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Atributos dos direitos de personalidade

Capítulo 1. DIREITO DE PERSONALIDADE

1.2 A DIGNIDADE COMO FUNDAMENTO DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE

1.2.3 Atributos dos direitos de personalidade

Dentre as características dos direitos de personalidade que demonstram esse conteúdo mínimo e necessário para que possuam relevância jurídica e com isso garantam o bom desenvolvimento de suas personalidades, estão as de que tais direitos são considerados inatos, absolutos, irrestringíveis, não patrimoniais, inalienáveis, impenhoráveis, intransmissíveis, indisponíveis e personalíssimos, inextinguíveis e permanentes, imprescritíveis, bem como irrenunciáveis.

Ao classificá-los como inatos devemos nos ater a correntes distintas, destacando-se a positivista, a naturalista e uma terceira advinda pela questão biológica. Para a corrente positivista, os direitos de personalidade são direitos essenciais estruturantes “que formam a medula da personalidade”148. No que se

refere a corrente naturalista, tem-se que os direitos de personalidade dizem respeito à capacidade natural do homem, pois esses direitos se associam às características voltadas ao estado de pessoa humana149. Por fim, a corrente advinda

pela questão biológica do ser humano, defende que os direitos de personalidade são adquiridos a partir do nascimento do indivíduo150.

146 Idem, p. 53.

147 CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO et al, op. cit., p. 101.

148 CARLOS ALBERTO BITTAR, op. cit., p. 37. 149 Idem, p. 38.

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Reputam-se absolutos porque são pertencentes a todas as pessoas151,

devido ao seu caráter erga omnes152. Assim, há um “dever geral de abstenção e

respeito que se dirige a toda e qualquer pessoa, independentemente da manifestação de seu titular neste sentido, persistindo, inclusive, em caso de sua inércia”153.

Além disso, são irrestringíveis154, tanto em virtude de seu caráter

absoluto, como por serem amplos, uma vez que surgindo novos direitos que visem a defesa da personalidade, estes serão reconhecidos, mesmo que ainda não haja previsão legal.

Possuem a natureza não patrimonial, porque via de regra, não contêm valor econômico, salvo exceções previstas pelo próprio ordenamento jurídico, tal como o direito de imagem elencado no art. 79.º do Código Civil, assim como o nome quando houver um segmento comercial155.

Todavia, ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO ilustra que quando alguém autoriza que sua imagem seja lançada no mercado, não está ela a alienar seu direito, e sim apenas consentindo de forma temporária tal divulgação e que “à custa desse direito, se destaquem determinadas parcelas figurativas”156.

151 Nesse sentido é a Jurisprudência do STJ, de 14-06-2005, processo n.º 05A945, relator

NUNO CAMEIRA: “direitos fundamentais de personalidade, são inatos, inalienáveis, irrenunciáveis e absolutos, no sentido de que se impõem, por definição, ao respeito de todas as pessoas”.

152 ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil IV, cit., pp. 110-112. Entretanto o

autor esclarece que tal entendimento não é unívoco, pois existem outras interpretações trazidas pelo catedrático.

153 PABLO DOMINGUEZ MARTINEZ, op. cit., p. 32. No mesmo sentido, CAPELO DE SOUSA, op. cit.,

pp. 401-402. Por outro lado, MÁRIO SÉRGIO DE FREITAS GAMIZ, Privacidade e Intimidade: doutrina e jurisprudência, Curitiba: Juruá Editora, 2012, pp. 65-66, afirma que “os direitos fundamentais não são nem ilimitados, nem absolutos. Ostentam o caráter relativo e se sujeitam às chamadas restrições, que consistem na compressão ou diminuição do «alcance» ou da «extensão» a que se limita um direito fundamental, para que sua proteção possa se adequar à garantia de outros valores constitucionais. Convém realçar que a relatividade dos direitos fundamentais decorre da multiplicidade valorativa dos direitos humanos, capaz de conduzir a situações de aparente conflito, determinando, então, a necessidade de opção entre dois direitos de igual equivalência”.

154 Cfr. PONTES DE MIRANDA, op. cit., p. 255.

155 ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil IV, cit., p. 112. Nesse contexto, PABLO

DOMINGUEZ MARTINEZ, op. cit., p. 33, traz a seguinte explicação: “A extrapatrimonialidade dos direitos da personalidade decorre da impossibilidade de se atribuir diretamente valor a um atributo próprio do ser humano. Seria completamente impossível avaliar a liberdade, o direito de credo, dentre tantos outros casos. Apesar do que foi dito, além do aspecto extrapatrimonial, os direitos de personalidade podem contar com uma manifestação patrimonial, detendo valor economicamente aferível”.

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Nesse sentido, o Código Civil português, por meio de seu art. 81.º é preclaro ao afirmar que a cessão dos direitos de personalidade é temporária, parcial e revogável, devendo-se sempre respeitar a ordem pública.

Com isso, são considerados inalienáveis, porque geralmente não possuem valor econômico. Contudo, é evidente que o Poder Judiciário, ao analisar a existência de uma ofensa aos direitos de personalidade, poderá estabelecer uma pena em pecúnia, a fim de compensar os danos causados ao titular dos direitos em referência violados157.

Os direitos de personalidade são também avaliados como impenhoráveis pela razão de não poderem sofrer constrição judicial. Porém, como esses direitos podem conter cunho patrimonial, os valores auferidos pelo seu aproveitamento podem sofrer expropriação158.

