca de quais princípios, pressupostos, premissas reguladoras em que se assentam. A ciência e seus agentes esquecem que aquilo que olhamos é sempre situado, nunca um olhar triunfante que vem do nada, implica em lugares de “enunciação e anunciação” (CARVALHO, 2017), que são da ordem social, político ou epistêmicos.

10 As epistemologias feministas, do ponto de vista da intensificação da produção epistêmica e metodológica, tem inicialmente três correntes principais: o feminismo liberal ou reformistas, o feminino radical e o feminismo socialista, os quais, na década de 1980, pelas reivindicações de igualdade entre homens e mulheres nas lutas feministas, destacam as políticas de identidade e a questão da diferença, tanto entre homens e mulheres, como entre mulheres atravessadas pelas categorias sociais não homogênea das divisões de classe, etnia, cultura e religião, situadas geograficamente e politicamente, dentre outros. Isso evidencia que são heterogêneas as lutas de emancipação femininas e os diversos patriarcados que as configuram.

Mesmo os/as pesquisadores, educadores que realizam ensino, pesquisa e extensão nas mais várias modalidades e níveis não estão isentos da opressão, da violência colonial e patriarcal. As instituições educativas e científicas foram pensadas por homens brancos e para homens brancos, por isso, nem os espaços de produção e circulação do conhecimento, tão pouco suas epistemologias são configurações estáticas, neutros em termos de gênero e sexualidades e raça, nem o direito à educação para todos/as como uma indulgência da benignidade elitista-masculina-branca.

2. Mulheres do Sul: interseccionalidade e diferentes dinâmicas de colonialismo de gênero.

Anibal Quijano (2010) afirma que a colonialidade é um dos elementos constitutivos e específico do padrão mundial do poder capitalista, vinculado ao colonialismo, distingue os termos colonialidade e colonialismo. Para ele o colonialismo refere-se estritamente a uma estrutura de dominação/exploração

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centrado no controle da autoridade política, dos recursos de produção e do trabalho de uma determinada população dominada por outra de diferente identidade e, cujas sedes centrais estão localizada noutra jurisdição territorial.

11 O autor, deixa evidente que o colonialismo é, obviamente, mais antigo, enquanto a Colonialidade é mais profunda e duradoura que o colonialismo. Mas, sem o colonialismo não poderia ser imposta na intersubjetividade do mundo tão enraizado e prolongado. Todavia, para Boaventura de Sousa Santos, (2017), o colonialismo perdura em dias atuais, mesmo em regimes em que o fim do colonialismo territorial se findou. Além disso, é preciso falar de colonialismos, para que não se recai em totalitarismo e universalismos centrada na experiência colonial da América Latina para explicar todas as outras formas de dominação colonial-imperialistas do mundo.

Em linhas gerais, o capitalista/mundial/colonial/moderno, centrado do “padrão colonial do poder”, tem como eixo articulado e estruturado na classificação social desigual e hierarquizada a partir da racialização, e isso, implicou/a no controle da força de trabalho, dos recursos e produtos do trabalho, o que inclui a

natureza; o controle do sexo e dos seus produtos ( prazer e descendências)11 e a

subjetivação do outro colonizado lançado a sua condição de subalternização. Maria Lugones (2008), ao discutir a interseccionalidade entre raça, classe , gênero e sexualidade procura demonstrar a inseparável relação que há entre a “colonialidade do poder” (QUIJANO, 1992, 2000, 2001) e ao que ela designa como “colonialidade de gênero”. Afirma que não apenas a modernidade/ colonialidade moldou simultaneamente a colonização articulada a dominação racial, gênero e sexualidades, como inventou o/a colonizado/a, perturbou/a, destruiu/a, apagou/a os padrões sociais, as relações de gênero e as cosmologias dos povos que dominou/a.

Lugones, amplia os argumentos de Quijano e Mignolo, ao demonstrar que a colonialidade não apenas dividiu o mundo numa lógica racial particular de exploração e subjetivação econômica, como exerceu o controle dos corpos femininos a partir da genderização, produziu o apagamento da mulher como considerações teóricas e políticas.

Mas, ao construir o entendimento de que há uma bifurcação entre homens e mulher em categorias homogêneas e separáveis de gênero e raça, recaí no perigoso abismo das ausências das mulheres negras, ao invés de promover a presença.

