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5.1. PERSPECTIVAS DE DOMINAÇÃO

5.1.2. A DOMINAÇÃO JUSTIFICADA

5.1.2.2. O “ PROFISSIONALMENTE TUDO O QUE

“(…) isso [mais tempo para a família] teoricamente é desejável. (…) por outro lado, penso que não. No sentido em que nós, por exemplo, tentamos preservar o fim de semana, já que é um período mais alargado, para um maior convívio, (…) com os miúdos e com pessoas digamos familiares ou amigos mais, mais íntimos (…).”

“Mas há toda uma área que eu, que eu, gosto imenso que é a parte de, de.. relacionada com.. com arte e com desporto, ou seja, exposições. Gosto muito de ler, de música, concertos. Gostava de ter muito mais tempo para ter essa vertente que eu acho que é fundamental.”

5.1.2.2. O “profissionalmente tudo o que eu tiver hipótese eu vou” do Rui e o “está completamente fora de questão” da Rita.

Para a Rita, a família vem sempre primeiro, sendo um obstáculo a aspirações pessoais. Gostava de ter continuado a estudar, concluir uma licenciatura para poder progredir na carreira profissional. Abdicou das suas aspirações para não prejudicar a estabilidade dos filhos. O Rui fez o mestrado depois da licenciatura e sempre que tiver hipóteses de avançar profissionalmente, avançará mesmo que isso implique menos disponibilidade para estar em casa. A família fá-lo ponderar opções ao nível geográfico, pois se fosse solteiro não estaria a trabalhar em Portugal.

Rita:

“(...) eu só tenho o 12º ano, e pensei durante algum tempo, que gostaria de fazer uma licenciatura, estudar (…) para poder ascender na carreira. Mas depois, ponderei mais friamente no assunto e acho que... É assim: as desvantagens que eu ia ter em

Rui:

“(…) Onde estou, tento sempre aprender mais e portanto, profissionalmente, tudo o que eu tiver hipótese, ou se houver hipóteses para isso, eu.. eu vou. (…) eu hoje pondero muito mais os projectos também em função do meu agregado familiar. Se

não justificaria uma ascensão na carreira. Portanto, deixei essa , essa ideia de lado. Claro que tenho, que tenho aspirações (…) e sempre que houver (…) possibilidade de progredir na carreira, vou fazer isso (…). Mas o que implique estudar fora de horas, sair à noite e deixar as crianças isso, está completamente fora de questão.”

Portugal (…).”

“(…) há, vai haver ocasiões (…) em que terei menos oportunidades de acompanhar, quem eu quero acompanhar que são os filhos e a mulher (…).”

O contacto social e o convívio que a actividade profissional permite, é essencial para a realização pessoal da Rita e do Rui. A satisfação está no convívio que o trabalho proporciona à Rita, pela utilidade social deste. Não considera a hipótese de deixar de trabalhar, pois a profissão é um meio de alcançar a felicidade. Lamenta o volume de trabalho pois implica uma diminuição de qualidade na sua execução. A sua dedicação ao trabalho, revela a sua ambição e resulta da convicção de que realiza um trabalho bom e importante. Trabalha sempre depois da hora de sair e não vê interesse na redução do seu horário de trabalho. O Rui valoriza a criatividade e a diversidade da sua actividade. Gosta de contactar com realidades diferentes que o tiram da monotonia dos trabalhos rotineiros. Sente-se insatisfeito com as energias e a produtividade que se perdem, por causa da falta de organização.

Rita: “Sou técnica de emprego.”

“(…) sinto-me realizada no que faço, e portanto, venho para casa feliz, satisfeita, e gosto imenso de trabalhar. Não me imagino, não me imagino sem trabalhar, estar em casa sempre, só a cuidar deles (…).”

“Olha, satisfaz-me imenso o facto de conviver com muitas pessoas. O facto de sentir que pelo meu trabalho, muitas pessoas têm caminhos abertos para, para se realizarem profissionalmente (…). Isso satisfaz-me imenso. Satisfaz-me menos, o facto de ter muito, muito trabalho e muitas vezes, no contacto com as pessoas, não lhes poder dedicar a atenção que eu gostaria, a cada uma delas (...).”

