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Em três períodos (1913-38, 1950-73, 1973-91) analisados por Luc

Soet123, há sempre uma convergência de crescimento entre os EUA, o Japão

e a Europa. Apenas, no período mais recente de 1991 a 99, este crescimento foi bastante diferenciado. O PIB a preços constantes per capita cresceu 18% (1991-1999), enquanto que o da UE foi de apenas 13%. O autor explica esta evolução pelo facto dos EUA beneficiarem de uma aplicação e

implementação mais rápidas das novas tecnologias, de uma adopção mais rápida das infra-estruturas das chamadas novas "auto-estradas da informação" e de uma exploração comercial à escala mundial mais bem sucedida destas oportunidades de crescimento124.

Mais recentemente, no período de 1998 a 2002, Luc Protti125, numa

análise ao PIB mundial verifica que as diferenças se mantêm, ainda que com um crescimento mais moderado: os EUA têm um crescimento do PIB na ordem dos 3%, enquanto que a Europa dos 15, apresenta uma taxa de crescimento de 2,4%. Destacam-se países como a China, a Índia e a Coreia do Sul com taxas de crescimento muito acima daqueles valores (7,6%, 5,4% e 4,3% respectivamente). A maior concentração mundial de PIB por habitante, em 2002, continua no entanto, a verificar-se nos EUA (38.300 euros), seguida pelo Japão ( 25.200 euros) e em terceiro lugar, pela UE dos

123

Luc Soete, "A Economia baseada no conhecimento num mundo globalizado", in Boyer, Robert et al, Para Uma Europa da Inovação e do Conhecimento, Oeiras, Celta Editora, 2000. 124

Idem, p.11. 125

Luca Protti, "Le PIB dans le monde 2002", in Eurostat, Statistiques en Bref - Économie et Finances, Theme 2 - 62/2003, de 2/12/2003, <http://europa.eu.int/comm/eurostat>

15 com 24.000 euros. O atraso face aos EUA, verificado nos últimos anos, deve-se em parte, à grande diversidade europeia. Em termos do crescimento económico, há países com um crescimento superior ao dos EUA como é o caso por exemplo, da Irlanda, do Luxemburgo e da Noruega. A Irlanda, teve um crescimento do PIB, medido em paridade do poder de compra (PPC) por habitante, de 41,4%, entre 1991 e 2000. O Luxemburgo teve um crescimento

para o mesmo período, de 29,2%, a Noruega, de 23,7%126. Segundo o

Eurostat, até 2005127, estes países manterão a liderança do crescimento

económico europeu.

O caso da Irlanda, é exemplar. O seu crescimento foi acompanhado de uma descida do desemprego e da dívida pública. O Luxemburgo, reflecte o efeito das sucessivas políticas voltadas para as economias externas, baseadas na especialização regional. Há uma especialização na indústria de serviços, sobretudo nos serviços financeiros. Algumas das fragilidades apontadas para estes países são, no caso da Irlanda, o risco de um agravamento da inflação que se tem vindo a fazer sentir e no caso do

Luxemburgo, as restrições sócio-ambientais128. No que diz respeito a

Portugal, em 1991, tem um PIB de 65% da média europeia (UE15)129 e em

2001, este valor passa a ser de 70,6%, com tendência para baixar e voltar para o mesmo valor no ano de 2005. Segundo a estimativa do Eurostat, em 2005, estaremos na cauda da Europa (UE15) e o Luxemburgo em primeiro,

com um PIB per capita em PPC na ordem dos 181,6%130.

Perante o atraso face aos Estados Unidos da América e ao Japão,

126

Eurostat, "PIB par habitant en SPA - Indicateurs Structurels", 2000, <http://europa.eu.int/comm/eurostat>

127

Eurostat, "GDP per capita in PPS - Gross Domestic Product in Purchasing Power Standards", <http://europa.eu.int/comm/eurostat/newcronos/queen>

128

Nuno Venes, "Ascensão", <http://economiapura.euronotícias.pt> 129

Eurostat, "PIB par habitant en SPA - Indicateurs Structurels", 2000, <http://europa.eu.int/comm/eurostat/Public/datashop>

130

Eurostat, "GDP per capita in PPS - Gross Domestic Product in Purchasing Power Standards", <http://europa.eu.int/comm/eurostat/newcronos/queen>

verificado nas últimas décadas, e respeitando a sua diversidade, a União Europeia, define medidas baseadas numa nova economia, mais inovadora, competitiva e com mais capacidade de criar emprego e preservar a coesão social: uma economia baseada no conhecimento. No seguimento deste objectivo, a presidência sueca, manteve a ênfase em metas em termos de emprego e na qualidade deste, bem como numa aposta da aprendizagem ao longo da vida e do desenvolvimento da igualdade de oportunidades. Uma particularidade do Governo de Estocolmo, foi o interesse no firmamento das relações com Moscovo. Um interesse mútuo, dado o período conturbado de ligações com os EUA, provocado pela mudança de administração destes e pela sua nova estratégia (sistema de defesa anti-missil).