Heleieth Saffioti (1976), Silvia Frederic (2017), de sua vez, ajudam a perceber que o capitalismo uniu-se, tanto na metrópole quanto na colônia, com

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o heteropatriarcado para reconfiguram a geopolítica dos espaços femininos. Advogam que a violência patriarcal e o capitalismo, uniu-se intrinsecamente ao cerceamento da liberdade social das mulheres nos domínios econômicos, reconfigurou o espaço doméstico numa arena de luta, num território de tensões onde pessoas socialmente diferentes são tratadas desigualmente, parece ser consensual que o privado é publicamente e pessoalmente político. A cisão entre o espaço doméstico e o sistema de produção mercantil ocidental, nada mais fez, que descredibilizar outras formas de organização econômica, desqualificar o espaço doméstico e criar o imaginário social de que as mulheres não estão para a economia como a economia não está para as mulheres, como uma das condições necessária a acumulação primitiva do capital:

As desvantagens sociais de que gozavam os elementos do sexo feminino permitiam à sociedade capitalista em formação arrancar das mulheres o máximo de mais-valia absoluta, através, simultaneamente, da intensificação do trabalho, da extensão da jornada de trabalho e de salários mais baixos que os masculinos, uma vez que, para o processo de acumulação rápida de capital, era insuficiente a mais-valia relativa obtida através do emprego da tecnologia de então. A máquina já havia, sem dúvida, elevado a produtividade do trabalho humano; não, entretanto, a ponto de sacias a sede de enriquecimento da classe burguesa. (SAFFIOTI, 2013, p. 97):

O capitalismo de mãos dada como o patriarcado, através da invenção da família nuclear eurocêntrica universal, a caça às sexualidades fora desse arranjo, a desqualificação do espaço doméstico, dinamizou a legitimação dos homens livres (branco) o acesso aos corpos femininos, ao seu trabalho e ao corpo dos seus filhos e seu trabalho. Um controle estendido às coloniais, destruiu e destrói os sistemas locais em que o gênero não é regulador estrutural das relações entre homens e mulheres. Agravado pela racialização colonial, a desterritorialização do uso da terra pelo feminino, transformada como propriedade privada da metrópole.

As lutas das mulheres do Sul constituem formas de resiliências e

alternativas a lógica de dominação a contra-globalização hegemônica12 . Em dias

atuais, acentua-se, no interior da globalização neoliberal quer no Sul-global em África e Ásia, quer sejam da América Latina. E, no caso das mulheres e crianças,

12 A globalização contra-hegemônica, diz Santos (2007), em linhas gerais, centra-se no combate contra a exclusão social, um combate que, em seu sentido lato, inclui não só as populações excluídas, mas também a natureza. A erradicação do fascismo social, e que a sociedade civil incivil surja como a base social privilegiada do enfrentamento contra-hegemônicos.

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As mulheres sempre possuíram o controle efetivo sobre a produção e

distribuição de bens essenciais à sobrevivência comunitária, assumindo a função de produzir, trocar, comercializar e distribuir produtos, quer em círculos de proximidade, quer em mercados e bazares locais, nas feiras, nas assembleias, festas e mercados, ou ainda, criando e mantendo rotas de comércio de média e longa distância, alimentando não uma economia de mercado mas, uma economia distributiva e solidária (MAMA, 2011).

As mulheres e crianças pobres são aquelas que mais recebem o impacto mais forte da degradação dos condicionantes ambientais, das guerras, da fome da privatização, da desintegração do Estado de bem-estar social, da reestruturação do trabalho remunerado e não-remunerado, a crescente vigilância e o encarceramento nas prisões. E por isso, é necessário o feminismo além das fronteiras para tratar das injustiças do capitalismo global (2008, p. 430).

A noção de “interseccionalidade” (CREENSHAW, 1991; YUVAL-DAVIS, 2011), alargam a compreensão de que o regime de opressão patriarcal não poderá ser interpretado como uma via de mão única, mas, como múltiplas e complexas camadas de trocas desiguais de poderes, que são da ordem de gênero, racial e classe. Angela Davis (1981, 2012), Kum-Kum Bhavnani y Margaret Coulson (2004), Beel Hooks (2004), demonstram que os feminismos são atravessados por relações complexas de gênero, raça, e que, existem uma pluralidade de lugares e modos de enunciação ou de silêncios.

Essas fronteiras13 multifacetadas e complexas, situam de modos

diferentes, e por vezes desiguais, os lugares das mulheres do Sul-global, a exemplo, as bifurcações das representações do espaço doméstico, do amor, matrimônio, maternidade que durante longo tempo, estiveram centrados na classe média feminina branca ocidental. Do outro lado da linha, invisibilizadas e mantidas como ausentes, emudeceram as contradições inevitáveis da vida das mulheres negras dentro dessas instituições herdeiras do regime escravista.