“(…) o meu horário de trabalho termina às cinco e eu raramente saio do serviço antes das seis e um quarto. Portanto, não é o facto de eu diminuir as horas (…) no serviço. Se calhar não era isso que me fazia vir mais cedo para casa. Sou um bocado obcecada pelo serviço e quero sempre fazer mais,

Rui: “Actualmente, eu sou consultor.”

“Actualmente eu tenho um trabalho que é.. que é entusiasmante nesse aspecto, que é diversificado portanto, contacta-se com muitas realidades. Nesse aspecto, é.. é importante porque é bastante criativo.. e portanto, não é monótono, não é rotinante. O que me satisfaz menos no trabalho é (…) a maior parte de nós todos somos desorganizados e depois andamo-nos fartos de queixar, (…) porque falham coisas perfeitamente basilares e insignificantes, como pontualidade no início das reuniões. (…) parece que não ser pontual, não ser organizado, tudo isso é normal. (...) Desagrada-me a desorganização e a perda de energia que se tem quando.. quando se pretende desenvolver alguma coisa (...). Portanto, é preciso gastar energia para fazer trabalho, para produzir trabalho e aquilo que eu sinto, é que nós gastamos imensa energia, para produzir muito pouco trabalho! (…)”

“(…) Imponho-me na minha profissão, pelo bom desempenho que possa... que possa ter. E pronto, pelo cuidado que ponho nas coisas, (…) pela tentativa que faço de resolver os problemas das pessoas (…).”

O exercício de uma profissão pelos dois elementos do casal, é reconhecida como sendo de extrema importância pela Rita e pelo Rui. Há uma compreensão mútua da satisfação que o trabalho proporciona ao outro. Esta satisfação contribui, segundo a Rita para a estabilidade e para o bom ambiente familiar, pois se o marido estiver feliz no trabalho, transmite essa felicidade à família. O discurso do Rui coincide com o da mulher, ao afirmar que quando esta se sente bem no trabalho, isso tem implicações nele. Acrescenta que o trabalho da mulher é importante, pela contribuição económica que representa.

Rita:

“Dou uma importância muito grande [ao trabalho do Rui], porque é assim, é também um factor de estabilidade. Para ele, o facto dele fazer uma coisa que, que gosta mais ou gosta menos, interfere com o bom, o bom ambiente familiar. Porque se ele estiver feliz no trabalho, transmite também essa felicidade, esse bem estar cá em casa.”

Rui:

“(…) é duplamente importante nestes, nestes seguintes aspectos: primeiro, porque eu sinto que ela se sente realizada e isso para mim, é o primeiro.. é o primeiro aspecto; e depois, é evidente, vem o aspecto, o carácter económico mas o primeiro aspecto, é fundamental. Eu sinto que ela se sente bem e portanto, a partir daí eu sinto-me bem.”

A conciliação entre o trabalho e a família resulta para a Rita, de muito esforço e dedicação. Recorre a serviços de terceiros, para as limpezas normais da casa o que a alivia desse trabalho. Para o Rui, a solução está na utilização de horas tardias para tratar de assuntos que não têm a ver com a família, como por exemplo a relação com a mulher.

Rita:

“Não posso dizer que seja fácil. Porque é assim, ehh... trabalho longe de casa, portanto trabalho até tarde, muitas vezes. (…) Exige, exige muito esforço e dedicação”.

“Felizmente tenho uma, uma funcionária (risos),

Rui:

“Geralmente faço o seguinte: tento.. tento algumas coisas fazer num.. em horas tardias.. não é. Assim como também, por vezes, eu e a minha mulher reservamos essas horas tardias.. mais tardias, para nós! Portanto, ou seja, roubamos um

fundamental que se faça as limpezas normais e semanais. Aquelas coisas que todas as pessoas têm que fazer, tenho uma ajuda e portanto, não faço isso.”

5.1.2.3. A teoria do Rui: “O fundamental é que haja espírito de equipa”.