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O investigador é o gestor da investigação nas escolhas metodológicas que efectua em função do seu objecto de estudo. A metodologia que melhor serve esta pesquisa pressupõe uma abordagem compreensiva. Uma metodologia integrada no pensamento pós-moderno que recusa o universalismo das teorias modernas: o pós-modernismo conduz a um

compromisso com o múltiplo, com o local, com as lutas autónomas de libertação, assim como conduz à rejeição do imperialismo de uma modernidade iluminada que pretende falar em nome de outros (população colonizada, pessoas de cor, grupos étnicos, minorias religiosas, mulheres, e classes trabalhadoras) numa voz unificada283. A solução passa pelo recurso

a metodologias qualitativas que são, para alguns autores284 e em sintonia

281

João Teixeira Lopes, Escola, território e políticas culturais, Porto, Campo das Letras, 2003, p.67.

282

António Teixeira Fernandes, “Alguns Desafios Teórico-Metodológicos”, in António Esteves e José Azevedo, Metodologia Qualitativa para as Ciências Sociais, Porto, Instituto de Sociologia Faculdade de Letras Universidade do Porto, 1998, p.16.

283

Stuart Hall, David Held e Tony McGrew, Modernity and its Future, Cambridge, Open University, 1992, p.229.

No texto original: “(…) post-modernism entails engaging in multiple, local, autonomous struggles for liberation, rejecting the imperialism of an enlightened modernity that presumed to speak for other (colonized peoples, blacks and ethnic groups, religious minorities, women, and the working class) with a unified voice”.

284

com o paradigma pós-moderno, uma forma de crítica às limitações da modernidade. Na pós-modernidade não há um conceito temporal, o pensamento assenta na descontinuidade e a ênfase está na significação dos fenómenos culturais pois é esta que lhes dá vida. Não se trata de ver ou demonstrar, mas sim de interpretar o pensamento humano, que se enuncia através de operações sucessivas ao nível da linguagem: não se pode

conhecer a ordem das coisas na sua natureza isoladamente, mas sim descobrindo a mais simples e em seguida a que estiver mais próxima para que se possa aceder (…) às coisas mais complexas285.

As metodologias qualitativas, assentam em dois paradigmas: o positivista e o interpretativo286. No primeiro a partir de categorias predefinidas observa-se os comportamentos dos indivíduos. Pressupõe um esforço indutivo do investigador, uma sistematização de dados, que resultam na

construção de uma teoria sociológica de campo287. O sociólogo transforma as

suas perspectivas em categorias relevantes, propriedades e hipóteses. No paradigma interpretativo o objecto de análise é formulado em termos de acção, uma acção que vai para além dos comportamentos, pois inclui o sentido que os actores lhe dão.

Actualmente, as perspectivas positivista e interpretativa tendem convergir, utilizando abordagens técnicas semelhantes e reconhecendo-se a dimensão interpretativa da análise qualitativa, numa perspectiva de continuidade. Como lembra Michelle Lessard-Hébert, o debate sobre uma

distinção paradigmática pode conduzir à construção de barreiras que entravam a (…) liberdade de movimentos e impede o progresso das questões

285

Michel Foucault, As Palavras e as Coisas, Lisboa, Edições 70, 1991, p.108. 286

Michelle Lessard-Hébert et al, Investigação Qualitativa – Fundamentos e Práticas, Lisboa, Instituto Piaget, 1994.

287

Barney G. Glaser e Anselm L. Strauss, The Discovery of Grounded Theory, New York, Aldine de Gruyter, 1967.

A grounded theory, assenta em quatro pressupostos: a adequação ao tema, a possibilidade de ser compreendida pelos que trabalham na área, uma dimensão suficientemente abrangente, para poder integrar diversos aspectos da realidade e o controlo teórico que permite a adaptação constante da teoria, ao trabalho de campo.

metodológicas de ordem prática, com as quais os investigadores actualmente se defrontam288. Torna-se necessário fazer a ponte entre as metodologias

quantitativas e qualitativas e dentro destas, entre as que têm uma orientação moderna e pós-moderna. Na verdade, este é o desafio da pós-modernidade: dissolver as fronteiras, resolver o conflito e criar o consenso entre o global/globalizante e o individual/individualizante.

Têm sido os estudos feministas que mais têm contribuído para os avanços das metodologias qualitativas. Ao longo dos anos 80, as mulheres da classe operária, as de cor diferente, as lésbicas, afirmam que as meta narrativas em nada se aproximam das suas realidades. Iniciam-se estudos localizados, falíveis e sem pretensões de generalização à restante população feminina. A análise incide sobre histórias discretas que aludem à emergência, à transformação e ao desaparecimento de práticas discursivas que são tratadas isoladamente umas das outras. O discurso, afirma-se através da actividade linguística e através de sinais, símbolos, actividades e textos. O entrevistador transforma-se num instrumento para promover uma Sociologia para as mulheres, como uma ferramenta que torna possível os comentários

exprimidos e gravados das mulheres sobre o assunto muito pessoal de pertencer ao sexo feminino numa sociedade patriarcal capitalista289.

Entre os estudos de mulheres e a pós-modernidade existem inicialmente, focos de tensão que se justificam pelo facto daqueles recusarem

a descontinuidade histórica desta290. O feminismo tanto excede os termos do

pensamento modernista, como vai resistindo a uma absorção nos discursos

288

Michelle Lessard-Hébert et al, Investigação Qualitativa – Fundamentos e Práticas, Lisboa, Instituto Piaget, 1994, p.35.

289

Ann Oakley, “Interviewing women: a contradiction in terms”, in Helen Roberts, Doing Feminist Research, Londres, Routledge Kegan Paul, 1990 (1ª Ed.1981), p.489.

No tetxto original: “(…) as a tool for making possible the articulated and recorded commentary of women on the very personal business of being female in a patriarchal capitalist society”. 290

da pós-modernidade . No entanto, é pós-moderno na sua atenção à especificidade cultural das diferentes sociedades e tempos, bem como à especificidade dos diferentes grupos que nelas se inserem292.