13 Tal como, Pratt (1992) a noção de fronteira é entendida como as zonas de contato como espaços sociais em que culturas díspares se encontram, se enfrentam e se chocam muitas vezes em relações de dominação e subordinação altamente assimétricas − como no caso do colonialismo, da escravatura, do imperialismo cultural. A fronteira e suas hibridizações é utilizada para deslocar os discursos e as práticas do centro para as margens, ou seja, para descredibilizar as representações hegemônica, deslocar os antagonismos que sustentam as polarizações, as ambiguidades, as convergências, as porosidades da linha abissal.

sentencia Chandra Mohanty:

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13 Tal como, Pratt (1992) a noção de fronteira é entendida como as zonas de contato como espaços sociais em que culturas díspares se encontram, se enfrentam e se chocam muitas vezes em relações de dominação e subordinação altamente assimétricas − como no caso do colonialismo, da escravatura, do imperialismo cultural. A fronteira e suas hibridizações é utilizada para deslocar os discursos e as práticas do centro para as margens, ou seja, para descredibilizar as representações hegemônica, deslocar os antagonismos que sustentam as polarizações, as ambiguidades, as convergências, as porosidades da linha abissal.

As mulheres brancas que aceitam este debatem devem reconhecer a base simbólica e material da sua posição de poder que lhes permite perpetuar o legado do racismo como por exemplo: o uso da exploração no espaço doméstico do trabalho de mulheres negras; ao falarem do aborto esqueceram de debaterem as política eugenistas presente no controle da natalidade; reproduzem os estereótipos à respeito da sexualidade de homens negros, tratados como potenciais violadores de mulheres, violentos e agressivos, vindo a reafirmar e justifica a exigência maior da presença policial em áreas ( zonas coloniais) das cidade com maior presença negra.

Todavia, sem negar a contribuição dos estudos inteseccionais é preciso atenção ao impasse epistêmico que carrega, que é reconhecer não ser uma verdade totalizante capaz de ser aplicado a todas os contextos socioculturais, como campo analitica teórica, porque nem todos as organizações sociais se compreender estrutura por categorias sociais de gênero, classe, raça ou discriminação sexual, os trabalhos de Ifi Amadiume (1987) e Oyeronke Oyewumi (1978), Jìmí O. Adésina (2010), subsidiam esse entendimento.

As autoras reapropriam do conceito de sociedades de “matrifocality” ou “ matricêntrica” para ilustrarem seus pontos de vista, no caso, em linhas gerais, referindo-se à família matrifocal como agregados familiares chefiados por mulheres, com significados de valor heurístico como categoria sociológica, assumidamente como o princípio organizador da sociedade. Ifi Amadiume ( 1987), ao estudar a dinâmica social de Nnobi ( Leste da Nigéria), demonstra embora dual-sexo, é predominantemente matricentric, presente em seu mito de origem, na produção da economia, na governança, a maternidade compartilhada, a rede de parentesco decorre da maternidade compartilhada “ as primeiras filhas, as mulheres estéreis, as viúvas ricas, as esposas de homens ricos e as mulher e comerciantes bem sucedidas tomem em esposa” (1987, p. 31- tradução minha) um fenômeno que ela chama de “maridos femininos”. A herança da terra vai para os filhos, assim como para as “filhas masculinas”, o direito de uma mulher

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ao acesso a terra e a produzi-la no lar do seu marido é garantido por ter um filho ou uma filha do sexo masculino.

Oyeronke Oyewuni (1997), ao formular a pergunta “o patriarcado é uma categoria transcultural válida?”, em seu livro, The Invention of women, demonstrou que nem todos os sistemas de poder entre homens e mulheres têm como estrutura hierarquia e subordinação justificada na “bio”logia dos corpos, nos dualismos da diferenciação sexual, na opressão e na força, ou nos dualismos entre cultural e natureza. Lembra que a categoria “marido feminino” não se pauta na anatomia da masculinidade, nem é fixa num corpo dicotomizado.

A partir da sociedade Yorubá do Sul oeste da Nigéria, Oyewuni desenvolveu um estudo notável conferindo um instigante insight de ruptura ao universalizar da experiência da maternidade nuclear, estruturada na ideia de casal, tendo uma esposa subordinada, um esposo patriarcal e filhos/as, ou seja, uma família conjugal ocidental-cristã. Nem sempre o sistema organizativo de sociedade é fundado e estruturado no gênero institucionalizado, na sociedade Yorubá dá-se importância à cronologia de nascimento, à linhagem de parentesco na linguagem e na organização social, o rol identitário que definirá a posição da mulher é sua condição de mãe, pois o útero dos antepassados é o centro do privilégio societal, símbolo de referência no qual gravita todo uma estrutura ginecrática.

