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Do direito de estar só e a preservação da intimidade e privacidade

Capítulo 3. DIREITO AO ESQUECIMENTO

3.5 DESAFIOS PARA UMA EFETIVA APLICABILIDADE DO DIREITO AO

3.5.1 Do direito de estar só e a preservação da intimidade e privacidade

3.5 DESAFIOS PARA UMA EFETIVA APLICABILIDADE DO DIREITO AO

ESQUECIMENTO FRENTE À SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO

3.5.1 Do direito de estar só e a preservação da intimidade e privacidade

A esfera íntima e restrita de alguém engloba os fatos mais particulares e individuais de suas vidas, em que poucas pessoas têm acesso, como é o caso dos assuntos inerentes à afetividade, à saúde, à nudez, à sexualidade entre outros. São acontecimentos que não possuem qualquer relevância ao contexto social e sua divulgação violam os direitos de personalidade dos envolvidos.

Independentemente das condutas praticadas por alguém ou da sua notoriedade no meio social, este indivíduo merece ter respeitado o reduto de sua intimidade e privacidade, pois não há que se falar em paz e sossego quando o nome ou imagem de uma pessoa esteja vinculada a matérias disponibilizadas nos meios de acesso às informações.

De acordo com LUIS MARTIUS HOLANDA BEZERRA JUNIOR, ao se fazer alusão a um direito ao sossego, está se fazendo menção a um “aspecto de estabilidade psicofísica, indispensável ao alcance da tranquilidade e da paz de espírito, elementos essenciais para uma existência digna"610. Cabe destacar, que

dentre os elementos essenciais à dignidade humana, encontram-se entre outros, o exercício dos direitos de personalidade, dos quais a intimidade e a privacidade fazem parte.

Todos desejam estar na tranquilidade de seus lares e, para que isso seja efetivado, é necessário não apenas que seu lar se encontre sereno, mas sim que suas mentes possam descansar sem a preocupação de que seus nomes ou imagens estejam atrelados a conteúdos fornecidos à coletividade, sem a devida autorização para isso. Chega um momento em que à coletividade deseja a individualidade de suas vidas privadas, cobiçando o resguardo do silêncio e da calmaria, sem ser lembrados constantemente, principalmente por atos pretéritos que em nada contribuem para o presente.

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Vale mencionar, que o direito de estar só se reporta à “necessidade de encontrar na solidão aquela paz e aquele equilíbrio, continuamente comprometidos pelo ritmo da vida moderna”611. Isto é, diz respeito ao direito de cada pessoa

permanecer isolada dos olhos curiosos e principalmente dos meios de comunicação, recolhida assim no reduto de sua intimidade e privacidade612. Mais precisamente, é

o direito que cada um possui de ser esquecido ou não ser lembrado a todo instante. Analisando por um ângulo diferente, o direito de estar só não se refere necessariamente ao fato da pessoa estar sozinha, sem ninguém ao seu redor, mas sim, em ter a oportunidade de escolher quem deve estar por perto e fazer parte de seu cotidiano e de sua história, bem como de manter-se longe dos olhos maldosos e curiosos de terceiros não pertencentes a esse círculo selecionado pelo titular que almeja o sossego ou de ser deixado em paz no refúgio da intimidade de sua vida privada.

A preservação da intimidade e da privacidade, principalmente face aos atos cometidos no passado, que em alguns casos são considerados inconvenientes aos protagonistas do fato, possuem grande relevância para que se possa manter um equilíbrio emocional, exatamente pelo motivo de que “os atentados à vida privada, na medida em que afetam o direito de estar só, poderão também comprometer a saúde ou a integridade corporal”613 dos envolvidos.

611 PAULO JOSÉ DA COSTA JR., op. cit., p. 10. 612 Ibidem.

613 Cfr. RENÉ ARIEL DOTTI, op. cit., p. 87. A respeito dos atentados contra à vida privada que

comprometem e afetam a boa saúde psicológica de pessoas expostas sem o devido consentimento, LUIS MARTIUS HOLANDA BEZERRA JUNIOR, op. cit., pp. 115-117, cita um triste exemplo fornecido pela jurisprudência norte-americana, após a imprensa ressuscitar fatos pretéritos da vida de William James Sidi, que aos 11 anos de idade já era considerado um gênio, devido sua alta capacidade de raciocínio e que veio a se formar por Harvard aos 16 anos de idade. Contudo, o prodígio decidiu se recolher e desaparecer da vida pública, deixando de ser lembrado pela imprensa. Entretanto, aos 38 anos de William Sidi, o jornal The New Yorker publicou uma matéria a respeito do antigo gênio que a todos surpreendia por meio de sua inteligência, e que na atualidade passara a ter uma “rotina de trabalhador comum, de baixa renda, descrevendo-o como uma pessoa de vida retirada, com aversão ao passado e cheia de hábitos e manias peculiares”, descrevendo ainda sua atual habitação em um dos bairros mais carentes de Boston. Perante a tal violação de privacidade e intimidade, William propôs ação indenizatória contra o jornal, porém a Corte julgou a favor da liberdade de informação, uma vez que a notícia tratava “de alguém que já foi uma figura pública, de quem se esperavam muitas realizações, havendo ainda interesse jornalístico na matéria”. Logo em seguida, devido a repercussão da matéria, mais precisamente pelo resultado desfavorável de seu pleito, William entrou em grave depressão, morrendo pouco tempo depois de todo o acontecimento.

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A justificativa para isso se acontece em razão de que a reputação incólume perante ao meio em que se vive, além do prestígio social são extremamente valiosos, pois reportam-se à integridade moral dos seres humanos, que remete de modo direto à honra, ao bom nome e à boa reputação de cada um, propiciando assim, uma posição de respeito na comunidade em que se vive.

Nesse diapasão, PAULO JOSÉ DA COSTA JR. avalia a honra e o prestígio como virtudes das quais os seres humanos não teriam uma boa convivência com seus semelhantes, tendo em vista que na ausência de tais predicados, esses indivíduos passariam a ser marginalizados e desprezados pelos demais membros de uma sociedade614.

É primordial assimilar que para assegurar o desenvolvimento pleno da personalidade torna-se indispensável a preservação das esferas da intimidade e da privacidade, para que as pessoas tenham a oportunidade de conduzir suas vidas da maneira que acharem melhor e sem o temor de se depararem com situações comprometedoras ou inconvenientes que venham a colocá-las em uma posição desconfortável perante ao meio social do qual desfrutem615.

Todavia, é necessário se ater aos desafios enfrentados para uma efetiva preservação à intimidade e à privacidade, uma vez que na era digital cada passo realizado é rapidamente introduzido na web e em poucos instantes passa a ser de conhecimento dos quatro cantos do mundo.

A indagação que se faz é a de que até que ponto a era digital vai permanecer evoluindo e o quanto isso vai influenciar na intimidade e na vida privada da humanidade? Será que a invasão da intimidade e da privacidade chegou em seu ápice ou vai se agravar ainda mais ao longo dos anos? O ordenamento jurídico conseguirá achar soluções efetivas para os assuntos inerentes às violações cometidas no ciberespaço?

614 Op. cit., p. 98. O autor em questão ainda faz a distinção entre a honra e o prestígio,

afirmando que a “honra é o contingente mínimo de prestígio que um cidadão pode obter para merecer o respeito da coletividade [...] Já o prestígio, apresentando conotação mais rica, diâmetro menos extenso, é mais que uma imposição de mero respeito dos concidadãos. É um verdadeiro halo, que atrai não só respeito, mas principalmente admiração e estima”.

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