Luc Soete131, sublinha três elementos que fazem parte integrante do

conhecimento. O primeiro é que não é um bem de apropriação total e pode ser partilhado por muitas pessoas sem diminuir a quantidade disponível para cada uma delas (é um bem "não concorrente"). O segundo, é que a política e a economia devem compreender a forte relação entre o conhecimento como garantia da competitividade e o aparecimento das novas tecnologias de informação e comunicação. Finalmente o terceiro, é que a natureza do processo de inovação se alterou devido ao aparecimento das novas tecnologias da informação. A ciência e a tecnologia são socialmente distribuídas, com a ajuda de organizações, dando origem à produção social do conhecimento.

As políticas europeias dos anos 90, voltam-se para a ciência e tecnologia. No entanto, verifica-se que os êxitos técnicos não implicam necessariamente êxitos económicos. A capacidade da economia depende da eficiência e da dinâmica com que as empresas e instituições forem capazes de difundir e aplicar a informação e o conhecimento. Em termos de investimento em conhecimento, a União Europeia está entre os EUA e o

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Japão. O que diferencia os EUA, é o investimento no conhecimento ser suportado, numa grande percentagem, por empresas privadas. Em 1999, na

Europa, o Estado gastava mais 25%132 do que os EUA, em financiamento do

investimento em conhecimento.

O investimento europeu ao nível das novas tecnologias, aumenta de 3% do PIB nacional em 1991, para mais de 4% em 2001, chegando a exceder o investimento japonês, de 4% nesta data mas mantém-se sempre inferior ao dos EUA que ultrapassam os 5%. Os resultados deste investimento, são visíveis, em termos de níveis de acesso à internet. A Europa passa de 10% de fogos domésticos com este acesso, em 1999, para mais de 25%, em 2000. No entanto, a liderança das novas tecnologias continua a pertencer aos EUA, onde mais de 45% dos lares, acedem a serviços da internet133.

Nos EUA, os capitalistas de risco mobilizam capitais privados para investimento em actividades do conhecimento. A indústria americana de semi-condutores ao crescer, associou-se à indústria de software e das telecomunicações (estabeleceram-se comunicações locais gratuitas) e tem desenvolvido as tecnologias de rede tais como a UNIX, Java e Netscape. O resultado é a liderança dos EUA em termos de fixação de preços da internet, em número de sites, fornecedores de serviços (ISP), acessos e vendas no comércio electrónico, e consequente crescimento no emprego, em ocupações ligadas a estes sectores.

Na Europa, a bolsa está virada para investimentos materiais, associados à indústria. As políticas dão ênfase à promoção da cooperação intra-estados, na investigação e desenvolvimento pré-competitivos, incentivam a investigação universitária e os programas de apoio a domínios

132

Luc Soet, op. cit., p.19. 133

Eurostat, Annuaire 2003: Les Statisticiens au service de l'Europe, <http://europa.eu.int/comm/eurostat>, 2003.

tecnológicos específicos através de programas-quadro. O investimento numa economia do conhecimento, é também dificultado pelas diferenças existentes a este nível na União Europeia. A Itália, Bélgica, Alemanha e Áustria, os níveis de intensidade do conhecimento situam-se abaixo do nível médio da

UE134. Na Suécia, na França, na Dinamarca, na Finlândia e no Reino Unido,

os níveis de intensidade do conhecimento, situam-se acima do nível europeu global. Para além da diversidade europeia, em termos de conhecimento, há um espírito empresarial e de inovação fracos, e uma baixa taxa de utilização de equipamentos de novas tecnologias de informação e comunicação que diminuem a eficácia das organizações. Opinião partilhada por Robert Lindley que afirma que só aumentam a sua eficácia as empresas que conseguirem

desenvolver métodos de trabalho que promovam a identificação e partilha (...) de elementos chave do conhecimento135.

A eficácia depende igualmente da quantidade do tempo de trabalho e nesta matéria, os europeus não fazem concessões. A população activa europeia, está menos disposta que, por exemplo, a americana a fazer horas

extras, trabalhando em média menos tempo que esta136. Enquanto que o

número de horas trabalhadas diminui desde 1970, nos países europeus, assim como no Japão, nos Estados Unidos este número aumenta. A forma como o trabalho é visto, na União Europeia, está intrínsecamente associada à família. Os Estados europeus desenvolvem políticas sociais de apoio a estas que tem resultado numa dimininuição das horas trabalhadas pelas famílias. Por exemplo, a Europa, prefere financiar publicamente as famílias, atribuindo licenças de trabalho e subsídios de maternidade às mães.

134

Luc Soet, op. cit. 135

Robert M. Lindley, "Economias baseadas no conhecimento", in Boyer, Robert et al, Para Uma Europa da Inovação e do Conhecimento, Oeiras, Celta Editora, 2000, p.36.

136

Martin Carnoy, Dans quel monde vivons-nous? - Le travail, la famille et le lien social à l'ère de l'information, França, Éditions Fayard, 2001.