A matrifocalidade é o eixo em torno do qual as relações familiares são delineadas e organizadas, porque é a partir do útero que se cria um sistema elaborado de pertença, linguagem, identidades culturais moventes e fluídicas, compreendendo que uma pessoa não é um indivíduo, mas é alguém reconhecido socialmente dentro da relação de parentesco. Ao olhar para a esta organização social é possível estabelecer distinções. A patrifocalidade da família ocidental se define pela obrigatoriedade de a mulher integrar a família do marido. Na sociedade Yorubá as diferenças corporais, as distinções anatômicas fixas na genderização de corpos dicotomizados, não servem como conotação de privilégios e desvantagens sociais, os papéis de marido ou esposa não expressavam dimorfismos sexual. Os centros de poder é estabelecido na posição de nascimento na família, dá-se relevância e importância da maternidade como instituição e experiência cultural, e não num sexo biológico falocêntrico do patriarcado ocidental.

Ifi e Oyewuni, dentre algumas, indicam que a perspectiva moderna ocidental de gênero, baseada na ideologia do determinismo biológica, uma

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lógica, não dá conta de toda as formas de construção social do termo. Visibilizam as ricas experiências do mundo, emudecidas outras vezes, escondidas no véu dos estereótipos, utilizados ao falar das Mulheres do Sul, que não se trata de representá-las ou de colocá-representá-las numa mera posição endogeneidade devido ao baixo status econômico, à pobreza, à ausência de homens, à distribuição de gênero das tarefas domésticas ou à exclusão econômica das mulheres.

Deste modo, ante as interlocuções construídas, compreendo o colonialidade de gênero a quatro dimensões implicadas e imbricadas: 1) a forma de apropriação e violência do saber tem vindo a transformar as subjetividades femininas no outro-colonizado, existindo sem historiografia, representação, retórica, sem recursos, sem nomes, sem identidade, vocalidade e exegeses; 2) com lógica de dominação gerida e gerenciada pelo hetero-patriarcado, manifestada na forma de como “violência direta, estrutural e cultural” (GALTUNG, 1998), incrustada no Estado, na sociedade, no mercado, no conhecimento e no direito. 3) Uma forma articulada de dominação articulada a dominação capitalista (classe) a genderização e a racialização dos corpos com critérios de classificação subalterna. O espaço aberto pelo conceito de interseccionalidade, aliançadas aos estudos pós-coloniais ajudam a reinterpretação das formas congregadas dos sistemas de dominação e subordinação.

As Epistemologias do Sul14 tem como premissas reconhecer que há

um SUL, que é preciso ir para o Sul, a apreender com o Sul e a partir do Sul. Não se trata de uma SUL, meramente geográfico, mas, um Sul como metáfora da cartografia do sofrimento humano perpetrado pelo força do capitalismo, do colonialismo e do heteropatriarcado. Um Sul repleto daquilo que Edward Said (1978) designou por “silêncio normalizador de invisível poder”. Se por um lado as Epistemologias do Sul é vista, por alguns, como um projeto arriscado, por considerá-la uma subversão do que tem sido a construção do conhecimento hegemônico da ciência moderna, por outro do ponto de vista da Hermenêutica

3. Pensar a partir da Hermenêutica Feminista das Epistemologias do Sul: considerações finais

14 Em 1995, Boaventura de Sousa Santos falava do Sul, mas não de Epistemologias do Sul, e foi posteriormente re-elaborado em várias publicações. Esse conceito tem suscitado vários debates posteriores. (SANTOS, 2003, 2004, 2006). As Epistemologias do Sul conjugam a Sociologia das Ausências, a Sociologia das Emergências e o Trabalho da Tradução Intercultural e a Ecologia de Saberes.

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Feminista ela permite pensar as experiências emergentes deste SUL, das sombras abissais do patriarcado.

Consiste em múltiplas janelas que se abrem a oportunidade à dialogicidade de Ecologias Feministas de Saberes, numa ótica de transescalas, em que as aprendizagens situadas conectam a aprendizagens globais em reciprocidades de histórias, práticas sociais, saberes e soluções. E, em seu conjunto, a Sociologia das Ausências, reafirma que a realidade das mulheres do Sul não pode ser reduzida ao que existe, mas é preciso propor e construir uma versão ampla do realismo, que inclua as realidades ausentes por via do silenciamento, da supressão e da marginalização, isto é, as realidades que são ativamente produzidas como não existentes.