São avaliados como intransmissíveis, indisponíveis159 e, ainda,

personalíssimos, uma vez que são direitos inerentes apenas a seu detentor, não sendo passível a sua transferência para pessoa diversa do titular. De acordo com CAPELO DE SOUSA, verbis: “os bens jurídicos da personalidade humana física e moral constituem o ser do seu titular, pelo que são inerentes, inseparáveis e necessários à pessoa de seu titular”160.

Intimamente ligado a esses atributos, os direitos de personalidade são classificados, ainda, como permanentes e inextinguíveis161. Ao catalogar esses

157 Cfr. PABLO DOMINGUEZ MARTINEZ, op. cit., pp. 33-34. Na voz de CAPELO DE SOUSA, op. cit.,

p. 403, tais direitos são inalienáveis porque “não pode vender-se a vida, a liberdade de pensamento física ou a honra”.

158 Idem, p. 34. O autor entende que “a penhorabilidade do direito de imagem é incabível, o

que não significa dizer que os lucros obtidos com o uso do direito de imagem não possam sofrer constrição judicial”. Por seu turno, ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil IV, cit., p. 119, defende que os direitos de personalidade podem ser limitáveis ou ilimitáveis. Quando são limitáveis admitem essas limitações em determinadas situações, a exemplo do direito à imagem, que o autor cita ao longo de toda sua obra.

159 PABLO DOMINGUEZ MARTINEZ, op. cit., p. 32, traz à indisponibilidade a mesma essência da

intransmissibilidade, ao declarar que “a indisponibilidade decorre da impossibilidade de modificação de seu titular”. Contudo, CAPELO DE SOUSA, op. cit., pp. 404-412 e 415, defende que essa indisponibilidade é relativa.

160 Op. cit., p. 402.

161 PONTES DE MIRANDA, Tratado de Direito Privado: direito de personalidade e direito de

família, tomo VII, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, pp. 60-61. Nessa conjuntura, o autor explica que “tôda transmissão supõe que uma pessoa se ponha no lugar de outra; se a transmissão se pudesse dar, o direito não seria de personalidade. Não há, portanto, qualquer sub-rogação pessoal; nem poderes contidos em cada direito de personalidade, ou seu exercício, são suscetíveis de ser transmitidos ou por outra maneira outorgados”. Não obstante, o autor esclarece que os motivos da intransmissibilidade são os mesmos para a irrenunciabilidade, por haver “ligação íntima com a personalidade”. Além do mais, o autor traz, ainda, a ressalva de que os direitos de personalidade são

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direitos como permanentes e inextinguíveis, busca-se trazer o sentido de que os direitos de personalidade surgem e convivem com o seu titular durante toda a sua vida, sem prejuízo da proteção da memória de pessoas já falecidas162.

Não obstante, consideram-se imprescritíveis porque os direitos de personalidade não perdem seus efeitos e validade. Diga-se de passagem, na ocorrência de alguma ofensa aos ditos direitos, estas poderão ser invocadas e reclamadas a qualquer tempo, devido a sua condição fundamental voltada ao ser humano e assentada na dignidade humana163. Aliás, CAPELO DE SOUSA trata os

direitos de personalidade como vitalícios, além de não sujeitos à extinção pela sua inutilização164.

Por derradeiro, são irrenunciáveis por não ser possível abrir mão dos direitos de personalidade, apesar de que possam sofrer uma limitação voluntária, nos termos do art. 81.º, nº. 1, do Código Civil165.

Com as inúmeras particularidades aqui corroboradas, demonstra-se que a dignidade humana possui um núcleo fundado por características de cunho moral, que acabam por estabelecer impactos jurídicos referentes aos direitos fundamentais166.

Restou claro que os direitos de personalidade representam nada menos do que a proteção dos direitos fundamentais de cada indivíduo, bem como da intrínseca essencialidade do ser humano. Assim, tornou-se evidente que a dignidade

inextinguíveis, salvo com a morte da pessoa, pois o elo que existe entre a pessoa e o direito de personalidade é a vida. Entretanto, há posicionamentos de que tais direitos não se extinguem com a morte em determinadas circunstâncias, em virtude da tutela post mortem, já mencionada. Sobre o tema, vide CAPELO DE SOUSA, op. cit., pp. 188-198, 364-367 e 433-434.

162 Cfr. PABLO DOMINGUEZ MARTINEZ, op. cit., p. 31. No mesmo diapasão, ANTÓNIO MENEZES

CORDEIRO, Tratado de Direito Civil IV, cit., p. 114, ao trabalhar com a característica da dupla inerência, traz em uma das vertentes que esta é formada pela intransmissibilidade da sua condição ativa, e assim “o direito de personalidade nasce na esfera de um titular e aí ficará até a sua extinção”, que para o catedrático, esses direitos também permanecem em algumas situações mesmo após a morte, tendo em vista a tutela post mortem.

163 Idem, pp. 34-35. O autor demonstra a importância de “distinguir os direitos de

personalidade e sua proteção dos efeitos patrimoniais dele decorrentes. Os direitos da personalidade são imprescritíveis e merecem a tutela do Estado a qualquer tempo, ao contrário dos efeitos patrimoniais dele gerados, que podem sofrer a ação do tempo e perda da exigibilidade através da prescrição. O fato de ser imprescritível não significa que os aspectos patrimoniais decorrentes da violação dos direitos da personalidade também o sejam”.

164 Op. cit., p. 413.

165 CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO et al, op. cit., p. 101, explica que os direitos de

personalidade “podem todavia ser objecto de limitações voluntária que não sejam contrárias aos princípios da ordem pública”.

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é fundamento essencial para os direitos de personalidade e consequentemente o núcleo basilar para o caminhar da humanidade.

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