Na perspectiva da “sociologia das ausências” e da “sociologia das emergências” (SANTOS, 2006, 2013), tem a capacidade de confrontar o sistema patriarcal produtor de injustiças sociais e cognitiva afeta as mulheres por séculos de opressão, exploração, marginalização subalternização, tanto do ponto de vista epistêmico-metodológico quanto ético-ontológico. Porque permite perceber o que dizem as ruínas, porque elas duram mais do que os edifícios onde são originadas. As emergências ampliam simbólica e material os saberes e práticas femininas ausentes, com isso, é possível identificar as tendências do tempo do

Ainda-Não15 sobre os quais é possível atuar, maximizando a probabilidade de

esperança em relação à probabilidade da frustração. (SANTOS, 2013).

15 Santos (2005, p. 28-29) contextualiza o conceito filosófico de Ernest Bloch, para reforçar a ideia de que o pensamento ocidental é dominado pelo conceito de Tudo ou Nada. Bloch introduz novos conceitos: o Não e o Ainda-Não.

As Epistemologias do Sul trazem também a possibilidade de uma hermenêutica diatópica, que segundo Santos (2006, p.115), “consiste no trabalho de interpretação entre duas ou mais culturas com vista a identificar preocupações isomórficas entre elas e as diferentes respostas que fornecem para elas”, permitindo, assim, via tradução intercultural, a aproximação entre “diferentes concepções e formas de pensar a igualdade de gênero, entre diferentes conceitos de dignidade humana ou, ainda, entre diferentes formas de pensar gênero, parentesco, família, matrifocalidade, e a própria ideia de igualdade de gênero, rompendo com as narrativas lineares monolíticas do lugar situado das mulheres nos mundos

Para além da colonialidade de gênero, o pensamento pós-abissal convoca-nos a reflexão, a construção de epistemologias e ações que retirem as mulheres e

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e as identidades femininas ao estatuto de vítimas incapazes ou a seres intangíveis/ incomensuráveis, subalternizadas e/ou invisibilizadas e é, nisso a hermenêutica feminista das Epistemologias do Sul, suscita múltiplas interpretações apreendidas acerca dos modos como as mulheres revelam formas de lutas, resiliências e estratégias sociais e conhecimentos que lhes permitem representar outro mundo possível. Alia ao ativismo político que caminha par a par na erradicação de toda a miríade de práticas, hábitos, idéias, imagem, suposições pessoais, sociais, econômicas e políticas que sustentam a desigualdade e as injustiças de gênero que dificultam e prejudicam a participação emancipatório em termos feminino.

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IMIGRAÇÕES E POLÍTICAS EDUCACIONAIS: VIVÊNCIAS,

CONFRONTOS E POTENCIALIZAÇÕES

Carlos Alberto Caetano1

RESUMO

Neste artigo dialogamos sobre as imigrações estrangeiras no contexto das políticas educacionais, trazendo para o cenário de debates teórico-político-metodológicos, realidades atualmente enfrentadas e vividas e seus elementos conjunturais para situarmos nossos entendimentos, sobre este recorte temático, julgamos ser importante aprofundarmos os estudos e pesquisa sob este fenômeno que tem se ampliado a cada dia no Mundo, no Brasil, em Mato Grosso. Intitulamos

este texto: Imigrações e políticas educacionais: Vivências, confrontos

e potencializações, dialogando com as contribuições de: Zamora (2017);

Peixoto (2004); Lechner (2014), estes autores tem aprofundado suas pesquisas direcionando-as a temática da imigração, buscamos pensar em paralelo as análises sociológicas de Bauman (2004); Ventura (2010); Illes (2010), pensadores que buscam aprofundar este momento conjuntural de intensificação da mobilidade humana. Para pensar sobre narrativas dialogamos com nosso referêncial teórico-metodológico de pesquisa narrativa através de Clandinin e Connely (2011) e exploramos as experiências vividas, conversamos com: imigrantes, professores e gestores envolvidos no atendimento e recepção dos imigrantes estrangeiros no Brasil e Mato Grosso especialmente Cuiabá. Onde institui-se o atendimento dos imigrantes estrangeiros na rede pública estadual de educação de Mato Grosso, onde a mantenedora é a Secretaria de Estado Educação e Cultura de Mato Grosso-SEDUC-MT. Finalizamos trazendo como conclusões tiradas das narrativas e algumas indagações.

PALAVRAS-CHAVES: imigrações; política; educação; narrativas.

Multiculturalismo.

INTRODUÇÃO

1 Professor Mestre

2 Pós Doutora em Educação pela UFSCAR e Docente do Programa de Pós-gra-duação da UFMT

Filomena Maria de Arruda Monteiro2

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Neste momento temos desenvolvido estudos de doutoramento através do projeto: Políticas Educacionais da Diversidade: Experiências Narrativas com Professores/ras Militantes. Buscamos entender diferentes áreas das diversidades, entre elas, neste recorte focamos a educação para imigrantes estrangeiros. Sendo este um dos campos de estudos, pesquisa, análises de ações políticas-educacionais junto a estas imigrações estrangeiras, trazemos as participações narrativas de imigrantes que acessaram o sistema de educação em Mato Grosso,

intitulamos este texto: Imigrações e políticas educacionais: Vivências,

confrontos e potencializações, este título busca contextualizar as experiências

destes novos cenários educacionais mundiais, nossos olhares partem de analises e experiencializações enfrentadas desde o início de implantação de políticas públicas educacionais para os imigrantes estrangeiros em Mato Grosso, desencadeado pela surgência de fatores externos impostos pelas novas conjunturas sócio-políticas-econômicas locais e internacionais.

Iniciamos o diálogo sobre as diferentes conjunturas das migrações no mundo, demonstrando os principais problemas, causas e efeitos, tomados pelas ações e reações dos países envolvidos, levantamos sobretudo as conjunturas políticas, alguns indicadores, específicos de imigrações forçadas pelas guerras, conflitos étnicos e catástrofes ambientais.

Num segundo momento mergulhamos nos entendimentos sobre o mecanismos que envolvem as migrações, as macros teorias, os debates sobre os legados da modernidade e pós modernidade e as implicações em relação as imigrações estrangeiras.

No terceiro momento, trazemos um pouco das narrativas oficiais dos órgãos responsáveis pelo atendimento aos migrantes estrangeiros e como tem se comportado em relação ao atendimento dos diferentes imigrantes estrangeiros.

No momento seguinte dialogamos com imigrantes e professores sobre suas histórias e considerações sobre os imigrantes estrangeiros e suas jornadas.

No quinto momento debruçamos nas narrativas professorais e de militantes e suas relações, envolvendo as experiências das lutas para dar início aos atendimentos dos imigrantes estrangeiros na rede estadual de ensino público do sistema de educação de Mato Grosso, trata-se de conversas narrativas sobre imigrações e educação realizadas com os imigrantes estrangeiros, sobre

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sobre como pensam sobre o contexto de suas entradas no atendimento escolar e as implicações.

Por último tratamos das conclusões indagativas por suas naturezas conjunturais “temporárias”, pois temos certeza que temos muito para aprofundar sobre esta temática e este recorte de estudo não tem a pretensão de esgotar as contribuições, mas apresentar alguns entendimentos sobre o qual temos buscado nossa maturação.

Nossa posição inicial é que estamos vivenciando processos migratórios que tem uma forte característica em (3) três focos distintos. O primeiro penso que seja as imigrações desencadeadas a partir das grandes catástrofes climáticas, que tem dizimado países inteiros, há com isto uma busca de segurança em outros países. O segundo fator preocupante por sua dimensão estruturante permanente é as imigrações desencadeadas em função do fator econômico, político e social, se caracteriza pela busca por melhores condições de vida, que tem seus fluxos estruturados na busca de emprego em melhores condições de vida e de sobrevivência, neste fluxo o modelo de acumulação capitalista e o grande “vilão”, pois o modelo neoliberal com base na especulação financeira, aplicações nas bolsas de valores e terceirização dos serviços públicos tem deixado populações inteiras sem atendimento de políticas públicas. O terceiro processo se estrutura na busca de refúgio, tem sua base estruturante nos países em guerra, civil e ou militar, populações inteiras deixam seus países de origem com medo das atrocidades, partem sem nem um de seus pertences as vezes, em busca da garantia da vida.

Na conjuntura mundial, tem se intensificado a conflitualidade no jogo da correlações de forças implícitas entres os polos neoliberais e o Estado-nação, enquanto regime político, ordenador e de governança política. A governabilidade econômica torna-se cada vez mais refém das grandes Empresas que atualmente são capazes de empobrecer países inteiros em poucos segundos, através da evasão de investimentos especulativos, pois temos uma inversão atualmente os capitais especulativos são de proporções bem maiores que os capitais produtivos. De acordo com o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU

Recontextualizacão conjuntural das migrações no mundo: Problemas, ações e reações

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(DESA), os estudos realizados acerca da conjuntura imigratória tem apontado o permanente crescimento dos fluxos, podemos analisar algumas informações com indicadores por grandes regiões geográficas:

Como podemos ver trata-se de uma imigração que vem sofrendo influencias globais, ela está envolvendo os continentes, como uma considerável fluxo saído dos países mais periféricos e buscando se estabelecer em países mais consolidados em termos políticos, econômicos e sociais, estes fatores atestam a questão de que estamos vivenciando, vitimização da própria vulnerabilidades, pois, estamos assistindo o fim das políticas públicas econômicas e sociais nos países emergentes, o mais perverso é que o modelo neoliberal, fragiliza a população economicamente e empodera as ideologias fascistas discursivamente para negar as diferenças e identidades.

Zamora (2017), vem trazendo com suas analises como o neoliberalismo tem intensificado e forçado o movimento imigratório global, suas influências tem atingido países inteiros e intensificado políticas protecionistas, que tem transformado as fronteiras e aeroportos verdadeiras zonas de guerra contra os imigrantes estrangeiros diz o autor:

Em muitas partes do mundo, no entanto, a migração ocorre principalmente entre países localizados na mesma zona geográfica. Em 2015, a maioria dos migrantes internacionais que vivem em África, ou 87% do total, originou-se de outro país da mesma região. O valor equivalente foi de 82% para a Ásia, 66% para a América Latina e o Caribe e 53% para a Europa. Em contrapartida, uma grande maioria de migrantes internacionais que vivem na América do Norte (98 por cento) e Oceania (87 por cento) nasceram em uma região importante, diferente da residência atual (ONU,2015).

El giro neoliberal de las políticas económicas, que pretendía dar respuesta a la crisis del Fordismo, ha reconfigurado las estructuras y dinámicas económicas, sociales y políticas en el conjunto de planeta. Las contradicciones que se derivan de esa reconfiguración implican problemas, conflictos y crisis relacionados con los movimientos migratorios y su control, que hasta ahora han representado más bien una agudización de las contradicciones con una expresión política que podría calificarse de progresivo vaciamiento de los Estados de derecho. Estas contradicciones y su expresión política se concretizan de manera diferente en las periferias y en los centros de la economía capitalista y dentro de ambos en constelaciones regionales y estatonacionales diversas (ZAMORA, 2017.p.310)..

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Finalizando o panorama imigratório internacional, os dados demonstram uma conjuntura de fortalecimento neoliberal, com uma grande concentração de capital especulativo o que não tem gerado empregabilidade os Estados Nacionais, seus recursos estão a serviço de mover os fluxos de investimentos em bolsas de valores e grandes financiamentos de setores privados, que atuam vendendo sua força ao próprio Estado, trata-se da terceirização dos serviços públicos. Isto posto se intensifica ainda mais quando pensamos que a função dos Estados democráticos de direitos e garantir cidadania, pois a globalização neoliberal está a serviço da venda e compra de serviços dos setores capitalistas. Neste sentido os modelo de Estado neoliberal caminha para intensificar as imigrações como produto rendável e comercializável a outros países, desde de que não sejam os seus países.

A literatura histórica demostra poucos autores voltados para o problema da migração, mas atualmente tem sido um dos maiores desafios para os Estados que tem sido procurados constantemente, alguns recebem fluxos muitos intensos de imigrantes, este fenômeno tem sido intensificado conforme subtítulo acima por vários fatores, econômicos, sociais e políticos. Segundo Peixoto (2004) as ciências sociais, não se interessou pela imigrações, este tema passou pela modernidade sem deixar grandes escritos ou teorias. Ao historicizar deixa claro que sobre esta literatura, pouco foi escrito pelos pensadores das ciências sociais. Diz ele:

Concepções, teorias e entendimentos sobre as migrações e políticas públicas

O único autor considerado “clássico” deste tema é Ravenstein. Este autor, geógrafo e cartógrafo inglês da viragem do século XIX para o XX, é, quase invariavelmente, o decano das referências bibliográficas da teoria migratória, citado em trabalhos oriundos de diferentes ciências sociais. Ravenstein publicou, no final do século XIX, dois textos sobre as “leis das migrações”, acerca de fluxos internos e internacionais (Ravenstein, 1885 e 1889). Em certa medida, a natureza destes estudos pode ser considerada primária: eles são, essencialmente, uma dedução teórica baseada na realidade empírica, não muito sistemática, então disponível - primeiro o Recenseamento britânico de 1881 e, depois, dados para um conjunto mais alargado de países (europeus e norte-americanos), (PEIXOTO, 2004.p.4).

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Como podemos verificar no contexto acima, que fala de dedução teórica baseada na realidade empírica, o século XIX para XX, foi vivido com o esforço de se teorizar experiencias disponível sobre o tema. A natureza dos estudos migratórios naquele momento foi considerado primário.

Pensando nos pontos centrais que não foram pensados sociologicamente, podemos afirmar que muitas das mudanças em curso no atual contexto de políticas públicas, tem seu centro provocado pelos movimentos migratórios, um deles existo em colocar é que pensar que o conceito de territorialidade, atualmente tem que ser tomado não só geograficamente, mas também como lugar de fala de afirmação de identidade, neste cenário podemos chegar à conclusão que “territorialidade” é onde habita minha fala, meu ser, minha forma de me fazer presente.

Ao pensar a presencialidade como ponto afirmador do conceito de territorialidade, verifico que o caminho metodológico, para este habitat experiencial são as histórias de vida, dos próprios imigrantes e estes podem ser concretizadas através das abordagens narrativas. Neste sentido tivemos trabalhos pioneiros, como os trabalhos realizados pela Escola de Chicago, segundo os estudos realizados por Lechner (2014).

Segundo esta autora vai ser mais tarde na Europa nos anos de 1980, com a entrada em cena dos autores interessados nas histórias de vidas que os relatos biográficos ganharam fôlego, segundo a autora pelas penas de Franco Ferrarotti e Daniel Bertaux.

Tomando como base a narrativa biográfica dos imigrantes num contexto singular /universal adotado pelo referencial de uma dialética relacional, conforme afirma Lechner (2014), dos autores das histórias de vida, podemos penso eu, avançarmos da complexidade da temática das imigrações enquanto campo conjuntural de conflitualidades, nesta linha diz Ferrarotti (2014):

(...) o contributo de Ferrarotti é o mais diretamente dedicado às questões epistemológicas e filosóficas do estudo do biográfico. Partindo do existencialismo de Sartre, o sociólogo italiano desenvolve o cerne da especificidade da abordagem biográfica que considera residir no seu caracter totalizante. A fenomenologia e o materialismo dialéctico convergem na teoria de Sartre com vista a uma adequação à relação entre o singular e o universal, o biográfico e o social, e ao modo histórico de compreensão das identidades individuais. Ferrarotti segue esta

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BAQUARA

R

evista

razão dialética para construir um modelo hermenêutico não linear de perspectivação e análise da mediação que existe entre agência e estrutura, entre indivíduos e sociedades, o que o autor apelida de praxis sintética. (LECHNER, 2014.p.4-5).

Os estudos desenvolvidos sobre as imigrações em Portugal por Lechner (2014), coloca a temática das imigrações no centro do grande movimento narrativo, onde penso, que as possibilidades de olharmos a complexidades desta temática, avança para dimensões mais polissêmicas, possibilizando outras hermeneuticas.

No texto Oficinas de Trabalho Biográfico: pesquisa, pedagogia e ecologia de saberes, está

autora diz:

No território narrativo dos direitos humanos, encontramos paradigmas contextuais, da universalidade da garantia dos direitos básicos a sobrevivência, em documentos oficiais pactuados entre os diversos países através dos organismos internacionais, como ONU- (Organização das Nações Unidas), mas contrariando os textos oficiais, na prática a busca é de emancipar estes sujeitos, vítimas do sistema político-econômico internacional que por vezes dizima, explora e deixa na miséria países inteiros.

Estamos dentro de uma conjuntura em curso que envolve, as grandes narrativas sócio-política –cultural, em um processo de transição, deste modo estamos vivendo a saída da modernidade e a entrada da pós modernidade, dentro da dimensão de intersecção entre elementos interativos da velha e da nova conjuntura. Este cenário enfrenta uma sociedade liquida em constante transformação e adequação trata-se segundo Bauman (2004) de um momento de poucas certezas:

No terreno das migrações, no qual tenho desenvolvido minhas pesquisas, os efeitos da pesquisa biográfica (mesmo quando feita a dois no contexto de uma entrevista, por exemplo) são de acção emancipatória: a validação dos testemunhos privados para além da etiquetagem ou superfície de discurso; a valorização das experiências dos migrantes frequentemente anuladas por estereótipos e estigmatizações sociais; a co-construção de um novo saber que reconhece, em pé de igualdade, a experiência e sua elaboração teórica (LECHNER, 2012.p.76).

Narrativas políticas e dos representantes dos órgãos oficiais sobre as imigrações

Referências

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